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Autor da Semana Roberto Drummond

Melian

Período composto por insubordinação.
Quem foi Roberto Drummond?


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Autor da famosa frase "se houver uma camisa branca e preta pendurada num varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento", Roberto Drummond nasceu em Santana dos Ferros, Minas Gerais, na década de 1930, e morreu, em decorrência de complicações cardíacas, em Belo Horizonte, durante a Copa do Mundo de 2002 (no dia do jogo entre Brasil e Inglaterra). Foi cronista esportivo, contista e romancista. Estreou na literatura ganhando, em 1971, com A morte de D.J. em Paris, o maior prêmio literário brasileiro da época, o Concurso de Contos do Paraná. O livro foi lançado em 1975, pela editora Ática, com 30 mil exemplares, tiragem recorde na época. Dentro do gênero que o autor batizou de literatura "pop", publicou os romances O dia em que Ernest Hemingway morreu crucificado e Sangue de Coca-Cola. Publicou outros contos e romances, com destaque para o sucesso popular de Hilda Furacão, de 1991, que virou minissérie da Rede Globo. Pouco antes de morrer, publicou o romance O cheiro de Deus. Nessa obra, como nas demais, há os indícios da literatura pop do autor, envolvendo: intenso visualismo na abordagem de elementos da sociedade de consumo, com suas marcas, nomes de fantasias, referências a nomes de políticos ao lado de nomes fictícios; lirismo pontuando as descrições; abordagem metonímica das personagens (através de cabelos, olhos, boca, trajes, etc.); presença marcante da História e da utopia socialista; ênfase em tipos caricatos; carnavalização da linguagem e abuso da técnica intertextual, com transcrições de músicas, poemas, textos literários em geral e elementos da sociedade de consumo; resíduos de culpabilidade envolvendo o catolicismo; frenética referência a números, com hiperbólicas enumerações; tom declamatório, visível influência de radionovelas.


A literatura pop de Roberto Drummond

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O que é literatura pop?


Para tentarmos propor uma conceituação para a literatura pop, precisamos, primeiramente, conhecer o autor do Manifesto Pop. Claes Thure Oldenburg (Estocolmo, 21 de janeiro de 1929) é um escultor estado-unidense de origem sueca e é, entre Andy Warhol e Roy Lichtenstein, o mais importante representante do Pop Art americano. Com Oldenburg, desaparece qualquer vestígio de pintura, permanecem apenas as coisas-imagem, ampliadas e exageradas nas cores berrantes, intrometidas demais num espaço que parece roubar a nossa existência. Tais presenças são exageradas pelo vazio, pela nulidade da consciência. Estando a tratar com uma "sociedade de consumo" mas corrente, a comida: está implícito que a "cultura de massa" também é uma espécie de comida. Para Oldenburg é a comida americana, industrializada e padronizada: os hamburgers, os hot-dogs, os ice-creams que são diariamente introduzidos em quantidades industriais, como combustível nos fornos, nos tubos digestivos de milhões de americanos. Os modelos não são sequer essas comidas , mas sua publicidade em cores: claro, na sociedade de consumo primeiro vem a imagem publicitária, depois a coisa.

Roberto Drummond construiu suas obras pertencentes à literatura pop na pegada do proposto por Claes Oldenburg, para quem a arte deve ter um compromisso político-erótico-místico, que "tenha a oportunidade de partir do zero e que torça e estenda e acumule e cuspa o jorro, e que seja pesada e vulgar e estúpida como a própria vida".

A obra pop de Roberto Drummond foi construída em pleno período ditatorial, em sua face mais sinistra, entre os anos de 1964 a 1974. Numa época marcada pela censura, pela ditadura, a solução encontrada pelos autores pós-modernos foi a de valorizar a metáfora, o texto alegórico, anárquico, fragmentado. O texto pop funciona como um mosaico de cromos, um percurso carnavalizado para a construção dos mitos consagrados pela sociedade de consumo. A linguagem da obra é carnavalizada na medida em que incorpora uma pluralidade de registros linguísticos, seja de quaisquer fontes, como jornais, orações, publicidade, canções, etc.


Um brinde de cianureto ou de Coca-Cola


Não há muito o que se possa dizer da sinopse do livro Sangue de Coca-Cola. O exército-Estado brasileiro decreta o Dia da Alegria, a inauguração de uma nova era na qual todos os males que atingem a nação irão desaparecer. No bojo da tarefa, centenas de aviões da Força Aérea sobrevoam o país espalhando no ar lança-perfume para que todos entrem no clima da tal data comemorativa. Loucura? Sem dúvidas. Vinte anos de história do Brasil se passam numa narrativa frenética, alucinada, psicodélica, complicada, dolorida e emocional (adjetivos, pra que te quero) cujo objetivo é penetrar na origem do ser brasileiro; no oscilar entre a ignorância e o brilhantismo, entre a histeria e a apatia; tudo entre ficção, realidade, candomblé, esquizofrenia e muito... muito ácido lisérgico.

O tal sangue de Coca-Cola permeia toda a obra numa metáfora (quase) absurda, sempre acompanhado de uma também (quase) absurda borboleta verde, ora com ares de crítica anti-americanista, ora como análise de traumas de formação, outras vezes, simplesmente como um algo sem sentido que tem a ver com uma Nossa Senhora Aparecida de manto vermelho. Enfim, é uma obra difícil de ser definida mas fatalmente inesquecível. Fonte.


Um passar de olhos por A morte de D.J. em Paris


No livro de contos, A morte de D. J. em Paris, Roberto Drummond mescla - nos dez contos que compõem a obra - o lírico, o trágico, o caricatural. Essa mescla de registros suscita um leque variado de leituras, possibilitando uma interpretação aberta e múltipla do texto literário. Na epígrafe da obra, extraída de uma canção de Bob Dylan, verifica-se a questão da intertextualidade, do visualismo, da comunhão entre as artes, do gosto pela observação e do estranhamento sobre o que é observado: "e eu só quero tentar pintar um quadro do que acontece por aqui de vez em quando, ainda que não entenda bem o que se passa" (p. 19). A ensaísta Lúcia Helena, analisando a literatura contemporânea, atenta para a questão do voyeurismo, dando ênfase ao visual: "Nas grandes metrópoles e mesmo em áreas afastadas, criou-se uma sociedade do olhar. Um bombardeio de ícones congestiona a paisagem e, queiramos ou não, altera a convivência, a percepção de nós mesmos e dos outros e, principalmente, nossas formas de sentir e de pensar. Daí a flagrante presença do tema na ficção brasileira, desde as três últimas décadas do século XX. Na sociedade do olhar, todos espiam, mesmo que não voluntariamente, o que não quer dizer que enxerguemos melhor".

O contexto histórico da obra não pode ser ignorado. O Brasil vivia um período de trevas sob a ditadura militar. Em 1968 foi assinado o ato institucional de número 5, cerceando a liberdade de imprensa e fechando o congresso. Os escritores buscaram na metáfora, na alegoria, no realismo fantástico (vale citar, aqui, o magnífico José J. Veiga), uma forma de burlar a repressão. Daí, verifica-se que se instala, por todo esse livro de Roberto Drummond, uma tênue fronteira entre a realidade e a fantasia, e o paradoxo de se buscar a libertação em espaços de confinamento, como sótãos, sanatórios, quartos.

As personagens são identificadas por objetos, marcas, elementos da sociedade de consumo. Há sempre um cigarro Hollywood, uma mulher com traços de alguma estrela de Hollywood, com a cultura norte-americana ditando as regras de consumo. D. J., ao optar por Paris, resgata um outro tipo de fonte de cultura para o brasileiro oprimido, para, paradoxalmente, reencontrar o Brasil nesse estranho exílio que, em verdade, é uma farsa. De modo geral, as narrativas situam o homem como objeto perdido num mundo de objetos. A solução para a humanização é o sonho, a fantasia, o delírio. A literatura, dessa forma, funciona como um instrumento de desalienação, uma vez que processa uma crítica sobre uma sociedade reificada, coisificada. O lirismo é uma inscrição de humanização no texto com tantas marcas codificadas: as mulheres com olhos de cidade de interior, ou cor de bala de menta ou de trem andando; a voz com o ritmo de frevo tocando. Esses sã alguns exemplos de flashes poéticos a contrastar com os luminosos da Coca-Cola e da Firestone.

Por outro lado, além das incisivas marcas da sociedade capitalista, os personagens de Roberto Drummond são avassalados por elementos repressivos da religião católica. É sintomático haver em uma narrativa uma vaca chamada Pecadora. É sintomática a face beata de Maria Mariana, irmã de D. J., indicando que a repressão começa dentro de casa, dentro da família. O discurso ficcional valoriza a hipérbole, através dos excessivos números de rezas, como forma de exorcizar essa outra ditadura.

O texto de Roberto Drummond, acumulando ícones do universo pop, exibe as feridas do tempo, e isso marca os personagens que convivem com monstruosidades do cotidiano e se tornam um pouco monstros, também. Carecem de evasão, vivem exílios imaginários, são fragmentados, mutilados, babelizados no cotidiano caótico. Vivem de farsa e de representação, teatralizam suas próprias vidas. São oprimidos, reprimidos e necessitam de janelas, possessões ficcionais que acabam por devorá-los. Para o crítico Fábio Lucas, esse contista e romancista demonstra grande força de imaginação, e cintilam, em seu texto, "as faíscas de um realismo cortante, os nomes dos artistas e dos políticos da moda, dos deuses da mídia, os bordões da propaganda, as opiniões do marketing político".



Roberto Drummond e a sua paixão em preto e branco


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Roberto Drummond recebendo o Galo de Prata. A láurea é concedida desde janeiro de 1999 aos desportistas, torcedores ilustres, personalidades, artistas, clubes de futebol, políticos, autoridades, entidades e organizações que, de alguma forma, engrandecem ou divulgam o nome do Clube Atlético Mineiro.

A razão antes do coração. Perdoe-me, mestre Ernest Hemingway. Perdoe-me por, mais uma vez, afirmar que não consigo (e nem quero!) seguir esse “mandamento”.

Nove de fevereiro de 2009. Hoje seria um dia como qualquer outro. Talvez, um pouco mais chato, por ser uma segunda-feira, mas não foi. Acordei cedo. Tinha de ir ver um emprego. A ansiedade me dominava. Posso dizer, sem titubear, que estava menos ansiosa pela entrevista do que por ir a uma certa loja. Há exatos um ano e um dia, eu esperava pelo que eu fui comprar nessa loja. Por que eu comecei esse texto com uma citação que sugere que se privilegie a razão em detrimento do coração? Por que eu quero falar sobre aquela que é, talvez, a mais racional das irracionalidades sustentadas pelo coração: a paixão pelo futebol; mais especificamente, quero falar sobre Uma Paixão em Preto e Branco.

Segunda-feira que antecede o maior clássico do futebol mineiro: Atlético x Cruzeiro. É nisso que todo atleticano pensou hoje, ao se levantar, tomar seu café, sair para estudar, sair para trabalhar. Preocupações como: trânsito, prova, contas a pagar, entre outras, tornaram-se secundárias. Há apenas coração nisso? Não, há uma forte presença do fator racionalidade, porque é pela insistência dele que ninguém percebeu as aflições dos torcedores alvinegros e esses pensamentos não foram ditos, ficando, assim, abafados.

Desci da van. Olhei, rapidamente, em direção à loja. Senti o palpitar do coração, mas disse-lhe: “acalme-se! Preciso olhar para os lados e atravessar a rua”. Entrei na loja. Meus olhos, tal qual olhos de coruja, encontraram, rapidamente, o que eu procurava. Lá estava ele, em uma prateleira, ao lado de outros artefatos. Lá estava o livro que eu fui comprar: Uma paixão em preto e branco. Organizado por Alexandre Simões, esse livro reúne as mais famosas crônicas do jornalista, contista, romancista e cronista Roberto Drummond sobre o Clube Atlético Mineiro.

Embora fosse extremamente ético em tudo o que fizesse (destaque para sua profissão como cronista esportivo), o escritor de Hilda Furacão jamais escondeu sua paixão pelo Atlético. Assim como não o fizeram outros grandes brasileiros, tais como: Luis Fernando Verissimo, torcedor assumido do Internacional, Nelson Rodrigues e Chico Buarque, torcedores do Fluminense, entre outros.

Agora, falando mais uma vez em razão, tentem se colocarem no meu lugar, caros leitores inexistentes, e tentem falar, de forma INTEIRAMENTE racional (o que julgo impossível), sobre duas de suas grandes paixões: Literatura e futebol (mais especificamente, sobre o time do coração).

Tudo bem, eu sei que vocês não vão conseguir se colocarem em meu lugar, assim como eu não conseguiria me colocar no lugar de torcedores do Coritiba e Atlético paranaense, do Vasco e Flamengo, do Fluminense e Flamengo, do Corinthians e São Paulo, do Corinthians e Palmeiras, do Grêmio e Internacional, entre outros, em dia de clássico. Existe uma fidelidade do coração (ou apenas um excesso de orgulho) em relação a time de futebol que nos inibe de colocarmo-nos no lugar de torcedores de outros times. Para nós, o time para o qual torcemos sempre é o melhor, mesmo que não ganhe títulos; é o que tem a torcida mais emocionante, mesmo que os estádios fiquem praticamente vazios; é o que faz o melhor clássico do país... e quem diz o contrário, o faz por puro despeito...

Admito que um homem possa mudar de tudo na vida – do cigarro que fuma, do seu partido político, da sua religião. Até de amor, um homem pode mudar. Mas se alguém troca de time – o Atlético pelo Cruzeiro, o Cruzeiro pelo América – acho que é grave, que é feio, amoral até. (p. 9).

Cheguei em casa. Comecei a devorar o livro. Quando comecei a ler a crônica que Roberto Drummond havia escrito na manhã do dia 3 de setembro de 1969, dia em que ocorreria o lendário jogo entre a Seleção Brasileira, do técnico João Saldanha (que tinha Pelé, Tostão e companhia) e o Atlético, do técnico Yustrich (que tinha Dario – Dadá Maravliha- e Humberto) não consegui conter o choro.

De modo geral, a crônica apresenta um ponto de vista sobre algum fato do cotidiano; na maioria das vezes, esse fato é “pequeno”: a notícia em quem ninguém prestou atenção, o acontecimento insignificante, a cena corriqueira. O tom, como acentua Antônio Cândido, é o de “uma aparente conversa fiada”; mas que, geralmente, desperta o leitor para uma reflexão.

É uma crônica que falava sobre as aspirações de antes do jogo, mas a lucidez de Roberto Drummond era tanta que, admito, chegou a me incomodar. Ele disse até que seria interessante que os torcedores atleticanos aplaudissem a seleção (que seleção!) em alguns momentos, mesmo que, em 90% do tempo, eles estivessem empenhados em incentivar o time do Galo. Ele ressaltou, também, como tinha crescido a presença feminina nos estádios: aquela mulher mineira tradicional vai perdendo vez. É lá, no estádio, que podemos ver e sentir a evolução do poder feminino (pg. 18).

A Crônica possui uma forte ligação com a sua etimologia, pois está relacionada ao tempo. O termo crônica vem de crônico, que se origina do grego chronikós (relativo ao tempo), que, por sua vez, tem ligação com o mito de Cronos, e, de acordo com Flora Bender e Ilka Laurito “Seja um registro do passado, seja um flagrante do presente, a crônica é sempre um resgate do tempo”.

Para o torcedor atleticano, que cresceu ouvindo histórias sobre o Galo ser o único time brasileiro que derrotou a seleção brasileira (por 2x1), a crônica de Drummond, escrita no dia 4 de setembro de 1969, dia seguinte ao triunfo, ultrapassa o teor efêmero e consegue provocar as mais diversas sensações no torcedor da atualidade, o que nos remete à necessidade de contextualização das crônicas.

Ainda acerca da vitória do Atlético sobre a seleção, na crônica do dia 5 de setembro de 1969, Roberto Drummond cita o depoimento de um torcedor de outro time sobre a torcida do Atlético. Não sei se o meu estranhamento/deslumbramento é por causa de que – como eu já disse -, na atualidade, os torcedores tentam manter uma fidelidade CEGA ao seu time, a ponto de não conseguirem admitir que outro time possa ter feito uma bela partida, possa ter tido um melhor desempenho da torcida, entre outros. Mas foi lindo, foi lindo ler isso:

-Para falar a verdade – confessou-me Carlinhos Niemeyer, dono do Canal 100 -, só hoje é que acreditei no que alguns mineiros já me falavam. Sou Flamengo acima de tudo e nunca admitia que a nossa torcida perdesse para a do Atlético. Agora, eu digo: igual à do Atlético não existe no mundo, é a coisa mais bela que já vi. (p. 27).

Ainda não terminei de ler o livro, e acho que nem quero apressar esse processo. Quero saborear cada crônica, tentando sentir o sabor de cada metáfora, de cada metonímia, de cada ironia. E quero mastigá-lo, ouvindo o som dos dentes se batendo na cadência do coração.

Roberto Drummond faleceu em 2002. Por isso, não pôde escrever um livro, que sempre idealizou, sobre futebol. Essa coletânea, de 167 páginas, organizada por Alexandre Simões, contendo as melhores crônicas esportivas de Drummond, Uma paixão em Preto e Branco, é o livro sobre futebol que ele nunca publicou. Mais do que isso, é um livro sobre aquele que fazia com que o seu coração viesse antes da razão, o Clube Atlético Mineiro. Não sei se algum dia chegarei a escrever um livro. Principalmente, um livro sobre o Atlético, que, acredito que nem preciso dizer que é a minha paixão. Talvez, eu morra antes que possa fazê-lo, mas que fique registrado aqui que eu tive a honra de ler um livro que contem belíssimas crônicas, escritas por um dos mais apaixonados torcedores atleticanos que passaram pelo solo brasileiro.

E o emprego? Consegui. Já posso comprar meu ingresso para ir ao clássico, que ocorrerá no próximo domingo, dia 15 de fevereiro de 2009.

P.S.: Crônica que escrevi, em 2009. A leitura de Uma paixão em Preto e Branco é deliciosa não apenas para os torcedores do Galo, mas para todos os admiradores do futebol.


Roberto Drummond na TV (ou o Roberto Drummond que a maioria das pessoas conhece)

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Para seguir a temática da crônica, que foi o fio condutor da vida do Roberto Drummond, optei por colocar, como sinopse de Hilda Furacão, um post bem pessoal, bem intimista, de alguém que fala sobre o gosto de cotidiano que a minissérie deixou na sua boca. A imagem e o texto são de autoria do Marco, que é membro do fórum Valinor.

Hilda Furacão foi uma minissérie que revelou ao Brasil a beleza e talento de Ana Paula Arósio. Baseada na obra do escritor Roberto Drummond, e exibida pela Rede Globo em 1998, a série contava a história de Hilda Müller, moça da alta sociedade mineira, que prestes a casar larga tudo para se tornar prostituta.

A cena de Hilda chegando ao Maravilhoso Hotel vestida de noiva é memorável. A história se desenvolve justamente com a apresentação da boemia e da noite de Belo Horizonte e seus personagens marginais, como a prostituta Maria Tomba-Homem e o travesti Cintura Fina, interpretado por Matheus Nachtergaele, também revelado ao grande público nesta série.

O mistério sobre os motivos que fizeram Hilda largar tudo para cair na promiscuidade e sua paixão, correspondida pelo Frei Malthus, interpretado na série por Rodrigo Santoro, são o fio condutor da história especialmente esse embate entre a imoralidade e a castidade.

Mas tenho um carinho especial por Hilda Furacão, pois exatamente nesse ano, quando a série foi exibida eu estava morando em Belo Horizonte e tive a oportunidade de conhecer várias das locações da trama, inclusive o local onde ficava o Maravilhoso Hotel, que hoje não existe mais. E a cada episódio eu ficava reconhecendo aqueles lugares que já havia visitado.

Hoje bateu um saudosismo ao encontrar esse desenho que fiz láááá em julho de 1998, então taí, Hilda Furacão, direto do túnel do tempo. E para ver a imagem em tamanho maior, basta clicar no desenho. Fonte.


O autor e sua obra:


  • [*=left]A morte de D.J. em Paris (1971);
    [*=left]O dia em que Ernest Hemingway morreu crucificado (1978);
    [*=left]Sangue de coca-cola (1980);
    [*=left]Quando fui morto em Cuba (1982);
    [*=left]Hitler manda lembranças (1984);
    [*=left]Ontem à noite era sexta-feira (1988);
    [*=left]Hilda Furacão (1991);
    [*=left]Inês é morta (1993);
    [*=left]O homem que subornou a morte & Outras histórias (1993);
    [*=left]Magalhães: navegando contra o vento (1994)
    [*=left]O cheiro de Deus (2001);
    [*=left]Dia de São Nunca à tarde (publicação póstuma);
    [*=left]Os mortos não dançam valsa (publicação póstuma);
    [*=left]O Estripador da Rua G (publicação póstuma pela Fundação de Cultura de Belo Horizonte).
    [*=left]Uma Paixão em Preto e Branco (publicação póstuma das melhores crônicas de Drummond sobre o Clube Atlético Mineiro).

Fonte.
 

Anexos

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Sinto o cheiro da Bel nesse tópico. Existe alguma coisa que ela não dê jeito? :lol:

Melian, delícia da Liv, as imagens não estão aparecendo.
 
:lol: Nem foi a Belzinha, Liv'linda, é que em dia de clássico eu fico ELÉTRICA. Aí comecei a escrever os trecos para o tópico e, quando vi, tinha terminado.

E o treco de formatação tá bizarro, tá "engolindo" as imagens. Comeu partes do texto, etc. :rofl:
 
Do Drummond só li "Hilda Furacão", mas quero ler mais. Alguma dica?


Eu gosto, muito, de O dia em que Ernest Hemingway morreu crucificado. E nem sou a única. O saudoso Glauber Rocha :grinlove: chegou a classificar o romance como "um maravilhoso panfleto antiimperialista". Tenho um carinho todo especial por Sangue de Coca-Cola. Acho a proposta do romance arriscada, mas foi um risco que deu certo. Junto com A morte de D. J. em Paris, Sangue de Coca-Cola é o meu Roberto Drummond preferido.

Eu gosto, absurdamente, de contos. Gosto da ideia de se ter de condensar as ideias no papel ao invés de expandi-las por toda a eternidade. Gosto do fato de a expansão ficar por conta da imaginação do leitor. E eu te falo, os contos de A morte de D. J. em Paris fazem isso com a gente. Quando li o "Dôia na janela", eu me senti dentro da casa de saúde com grades verdes (sim, também achei que o verde evoca a Casa Verde de "O alienista") na qual a Dôia estava. Quando ela viu o jovem com a barba de Alain Delon e os cabelos louros de Robert Redfort, eu também vi. Quando ela viu esse homem ser crucificado e ter a boca molhada com Coca-Cola, ao invés de vinagre, foi como se eu tivesse sentido o gosto do refrigerante. Enfim, eu acho que não tem como não amar todos os contos de A morte de D. J. em Paris. Por isso, mesmo que eu tenha indicado três livros, se você me disser qual é aquele que eu acho que todos deveriam ler, não vou hesitar em dizer: leia A morte de D. J. em Paris.
 
Oração do Atleticano (Roberto Drummond)

Senhor:
apague o sol
apague a lua
anoiteça os olhos da amada
mas não deixe o Atlético capitular
não deixe, Senhor, o adversário passar
não deixe nosso goleiro vacilar.
Dê asas de pássaro ao goleiro
dê os braços dos amantes
ao goleiro
faça-o abraçar esse pássaro
Sem asas
como se fosse a mulher mais esperada
mais desejada
mais sonhada
mais amada
mais adiada.
Senhor:
tire o pão nosso de cada dia
corte nossa água
nos condene à fome e à sede
proíba nossos amores
exile as amadas na China
Ou na Conchinchina
decrete a solidão
nas esquinas, nos bares e
em nosso coração
faça de nós, Senhor,
um bolero
faça de nós um tango
faça de nós uma guarânia
ou uma balada
faça de nós a mais desesperada canção
nos mate não apenas da sede de água
mas da sede da boca da amada
mas transforme nossa defesa
num muro
numa barreira
numa trincheira
num obstáculo intransponível.
Mate a todos nós
da fome de amor
que é pior que a fome de verdade
mas não deixe, Senhor,
o adversário passar.
Senhor:
dispare a inflação
mingue nosso feijão
aprisione nossa ilusão
prenda de vez nosso coração
mas espalhe luz
sobre os caminhos do Atlético
sobre a grama verde onde pisam
nossos heróis.
Acenda uma estrela na chuteira deles
e não deixe, Senhor, o adversário passar.
Não deixe o Atlético capitular.
Senhor:
nos faça descobrir o amor
para depois tirá-lo de nós.
Faça-nos sofrer de amor
mate-nos de amor, se preciso
mas quando nosso atacante pegar a bola,
Senhor,
Iluminado seja o seu caminho
cheio de estrelas e de dribles
e de passes mágicos e de cruzamentos
e de gols
seja feito o seu caminho
encantada seja sua chuteira
e que nos seus pés
na sua cabeça
bendita seja a vitória do Atlético.
E depois de tudo, Senhor,
depois que o Atlético cantar
aí, Senhor, se julgar necessário
nos tomar algum fruto
após tanta recompensa,
prive-nos de tudo que quiser
exile a amada no Equador
e, outra vez, Senhor
nos mate de amor,
mas não deixe o adversário passar.
 
Eu queria, muito, reler Sangue de Coca-Cola (meu livro deve estar em algum canto da casa, tenho certeza), mas a alucinação coletiva (causada pelo consumo de LSD) que retrata o período da Ditadura Militar no Brasil não é algo com o que eu consiga lidar no contexto atual. A eleição de 2018 foi, de algum modo, o ápice do delírio coletivo, psicose compartilhada, whatever.
 

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