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Que tipo de leitores queremos? [preço único dos livros]

Anica

Usuário
Artigo bem legal do Luciano Trigo lá do máquina de escrever. Estou reproduzindo aqui, e gostaria da opinião de vocês sobre o assunto, especialmente a bola que ele levanta sobre o preço único dos livros.

***

Já dizia Monteiro Lobato que um país se faz com homens e livros. Mas que tipo de país se faz com homens que só lêem best-sellers?

Por coincidência, dois colunistas de grandes jornais tocaram esta semana no mesmo assunto: as distorções do mercado editorial brasileiro. Primeiro foi Cora Rónai, no Segundo Caderno de O Globo: ela alertou para o risco oculto de práticas comerciais estranhas na Internet e nas grandes redes de livrarias, que vendem a R$9,90 livros cujo preço normal é cinco vezes maior - e que, mesmo em consignações com desconto de 50%, normalmente custariam aos livreiros bem mais que isso. É claro que todo mundo gosta de pagar mais barato, inclusive a Cora e eu, mas é preciso refletir sobre o impacto de medidas assim na cadeia do livro como um todo - e avaliar seus potenciais efeitos anticoncorrenciais.

Como que complementando o artigo da Cora, Ruy Castro – aliás, bem-sucedido escritor – publicou em sua coluna na Folha de S.Paulo o texto “Mega-sellers” - que por sua vez repercutiu reportagem da ótima Rachel Bertol em O Globo, sobre os fenômenos que vendem mais de 1 milhão de exemplares no Brasil, se eternizando nas listas de mais vendidos. “Os mega-sellers”, escreve Ruy, “são sempre estrangeiros, e não necessariamente americanos: podem vir da Irlanda, da Austrália ou do Afeganistão, embora só cheguem aqui depois de iniciada sua carreira nos EUA. A partir daí, onde quer que se façam listas de livros mais vendidos, eles estarão nelas, o que torna essas listas monótonas e iguais no mundo inteiro. (…) Como os mega-sellers são maciçamente estrangeiros, teme-se que as editoras brasileiras desistam de apostar no humilde romance nacional - afinal, para que se arriscar a ter 3.000 livros encalhados quando se pode vender 600 mil?”

De fato, para quê? Ora, editoras são negócios privados, por natureza buscam o lucro. Num país de baixo índice de leitura, onde a grande maioria dos títulos lançados encalha, são esses fenômenos de vendas que sustentam a engrenagem das maiores editoras. Sem eles, muitas não sobreviveriam, e o número de autores nacionais lançados seria ainda menor. O argumento é correto, mas a discussão não deve terminar aqui.

Livros, como filmes, não são apenas produtos comerciais, nem mercadorias comuns: são elementos com valor simbólico, estratégicos na afirmação de nossa identidade cultural e na formação da consciência crítica da sociedade. Exigem, portanto, políticas públicas enfáticas, em duas frentes: fomento e regulação. É preciso estimular o desenvolvimento da indústria editorial, levando a maiores tiragens e formação de uma base crescente de leitores, fomentando a demanda por bons livros, o que será bom para todos. Mas também é preciso cuidar para que haja diversidade na produção editorial, evitando que as livrarias se transformem em supermercados de best-sellers, enquanto relevantes ensaios e obras de ficção mais séria ficam confinados a uma existência quase confidencial.

Mas para isso é preciso uma postura mais assertiva do Estado, estabelecendo regras para eliminar gargalos na cadeia de produção e distribuição do livro, além de garantir a livre competição. Porque a verdade é que o mercado editorial é um dos menos regulamentados que existem no país: não há números em que se possa confiar (já se falou que no setor prevalecem as “mentiragens”), e as próprias listas de mais vendidos estão sujeitas a variadas formas de manipulação. Livrarias cobrarem das editoras para expor seus livros nas vitrines é visto como algo normal, apesar do efeito perverso disso nos pequenos editores, que muitas vezes penam para conseguir deixar um ou dois exemplares consignados de um título de menor apelo comercial.

Ou seja, como em qualquer outra área da economia, o livre jogo do mercado provoca distorções sérias no setor do livro. Mas este tem uma importância simbólica e cultural ausente qualquer outro setor, exigindo por isso mesmo um olhar atento do Ministério da Cultura. É natural que editores e livreiros busquem todos os caminhos para maximizar seus lucros. Menos natural é que não existam mecanismos para mitigar os efeitos colaterais dessa disputa, harmonizando os legítimos interesses de editores e livreiros com os do público leitor. Talvez seja hora de se começar um debate sobre a regulação do setor.


PS Aliás, o debate já começou. No dia 2 de abril haverá uma Audiência Pública na Câmara dos Deputados, provocada pela Frente parlamentar Mista da Leitura. O tema: “Lei do Preço Único do Livro – Vantagens e Desvantagens para o Brasil”. Países como a França adotaram a política do preço fixo nas livrarias, com desconto máximo de 5%. Pode parecer impopular, mas a julgar pelo número de livrarias na França, funciona. Já a Associação Nacional de Livrarias (ANL) estuda acionar o CADE para investigar possíveis ações de dumping e práticas predatórias no mercado editorial brasileiro.

Fonte: máquina de escrever, G1
 
Com certeza a falta de investimento no romancista nacional é grande. Editoras, geralmente, buscam algo mais sólido para publicar. Estou tentando publicar meu livro de contos há quase dois anos já, muitas editoras, muitas vezes, dizem que estão com o cronograma cheio e não aceitam material até abrir uma janela. Entretanto, pelo que tenho notado, as editoras que entrei em contato estão sempre com lançamentos internacionais e dois ou três nacionais no ano.
 
Isso vem de encontro realmente com o que vemos. Como exemplo basta darmos uma olhadinha no Censo Meia Palavra e constataremos que a maioria dos livros lidos que foram lançados recentemente são importados.
No meu caso isso reflete muito na propaganda, é difícil ver um livro nacional com uma propaganda forte, com apelo e talz.
Quanto ao preço único do livro preciso analisar um pouco mais para expor uma ideia.
 
Bom isso dá pano pra muita manga; então vou resumir um pouco e voltar aqui após mais opiniões.

Eu entendo que o problema nº 1 quando o assunto é livros no Brasil resume-se a
"Não sabem nos ensinar a gostar de ler".

Ora, façam uma experiência simples: 1000 crianças entre 10 e 14 anos irão ler O Cortiço; outras 1000 na mesma faixa etária irão ler Harry Potter.

Quem vcs acreditam que vai querer ler OUTROS livros? Mesmo os clássicos com mais apelo junto aos jovens (me vem na cabeça Memórias Póstumas de Brás Cubas) ainda tem linguagem arcaica e são distanciados da vida de um jovem.

Façam ler Sherlock Homes, Harry Potter (mesmo que eu tenha preconceitos próprios vejam uma vantagem extra aqui: livro "grosso" e com continuação, a criança perde o MEDO disso!), Crepúsculo... e pronto: vc criará o que precisa de verdade o mercado editorial: LEITORES!

Isso feito teremos as divisões normais entre leitores, e com isso uma procura maior por uma diversidade maior de livros. E então escritores e editoras brazucas terão suas chances de ouro.
 
Estava discutindo isso com um amigo hoje.
As editoras brasileiras, quando investem em autores nacionais, investem só nos que vendem bastante, que já têm um público, como o André Vianco por exemplo, ou nos medalhões tipo Paulo Coelho, Chico Buarque e tal, além dos livros livros espíritas e de auto ajuda.
Eu não sabia que livrarias também têm "jabá", como nas rádios.
Bem triste isso.
.
Esse "preço único", o que é exatamente?
Tipo uma tabela? O mesmo livro tem o mesmo preço em qualquer livraria, que pode dar, no máximo, 5% de desconto? É isso o que eu entendi.
 
Bem, sobre o preço, também não entendi direito, mas é comum ir em várias livrarias e haver pouca diferença entre os valores.

Talvez por essa mesma falta de incentivo das editoras em publicarem e darem mais destaques à autores nacionais é que eu tenho um certo "preconceito" de ler obras brasileiras. Com excessão dos clássicos, não procuro ler nada novo que tenha surgido no mercado. Nem mesmo André Vianco eu me animo a ler ainda. Mas um dia entro nessa parte da biblioteca e garimpo algumas coisas pra ir desmistificando essa coisa de "livro bom é livro estrangeiro" que eu tenho.
 
Pelo que entendi desse preço único é que as livrarias terão que ter o mesmo preço com desconto de no máximo 5%. Hoje em dia, como no exemplo acima, há lojas que vendem livros a 9,90, enquanto outras vendem o mesmo livro a 30 e poucos.
 
A idéia da lei do preço único é fixar um determinado valor possível para desconto, fugindo justamente de extrapolações como esses harry potters por 9,90. Parece que já funciona algo parecido na França, com o desconto não podendo ultrapassar o 5% sobre o valor do livro.
 
Seria bom mesmo uma tabela de preços com limite de descontos, acho que isso ja mudaria muita coisa, fiquei espantado depois de conferir a promoção do Harry Potter que a Anica falou, o livro 7 de 59 para 9.90 =O impressionante, não tem como competir com descontos desse tipo.
 
Na verdade eu ainda não matutei o suficiente sobre os prós e os contras de uma lei desse tipo, mas fico cá pensando: claro que como consumidora eu quero os livros com preços lá no chão. Mas são os preços dos livros que eu quero que ganham esses descontos enormes? Não. E aí, ontem eu estava quase comprando a coleção do Harry Potter, não porque gosto ou acho legal, mas porque custava "9,90, omg, imperdível, depois dou de presente para alguém". Os livros do Khaled Housseini (acho que é assim o nome do cara) voltaram a aparecer nas listas de mais vendidos nas últimas semanas, do nada. Quer dizer, do nada, não. Tanto a Saraiva quanto o Submarino estavam vendendo O Caçador de Pipas e Cidade do Sol também por 9,90. Não deixa de ser o tipo de coisa a se pensar.
 
Fui comprar agora de manhã a coleção do harry potter mas não deu tempo =/ credo...acabou tudo. Quando atualizei a pagina só restavam os livros 1 2 e 3.
 
Olha que interessante, o Shaytan abriu este tópico: http://www.meiapalavra.com.br/showthread.php?tid=2512
com um artigo que tem tudo a ver com este tópico que a Anica nos mostrou e o assunto que se discute aqui. :sim:
 
Ramalokion disse:
Ora, façam uma experiência simples: 1000 crianças entre 10 e 14 anos irão ler O Cortiço; outras 1000 na mesma faixa etária irão ler Harry Potter.

Quem vcs acreditam que vai querer ler OUTROS livros? Mesmo os clássicos com mais apelo junto aos jovens (me vem na cabeça Memórias Póstumas de Brás Cubas) ainda tem linguagem arcaica e são distanciados da vida de um jovem.

Façam ler Sherlock Homes, Harry Potter (mesmo que eu tenha preconceitos próprios vejam uma vantagem extra aqui: livro "grosso" e com continuação, a criança perde o MEDO disso!), Crepúsculo... e pronto: vc criará o que precisa de verdade o mercado editorial: LEITORES!

Isso feito teremos as divisões normais entre leitores, e com isso uma procura maior por uma diversidade maior de livros. E então escritores e editoras brazucas terão suas chances de ouro.

Concordo plenamente com o que você colocou Rama.
Primeiro temos que fundamentar um habito de leitura nos brasileiros, nem que seja as custas de livros best-sellers, para depois sim, esperar que esses leitores evoluam para outros níveis de literatura. Até mesmo porque leitura tem idade, já discutimos isso aqui no meia. Ler romances pesados e gigantescos não é o primeiro passo da maioria dos leitores. Alguns começam por aquilo que está na mídia para partir em direção aos clássicos ou aos livros nacionais.
Ajudaria muito ter mais postos de vendas para os livros, na minha opinião seria até melhor do que fixar um preço.

Clara V. disse:
As editoras brasileiras, quando investem em autores nacionais, investem só nos que vendem bastante, que já têm um público, como o André Vianco por exemplo, ou nos medalhões tipo Paulo Coelho, Chico Buarque e tal, além dos livros livros espíritas e de auto ajuda.
Eu não sabia que livrarias também têm "jabá", como nas rádios.
Bem triste isso.

O jabá é um dos grandes vilões da história. Destruiu o mercado da música, partiu para os filmes e agora vai também para as livrarias, porque não são todas as editoras que tem dinheiro para gastar com propaganda ou comprar um espaço na vitrine. Porém parte dessa culpa também nasce da nossa comodidade. Quem fica garimpando livros todos os finais de semana? Quem quando chega em uma livraria vai logo na sessão dos nacionais? O número e pequeno e inexpressivo se confrontado com o de pessoas que preferem seguir aquilo que está na frente delas. E esse efeito também atua na qualidade do que se produzido.
Sei que "livro bom ou ruim" é pura questão de gosto, mas existem N livros nacionais (não vou citar nomes) que são superiores em termos de qualidade, mas que não vendem tanto quanto Crepúsculo ou Código Da Vince, justamente por não terem uma forte propaganda por trás.

Agora seria legal o que nós, os leitores, poderíamos fazer para mudar esse quadro e não deixar que as editoras nos ditem o que ler e quando ler.
 

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