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Quanto custa um fracasso?

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QUANTO CUSTA UM FRACASSO?

Por Luiz Schwarcz

Acabo de voltar de Nova York, onde passei duas semanas encontrando meus colegas da Penguin, além de alguns agentes e editores amigos. Essas paradas, ou interregnos, sempre fazem pensar. Estive lá numa semana particularmente agitada para nós editores, com ao menos dois leilões movimentando o mercado. Eles são confidenciais ainda, o que posso adiantar é que um deles girou em torno de um livro de não-ficção, escrito por uma jornalista da BBC, que a Companhia das Letrashavia comprado antes de qualquer outro país, inclusive antes do leilão acontecer. Os números não foram divulgados, mas a editora americana que conseguiu fechar o acordo pagou um valor altíssimo para ter os direitos mundiais do livro; isto é, para ter o direito de revender a obra para outros países e assim recuperar parte do adiantamento pago — felizmente o Brasil já estava de fora, com a nossa compra antecipada. A esperança é que seja um livro importante e forte para o final deste ano. O outro caso é de um autor de qualidade literária que começa a ter alcance comercial. Ele deixou sua editora americana para ir para uma nova, tendo recebido uma oferta de 5,5 milhões de dólares.

Tudo isso me fez pensar nas mudanças que vêm ocorrendo no mercado editorial de hoje. Há uma clara globalização do sucesso e do fracasso, tornando o número de livros comercialmente bem-sucedidos menor — ou, se preferirem, os fracassos cada vez mais frequentes e dramáticos —, enquanto os poucos livros bem-sucedidos em termos materiais crescem em número de exemplares vendidos. Talvez eu já tenha tratado desse assunto neste blog, mas hoje a situação é bem mais sensível e traz novas implicações. O que está cada vez mais claro é que, hoje em dia, um livro que vende mal enfrenta uma concorrência enorme: a dos livros bem-sucedidos (que são poucos mas que têm um êxito massificado) e ainda a dos seus inúmeros pares, os outros fracassos comercias, que crescem com o aumento do número de editoras e livros publicados.

Com a comercialização de espaços nas livrarias, o que chega ao consumidor com destaque é o que em princípio não precisaria de espaço especial: os grandes sucessos que vendem quase que automaticamente. O investimento em exposição mais alentada multiplica a venda dos poucos livros bem-sucedidos, e remete o livro diferenciado, de venda mais lenta, para um exílio incômodo, distante do leitor. Sem exposição, os outros livros, que demoram para deslanchar naturalmente, hoje patinam logo na saída, morrendo mais cedo e de doença mais aguda.

Na Companhia das Letras nunca nos preocupamos muito com os fracassos comercias, por gostarmos demais dos livros que editamos, por acreditarmos que alguns desses fracassos iniciais possam se reverter com o tempo, e por termos nossas contas pagas por livros de longa duração.

O que são livros de longa duração? São aqueles que realizam a verdadeira vocação literária, a de sobreviver ao tempo e de viajar para várias culturas. Assim, no passado, quando livros vendiam de início um terço de uma edição padrão de três mil exemplares, não nos preocupávamos. A situação se mantinha estável, como consequência do nosso esforço bem sucedido para ter nossos autores entrando como leitura obrigatória em inúmeras escolas, além de outras formas que conhecemos de fazer vender lentamente os livros que não têm vocação para best-seller. Em alguns anos a conta fechava. Esses mil exemplares eram um peso que carregávamos com sorriso nos lábios, orgulhosos das edições que atingiam poucos, acreditando que um dia passariam a vender, ou que de toda maneira eram livros tão importantes que valiam por si só.

A situação hoje é distinta. O que passa a ocorrer quando o livro de um jovem autor traduzido, ou mesmo de um eterno candidato ao prêmio Nobel, vende apenas um sexto da edição? Como fechar essa conta quando o prejuízo aumenta? A conta do fracasso começa a ficar mais cara, e o sorriso nos lábios se mistura com uma ponta de preocupação.

O fenômeno é claro e internacional. Mudanças demográficas mundiais trazem um público mais jovem para o mercado, a ponto de o próximo congresso de editores da Penguin — a se realizar em Istambul no mês de abril — ter como tema central a categoria chamada de YA: young adults. A discussão central será sobre livros que atingem um público jovem, da puberdade aos primeiros anos da universidade. No ano passado o tema foi o livro digital.

Como tudo isto afeta o Brasil? As mudanças demográficas aqui têm uma característica particular: estão trazendo ao mercado de livros um público que, além de jovem, começou a subir na pirâmide educacional recentemente — portanto naturalmente com menor bagagem literária .

Mas esse será o assunto da minha próxima crônica. Feliz com o interesse dos que me seguem aqui no blog, fico esperando pela reação de vocês — enquanto penso um pouco mais no que tenho a dizer, e que por ventura ainda possa interessá-los.

FONTE: http://www.blogdacompanhia.com.br/2013/03/quanto-custa-um-fracasso/

Destaquei as partes que achei mais interessantes.
 
Última edição por um moderador:
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Pelo que sei, isso é característica de toda a indústria cultural hoje em dia. A rotatividade é grande porque a indústria está sempre em busca do próximo sucesso e por isso é obrigada a lançar sempre mais livros, filmes, bandas, jogos, na esperança de algum venda. Alguns se sobressaem (com mais marketing) e pagam o fracasso dos outros. Isso explica em parte a inflação em que a gente vive. Os lucros ou os prejuízos também são ampliados/fracionados pelo lançamento de vários produtos de uma mesma coisa, como filmes do livro, brinquedos, jogos de vídeo-game. Se colar bom, se não, menos mal.

Quanto aos investimentos em público jovem, talvez se explique por ser um público mais dado a modas, influência de grupos (propaganda boca-a-boca), e a compras por impulso (ligadas a e-readers?). Eu diria, mais acostumado ao consumismo. Parece ser uma tendência cultural (os kid-dults). Talvez tenha a ver também com crescimento demográfico, ou à população mundial nessa faixa etária, mas eu duvido. De todo jeito a Sociologia e o marketing explicam.
 
A nova coluna do Schwarz continuou com o tema exposto. Estou postando no mesmo tópico pois as duas são linkadas:

O mundo que não está nos livros cansa

Na semana passada, procurei explicar um pouco do que acontece hoje em dia no mercado editorial como um todo, e, em particular, no caso de editoras de perfil literário como a Companhia das Letras. Em outro post já havia mostrado como não vejo com maus olhos a entrada de um novo público-leitor, que não conhece ou ainda não está à vontade para ler a boa literatura que há por aí.

Parece estranho, mas os leitores deste blog, assim como as pessoas que trabalham no mundo editorial, em sua maioria votam em partidos progressistas, defendem a democracia, mas em muitos casos, quando discutem valores culturais, parecem se considerar superiores e torcem o nariz para quem não priva dos mesmos gostos ou da mesma forma de entender o mundo literário.

Não tenho preconceito para com editoras de perfis diferentes, e autores que nunca quis publicar. Tento apenas entender o que resulta da combinação da preponderância mais acentuada dos livros populares no mercado, das circunstâncias em que se encontram as livrarias, e do aumento da concorrência para os títulos que chegam com a promessa de grandes vendas. Por outro lado, o preço para comprar os direitos de publicação de todos os tipos de romances, incluindo os de maior qualidade, em alguns casos chegou a decuplicar — jogando um risco exacerbado sobre livros que hoje encontram mais dificuldades aqui do que em outros países. O Brasil aparenta ser um mercado mais promissor do que muitos outros, de estabilidade e pujança tradicionais. Com a concorrência acirrada por títulos, por vezes pagamos adiantamentos mais altos que a Inglaterra ou a França, e nem sempre a venda, como é de praxe no negócio do livro, acompanha a expectativa inicial.

O importante é escapar ao tom de lamúria e entender essas mudanças como parte dos desafios atuais de um editor. A digitalização, o crescimento da leitura juvenil e a distribuição mais acentuada de renda no Brasil, nesses últimos quase vinte anos, modificaram a nossa lista de mais vendidos e tornaram a vida do jovem autor literário mais complicada. O mesmo vale, principalmente, para livros de literatura traduzidos, que não venham com grande bagagem de sucesso anterior… No entanto, nem preciso apontar aqui as vantagens de um país mais democrático e educado, além das benesses possíveis de um livro mais barato em formato digital.

Porque o país mudou, a tecnologia mudou, o mercado mundial de literatura mudou, é de se esperar que mudem também as editoras.

Também é importante ter paciência. O Brasil não vai virar digital da noite para o dia — o que também tem suas vantagens. Leitores que começam a se interessar por livros não mudarão suas escolhas repentinamente, e as editoras, em sua grande maioria, não vão querer perder o espaço conquistado, assim como outras, que nunca almejaram ou almejarão crescer, irão preferir permanecer enxutas.

Muitas perguntas equivocadas, respostas apressadas, insinuações e juízos preconceituosos têm circulado no mercado editorial para tentar dar conta de tantas mudanças. Sempre é mais fácil entender a realidade por um só ângulo, valorizar o pequeno em detrimento do grande, sem diferenciar o que há de bom e meritório em cada dimensão. Opinar sem conhecer como são tomadas as decisões numa editora, mitificar o passado e desconsiderar as transformações na sociedade em que vivemos é caminho tão fácil quanto enganoso.

Um dia ainda vou escrever sobre como acho que a Companhia das Letras deixou de ser “independente” quando emplacou, quase involuntariamente, seu primeiro livro na lista de mais vendidos — no caso, o justamente cultuado Rumo à estação Finlândia. E como agora, acredito, voltamos a ser independentes ao colocar em prática o velho plano de ampliar nosso público, com a criação da Paralela, Seguinte, Claro enigma e Boa Companhia — os selos através dos quais buscamos alargar nossos horizontes editorias. Mas antes disso, quero voltar a tratar de alguns livros que me surpreenderam, de discretas memórias pessoais e de algumas anedotas de editor. Entender o que está fora dos livros dá mais trabalho. Cansa.

FONTE: http://www.blogdacompanhia.com.br/2013/03/o-mundo-que-nao-esta-nos-livros-cansa/

Tem muita coisa aí que eu destacaria, então preferi nem destacar :dente:

Mas gostei dessas, em especial:

O Brasil aparenta ser um mercado mais promissor do que muitos outros, de estabilidade e pujança tradicionais. Com a concorrência acirrada por títulos, por vezes pagamos adiantamentos mais altos que a Inglaterra ou a França, e nem sempre a venda, como é de praxe no negócio do livro, acompanha a expectativa inicial.

O Brasil não vai virar digital da noite para o dia — o que também tem suas vantagens. Leitores que começam a se interessar por livros não mudarão suas escolhas repentinamente, e as editoras, em sua grande maioria, não vão querer perder o espaço conquistado, assim como outras, que nunca almejaram ou almejarão crescer, irão preferir permanecer enxutas.

Muitas perguntas equivocadas, respostas apressadas, insinuações e juízos preconceituosos têm circulado no mercado editorial para tentar dar conta de tantas mudanças. Sempre é mais fácil entender a realidade por um só ângulo, valorizar o pequeno em detrimento do grande, sem diferenciar o que há de bom e meritório em cada dimensão. Opinar sem conhecer como são tomadas as decisões numa editora, mitificar o passado e desconsiderar as transformações na sociedade em que vivemos é caminho tão fácil quanto enganoso.
 

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