Quanto dinheiro os poetas fazem?

[Haleth]

Bem, quase todo mundo sabe a resposta: $0. Mas há uns sortudos que depois de 80 anos conseguem, finalmente, ficar ricos.
Pra ver aqui

 

[-Jorge-]

Mas há uns sortudos que depois de 80 anos conseguem, finalmente, ficar ricos.

Só se conseguem ganhar um Nobel, né? =P

Interessante que num país como os Estados Unidos com 300 milhões de habitantes em grande parte alfabetizados um best-seller de poesia mal venda 20 mil cópias. E pode só ser que o livro teve um marketing melhor que os outros. O pior é que isso nem quer dizer que vão ser lidos. E como será que vão as vendas de poesia no Kindle e similares?

 

[Fúria da cidade]

Do ponto de vista financeiro não é nada fácil viver disso.

 

[Giuseppe]

Não conheço ninguém que viva de escrever poesia. Mesmo os poetas de maior sucesso faziam/fazem outra coisa pra se sustentar. É o gênero que é mais escrito e ao mesmo tempo o que menos vende. Poesia é uma coisa que se escreve por uma necessidade do coração, não por dinheiro, até porque é quase impossível ficar rico dessa forma.

 

[Fúria da cidade]

Essa triste baixa razão custo-benefício é uma das coisas mais injustas na escrita, mas se não mudou nada até agora, não será tão cedo que irá mudar.

 

[Béla van Tesma]

Acho que o único poeta que ganhou dinheiro em vida foi o Pablo Neruda

 

[Giuseppe]

Imagino que ele tenha ganhado muito menos do que a maioria das pessoas pensam!

 

[Fúria da cidade]

Enquanto as coisas forem assim, pra atenuar um pouco essa frustração, se eu fosse pensar em viver apenas da escrita, eu procuraria se firmar como um escritor dito "normal" escrevendo contos, romances, estórias, etc e quando estiver razoavelmente mais conhecido no mercado lançar paralelamente publicações de poesia como se fosse a cereja do bolo, mas logicamente sem criar grandes expectativas.

 

[Béla van Tesma]

Nem o Drummond abriu mão do seu carguinho público para viver só de poesia, e ele deve ter sido o último grande poeta público do Brasil, aquele do qual todos falam, todos leem. Isso não existe mais nem é provável que exista de novo, dada a fragmentação da poesia contemporânea em nichos muito pequenos e da supremacia que as mídias visuais (cinema, séries televisivas) têm sobre a literatura hoje. Só um ou outro poeta ainda vende um pouco mais, de vez em quando, mas por circunstâncias alheias à poesia per se. Por exemplo: Gregório Duvivier, pelo destaque que tem como comediante e colunista, ou o Adrilles Jorge, ex-BBB.

É simplesmente impossível, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro, viver de poesia. É algo que sempre esteve restrito a círculos de poucos leitores desde a modernidade (séc. XIV em diante). Camões e cia. dependiam de mecenato; os árcades pregavam para convertidos; Bilac era lido e ovacionado em público, mas num país de 80% de analfabetos, e foi quem inaugurou a noção de poeta como ofício para se fazer dinheiro. Até recebeu um belo dinheirinho fazendo propaganda de fósforo.

A única possibilidade de ganhar grana com poesia seria fazer uma poesia tão, mas tão popularzinha, tipo os instapoetas Rupi Kaur, Lucão, etc. a ponto de o caráter poético mesmo se perder completamente. De literatura lato sensu só se vive escrevendo para certos nichos (policiais, fantasia, etc.) ou naquele estilo genericamente chamado de best-seller, que apesar das aparentes diferenças superficiais (cf. O Código DaVinci vs. Cinquenta Tons de Cinza) tem uma porção de coisas em comum, como demonstrou o estudo minucioso deste livro, que o tornam mais atraente para o grande público.

Então, eu não acho que qualquer poeta hoje em dia se aventure e persista nesse ramo em busca de dinheiro. No máximo ele quererá reconhecimento intelectual da academia, dos pares, talvez levar um prêmio para casa e exercer alguma influência aqui e ali, especialmente se a sua poesia se voltar para questões sociais e identitárias. Eu pelo menos quando me atrevo a versejar é com isso tudo em mente. Não me iludo. Por isso o foco será ficção em prosa mesmo.

 

[Giuseppe]

Já eu escrevo só porque gosto e não tenho vontade de ganhar prêmios, muito menos de ter reconhecimento intelectual, mas isso varia de uma pessoa para outra e obviamente cada um tem suas metas. Adoro a simples experiência de escrever um poema e quando com o passar dos meses e dos anos eu releio o que escrevi e continuo gostando, é aí que sei que fiz algo de bom. Ou dou risada e jogo no lixo.

 

[Fúria da cidade]

Então, eu não acho que qualquer poeta hoje em dia se aventure e persista nesse ramo em busca de dinheiro. No máximo ele quererá reconhecimento intelectual da academia, dos pares, talvez levar um prêmio para casa e exercer alguma influência aqui e ali, especialmente se a sua poesia se voltar para questões sociais e identitárias.

Vale mais por isso mesmo, fica eternizado na história, proporciona notoriedade e tudo mais, menos $$$$.

Quanto a ganhar dinheiro com um determinado poema especificamente, o caminho mais viável que eu vejo é fazê-lo se tornar uma letra de música . Vai que encontra um bela voz combinado com bons arranjos. Se vier fazer sucesso, com os direitos autorais da composição devidamente registrados, aí sim dá pra dizer que é possível ganhar algum dinheiro só com a poesia, mas tudo isso que estou escrevendo é como ganhar na loteria.