Olá, amigos!
Primeiro, quero aqui fazer uma ressalva: Não sou jogador de RPG, gosto muito do tema, tenho enorme curiosidade pelo jogo ... mas nunca joguei nem assisti a uma partida.
Posto isto, faço apenas duas considerações:
1 - Qualquer herói, seja ele criado pela ou para a ficção, é um espelho convexo de nossas fraquezas, de nossos defeitos, que são nele superados (e sublimados). Neste sentido, ele será tão mais vilento quanto mais formos reprimidos,tão mais forte, astuto, independente e bem adapatado, quanto, inversamente, nos sentirmos fracos, burros, dependentes e deslocados. Quando digo nós, quero dizer a sociedade que gera o herói, a moral que o autoriza e justifica, enfim, o meio social em que ele foi gerado.
Partindo deste raciocínio, o herói medieval, mesmo na partida de RPG, jamais poderá ser o mesmo que aquele imaginado e concebido na época medieval, pelo simples fato de que quem o idealiza não é um indivíduo da idade média, mas do século XXI. Ele pode até, em termos de verossimilhança, quer pelas roupas, o cenário, o porte, as situações em que se insere, ser levado a situações da idade média, mas suas decisões será pautadas pelos valores daquele que o imaginou isto é, um indivíduo do século XXI. Um bom exemplo disto, no caso de Aragorn, é seu engajamento na linha de frente das batalhas, seu senso de justiça e lealdade e acima de tudo, sua "falta de nobreza" ao tratar com os indivíduos comuns. São características típicas não de um herói medieval, mas de um modelo nascido de um Tolkien marcado pela relativização dos valores como nobreza, diplomacia e "status quo", todos abalados pela crueza da guerra que destruiu a europa.
2 - Finalmente, não é um defeito ou uma demonstração de fraqueza sermos ou queremos ser heróis. Eles são, em sua essência, a projeção do que de melhor a sociedade acha que pode ter e oferecer para o bem estar do cidadão, bem como o que de melhor ela pode apresentar como valores morais e éticos. Resulta daí o perigo de se encontrarem os heróis cultuados hoje em dia: seres em eterno conflito, transitando constantemente entre os papéis de mocinho e bandido, embaralhando virtudes e defeitos e transmitindo, ou melhor, disseminando a noção de um mundo sem valores verdadeiros, um mundo feito de acasos e situações fortuitas, de soluções momentâneas e acordos dúbios. Um herói, finalmente, pode ser levado a matar sim, se, e somente se, ele estiver posicionado de modo a não existir dúvida de que ele está, naquele momento, eliminando o mal contra o qual foi destinado a combater. Se ele, por apenas um instante, não estiver certo disto, ele terá sido apenas mais um criminoso, mais um assassino que escapou ileso (?) do julgamento humano. Ele matou não só o oponente. Pior que isto, matou-se a si mesmo.