Complementando...
Acho que não deixei meu ponto de vista muito claro acerca de alguns detalhes.
Primeiro, o item 1 do enumerado que fiz no post acima. Ao determinar que o risco a que Eärendil e Elwing se expuseram não se abateria sobre eles, entendo que Manwë decidiu por não aplicar a eles a mesma penalidade que, muito mais tarde, viria a ser aplicada a Ar-Pharazon e seu exército. Quem violava a interdição jamais poderia voltar à Terra Média, mas também não deveria ter permissão para andar entre os eldar e ainur em Valinor. O infrator ficaria em Valinor, mas preso, como Ar-Pharazon e seu exército, até o fim de Arda. Eärendil e Elwing foram poupados dessa pena. Não havia a interdição aos numenorianos naquela época, mas havia uma interdição equivalente, que se estendia também aos elfos (ou pelo menos aos noldor)
Quanto ao item 2, resta esclarecer que não me parece que a vedação impedisse Eärendil e Elwing de sair de Valinor, mas sim de voltar a viver na Terra Média, ou, literalmente, *caminhar entre homens ou elfos nas Terras de Fora*. Isso não os impedia de fazer algo como pilotar a estrela, optassem por ser elfos ou humanos.
Outra coisa... Além de participar da Guerra da Ira e derrotar Ancalagon, o que mais fez Eärendil que influenciou a história da Terra Média?
A estrelinha ficou lá brilhando, e tal... mas, e daí?
Em algum momento alguém engarrafou um pouco da luz da estrela, criando aquela mini-silmaril que, eras depois, Galadriel deu a Frodo. Mas isso seria possível mesmo que a estrela tivesse brilhado no céu somente pelo período de uma vida humana.
Se depois disso a estrela deixasse de brilhar no céu e a silmaril fosse guardada em Valinor, não faria muita diferença prática... Pelo menos para a história da Terra Média.
Não lembro de nenhuma outra interferência de Eärendil no curso da história da Terra Média. Só a participação na Guerra da Ira e a garrafinha de luz que Galadriel dá a Frodo.
Forçando muito a barra, dá para imaginar que o êxodo dos eldar para fora da Terra Média seria acelerado, se eles não tivessem uma silmaril brilhando no céu para lhe reconfortar os corações... Mas era justamente essa falta de luz de Valinor que fez os noldor caírem na armadilha de Sauron e criarem os anéis de poder com uso de necromancia. A história não perderia a coerência por isso.
Eärendil ficou fazendo guarda contra Melkor, mas isso é um fato que não tem conexão com a Terra Média. Se Thorondor ficasse fazendo isso sozinho, daria na mesma para as Terras de Fora...
O resto da história é decorrente da opção de Elros, Elrond e seus descendentes. Isso sim! Como já salientei nos itens 3 e 4 do post acima, ela era independente da escolha de Eärendil e Elwing.
De qualquer forma, no entanto, mesmo se Elrond e Elros escolhessem ser elfos, qualquer um de seus descendentes elfos poderia escolher (irrevogavelmente) vincular-se ao destino dos homens e submeter-se ao julgamento compatível com ele, como escolheu fazer Arwen. Essa escolha podia ser adiada, mas não evitada.
É o que esclarece a carta 153, no trecho que cito a seguir:
In the primary story of Lúthien and Beren, Luthien is allowed as an absolute exception to divest herself of 'immonality' and become 'mortal'; but when Beren is slain by the Wolf-warden of the Gates of Hell, Lúthien obtains a brief respite in which they both return to Middle-earth 'alive'; though not mingling with other people : a kind of Orpheus-legend in reverse, but one of Pity not of Inexorability. Túor weds Idril the daughter of Turgon King of Gondolin; and 'it is supposed' (not stated) that he as an unique exception receives the Elvish limited 'immortality': an exception either way. Eärendil is Túor's son & father of Elros (First King of Númenor) and Elrond, their mother being Elwing daughter of Dior, son of Beren and Lúthien: so the problem of the Half-elven becomes united in one line. The view is that the Half-elven have a power of (irrevocable) choice, which may be delayed but not permanently, which kin's fate they will share. Elros chose to be a King and 'longaevus' but mortal, so all his descendants are mortal, and of a specially noble race, but with dwindling longevity: so Aragorn (who, however, has a greater life-span than his contemporaries, double, though not the original Númenórean treble, that of Men). Elrond chose to be among the Elves. His children; with a renewed Elvish strain, since their mother was Celebrían dtr. of Galadriel; have to make their choices. Arwen is not a 're-incarnation' of Lúthien (that in the view of this mythical history would be impossible, since Lúthien has died like a mortal and left the world of time) but a descendant very like her in looks, character, and fate. When she weds Aragorn (whose love-story elsewhere recounted is not here central and only occasionally referred to) she 'makes the choice of Lúthien', so the grief at her parting from Elrond is specially poignant. Elrond passes Over Sea. The end of his sons, Elladan and Elrohir, is not told: they delay their choice, and remain for a while.
Considero esse trecho essencial para a nossa discussão.
Um outro ponto que gostaria de complementar é que Númenor existiria de qualquer maneira, mesmo se todos os descendentes de Eärendil escolhessem ser elfos, pois não foi apenas um prêmio para os descendentes humanos de Eärendil, mas uma recompensa às três casas dos amigos-dos-elfos.
A queda de Númenor, por outro lado, seria ainda mais provável se não houvessem descendentes de Eärendil na ilha.
As conseqüências de uma Queda sem sobreviventes fiéis, aí sim, é algo que ficaria complicado de imaginar. Nesse caso, talvez Tolkien pudesse fazer qualquer descendente elfo de Elrond ou Elros optar por ser humano, e abdicar da imortalidade justamente para liderar um grupo de numenorianos fiéis... Não seria interessante?
Uma coisa que ainda acho que precisa ser esclarecida é o que significa vincular-se ao destino dos homens ou dos elfos. Não é mesma coisa que vincular-se aos destinos dos homens ou elfos
na Terra Media . Ao que me parece, é exatamente o contrário: vincular-se ao destino dos homens
para além da Terra Média, ou permanecer em Arda até o seu fim, como um elfo.
É aquela mesma opção dramática da Arwen, e nada mais: viver para sempre em Arda (até o seu fim), ou ir além. De qualquer forma, fosse qual fosse a opção de Eärendil e Elwing, eles nunca mais poderiam interagir com os homens e elfos na Terra Média.
E ainda... Não concordo que optar por ser humano fosse pior do que optar por ser elfo. A imortalidade dos elfos é apenas relativa. Se Eärendil decidisse vincular-se ao destino dos homens, desencarnaria quando envelhecesse, e iria para sabe-se lá onde, para além de Arda. Mas não morreria. Não existe *morte* nas obras de Tolkien.
E uma última observação:
Quanto ao item 4 do enumerado.
Eu não sei o que implicaria submeter-se ao julgamento dos homens ou dos elfos. Não faço a menor idéia.