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Usuário
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XXXXXXXXXXXEstá tudo no primeiro! rsrsrsrs
Depois de três semanas chegou uma outra estagiária, Mariana, um amor de pessoa. Nós nos entendemos imediatamente e eu fiquei feliz por não estar mais sozinha naquele lugar frio. Uma semana depois de Mariana, entrou Patrícia, e aí estava feito o nosso time de “Mosqueteiras”.
Ter alguém com quem conversar era ótimo, nós falávamos bastante, ríamos, descobríamos coisas em comum, isso tudo principalmente de manhã, quando ficávamos lá sentadas sem ter o que fazer por horas a fio.
Nós estávamos ficando íntimas, mas demorou para discutir sobre o comportamente estranhíssimo da nossa editora-jararaca. Eu achava que a mulher me odiava. Ela vinha com horas de atraso e depois fechava a sua porta, ninguém entrava e se nós tivéssemos alguma dúvida, não tínhamos coragem de poerguntá-la. Que coisa mais idiota! E qual é o sentido de se fazer um estágio então? Aí vinha ela com a cara mais deslavada do mundo, como se nada tivesse acontecido, distribuia tarefas e conversava sobre coisas imbecís.
Quando eu realmente achei que o problema era pessoal, descobri que as outras meninas achavam o mesmo. E não só elas. Kátia também contava as coisas mais absurdas e o cerco entre as duas começou a fechar. O escritório virou um campo de batalha. As duas chegaram a ponto de gritarem uma com a outra dentro da sala das estagiárias.
“Dora, eu falei pra você que nós precisamos dos textos. Os clientes estão esperando. A revista só sobrevive de clientes!" – gritava Kátia, quase implorando.
“Eu sei, mas agora não tenho tempo.” – disse o Demônio em sua voz fria.
“Mas, Dora, qual é o seu problema? Se eu não mandar os textos, a gente perde o cliente!”“Eu já disse que eu não tenho tempo, Kátia. Quando eu tiver tempo eu faço.”
“Então deixa as meninas escreverem o texto!”
“Será que você está me ouvindo? Eu já falei que agora não!”
“Mas acontece...”
“Mas que merda! Você quer acabar comigo, Katia?”
Kátia saiu da sala batendo pé. A frase ‘Você quer acabar comigo’ ficou ecoando nas nossas cabeças o dia inteiro, principalmente na minha, porque a gritaria aconteceu envolta de mim, literalmente. Uma à minha esquerda, outra à minha direita, numa disputa de poderes e razões tão absruda quando aquela falta de senso de trabalho em equipe.
Eu fiquei gelada, não sabia o que dizer, ou se eu deveria dizer alguma coisa. E foi assim que eu aprendi a fazer fofoca. O clima lá dentro era tão carregado que tinha de ser comentado na hora do almoço.
Com o tempo eu aprendi a ver que Kátia tinha razão no que dizia e Dora não tinha a menor noção do que fazia. Todas as suas idéias eram ridículas, parecia que a revista inteira dependia de seu (mau) gosto.
Uma vez tive que fazer uma página sobre moradia e ela escolheu as cores dos móveis que deveríamos apresentar, isso mesmo, a gente só apresentava coisas, como um catálogo de supermercado. E os móveis deveriam ser rosa-choque, cinza, prateado ou branco. Eu fiquei tentando imaginar como ficaria a página de uma revista, que se dizia ser melhor do que as outras, com móveis cor-de-rosa. Foi a coisa mais embaraçante que eu já ouvi, mas as coisas só eram feitas mesmo com o consentimento dela.
A página ficou o fim da picada, uma piada, mais feia impossível. Aí ela veio reclamar. Aquela maluca.
“A última página “Moradia” ficou horrível”.
“Claro que ficou. Mas quem é que teve a idéia de apresentar móveis cor-de-rosa? Eu não fui. Agora me diga: Quem, nesse mundo de meu Deus, teria móveis assim, com exceção da Barbie e da Paris Hilton?”
A minha voz soou irônica, mas infelizmente eu não disse isso quando ela estava presente. Covardia pura.
O ritimo só piorava, eu não escrevia mais nada, embora os meus textos houvessem sido muito elogiados. Pensei em reclamar, mas o que adiantaria? O nosso editor-chefe, também conhecido como Eu-Olho-Só-
Para-O-Meu-Umbigo, jamais se preocupou em nos perguntar se estávamos aprendendo alguma coisa. Sempre fez de tudo para nos convencer a termos paciência com a Dora, pois ela era uma pessoa “difícil”. Depois eu descobri o motivo. Ele deixava ela pintar o sete porque nenhum outro editor trabalharia o tanto que ela trabalhava pela miséria que ela recebia; e ele queria mesmo era ver seus negócios andando. Foi quando eu tive pena dela.
Eu descobri muitas coisas erradas na revista, incluindo erros ortográficos; e até mesmo o nome de um dos ator famoso eles escreveram errado. Isso mesmo. Ao lado da foto do Selton Mello (exemplo) estava escrito Fernando Mello, e todo mundo sabe que o nome do cara é outro. Assim eu percebi que ninguém se dava o trabalho de corrigir os textos antes da impressão.
Essas e outras me fizeram enxergar o quão despreparados eles eram. Quiseram me mostrar que comiam caviar, mas depois eu fui ver que eles comiam era sardinha.
Eu fui deixada de lado muitas vezes, e os meus bons artigos nunca mais saíram na revista, eu só recolhia fotos para a apresentação de produtos. O clima estava ficando cada vez mais tenso, a Crocodilo Dora entrava na nossa sala para dizer que algum CD, com alguma foto importante tinha sumido, virava a cara para todo mundo, se fechava em sua sala e lá ia mais um dia embora.
Me recordo de uma vez, um dos raros momentos em que tínhamos o que fazer, nós estávamos trabalhando em nossos respectivos lugares e ela entra, do nada, de uma hora para outra. Agora imaginem essa cena, mas de verdade. Cerrem os olhos e vejam isso.
Uma jovem mulher, de uns 28 anos, não bonita, com um rabo de cavalo mal feito segurando seus escuros e longos cabelos, usando uma túnica azul de chifón bem larga para esconder os pneus, calças jeans e uma bolsa lilás gigantesca na mão direita, objeto esse que ela balançava como uma garotinha de cinco anos. E disse com a sua voz que sempre soava como uma flauta descompassada:
“Eu recebi um e-mail da minha antiga escola. Eles vão promover um encontro de classe e o meu ex-namorado vai estar lá. Será que eu deveria levar um amigo para fingir ser meu namorado?”
Ali o meu mundo deu um giro de 360°. Qual era o problema dela? Para mim ficou clara a sua insegurança, e mais clara ainda ela ficou quando eu descobri que nós não escrevíamos mais textos porque ela tinha medo de perder o emprego para uma de nós. E após muita humilhação eu resolvi sair, disse ao chefe que eu não agüentava mais trabalhar com ela, e ele me disse que a maioria dos estagiários antes de nós tinha ido embora sem dizer nada.
Eu me mandei. Patrícia saiu no mesmo dia, depois de uma briga horrorosa com a Lady-Crocodilo. Nós eramos “obrigadas” a trabalhar fins de semana e ainda tinhamos o direito de ouvir reclamações sobre o que fazíamos, sem ajuda, sem Feedback, sem nada. E isso não agrada ninguém, não é mesmo?
A arrogância e falta de profissionalismo de Dora me causaram fobia de redações, mas eu aprendi a ser mais forte e que desistir nem sempre é um caminho ruim. Conquistei novas e boas amigas e hoje estou pronta para recomeçar com a certeza de que sou boa no que faço e que eles não mereceram nenhuma de nós.
É claro que eu poderia escrever um livro inteiro sobre essas pessoas e o que se passou comigo, mas acho desnecessário. Coisas ruins são importantes para o crescimento da alma, mas não há quem sinta prazer em lembrá-las...
Nós terminamos a noite falando mal da revista, porque a Mariana trouxera a última edição que ainda continha os nossos nomes. Agora tudo parecia ainda pior do que no começo. Textos errados, sem graça e com objetivo de agradar seus clientes que pagam para que a revista exista. Tudo muito superficial e desinteressante. Eu voltei para casa com a sensação de que não poderia ter feito uma escolha melhor.
Se eu ainda penso no Demônio mal vestido? Sim, toda vez que eu vejo o céu.
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Depois de três semanas chegou uma outra estagiária, Mariana, um amor de pessoa. Nós nos entendemos imediatamente e eu fiquei feliz por não estar mais sozinha naquele lugar frio. Uma semana depois de Mariana, entrou Patrícia, e aí estava feito o nosso time de “Mosqueteiras”.
Ter alguém com quem conversar era ótimo, nós falávamos bastante, ríamos, descobríamos coisas em comum, isso tudo principalmente de manhã, quando ficávamos lá sentadas sem ter o que fazer por horas a fio.
Nós estávamos ficando íntimas, mas demorou para discutir sobre o comportamente estranhíssimo da nossa editora-jararaca. Eu achava que a mulher me odiava. Ela vinha com horas de atraso e depois fechava a sua porta, ninguém entrava e se nós tivéssemos alguma dúvida, não tínhamos coragem de poerguntá-la. Que coisa mais idiota! E qual é o sentido de se fazer um estágio então? Aí vinha ela com a cara mais deslavada do mundo, como se nada tivesse acontecido, distribuia tarefas e conversava sobre coisas imbecís.
Quando eu realmente achei que o problema era pessoal, descobri que as outras meninas achavam o mesmo. E não só elas. Kátia também contava as coisas mais absurdas e o cerco entre as duas começou a fechar. O escritório virou um campo de batalha. As duas chegaram a ponto de gritarem uma com a outra dentro da sala das estagiárias.
“Dora, eu falei pra você que nós precisamos dos textos. Os clientes estão esperando. A revista só sobrevive de clientes!" – gritava Kátia, quase implorando.
“Eu sei, mas agora não tenho tempo.” – disse o Demônio em sua voz fria.
“Mas, Dora, qual é o seu problema? Se eu não mandar os textos, a gente perde o cliente!”“Eu já disse que eu não tenho tempo, Kátia. Quando eu tiver tempo eu faço.”
“Então deixa as meninas escreverem o texto!”
“Será que você está me ouvindo? Eu já falei que agora não!”
“Mas acontece...”
“Mas que merda! Você quer acabar comigo, Katia?”
Kátia saiu da sala batendo pé. A frase ‘Você quer acabar comigo’ ficou ecoando nas nossas cabeças o dia inteiro, principalmente na minha, porque a gritaria aconteceu envolta de mim, literalmente. Uma à minha esquerda, outra à minha direita, numa disputa de poderes e razões tão absruda quando aquela falta de senso de trabalho em equipe.
Eu fiquei gelada, não sabia o que dizer, ou se eu deveria dizer alguma coisa. E foi assim que eu aprendi a fazer fofoca. O clima lá dentro era tão carregado que tinha de ser comentado na hora do almoço.
Com o tempo eu aprendi a ver que Kátia tinha razão no que dizia e Dora não tinha a menor noção do que fazia. Todas as suas idéias eram ridículas, parecia que a revista inteira dependia de seu (mau) gosto.
Uma vez tive que fazer uma página sobre moradia e ela escolheu as cores dos móveis que deveríamos apresentar, isso mesmo, a gente só apresentava coisas, como um catálogo de supermercado. E os móveis deveriam ser rosa-choque, cinza, prateado ou branco. Eu fiquei tentando imaginar como ficaria a página de uma revista, que se dizia ser melhor do que as outras, com móveis cor-de-rosa. Foi a coisa mais embaraçante que eu já ouvi, mas as coisas só eram feitas mesmo com o consentimento dela.
A página ficou o fim da picada, uma piada, mais feia impossível. Aí ela veio reclamar. Aquela maluca.
“A última página “Moradia” ficou horrível”.
“Claro que ficou. Mas quem é que teve a idéia de apresentar móveis cor-de-rosa? Eu não fui. Agora me diga: Quem, nesse mundo de meu Deus, teria móveis assim, com exceção da Barbie e da Paris Hilton?”
A minha voz soou irônica, mas infelizmente eu não disse isso quando ela estava presente. Covardia pura.
O ritimo só piorava, eu não escrevia mais nada, embora os meus textos houvessem sido muito elogiados. Pensei em reclamar, mas o que adiantaria? O nosso editor-chefe, também conhecido como Eu-Olho-Só-
Para-O-Meu-Umbigo, jamais se preocupou em nos perguntar se estávamos aprendendo alguma coisa. Sempre fez de tudo para nos convencer a termos paciência com a Dora, pois ela era uma pessoa “difícil”. Depois eu descobri o motivo. Ele deixava ela pintar o sete porque nenhum outro editor trabalharia o tanto que ela trabalhava pela miséria que ela recebia; e ele queria mesmo era ver seus negócios andando. Foi quando eu tive pena dela.
Eu descobri muitas coisas erradas na revista, incluindo erros ortográficos; e até mesmo o nome de um dos ator famoso eles escreveram errado. Isso mesmo. Ao lado da foto do Selton Mello (exemplo) estava escrito Fernando Mello, e todo mundo sabe que o nome do cara é outro. Assim eu percebi que ninguém se dava o trabalho de corrigir os textos antes da impressão.
Essas e outras me fizeram enxergar o quão despreparados eles eram. Quiseram me mostrar que comiam caviar, mas depois eu fui ver que eles comiam era sardinha.
Eu fui deixada de lado muitas vezes, e os meus bons artigos nunca mais saíram na revista, eu só recolhia fotos para a apresentação de produtos. O clima estava ficando cada vez mais tenso, a Crocodilo Dora entrava na nossa sala para dizer que algum CD, com alguma foto importante tinha sumido, virava a cara para todo mundo, se fechava em sua sala e lá ia mais um dia embora.
Me recordo de uma vez, um dos raros momentos em que tínhamos o que fazer, nós estávamos trabalhando em nossos respectivos lugares e ela entra, do nada, de uma hora para outra. Agora imaginem essa cena, mas de verdade. Cerrem os olhos e vejam isso.
Uma jovem mulher, de uns 28 anos, não bonita, com um rabo de cavalo mal feito segurando seus escuros e longos cabelos, usando uma túnica azul de chifón bem larga para esconder os pneus, calças jeans e uma bolsa lilás gigantesca na mão direita, objeto esse que ela balançava como uma garotinha de cinco anos. E disse com a sua voz que sempre soava como uma flauta descompassada:
“Eu recebi um e-mail da minha antiga escola. Eles vão promover um encontro de classe e o meu ex-namorado vai estar lá. Será que eu deveria levar um amigo para fingir ser meu namorado?”
Ali o meu mundo deu um giro de 360°. Qual era o problema dela? Para mim ficou clara a sua insegurança, e mais clara ainda ela ficou quando eu descobri que nós não escrevíamos mais textos porque ela tinha medo de perder o emprego para uma de nós. E após muita humilhação eu resolvi sair, disse ao chefe que eu não agüentava mais trabalhar com ela, e ele me disse que a maioria dos estagiários antes de nós tinha ido embora sem dizer nada.
Eu me mandei. Patrícia saiu no mesmo dia, depois de uma briga horrorosa com a Lady-Crocodilo. Nós eramos “obrigadas” a trabalhar fins de semana e ainda tinhamos o direito de ouvir reclamações sobre o que fazíamos, sem ajuda, sem Feedback, sem nada. E isso não agrada ninguém, não é mesmo?
A arrogância e falta de profissionalismo de Dora me causaram fobia de redações, mas eu aprendi a ser mais forte e que desistir nem sempre é um caminho ruim. Conquistei novas e boas amigas e hoje estou pronta para recomeçar com a certeza de que sou boa no que faço e que eles não mereceram nenhuma de nós.
É claro que eu poderia escrever um livro inteiro sobre essas pessoas e o que se passou comigo, mas acho desnecessário. Coisas ruins são importantes para o crescimento da alma, mas não há quem sinta prazer em lembrá-las...
Nós terminamos a noite falando mal da revista, porque a Mariana trouxera a última edição que ainda continha os nossos nomes. Agora tudo parecia ainda pior do que no começo. Textos errados, sem graça e com objetivo de agradar seus clientes que pagam para que a revista exista. Tudo muito superficial e desinteressante. Eu voltei para casa com a sensação de que não poderia ter feito uma escolha melhor.
Se eu ainda penso no Demônio mal vestido? Sim, toda vez que eu vejo o céu.
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