Não está tudo escrito. O que pode estar escrito é o começo, e um determinado esboço do fim, mas o que acontece nesse meio está fora do controle dos Valar e até mesmo de Ilúvatar, pois, do contrário, não haveria o livre-arbítrio, já que, se tudo estivesse escrito, ele simplesmente não existiria.
O que existe é aquele negócio de que tudo vai guinar pro intuito de Eru, ou seja, no fim, tudo servirá ao propósito de Eru, mas no fim e apenas no fim. No meio não, cada um age como quer. Até mesmo Melkor, provavelmente o maior exemplo de livre-arbítrio na Obra.
O Silmarillion cita Eru dizendo para Ulmo, que, no final, até ele (Melkor) servirá ao propósito de Ilúvatar.
Mas no meio disso, ou seja, do início dado pela música dos Valar até o fim esboçado por Eru, cada um faz o que bem entender. Se isso não fosse verdade, o livre-arbítrio não existiria dentro da obra tolkieniana, pois Ilúvatar tem o Começo, que surgiu com a Música dos Ainur, e esboçou o Final, mas quem vai rechear as partituras da Música Sagrada são os Filhos de Ilúvatar e os acontecimentos em Arda, não-controlados diretamente por Eru.
Justamente porque o livre-arbítrio existe. Do contrário nenhum de nós seria realmente livre, e pensaria o que quisesse. Faríamos e pensaríamos o que foi prescrito para nós. Isso contraria o livre-arbítrio. Já que, se Eru tem prescrições na Música todas as ações dos Filhos e de Arda, como eles fazem o que querem? Não, aí você está justamente eliminando o livre-arbítrio.
Ou seja, no final, tudo virá para o intento de Eru, mas COMO virá, está fora do controle dele. Isso, é o livre-arbítrio.
Um exemplo simples: A Dagor Dagorath, a batalha final, ela virá a ocorrer (até o Silmarillion a cita), ela acontecerá. Mas como será ela, quando, e porquê, nada está escrito. Como eu já disse, no final tudo será para o propósito de Ilúvatar, tudo irá contribuir para o propósito de Eru, mas o como isso virá a ser é algo que está fora do controle dele, justamente em decorrência da liberdade que ele garantiu para seus povos. Eru só dá os temas da Música, mas não os executa.
O começo foram os Valar, mas depois que surgiram os Filhos de Ilúvatar, eles também começaram a contribuir para a Música, com todas as suas ações. Até mesmo Melkor dá sua ajuda à música.
Resumindo, a Música não se escreve sozinha, e nem é Eru quem a escreve, são os seres de Arda que a realizam, pois eles são a Música, e a Música é eles.
Os ainur apenas iniciaram a música. Eles só têm o começo.
Dizendo que está TUDO escrito você está justamente eliminando o livre-arbítrio. Eä não é a concretização da música, ela é a música se concretizando. A música é Eä? É sim, mas ela vai surgindo de acordo com o que acontece em Eä, e não o contrário. Se os Ainur, que apenas iniciaram a Música, tivessem composto toda ela, eles saberiam de tudo: dos feitos de Melkor, por exemplo.
O livre-arbítrio, nesse caso, estaria totalmente eliminado, já que, não importando o que você fizesse, você estava fadado a fazer tal coisa. Ou seja, não dependeria de você, das suas escolhas, mas sim das escolhas que os ainur fizeram para você na música. Nesse caso o livre-arbítrio seria simplesmente eliminado.
Quem comanda os Povos Livres? Eles mesmos.