• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Sábia tolice

Melian

Período composto por insubordinação.
Calvo, bravo, salvo... Parvo.
Calvo de cansaço, de preocupação.
Preocupação com o quê? O que comer, o que beber, onde viver.
Ora, não será viver sofrer?
Bravo! Bravo? Não, a vida que é brava comigo.
Essa "vida severina"!
Eita, minha, sua, nossa sina!
Severa, não espera, dilacera.
Pasmo? Eu não! "O coisa ruim" não me assombra.
Aquele excomungado, desalmado, rejeitado...
Eu sou é salvo!

***

Coco, sufoco, pouco, sofro, louco... Parvo.
Vou seguindo essa minha "vida seca", (muito seca!)
Oh! Que paradoxo inadequado.
Se é vida, não pode ser seca. Se é seca, é morte.
Não! Retire o prefixo latino "in", que expressa sentido contrário, negativo.
A palavra certa é adequado, pois, a minha, a sua, a nossa vida...
...Tem sido seca, dura, insegura.
Vida dura como um coco!
"Morte em vida", que sufoco!
Pouco vivo, pouco sonho. Pouco sofro?
Não. Sofro o dobro!

***
Acho que sou louco. Será que o sou?
Espero que sim, pois está escrito:
"nem mesmo os loucos errarão o caminho do céu".
Xiii! Errei!
Não faz mal, o caminho me achou.
Danado! Seguiu-me direitinho, assim como a montanha fez com Maomé.
Falsidade, expressividade, sagacidade, liberdade... Parvo!
Não sou dotado de falsidade.
Se bem que isso não é dote, é "bote".
Não, não é o bote que se coloca na água para navegar.
É mais parecido com aquele que as cobras (muitas cobras!) vivem a dar.

***

Expressividade, sagacidade?
Não. A palavra é liberdade, então.
É, sou livre para falar o que penso, o que quero, do jeito que sei.
Entretanto, acabei de me lembrar que penso e logo começo a deduzir que não quero existir.
Por quê? "Num sei", só "sei que nada sei"!
É por isso que falo!
Não devo nada a ninguém!
Se devesse, eu pagaria.
Pára Grilo, saia daqui! Pára de "grilar" no meu ouvido!
Deixe o Chicó pagar a promessa!
Não vai dar uma de Português.
Escambo, não! Bugiganga em troca do Pau Brasil, isso é...
Desonesto! Funesto! PortoZil!

***

Colorir, esculpir... Parvo.
Eu coloro a minha vida.
Não, colorir é defectivo, não serve para designar o que faço.
Mesmo se desse, ficaria uma "opinião formada", uma ordenança, certeza...
Quer dizer, "eu sempre vou colorir a minha vida".
Isso nos remete à idéia de rotina, imutável.
O melhor é dizer, eu posso colorir a minha vida.
Agora melhorou. Quando eu digo que posso, estou apontando para uma possibilidade.
Se eu quiser, não preciso colori-la, posso deixá-la em branco.

***

Vamos andando, cuidado!
Podemos esbarrar na "morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida".
E por falar, mais uma vez, em vida, "o que será, o que será"?
Vida, eco ou vida?
O nobre me disse que estava esculpindo a sua vida.
A princípio, estranhei, pois ele esculpiu uma estátua de si mesmo sentado em uma cadeira.
A sua cadeira, seu trono, era constituído de dinheiro.
Mais tarde entendi, "é que Narciso acha feio tudo o que não é espelho".
Por isso se aborreceu quando eu disse que minha vida errante...
... É mais certa do que a dele brilhante, ou melhor, entediante, alienante.
O pobre nobre ( lá vem o paradoxo de novo!), só enxerga ele mesmo!

***
Rebuscada, remendada, famigerada... Parvo.
Linguagem, palavra complexa. Coisa para Rosa explicar. Não, questionar, "neologisar".
Fala rebuscada? Não, nem de longe.
Na verdade a minha fala é remendada, famigerada, notada pela marginalidade.
Sim, minhas palavras estão à margem da intelectualidade.
Viva o Damázio Siqueiras! "siqueiras, vem de 'sequeira', que significa 'lugar seco...
...Que não foi regado'".

***
É, nossa linguagem não foi regada, mas, mesmo assim, resiste.
Seja bem vinda linguagem Mandacaru!
Você é alegoria para representar os parvos de ontem, antes de ontem, hoje e amanhã.
Não sei como Mandacaru, mas resiste à escassez de água.
Você é espinhoso, e, por isso, não raro, deixa feridas nos outros.
Mas não fique preocupado, sabemos que não fere porque gosta, mas porque é necessário.
Além disso, não só de espinhos se faz sua "vida seca".
Você também produz uma flor, e ela indica que vem a chuva.
Oh! Que maravilha! A chuva pode vir a cair nos corações humanos.
Como eles precisam disso!
É então que entra a sátira. Assim como você, Mandacaru, "ela faz a ferida para curá-la".
Sim, você que era só espinho antes da chuva, agora se tornou uma bela flor.
Essa flor gerou um fruto, e dele é feito um chá com grande poder anti-inflamatório.
Agora sim: manda chá na crueldade, manda chá na hipocrisia, manda chá no "Baile de
máscaras" que é a nossa sociedade.
E, enfim, faça com que todos nós nos tornemos verdadeiros, sinceros, sem malícia...
...Faz-nos, simplesmente... PARVOS!
 
Valentina..... gostei do desse eu-lírico que vc botou no poema, esse que é seu próprio revisor e que, contestador, revira as frases do avesso e as "corrige". Muito engenhoso: "coloro... coloro é defectivo...."


A dramaticidade também é ousada, tipo.. vai falando.. como Drummond.. um Drummond rapper, cheio de fluxo de consciência.


Parabéns.
 
Obrigada, Vinnie.
O engraçado é que o leitor sempre conversa melhor com o texto do que a gente. O texto parece se esconder da gente e se mostrar para o leitor.
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.404,79
Termina em:
Back
Topo