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Sanshiro - Natsume Soseki

-Jorge-

mississippi queen
Textinho que escrevi sobre o livro a quem interessar (não sei se vou continuar com isso de escrever sempre sobre o que ler... Muito cansativo! Tá louco! =P) Queria escrever só uma página, mas saíram duas e depois de muito rodar não consegui fugir muito do esquema sinopse + personagens... =/

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Ovelhas desgarradas em busca de seu lugar no mundo
Sanshiro Ogawa, 23 anos, sai da província de Kumamoto, “uma roça” (segundo ele), no sul do Japão, para cursar Letras inglesas na universidade de Tóquio. É a partir dessa premissa que Soseki discute, neste livro de 1908, o desejo do Japão de modernizar-se e se afirmar frente ao Ocidente.

Se de início Sanshiro se mostra chocado com o caos de Tóquio e entusiasmado com a modernidade (o Japão teria feito em 40 anos o que a Europa levou 300), logo percebe que a frase “vida universitária” é um contrassenso, pois a universidade se revela desconectada da vida, mais preocupada com “macarrão italiano” ou com “os milhares de cabelos brancos de Ibsen” do que com as “urgentes inclinações da sociedade”. Por conselho de seu colega de classe (e depois amigo) Yojiro Sasaki, Sanshiro se volta para o aprendizado da vida através dos livros, do flaneurismo e do círculo de pessoas envolvidas com o professor Cho Hirota.

Hirota é uma espécie de “homem supérfluo” sosekiano, o personagem específico da literatura russa que representa um liberal perdido em uma sociedade conservadora. Professor de inglês do nível médio, ele se mostra cético quanto ao projeto japonês de modernidade no que ele tem de nacionalista (os japoneses como “povo escolhido”), militarista (o Japão havia ganho a Primeira Guerra Sino-Japonesa em 1895 e a Guerra russo-japonesa em 1905), macaqueador da Europa e coletivista, ao demandar a submissão do indivíduo ao coletivo. Na definição de Yojiro, ele é uma “Imensa Escuridão”, pois “absorve várias leituras, mas não dá lume a nada” e uma contradição ambulante, pois deprecia o Japão tendo conhecimento indireto do estrangeiro apenas através de fotos. Para Sanshiro ele seria como o livro Hydriotaphia, “difícil de entender”.

Faz parte do círculo também o citado Yojiro, que só pode ser descrito como hiperativo e que serve de contraponto ao protagonista. Uma característica de Sanshiro reiterada ao longo do livro é seu medo de viver, seu acanhamento. Yojiro por outro lado esbanja vida, envolvendo-se ativamente inclusive na dos outros, causando-lhes problemas sem querer e sem, também, se preocupar com consequências do que faz. Para Hirota, Yojiro é o “líder do partido dos vandifamadores”, termo que ele cria para designar a egocêntrica nova geração em oposição à “outrocêntrica” anterior, voltada para o próximo, os pais, a nação e a sociedade, mas hipócrita, por ser assim apenas preocupada com as aparências. Essa fala indica sua visão do declínio do personalismo nas relações modernas com seus aspectos bons e ruins.

Temos ainda Mineko Satomi, jovem relativamente rica e solteira com quem Sanshiro se envolve em um jogo de conquista. Mineko adota atitudes ambíguas em relação à Sanshiro, por vezes parecendo se interessar por ele e mesmo estar apaixonada, por vezes não. Em dado momento ela o chama de “stray sheep”, ovelha desgarrada, ou criança perdida, no contexto em que é dito, caracterizando-o como homem que não sabe lidar com mulheres e como um indivíduo perdido em meio ao mundo.

A mesma ambiguidade é demonstrada frente a Sohachi Nonomya de 30 anos. Físico professor da universidade e ex-aluno de Hirota que se envolve com Sanshiro e Mineko em um triângulo não resolvido até quase o final do livro. A irmã de Nonomya e amiga de Mineko, Yoshiko, também é uma personagem principal que se torna outra possível pretendente de Sanshiro.

E aqui se levanta um ponto relevante do livro que é o do casamento: casar ou não e por quê? A postura das duas amigas é bastante livre, já que podem escolher com quem e até se vão ou não se casar. Isso serve de contraste para a posição de Omitsu Miwata, garota de Kumamoto que todos esperam casar com Sanshiro (menos ele). As duas garotas de Tóquio aparecem como “mulheres de Ibsen”, representantes da nova geração egocêntrica, assim como Yojiro, intensas e insatisfeitas. E embora não se diga quanto ao quê, podemos imaginar que seja quanto aos homens, pois Yojiro dá a entender que com a mesma idade as mulheres teriam mais vivências e achariam os homens infantis ou inferiores, e quanto à própria posição da mulher, sendo elas estudadas (até o nível médio e em artes, línguas, música) e livres (mas aparentemente não para se sustentarem).

Aprendendo e crescendo com essas pessoas, deixando um pouco seu medo de viver, Sanshiro ensina sobre o Japão em uma encruzilhada. Modernidade e Tradição, Ocidente e Oriente, Progresso e Atraso eram as “urgentes inclinações da sociedade” que se impunham então. O Japão procurou responder a elas por uma via que unisse ciência ocidental com o "espírito japonês", uma modernização de superfície. Sanshiro não parece ter se impressionado, pois escreveu para a mãe depois que “Tóquio não era um lugar lá muito interessante”. E talvez tivesse sua razão se lembrarmos aonde a vontade do país de se afirmar como igual frente ao Ocidente o levaria dali a 30 anos.

Tem o tópico do autor também. http://www.valinor.com.br/forum/topico/natsume-soseki.115663/

Do Soseki, vou partir para o Kokoro agora.
 
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