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[Rabisteco] [Santa Famiglia]

Rabisteco

The Roof is on Fire!
Autor: Marco Júnior, a.k.a Rabisteco
Título: La Santa Famiglia
Gênero: Drama

.fragmento



Prólogo


Sicília, 43.

O senhor Santini não mais via a sala em que se situava. Os borrões iam e voltavam pela sua frente. Uma mistura de marrom com caramelo. Curvou-se e levou suas mãos até as sobrancelhas. Esperou abrir os olhos e estar em outro lugar. Infelizmente aquilo não acontecera. Não com Santini. Não naquele dia. Um estampido o fez fechar os olhos com força e desejar que aquilo não seja o que tivera que ser. Não poderia ser. E, por fim, não era. Um brutamonte abrira a porta em que Santini nunca quisera entrar. Mas, era o que devia ser feito. Doera mais do que estar ali, ele achava. Já esperava a muito tempo e aquilo estava fazendo-o suar como um porco.
O brutamonte era Montana. Lenny Montana. Um gordo descompensado que gostava mais de seu padrinho do que a si mesmo. Porém, estar com um terno, sua gravata roxa de seda e ocupar o mesmo espaço que seu ídolo, o fazia se sentir grande. Mais do que ele era.

- Ele poderá vê-lo agora. Desculpe fazer você esperar. Ele não está muito bem hoje.

Santini ajeitou as mangas do seu paletó tweed, usado pela última vez no enterro de sua tia Alegria, retirou o chapéu como forma de educação e acompanhou Montana, que fizera questão de apertar sua mão, enquanto Santini levantava. Montana, agora, segurava pelo ombro de Santini, quase o empurrando, e levando para dentro do aposento.
Era um escritório bastante confortável. Mas, não para Santini. A luz apagada, sendo iluminado somente pela luz do sol que ultrapassava pelas persianas, destas em que você puxa uma cordinha e ela sobe, e também pelo abajur com uma lâmpada de não mais de 30 watts. Montana, agora, mesmo de costas para a porta, rodara a maçaneta de forma que a porta havia se trancado. Santini sentiu os joelhos amolecerem e chegou perto de uma grande mesa, tendo em sua frente, duas enormes cadeiras. Ambas vazias. O homem atrás da mesa fizera questão de levantar-se e erguer os braços para Santini com uma imagem paterna. O homem trajava um smoking preto. A gravata borboleta quase invisível pelo papo do homem o fazia ter uma imagem senil. E de fato, fazia. Não possuía muito cabelo na frente, mas o que sobrava por trás, era o bastante para fazer um rabo-de-cavalo.

- Santini! Enfim, você veio até mim.

Montana, agora, apalpava o paletó de Santini, o que fez seus lábios perderem a cor. Santini arregalou os olhos ao ver a cara do homem a sua frente. Achava que aquilo fosse pra ele. Quase se encolheu. Mas o homem estava mirando para Montana. O queixo do homem rangeu tão alto que Montana, intacto com as mãos na cintura de Santini, estremeceu. Era um quadro cômico, a quem visse de fora. O homem se virou para a janela.

- Infamita! – ele gritou

Montana teve certeza de que o olhar fosse para ele. Rezava para que não fosse. Rezava para que seu ídolo tivesse falado com o paspalho do Santini, pegasse a 38 da segunda gaveta e lhe desse um tiro na perna. Ele agora temia pela sua perna gorda. Agora, estava tomando distância de Santini e se dirigindo a porta. Ele saíra do aposento sem tirar os olhos do homem atrás da mesa. Medo.
Santini agora não sabia o que fazer. Estava com os joelhos dobrados, o lhe fazia parecer mais corcunda do que já era. Um homenzinho franzino na frente de um velho, que agora lhe dava as costas. Apesar da idade que aparentava, o velho tinha um corpo robusto e inclinado. A barriga entregava a falta da prática de exercícios. Também, pudera, já estava fora das ruas e das grandes ações há algum tempo. Bons tempos... Ele pensava, enquanto dava tapinhas na sua nova amiguinha, com os olhos baixos.

- Senhor Santini, devo me desculpar. Tenho o prazer de sua visita em minha morada e você é recebido dessa maneira. Definitivamente, um ato nada elegante. – e o velho agora estava de frente para Santini.

Santini, por sua vez, não sabia o que dizer. Sentia sorte por ainda não ter uma bala na testa.

- Tudo bem. Não foi problema. Ele devia ter revistado melhor perto da fivela do meu cinto. – ele arriscou uma brincadeira, mas arrependeu-se amargamente, a ponto de fechar os olhos com força.

Porém, a brincadeira foi bem aceita. O velho, agora, apresentava seus dentes e o queixo desproporcionalmente longo. Ele agora estendia a mão para apertar à de Santini. Esse por sua vez, fraco, apertava a mão de Don Ambrizi.




Ajude-me, Don Ambrizi.

Depois de cortejos e alguns goles de Johnny Walker, Santini agora se sentia envergonhado de pedir algo para Don Ambrizi. Ele temia o velho pançudo, mas depois de tanta cortesia do mesmo, estava vendo como um grande chefe de família. E de fato, ou de algum modo, Ambrizi já fazia parte de sua família.

- Não vamos rodear com assuntos de meia boca, Santini. Você veio até mim para pedir ajuda. Algo que eu não vou negar te negar. Não mesmo! Porque sei que, mesmo que se um dia eu precisar, você atenderá. Ontem, você me atenderia por medo. Hoje, será por boa vontade.

Santini não tinha idéia de que fazia seu medo transparecer assim. Ele, realmente, voltou a ver Ambrizi com medo depois de ouvir que faria favores a ele por boa vontade. Viu-se no corpo de Montana, abanando o rabo enquanto seu dono acariciava o cocuruto da sua cabeça.

- Don Ambrizi, há muito tempo quero, somente, levantar as portas do meu mercadinho e não ter que abaixá-las minutos depois delas terem levantado. Mas, atualmente, isso tem sido impossível. Já tive que trocar a vitrine umas duas vezes, só essa semana! Aqueles malditos têm passado e jogado pedras com acusações quase todo dia! A terceira pedra que deveria ter quebrado a vidraça nova, acertou a senhorita Vittabell e matou a pobrezinha na hora! Achei que, depois do ocorrido, seria hora de vir até o senhor.

- E fez muito bem, meu caro Santini. Quando recebi a notícia da senhorita Vittabell, hoje pela manhã, ainda mais sendo em frente ao seu estabelecimento, tive certeza que, cedo ou tarde, o velho Santini ia bater em minha porta. E aqui está você, apertando seu chapéu com um ódio desses mequetrefes esperando que eu estale uns dedos que meus homens cacem esses garotos, colocando seus corpos pendurado nos postes de toda a cidade. Santini, eu devo te dizer, isso é uma coisa que não vai acontecer.

Santini agora estava apreensivo. Não conseguia olhar nos olhos de Ambrizi. Abaixou a cabeça e viu que estava mesmo amassando seu chapéu. Ele o posicionou com carinho o mesmo na outra cadeira. Ele não tinha pensado na idéia do poste, mas agora já estava considerando a idéia.

- A idéia de que seu filho partiu sem deixar antecedente está levando a crer, a esses meninos, que a culpa foi sua. Não que não seja, Santini, mas eles perderam um líder. E, sinceramente, não podemos travar uma guerra contra esses garotos agora. Em outros tempos, eu mandaria alguns homens calarem esses pequenos sem mesmo que você venha me procurar. A idéia de que meu sobrinho tenha partido, incomoda tanto a mim quanto a esses mequetrefes. Mas como você pode ver, Santini, sou um homem de família, assim como você, e já tenho idade suficiente para entender algumas coisas da vida.

Santini fora ali para falar com Ambrizi, mas não esperava que ele falasse que seu filho era sobrinho do mafioso mais poderoso que existia. Não agüentava nunca lembrar disso. Mas agora, ele devia agradecer a isso. Se ele estava ali, sem uma bala na perna ou na testa, era devido a esse parentesco.

 

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