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Reflexões sobre o destino

Disponibilizo mais um dos meus textos. Fiquem à vontade para considerações, críticas, sugestões e elogios. Serão todos igualmente bem-vindos.
Abraço
 
Ela acordou pensativa. Não sabia ainda o que a surpreenderia naquele dia, mas definitivamente não seria um dia comum. Tentou se lembrar do que tinha sonhado naquela noite. Não conseguiu lembrar nem mesmo se havia sonhado.

Espreguiçou-se como sempre fazia ao despertar e resolveu sair. Lá fora, encontrou a amiga. Seu silêncio e seu semblante contemplativo a denunciaram de imediato. Quando indagada pela amiga sobre seu estado, limitou-se a dizer: “Será que eles pensam como nós?”. A amiga nada entendeu. Ela continuou com seus questionamentos: “O que será que eles pensam sobre o destino? Será que eles planejam suas ações? Eles nascem com algum propósito como nós? Eles nascem para que? Qual o papel deles aqui nessa vida?”

A amiga, achando tudo aquilo filosófico de mais para vir de uma galinha, retirou-se sem ser notada. Ela, por sua vez, ali parada naquele estado de reflexão, foi facilmente apanhada pelo dono da casa, que em nada pensava naquela hora, a não ser em levá-la até a cozinha.

Depois de morta e depenada, teve as coxas e as sobrecoxas separadas pela esposa do dono da casa, que também em nada pensava naquele momento. Temperou tudo com uma mistura feita com 100 ml de suco de maracujá, uma colher de sopa de alho ralado, pimenta do reino, ervas desidratadas e sal. Deixou aqueles cortes suculentos da galinha descansando naquela mistura de temperos por uns 20 minutos na geladeira. Depois desse tempo, levou uma panela ao fogo alto e acrescentou uma colher de sopa de azeite. Selou as coxas e as sobrecoxas da galinha até percebê-las douradas.

Não era a primeira vez que a dona da casa preparava aquela receita, usando uma das galinhas de seu quintal. Fazia aquilo tudo num estado de quase meditação. Então, sem pensar muito, arrumou as coxas e as sobrecoxas da galinha em uma assadeira, acrescentou algumas batatas pré-cozidas e levou ao forno para assar por uns 30 minutos. De vez em quando, abria a porta do forno e regava a galinha com o que havia sobrado do suco de maracujá.

É verdade que a galinha não teve tempo de descobrir se eles haviam nascido com algum propósito. É verdade também que partiu sem saber o que eles pensavam sobre o destino, mas ela havia cumprido seu papel nessa vida. Quanto a eles, bem, eles não pensavam em nada. A galinha assada no forno estava saborosa de mais para permitir qualquer reflexão.
 
A galinha assada no forno estava saborosa demais para permitir qualquer reflexão, muito menos gratidão. Mas se o papel na vida tomada de uma galinha é se tornar nossa refeição, talvez o sentido de nossas vidas esteja em saborear coxas e sobrecoxas temperadas e douradas com o toque especial de suco de maracujá, se fartar, sem pensar, sem entrar numa crise existencial pré-abate.
 
Se o destino final de uma galinha é se tornar nossa refeição, não devemos considerar que ela não teve uma vida pré- destino. Se ela teve uma vida antes de virar comida, não quer dizer necessariamente que o destino do ser humano é consumir sua carne sem se preocupar com ela.
Sábios os índios que tiravam da natureza só o necessário para o seu sustento.
Sábia a galinha que percebeu que mesmo que seu destino seja alimentar uma boca humana, não desconsidera que esses últimos devem ter uma reflexão e pensar no que comem e a história e o valor da comida.
 

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