Ringil disse:
Para um elfo conseguir renascer é preciso que Mandos o julgue merecedor, e que Manwe aprove. Então não se trata somente de consciência. Isso sem contar a justiça divina, que é de ordem diferente, mais ampla.
Em
Da Morte e dos Filhos de Eru, e da Desfiguração dos Homens - O Diálogo de Finrod e Andreth, temos que
Tolkien disse:
(...)Para (os eldar) todas as coisas lhe são familiares, as únicas coisas que existem, suas, e nesse grau preciosas (...)
(...)Mas se vós e eu fôssemos até vossos antigos lares no leste, eu reconheceria as coisas lá como parte de meu lar(...)
(...)os Eldar (...) poderiam habitar no presente para sempre (...)
(...)Além do Fim do Mundo nós não mudaremos; pois na memória está o nosso maior talento (...)
(...)E aqueles dentre nós que conheceram os Eldar, e talvez os tenham amado, dizem por nossa vez: "Não há cansaço nos olhos dos Elfos". E descobrimos que eles não compreendem o ditado que existe entre os Homens: o que é visto demais não é mais visto. E eles se admiram muito de que nas línguas dos Homens a mesma palavra possa significar tanto "velho conhecido" quanto "apodrecido".(...)
Parece-me, pelo que diz acima e por tudo o que li sobre os elfos, que para eles o tempo não era mais do que uma maneira de sequenciar acontecimentos, e algo necessário para curar ferimentos e fazer colheitas. Que sentido teria uma pena de prisão para um ser assim?
É necessário compreender uma coisa: um sistema prisional penal só pode ter três objetivos (que não são mutuamente exclusivos):
a) regenerar o prisioneiro dando-lhe tempo para pensar nos seus atos
b) causar sofrimento como forma de retribuição ou vingança
justa e/ou
prescrita nas leis (na Terra, normalmente pela perda da liberdade e outras restrições, mas podendo chegar à tortura, mutilação ou morte, como ainda hoje pode ser visto).
c) isolar elementos nocivos à sociedade num local onde afetem o mínimo de pessoas possível.
A função c) é válida em casos obstinados e irrecuperáveis, e com aqueles em processo de recuperação, fora isto não tem validade. Os que terminam a recuperação também deixam de se enquadrar aqui.
Por outro lado, se para um elfo, como disse, o tempo não tem valor; e se eles não se cansam com a monotomia mas sim com a mudança, que sentido tem mantê-lo cativo? Ademais, não é causar sofrimento departamento de Morgoth, e algo mau por natureza? Não me parece que seja assim, portanto excluo a hipótese de os Valar utilizarem a hipótese b).
Sobra a resposta a). Poder-se-á argumentar, e muito bem, que houve condenações, e os condenados, se saíssem, só o fariam após um longuíssimo tempo. A isto respondo que se foram condenados, o foram por alguma mácula, pois se não for assim, realmente os Valar eram injustos. Daí, e de não parecer possível os Valar aprisionar para causar sofrimento pela privação de liberdade (sofrimento ao condenado, e sofrimento também a todos o que o amavam e o aguardam), temos que a condenação poderia apenas ser uma acusação simbólica, ou posto de outra forma, a declaração formal das atrocidades cometidas.
Atrocidades, digo, por merecerem uma condenação extraordinária, e em oposição às máculas mais leves; e lembrem-se que, como disse no post anterior, ""ofender deus" é, para quem tem fé religiosa, o maior dos crimes".Assim tambem seria, creio, contrariar os Valar, a quem Eru era mais acessível, e que por Eru falavam. Desta forma, os Fëar tão maculados a ponto de receberem o equivalente a, no máximo, uma repreensão escrita, realmente passariam bastante tempo à sombra dos seus pensamentos; e não por interferência ou desejo de punir dos Valar, mas por obstinação nos erros e no orgulho, e/ou por necessidade de maior quantidade de tempo (uma das utilidades dele) para curarem as máculas nos seus fëar. Uma vez que isto estivesse feito, deixaria de existir qualquer motivo para Mandos e Manwë manterem um fëa aprisionado (fora, como vimos, punir pelo sofrimento, ainda que em nome da "justiça"), e o elda poderia reentrar no mundo, purificado e fortalecido.
Ringil disse:
Melkor, por exemplo, é punido com destruição, não com reclusão.
Melkor não podia ser -e não foi- destruído; assim, foi banido e lançado no vazio fora do mundo, seja lá isso o que for... Mas ele
vai voltar, e vai dar-se em Arda o apocalipse bíblico conforme as crenças cristãs de Tolkien. Afinal, o que é Arda senão a própria Terra numa era mítica?