• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Notícias Regra moralista em concurso de contos revolta escritores

Bruce Torres

Let's be alone together.
Regra moralista em concurso de contos revolta escritores
Rodrigo Casarin
30/09/2015

“Os contos devem conter elementos que promovam o bem-estar e os valores morais”. É isso que diz a última linha do item IV do regulamento do Prêmio Sesc de Contos Machado de Assis 2015, promovido pelo Sesc do Distrito Federal (Sesc DF). A regra, no entanto, revoltou diversos escritores. A arte teria mesmo a obrigação de promover “o bem-estar e os valores morais”? Por conta da discussão, os responsáveis pela premiação já anunciaram que o requisito será ignorado.

O primeiro a chamar a atenção à exigência foi Cassionei Niches Petry, autor de “Arranhões e Outras Feridas”, em sua página no Facebook. Em seguida, Sérgio Rodrigues, do premiado romance “O Drible”, abraçou a questão compartilhando o post do colega e afirmando: “Isso é gravíssimo. Em momentos menos burros do país, o mundo viria abaixo. Hoje está passando tudo, mas não pode, não! O Sesc quer premiar boa literatura ou bom comportamento? Aderiu à censura? Que credibilidade tem o senso estético de quem concebe uma regra tão imbecil?”.

Não demorou para que diversos outros escritores se manifestassem concordando com Sérgio, que, em entrevista ao blog, define o regulamento como “grotesco” e a cláusula como “inadmissível”, depois de dizer que é evidente que a arte não ter obrigação alguma de promover aquilo que está sendo pedido. “Nem bem-estar nem mal-estar, nem valores morais nem valores imorais. Tudo isso está fora da alçada da literatura, que deve ter compromisso apenas consigo própria. O resto se vê depois, a partir do resultado estético alcançado. É claro que uma obra de ficção pode ter leituras de todo tipo, inclusive políticas e morais. Mas isso não pode entrar nas cogitações de quem escreve como preocupação prévia”.

Cassionei segue uma linha semelhante em seu discurso e diz que esperar que os contos sejam feitos com a intenção de promover algo “é no mínimo um desconhecimento do que seja realmente literatura. A literatura é uma forma de arte e, como tal, busca tratar de todas as questões do ser humano, sem julgar. O leitor é quem deve tirar suas conclusões. A arte pode provocar o bem-estar e os valores morais a partir de uma interpretação do apreciador, assim como pode provocar o contrário. Não é, porém, obrigada e muito menos deve estar a serviço do politicamente correto, de ideologias ou de religiões”.

Para o autor de “Arranhões e Outras Feridas”, a cláusula pode até ter sido criada com boa intenção, mas erra por conta da “formulação do item” e do público-alvo da premiação. “Quem sabe querem manuais de boa conduta ou fábulas inocentes para crianças, não sei. Boa literatura é que não querem promover”.

Embasando suas opiniões, ambos citam, dentre outros, justamente Machado de Assis, autor que dá nome à premiação, como exemplo de alguém que estava longe de se preocupar com o bem-estar e os valores morais em sua obra. “Ele seria eliminado por essa regra, que é censória e dirigista, coisa de quem não tem a menor ideia do que seja literatura. O final violentíssimo de 'A Cartomante' promove o bem-estar? A ambiguidade de Capitu promove os valores morais? É uma piada”, exemplifica Sérgio.

“Estava relendo alguns contos do Edgar Allan Poe para um pequeno ensaio que andei escrevendo e sua obra mostra o nosso lado mais sórdido, provoca um mal-estar e as personagens, por sua vez, não têm nenhum pingo de moral. No entanto, chegamos até a torcer por elas. Outro personagem sem moral é o Brás Cubas, do Machado de Assis, que despreza uma linda moça por ter um defeito físico e é amante de uma mulher casada. Pois Machado dá nome ao prêmio em questão. Precisa dizer mais?”, lembra Cassionei.

A mão das instituições na arte

O escritor Ricardo Lísias, convocado recentemente pelo Ministério Público Federal a prestar esclarecimentos após ser acusado de falsificação por conta de documentos que criou no conto “Delegado Tobias”, diz ser possível enxergar uma linha entre o seu caso e o regulamento do Sesc. “Há a tentativa de direcionamento das instituições para o que é e o que não é permitido. Isso é de fato bastante perigoso”.

Autor de livros como “Divórcio” e “O Céu dos Suicidas”, Lísias lembra que “muitas vezes a arte causa um enorme mal-estar. Ela também pode causar bem-estar, claro, mas isso não pode ser um pré-requisito. Não deve haver pré-requisito quando o assunto é criação”. Para ele, regulamentos como o do Sesc DF são um grande problema. “A tendência é o aumento de uma literatura cada vez mais bem comportada e que não faz frente ao poder das instituições. A cultura brasileira já não é muito afeita ao confronto, com esse tipo de coisa se oficializando, cada vez mais a literatura, as instituições e o poder andarão de mãos dadas”.

Sesc revê o regulamento

Após as críticas, a organização garantiu que a regra será retirada das próximas edições do concurso e será ignorada na avaliação dos contos concorrentes neste ano. “Entendemos que a referida cláusula, que transmite a intenção de que as obras inscritas contribuam para o processo de valorização social, está sujeita à interpretação que dissocia dos objetivos do projeto, e, portanto, será retirada a partir das próximas edições e será desconsiderada nesta edição 2015”, garante Juliana Valadares, coordenadora de ações culturais do Sesc DF.

Juliana ainda explica que “as ações culturais promovidas pelo Sesc DF, onde se inserem os prêmios literários, visam contribuir para a disseminação da cultura no contexto do processo educativo e de desenvolvimento social, além de incentivar a livre criação e a criatividade, contribuindo com a promoção de produções literárias inéditas”. Além disso, afirma que a instituição está permanentemente disposta a conversar. “Estamos sempre abertos à construção de um processo de aproximação junto à sociedade para o alcance de objetivos comuns”.

Fonte: http://paginacinco.blogosfera.uol.c...sta-em-concurso-de-contos-revolta-escritores/
 
Mas assim, não seria uma determinação do tipo: “histórias engraçadas” ou “histórias românticas”?
Entendo que a pergunta seria “moral de quem?” mas por outro lado existem “histórias morais” daquelas de Esopo e La Fontaine, que são universais, ou não? :think:
 
Eu acho que eles não têm fábulas em mente, @Clara . Digo pelo gênero mesmo. Mas a frase está meio estranha, mesmo com a "explicação" da coordenadora no final. Promover o bem-estar? Acho válido, embora não concorde muito. Valores morais? Aí fica um pouco complicado.
 
O mar não está para peixe lá fora também:

Japanese University Humanities and Social Sciences Programs Under Attack
The Asia-Pacific Journal, Vol. 13, Issue. 39, No. 1, September 28, 2015
http://www.japanfocus.org/-Jeff-Kingston/4381/article.html

Porque muitos andam usando recursos de forma distorcida como exemplos a serem seguidos as instituições decidem culpar um ramo do conhecimento e a liberdade artística. Em parte por causa de um inchaço no meio literário (escritores ruins e abundantes) alimentando um processo que já é conhecido, quando se abusa de uma liberdade todos pagam e ninguém mais pode usar uma ferramenta importante. Tem até um meme por aí "É por isso que não podemos ter coisas legais."

Dependendo da gravidade a sociedade pode regredir ainda mais, para um povo ainda mais robotizado.
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo