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Roberto Drummond

Lucas_Deschain

Biblionauta
[size=medium][align=center]Roberto Drummond (1939-2002)[/align][/size]

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[align=justify]Roberto Francis Drummond (Ferros, 21 de dezembro de 1939 — Belo Horizonte, 21 de junho de 2002) foi um jornalista e escritor brasileiro. Participou da chamada literatura pop, marcada pela ausência de cerimônias e pela proximidade com o quotidiano.
Antes de residir, a partir da adolescência, em Belo Horizonte, a família do escritor viveu em Guanhães, Araxá e Conceição do Mato Dentro. Na capital mineira, inicou no jornalismo na extinta Folha de Minas. Aos 28 anos, passou a dirigir a revista Alterosa, fechada pela Ditadura Militar em 1964. Durante um ano trabalhou no Rio de Janeiro, retornando a Belo Horizonte em 1966, onde passou a escrever colunas esportivas e crônicas.
O sucesso na literatura começou com seu primeiro livro, A morte de DJ em Paris, em 1971. Relançado em 1975, bateu recordes de vendas, recebendo o Prêmio Jabuti de autor revelação. Na década de 80, inicia uma nova fase de sua produção literária, com a publicação de Hitler manda lembranças. Seu maior sucesso foi o romance Hilda Furacão, publicado em 1991 e adaptado para a televisão em 1998 numa minissérie de sucesso da Rede Globo.
Roberto Drummond também fez um programa esportivo diário na TV Bandeirantes de Belo Horizonte. O escritor era fanático torcedor do Clube Atlético Mineiro e criou para o clube a famosa frase:

"Se houver uma camisa branca e preta pendurada num varal, o atleticano torce contra o vento."
— Roberto Drummond

Morreu vítima de problemas cardíacos, no dia da partida entre Brasil e Inglaterra pelas quartas-de-final da Copa do Mundo de 2002. Foi homenageado pela prefeitura de Belo Horizonte com uma estátua de bronze em tamanho real na Praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi.[/align]

Obras do autor:

* A morte de DJ em Paris (1971);
* O dia em que Ernest Hemingway morreu crucificado (1978);
* Sangue de coca-cola (1980);
* Quando fui morto em Cuba (1982);
* Hitler manda lembranças (1984);
* Ontem à noite era sexta-feira (1988);
* Hilda Furacão (1991);
* Inês é morta (1993);
* O homem que subornou a morte & Outras histórias (1993);
* Magalhães: navegando contra o vento (1994);
* O cheiro de Deus (2001);
* Dia de São Nunca à tarde (publicação póstuma);
* Os mortos não dançam valsa (publicação póstuma);
* O Estripador da Rua G (publicação póstuma pela Fundação de Cultura de Belo Horizonte);
* Uma Paixão em Preto e Branco (publicação póstuma das melhores crônicas de Drummond sobre o Clube Atlético Mineiro).

Fonte: Wikipedia

[align=justify]Cheguei a ler dele somente Sangue de Coca-cola, que acabei não entendendo praticamente nada por conta da minha ignorância com relação ao que foi a ditadura militar aqui no Brasil e uma série de fatos e desdobramentos desse evento histórico tão marcante e assustador. Não lembro de ter visto muita coisa sobre ditadura militar no colégio, então espero que, agora na universidade (o próximo conteúdo após o recesso), estudando a ditadura, possa ler novamente e compreender mais profundamente a obra. Ela é descontínua e aglutina várias narrativas, algumas bem originais e meio malucas.[/align]
 
[align=justify]Sou apaixonada por Roberto Drummond. E nem é porque ele foi um dos mais apaixonados atleticanos que já passou pela terra. :grinlove: (faleceu antes de escrever o livro, que tanto queria, sobre o Galo. Mas, também, faleceu antes de ver o Galo cair para a segundona, e antes de ver o vexame do centenário. Não preciso nem dizer que "Uma paixão em preto e branco", livro organizado por Alexandre Simões, que reúne as melhores crônicas de Roberto Drummond sobre o Galo, é meu livro de cabeceira, né?) É porque ele era foda, mesmo.


Nem cheguei a ler "O Cheiro de Deus", seu penúltimo livro publicado. Sempre quis ler. Lembro que, na época do lançamento, eu fiquei encantada com o título, antes mesmo de ler alguma sinopse. Sinestesia me fascina. Não li, também, "Os mortos não dançam valsa", seu último livro.

Em toda a sua obra há indícios da literatura pop. O texto de Drummond, acumulando ícones do universo pop, exibe as feridas do tempo, e isso marca os personagens que convivem com monstruosidades do cotidiano e se tornam um pouco monstros, também. Carecem de evasão, vivem exílios imaginários são fragmentados, mutilados, babelizados no cotidiano caótico. Vivem de farsa e de representação, teatralizam suas próprias vidas. São oprimidos, reprimidos e necessitam de janelas, possessões ficcionais que acabam por devorá-los.


Vou citar um trecho de um conto, "Dôia na janela", de "A morte de D.J em Paris", livro fenomenal. Leiam esse livro. Sério. Se depois de terminarem de ler, Roberto Drummond não tiver se tornado um dos seus escritores preferidos, eu... ok, eu não mudo de nome. XD

Dôia ficava olhando da janela. Como Dôia podia voar, puseram grades na janela, não eram grades como as das cadeias, eram pintadas de verdes. Com a ponta da unha, Dôia arranhava as grades, a cada manhã, para nunca perder a conta dos dias que estava ali. Já havia 38 arranhões, como esmalte descascando na unha, nas grades verdes.
[...]
Na véspera de receber alta, Dôia descobriu que amava cada coisa daquele mundo onde esteve encerrada. Dividiu um pedaço de pão com o rato Salameminguê e lhe disse, alisando sua cabeça, que ia levá-lo com ela. Dôia mudou de ideia e achou que Salameminguê devia ficar, para fazer companhia a quem ocupasse o quarto das grades verdes. E Dôia ficou olhando o anúncio luminoso da Coca-cola, depois Dôia olhou o casal que brigava na casa debaixo do anúncio dos pneus Firestone e teve vontade de dizer aos dois: juízo, hein? Quando pasosu o avião para Nova Iorque, Dôia acenou e gritou boa viagem para os passageiros.
[...]
Dôia nunca soube quantos minutos se passaram. Os homens ergueram a cruz, fincando-a no chão, e Dôia viu um Cristo crucificado de cueca Zorba laranja. O Cristo de cueca Zorba laranja falava alguma coisa que o vento levava à janela de Dôia e Dôia não conseguia ouvir. A última lembrança de Dôia foi a de um homem subindo uma escada com uma garrafa de Coca-cola na mão, molhando um algodão com Coca-cola e passando nos lábios do Cristo de cueca Zorba laranja.
[...]


Posso falar litruz sobre o conto? Ok, não posso. Ele é narrado em terceira pessoa, e relata a solidão de uma jovem chamada Dôia (apelido que remete ao verbo doer), internada em um quarto de casa de saúde com grades verdes na janela, para que não voasse. A cor verde evoca a Casa Verde (alô? Alienista, Machado de Assis!). Há 38 dias, ela está ali, sob os cuidados do Dr. Garrett.

Ela gostava de observar a cidade pela janela: um anúncio luminoso de Coca-cola, um anúncio dos pneus Firestone, ao lado de uma casa em que o marido batia na mulher, depois se ajoelhava, pedindo perdão, depois iam para a cama. Dôia via essa cena com uma luneta. Em seus devaneios, a moça se via vestindo calça Lee desbotada e frequentando barzinhos ao ar livre. Ouvia gravações de ruídos familiares e cantava "We shall overcome", canção de protesto americana, gravada, em 60 por Joan Baez (é válido ressaltar que boa parte da obra de Roberto Drummond foi escrita no período da Ditadura Militar).

Na véspera de receber alta, viu um grupo de soldados, num jipe, que conduziam um jovem para uma crucificação. Esse jovem tinha a barba de Alain Delon e os cabelos louros de Robert Redford. Esse jovem usava cueca Zorba laranja. Sua crucificação é uma espécie de paródia da crucificação de Cristo, pois os policiais molham Coca-cola em um algodão e molham nos lábios desse novo Cristo. Na manhã seguinte, Dôia relata sua visão ao médico, que a mantém mais 385 dias no hospício. Segundo Dr. Garrett, no lugar em que ela vira a crucificação, alguns homens plantavam rosas.

As narrativas de Roberto Drummond, fragmentadas, carnavalizadas, inconclusas, abertas, abusam de referências a etiquetas e ícones da cultura pop. Cinema, rádio, imprensa, futebol, música popular, anúncios, orações - tudo proporciona um complexo mosaico, instigando o leitor a fazer variadas interpretações.

O contexto histórico NÃO pode ser ignorado. O Brasil vivia um período de trevas sob a Ditadura militar. Em 1968 foi assinado o ato institucional de número 5, cerceando a liberdade de imprensa e fechandoo congresso. Os escritores buscaram na metáfora, na alegoria, no realismo fantástico, uma forma de burlar a repressão. Daí verifica-se que se instala, por todo o livro, "A morte de D.J em Paris", uma tênue fronteira entre a realidade e a fantasia, e ao paradoxo de se buscar a libertação em espaços de confinamento, como sótãos, sanatórios, quartos.[/align]
 
Valentina disse:
As narrativas de Roberto Drummond, fragmentadas, carnavalizadas, inconclusas, abertas, abusam de referências a etiquetas e ícones da cultura pop. Cinema, rádio, imprensa, futebol, música popular, anúncios, orações - tudo proporciona um complexo mosaico, instigando o leitor a fazer variadas interpretações.

[align=justify]Isso cabe muito bem em relação a Sangue de Coca-cola. O que tens a dizer sobre esse livro, hein Valentina?[/align]
 
Lucas_Deschain disse:
Valentina disse:
As narrativas de Roberto Drummond, fragmentadas, carnavalizadas, inconclusas, abertas, abusam de referências a etiquetas e ícones da cultura pop. Cinema, rádio, imprensa, futebol, música popular, anúncios, orações - tudo proporciona um complexo mosaico, instigando o leitor a fazer variadas interpretações.

[align=justify]Isso cabe muito bem em relação a Sangue de Coca-cola. O que tens a dizer sobre esse livro, hein Valentina?[/align]

Isso, mesmo, Lucas. A literatura pop de Roberto Drummond ressalta, em certa medida, o caráter de voyeur do escritor (não do Drummond, do escritor, de modo geral) e, por extensão, do leitor. Se observarmos a questão pela ótica da teoria da recepção.

E eu acredito que Sangue de Coca-cola se vale dessa estratégia, a recursividade dos elementos 'pop', para fazer uma deliciosa crítica. Drummond exagera nas referências, para que nós, leitores, possamos, no nosso papel de voyeurs, aumentarmos nossas lentes, com o intuito de percebermos a situação do Brasil, durante a ditadura militar, a situação do povo brasileiro, sobretudo.

Não por acaso o "dia da alegria" só é presentificado por causa de uma alucinação coletiva causada pelo consumo de Lucy in the Sky with Diamonds, não é? Eu acho que essa obra seja grandiosa (não só em termos de extensão, já que ela também não é curtinha ,né? 336 páginas e tal) demais para que se faça uma leitura linear dela. Acho que é necessário uma leitura muito atenta para que se possa perceber a obra, senti-la.

"Salve Virgem Gloriosa
Doce santa milagrosa
Na sede, sois a pausa que refresca
No calor das tentações
Refrescante é a vossa doçura
Para quem tem de vós o amor
Tudo vai melhor
Vós que a tudo concedei mais vida
Oh Santa Coca-Cola
Padroeira dos impossiveis..."
 
[align=justify]Fora que Sangue de Coca-cola é uma possível referência a situação de abertura ao capital estrangeiro, em termos de economia, e de uma "estadosunidização", pela adoção de expedientes tipicamente capitalistas, entre eles a instalação das multinacionais e seus produtos que desembocavam no mercado brasileiro, coisa que começara já com o JK.

Estarei viajando?[/align]
 
Não, Lucas, você não está viajando. Sangue de Coca-cola, A morte de D. J em Paris e O dia em que Ernest Hemingway morreu crucificado, todos possuem uma marcante presença da utopia socialista.
 
"Se houver uma camisa branca e preta pendurada num varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento."
— Roberto Drummond
Lucas só para completar a frase acima no texto "durante uma tempestade" que ficou faltando.Uma parte do texto desse grande escritor abaixo:

"Se houver uma camisa preta e branca pendurada no varal durante uma tempestade,o atleticano torce contra o vento. Ah, o que é ser atleticano? É uma doença? Doidivana paixão? Uma religião pagã? Bênção dos céus? É a sorte grande? O primeiro e único mandamento do atleticano é ser fiel e amar o Galo sobre todas as coisas. Daí, que a bandeira atleticana cheira a tudo neste mundo.

Cheira ao suor da mulher amada.
Cheira a lágrimas.
Cheira a grito de gol
Cheira a dor.
Cheira a festa e a alegria.
Cheira até mesmo perfume francês.
Só não cheira a naftalina, pois nunca conhece o fundo do baú, trêmula ao vento."
Roberto Drummond.

Nos anos 80 ficou muito conhecido através de suas crônicas (Jornal Estado de Minas) sobre o futebol, principalmente quando manifestava sobre os jogos do Galo nos idos dos anos 80, era o Reinaldo Lima grande artilheiro atleticano fazendo arte e gols no Mineirão e Roberto Drummond imortalizando os feitos desse grande jogador através de sua majestosa escrita.
 
Eu bem que tentei (tentei? XD) não falar (muito) sobre o Galo. Mas acho impossível (para mim, que sou atleticana) separar o Roberto Drummond escritor do Roberto Drummond apaixonado pelo Clube Atlético Mineiro.

Tem um texto meu, bem antigo, sobre "Uma paixão em preto e branco", em um blog do qual já fiz parte. Se alguém quiser dá uma lida no texto, está aqui: Uma paixão em Preto e branco - Roberto Drummond
 
Valentina disse:
Eu bem que tentei (tentei? XD) não falar (muito) sobre o Galo. Mas acho impossível (para mim, que sou atleticana) separar o Roberto Drummond escritor do Roberto Drummond apaixonado pelo Clube Atlético Mineiro.

Tem um texto meu, bem antigo, sobre "Uma paixão em preto e branco", em um blog do qual já fiz parte. Se alguém quiser dá uma lida no texto, está aqui: Uma paixão em Preto e branco - Roberto Drummond

Eu não resisti a tentação de falar Valentina :rofl:
 
ricardo campos disse:
Valentina disse:
Eu bem que tentei (tentei? XD) não falar (muito) sobre o Galo. Mas acho impossível (para mim, que sou atleticana) separar o Roberto Drummond escritor do Roberto Drummond apaixonado pelo Clube Atlético Mineiro.

Tem um texto meu, bem antigo, sobre "Uma paixão em preto e branco", em um blog do qual já fiz parte. Se alguém quiser dá uma lida no texto, está aqui: Uma paixão em Preto e branco - Roberto Drummond

Eu não resisti a tentação de falar Valentina :rofl:

Eu te entendo, perfeitamente, Ricardo. Na verdade, nem eu resisti, né? :rofl: Veja o início do meu primeiro post nesta página:

Valentina disse:
Sou apaixonada por Roberto Drummond. E nem é porque ele foi um dos mais apaixonados atleticanos que já passou pela terra. :grinlove: (faleceu antes de escrever o livro, que tanto queria, sobre o Galo. Mas, também, faleceu antes de ver o Galo cair para a segundona, e antes de ver o vexame do centenário. Não preciso nem dizer que "Uma paixão em preto e branco", livro organizado por Alexandre Simões, que reúne as melhores crônicas de Roberto Drummond sobre o Galo, é meu livro de cabeceira, né?) É porque ele era foda, mesmo.
A velha (e eficaz) estratégia da denegação. XD
 

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