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Qual o Futuro da Música?

Phantom Lord

London Calling
Matéria interessante que vi no site da revista BRAVO


Qual o Futuro da Música

O grupo Radiohead, que vem neste mês ao Brasil, abriu a temporada de previsões sobre as mudanças na arte de compor e veicular canções. Das ideias levantadas, saiba o que faz sentido e o que é só especulação

Por Arthur Dapieve


O já clássico CD In Rainbows não prometia apenas um pote de ouro ao fim da jornada. Lançado em outubro de 2007, o sétimo e mais recente álbum de estúdio do grupo britânico Radiohead, que vem neste mês ao Brasil, acenava para o mundo da música com toda uma nova província repleta de minas de ouro. Primeiro, o grupo disponibilizou o disco inteiro para download na sua página na internet. O fã poderia pagar o que quisesse, a partir de nada. Se, no entanto, pagasse 40 libras (cerca de R$ 130 hoje), recebia em casa uma edição especial com In Rainbows em CD e em dois LPs de 45 rpm, mais um CD de faixas-bônus e dois encartes. Multicoloridos, naturalmente.

Foi uma jogada criativa, ousada e, não fosse o Radiohead oriundo da universitária Oxford, intelectualizada: ao mesmo tempo em que na prática propunha um novo estilo de comercialização, o esquema desafiava o internauta: "Quanto você acha que vale o nosso trabalho?". A partir dessa antevisão de um possível futuro, os profetas do ramo se lançaram a inúmeras predições de curto ou curtíssimo prazo. Portanto, um ano e meio depois do lançamento de In Rainbows, e às vésperas dos longa e ansiosamente aguardados shows do grupo no Rio de Janeiro e em São Paulo,faz sentido checar a realidade de dez delas.



1- O método de vender música sem que ela tenha um preço definido vai se popularizar, estabelecendo uma relação direta de mercado?

TALVEZ. Popularizar talvez não seja bem a palavra. Multiplicar, sim. Porque, sejam elas grandes ou pequenas, somente bandas com um público fiel (cada vez mais raras) podem se arriscar numa empreitada como In Rainbows. Nela, do mesmo modo que o artista tem de confiar no fã a fim de não receber uma banana em troca, o fã tem de confiar no artista para gastar o seu ganha-pão. Por ter cultivado a audiência em 20 anos de carreira, o Radiohead foi extremamente bem-sucedido. Botou o disco na internet, captou dinheiro sem a custosa intermediação de sua antiga gravadora (a EMI), despachou os kits especiais pagos pelos fãs mais abonados e ainda botou o CD nas lojas. Então, para surpresa quase geral, In Rainbows de cara atingiu o topo das paradas inglesa e americana em janeiro de 2008. Nos EUA, isso correspondeu a 122 mil cópias vendidas "normalmente", isto é, no balcão. Menos da metade que Hail to the Thief, de 2003, vendeu na sua primeira semana. Mais do que o Radiohead teria vendido se não tivesse posto In Rainbows para download, como declarou na ocasião um dos empresários da banda, Bryce Edge, ao New York Times. Naturalmente, outros tipos de comércio direto entre artistas e fãs já existem e são viá*veis (vendas em sites próprios ou na porta de concertos, consórcio de ouvintes etc.), mas em todos eles a lacuna "preço" já vem preenchida. Quem mais se arrisca a dar a cara a tapa?

2- O CD vai mesmo acabar em cinco anos? Qual será o impacto cultural disso?

NÃO. Apesar de gigantes do ramo, como a Warner, trabalharem com a perspectiva de o CD sumir da face da Terra nesse prazo, tal cenário apocalíptico é cada vez menos provável. O que (não) aconteceu com o vinil agora serve de paradigma para o que (não) vai acontecer com o CD. Em meados dos anos 80, dizia-se que este varreria aquele do mercado. Embora, no primeiro momento, isso quase tenha se concretizado, o LP foi voltando, e voltando com força cada vez maior, a ponto de alguns dos principais lançamentos de 2007 (como Favourite Worst Nightmare, dos Arctic Monkeys, um fenômeno da internet) terem vendido mais em vinil do que em CD na Grã-Bretanha. Logo, o CD deve-se tornar outro importante nicho, abastecido por selos como o americano Light in the Attic e suas caprichadíssimas reedições, de Karen Dalton ou Betty Davis. Uma das razões para isso é que o CD ainda tem uma qualidade sonora muito maior do que a música disponível na internet para download — o que faz com que ele proporcione uma experiência musical muito mais rica (veja item 10). De qualquer forma, a quebra do virtual monopólio do CD no mercado já gerou importantes mudanças culturais.

3- Os artistas deixarão de pensar sua obra em álbuns e pensarão música a música?

SIM. E essa é uma das mais importantes mudanças culturais. De certa forma, porém, essa também é uma volta às raízes. Até os anos 40, a música era comercializada uma a uma (normalmente com um lado B de contrapeso). Os artistas as lançavam em compactos, ou singles, de 45 rpm. A partir do advento dos espaçosos LPs de 33 rpm é que os mais bem-sucedidos passaram a reunir seus compactos já testados e aprovados pelo público nesse "álbum". Alguns elevaram essa maneira de pensar ao status de arte, concebendo álbuns em que todas as músicas se interligavam, criando um conceito — como os Beatles em Sgt. Peppers. Com o tempo, o próprio álbum tornou-se moeda corrente: qualquer zé-mané estreante gravava logo um LP inteiro sem ter feito por merecê-lo. Muita música ruim foi produzida dessa forma... Mesmo artistas competentes nem sempre conseguiram estar lá muito inspirados por dez ou 12 faixas seguidas. E tome encheção de linguiça... Nos anos 70, a crítica musical dizia com frequência que duas ou três faixas já justificavam, por si sós, a aquisição de determinado LP; hoje, ela seria apedrejada se sugerisse algo parecido. Álbuns continuarão existindo, claro, mas cada vez mais restritos a quem tem algo a dizer.

4- E os ouvintes mais jovens, da geração iPod? Eles já têm esse tipo de relação com a música? Faixa a faixa, e não por álbum?

SIM. A garotada já nasceu num mundo em que o compacto voltou a imperar. Assim, cada música precisa ganhar a sua disputadíssima atenção... Antes de logo ser trocada por outra, como no shuffle do iPod. Se, por exemplo, o guri ouve Beirut pela primeira vez na minissérie Dom Casmurro, não vê por que comprar o EP Lon Gisland importado. (EP é o meio-termo entre o compacto e o álbum.) Elephant Gun, a música usada na TV, é baixada sozinha. Entretanto, ela é bonita o bastante para atiçar a sua curiosidade por mais músicas compostas por Zach Condon... Esse guri nada hipotético pode baixar o EP e os dois álbuns do Beirut inteiros... E, se virar fã de carteirinha e quiser melhor qualidade de som, ainda pode, quem sabe, comprar os CDs... Mais uma vez, o talento separa o joio do trigo. Pirataria? Pirataria é copiar discos em série para vender.

5- Em vez de CDs, os artistas lançarão seus trabalhos em sites?

SIM. Isso tem acontecido cada vez mais. Não só como possibilidade de venda direta, mas, sobretudo, como teste/aperitivo de uma música. Se bem recebida pelos fãs, tal música pode, ou não, vir a fazer parte de um álbum "à moda antiga". No Brasil, por exemplo, Leoni tem feito isso regularmente em seu site, à base de uma nova música por mês. Até agora, ele já apresentou sete novas canções (como a bela É Proibido Sofrer, parceria com a sua mulher, a atriz Luciana Fregolente) e vai disponibilizar para download gratuito mais cinco. As 12 devem formar o seu próximo álbum, um álbum já testado e aprovado na internet.

6- Com esses lançamentos em sites, haverá interatividade como nos CDs do Beck?

TALVEZ. No já longínquo final de 2004, Beck vazou Guero na internet, num mix provisório. Em março do ano seguinte, o álbum foi lançado física e oficialmente. Seguiram-se uma edição especial, com sete faixas extras, som 5.1 e arte interativa, e um disco de remixes, Guerolito. Sem falar nas incontáveis versões feitas por fãs. Foi um auê. De lá para cá, o americano tornou-se um dos artistas que melhor pensam a passagem de uma cultura digital ainda baseada em suportes concretos para uma cultura inteiramente digital, quase abstrata. "São formatos diferentes e inspiram abordagens distintas", disse à revista Wired em 2005. "É hora de o álbum abraçar a tecnologia." CDs que "abrem" conteúdo exclusivo (e passivo) na internet não eram novidade quando ele lançou Guero. Contudo, Beck vislumbrou um futuro mais complexo. Tão complexo, aliás, que por enquanto bem poucos conseguiram chegar a ele. Um dos que chegaram foi o cantor Trent Reznor, do grupo Nine Inch Nails. Entre outras coisas, ele ofereceu jogos de realidade virtual e fez os fãs remixarem suas músicas.

7- Vão acabar os popstars, os artistas que marcam uma geração, como os Beatles nos anos 60 ou Madonna nos 90? Iniciaremos uma era de cauda longa em que cada vez mais artistas venderão cada vez menos de seus discos, como escreveu o jornalista americano Chris Anderson?

NÃO. O rabo cresceu, ampliou-se e vai continuar espichando, certamente: dia a dia, há cada vez mais candidatos a ídolos em oferta enquanto a procura dos fãs é cada vez mais dispersa. Nos tempos pré-digitais já vinha sendo mais e mais difícil "chegar lá" porque os termos de comparação são sempre cumulativos: cada garoto que pega numa Fender Stratocaster pela primeira vez hoje tem de se medir por todos os outros garotos que pegaram numa Fender Stratocaster antes dele, não só com Eric Clapton — ao menos se quiser viver disso. Com a cultura digital, a competição se tornou mais dramática, mas ainda há vagas para ídolos. Os Arctic Monkeys, por exemplo, que se popularizaram a partir do boca-a-boca gerado na internet, bem podem ser os grandes astros desta geração. E a web alarga o espaço para fenômenos localizados, para estrelinhas como Mallu Magalhães.

8- A facilidade dos arquivos digitais acelera o processo de banalização da música?

SIM. Desde que a música passou a ser gravada, em fins do século 19, esse processo está em andamento. Antes do advento das gravações, ouvir música implicava sair de casa, reunir-se aos concidadãos, apreciar uma execução única de uma obra de Brahms. Havia uma dimensão meio sagrada nisso. Com os discos físicos, a música passou a ser consumida a qualquer momento, em casa, solitariamente, em família ou entre amigos, em torno do último LP dos Beatles. Ainda havia algo de mágico e misterioso nesse tour. Hoje, os aparelhos portáteis com fones de ouvido carregam Britney Spears o tempo todo, por todos os lugares, num vício solitário. Escuta-se tanta música que já não se ouve quase música alguma. Nossa sociedade tem horror ao silêncio, talvez por nele pressentir a morte. "O resto é silêncio", diz Hamlet. Porém, é o silêncio que dá sentido à música.

9- O artista viverá dos shows e não das gravações?

SIM. Essa já é uma realidade há bastante tempo para os nomes bem-sucedidos, como Caetano Veloso ou Paralamas do Sucesso. Tanto que, diante da crise em suas outrora infinitas terras, algumas gravadoras pressionaram para se tornar sócias de seus contratados também nas turnês. Todavia, o caso mais criativo e notório é o da Banda Calypso, que pirateia os próprios discos. Os vendedores que correm ruas e praias do Norte-Nordeste com sistemas de som armados sobre carrinhos estimulam o público a ir aos seus shows, que são onde de fato Joelma e Chimbinha ganham a vida.

10- Os novos formatos desprezam frequências da música, levando à perda da riqueza e da profundidade do som?

SIM. O arquivo mais comum, o de 256 kbps, comprime a música de tal forma que joga fora as frequências nas "beiradas" do espectro, as mais agudas e as mais graves — que, no entanto, são preservadas no CD e, em menor grau, até no velho LP. No MP3, fica uma maçaroca monótona, chapada, que tende a cansar o ouvido e fazer toda música soar como a mesma. O Radiohead, na hora de dar In Rainbows de presente, comprimiu-o mais, em 160 kbps. Não dava para amplificar e tocar na festinha. Por outro lado, em 2008, quando o Nine Inch Nails ofereceu o álbum Slip para download gratuito ("como agradecimento pelo apoio constante" dos fãs), já o fez em cinco formatos: do MP3 de alta qualidade ao Wave 24/96, som melhor do que o de um CD — desde, é óbvio, que se tenha um bom som acoplado ao computador, não umas caixinhas de papel. Arquivos pesados afugentam o ouvinte casual, certo, mas quem ama a música de paixão precisa deles: ouvir, de verdade, o que o artista tem a dizer e reagir a isso emocionalmente ainda é a experiência interativa por excelência.


Artur Dapieve é jornalista e escritor, autor de De Cada Amor Tu Herdarás só o Cinismo (2004) e Black Music (2008).
 
Indo um pouco além, a Revista Capitu trata do tema de forma mais abrangente, questionando o futuro da arte em Geral.

Que será da Arte?
[align=justify]Mapeando as mudanças pelas quais passou a música, texto indica as que podem vir para as outras artes (por Duanne Ribeiro)

A banda System of a Down sugeria neste cd de 2002: roube este álbum!

O cenário musical passa por mudanças. O MP3 modificou, como se sabe, todas as relações que por gerações se perduravam. O futuro, o modelo que vai se estabelecer, permanece tão nebuloso quanto há alguns anos. Capitu mapeia nesta reportagem algumas das discussões ainda sem término: pirataria como causa, “valor de mercado” x “valor artístico”, o fim dos ídolos e a desconstrução do mainstream, fim dos álbuns, segregação máxima de público e a incapacidade para se saber quem ouve o quê e quando. E a sensação de que o que acontece hoje com a música é só o prólogo do que ocorrerá com a arte em geral. A união de Scribd, Kindle e Google Books pode causar revolução semelhante na literatura.

Desde que o Metallica se revoltou contra o Napster porque o programa permitia que as suas músicas fossem baixadas de graça, percorremos um longo, longo caminho. “A maior gafe da história da música”, segundo a Rolling Stone brasileira, aconteceu há 9 anos atrás. Essa banda e outros artistas combateram a ‘ameaça’ dos downloads. Em 2008, a Sony retirou o dispositivo anti-cópia dos seus MP3. E houve o caso emblemático: a distribuição do álbum In Rainbows, do Radiohead, pelo preço que se quisesse pagar. Os fãs poderiam baixar todas as músicas gratuitamente. Além de outras iniciativas no sentido de não onerar o público de forma alguma: o Tramavirtual, por exemplo, permite o streaming e o download — e quem paga é o anunciante que põe sua publicidade na página do artista.

A música gratuita desmantelou o império das gravadoras. No Brasil, o sintoma desse fim de mundo foi o sucesso de Mallu Magalhães. Segundo diz Armando Antenore, ela representa a revolução, “alguém que, em meses, usando a internet como trampolim, conquistou uma legião de admiradores e alcançou a mídia tradicional sem o auxílio de nenhuma gravadora”. Os efeitos disso ainda estão por ser mensurados. Seria o nascer de toda um novo padrão de relacionamento entre fã e artista. Quem diz é o produtor musical Carlos Miranda: “como o público pega a música de graça, ele só vai te dar dinheiro se quiser. É o conceito de amigo, que o MySpace usa muito bem. O músico precisa ser amigo do fã”. E diz mais:

“O artista tem de tomar conta do próprio nariz. O barateamento das tecnologias possibilitou que muitas pessoas passassem a produzir música. O artista tem de saber botar sua música na internet e saber brigar pelo palco. A equação é internet mais rua. Rua, que eu digo, é o cara assistir a shows, conhecer os lugares nos quais gostaria de tocar, conhecer os outros músicos da sua cena. O artista tem de ser público também. Não é mais o artista lá e o fã aqui. Você tem de pensar que tem uma loja. Por que as pessoas vão comprar na sua e não na outra? O artista está num mercado disputando a atenção das pessoas, uma atenção que é completamente dispersa. E os meios tradicionais ainda são importantes.”
Se assim for, o novo contexto também tem suas amarras. O artista que pretender o sucesso deve agir socialmente, ser um ente social — vale lembrar que o conceito de sociabilização é muito presente na sociedade de uma forma geral. O alcance em informação, entretenimento e audiência das mídias sociais (blogs, twitter, redes sociais) é expressivo. Mesmo empresas privilegiam na escolha do empregado a capacidade de interação, em lugar do saber formal e das habilidades técnicas do cargo. A pergunta que cabe fazer é: que tipo de música, e, mais amplamente, de arte que essa afirmação da sociabilidade permite ou estimula a criar?

Valor artístico versus valor comercial?

Entretanto, a entrega gratuita de suas músicas não é aceita de forma unânime. Destaca-se a oposição de Robert Smith, vocalista do The Cure, e de Kim Gordon, do Sonic Youth. Para Smith, o Radiohead teve um plano idiota. Do seu ponto de vista, “a ideia de que o preço é determinado pelo consumidor não pode funcionar”. Em vários posts do blog oficial, tratou do assunto. À primeira vista, quem lê tem a tendência de entender a afirmação sob a divisão “valor de mercado” e “valor de arte”. Dois conceitos que me parecem ser ideologicamente determinados: o primeiro, um artimanha diabólica e capitalista; o segundo, a heróica luta de artistas por expressão. O mercado naturalmente especula e explora; a arte não. A exposição de Smith quer mostrar que essa dicotomia não é verdadeira. O que ele nega é a tendência de estabelecer como paradigma a arte obrigatoriamente gratuita.

“Qualquer artista famoso”, diz, “com uma grande e devotada base de fãs (com frequência alcançada com ajuda de um ou dois saudáveis e poderosos ‘patrões’) pode fazer isso, dar a sua arte”. Em outro texto, continua: “Um mundo em que um artista é obrigado a dar suas músicas de graça é totalmente injusto. Imagine que você é um músico muito prolífico, que escreve 25 canções por ano. Para conseguir o pagamento médio anual britânico, £25 mil, valorando as canções por um penny cada, você teria de chamar a atenção de duas milhões de pessoas”. Robert Smith atenta para a questão de como o músico se sustenta nesse novo sistema. Neste ponto, ele se encontra com Kim Gordon.

A baixista e também vocalista do Sonic Youth diz que a atitude do Radiohead foi um “bom golpe de marketing”, mas que os membros da banda não se importaram com “seus irmãos e irmãs músicos, que não vendem tantos discos quanto eles”. Considere o tema pelo ângulo de uma outra arte. O escritor brasileiro Paulo Coelho adotou há mais de um ano o codinome de Pirate Coelho — e em um blog aponta para onde seus livros possam ser baixados. Esse é o melhor modelo, como proclama ser desde o primeiro momento? Coelho vendeu mais de um milhão de livros ao redor do mundo. Tanto ele quanto o Radiohead possuem a base de fãs consistente e ampla. O blogueiro Alessandro Martins pergunta:

“O que acha [do gesto de Coelho]? Golpe de marketing? Caridade? Visão de mercado?”

A argumentação de Smith continua com ele negando que a mudança de modelos, desse das gravadoras e do atual que está formação, constitua de fato uma transformação. “Por que eu deveria acreditar que receber pequenas quantias por permitir que as minhas canções sejam usadas para publicidade é uma alternativa aceitável (‘nova’, ‘moderna’) para o recebimento direto de pagamento pela venda das canções, baseada no seu mérito artístico?”.

É em Adorno, teórico da Escola de Frankfurt, que vamos encontrar um contraponto para as ideias de Smith. De acordo com Marcos Nobre, o teórico sinalizava que: “até o século 18, a proteção dos patronos sujeitava os artistas a uma forma direta de controle, aos interesses específicos de seus protetores. No mercado, ao contrário, os interesses “passam por tantas mediações que o artista escapa a exigências determinadas”. O novo modelo de download e publicidade permite que o artista seja livre? No século passado, “o anonimato do poder do poder de mercado representa o momento em que surgem as condições para a arte seguir regras próprias”. E no nosso tempo?

A Pirataria como Causa e o Público Indefinido

Além das discussões entre os produtores e distribuidores de música, a facilidade do alcance de música causou duas mudanças sociais e culturais significativas. Em junho, o Estado de S.Paulo noticiou Pirataria cresce como causa. Tratava principalmente do fato de que dois candidatos do Partido Pirata foram eleitos para o Parlamento Europeu, recebendo 7,4% dos votos. A matéria informa: “para Pedro Mizukami, especialista em direito autoral da FGV, o comportamento das pessoas mudou com o tráfego livre de informações e cultura da web. ‘E quando ameaçam tirar isso, as pessoas se politizam. Isso deve se expandir para outros temas como direito à informação, educação, telecomunicações”.

Mas essa pirataria que se defende é uma pirataria com um quê de Robin Hood. A pirataria sem lucro para quem a propagada, que se preocupa principalmente em espalhar a cultura. A quantidade de benefícios que isso trouxe é imensurável. Para citar alguns poucos exemplos, blogs como Loronix e Um que Tenha deixam a nosso alcance clássicos da MPB e mesmo dão destaque a novos músicos que estariam escondidos detrás dos recentes sucessos ou nas caixas de alguma loja de discos. O site Domínio Público permite que, gratuitamente, temos às nossas mãos centenas de livros que marcaram a história da humanidade. E, como Capitu demonstra com essa matéria, clássicos do cinema hollywoodiano e europeu estão ali perto, no You Tube, a um clique. Pode-se negar que isso é um avanço?

Outro fator social de destaque é a pulverização do público. O Estadão entrevistou o autor de Como os Beatles Destruíram o Rock n’Roll, o historiador Elijah Wald, e ele comenta sobre o cenário atual da música o seguinte: “Neste momento, suponho que sabemos menos sobre o estado da música popular do que em qualquer outro momento na história. A música escapuliu das grandes corporações. As vendas de discos não significam mais nada. Uma pessoa compra um CD e aí? Cem outras? Ou serão mil pessoas, online? Ninguém sabe quem está comprando o que. O rádio perdeu influência, é ouvido principalmente no carro, nos Estados Unidos. As pessoas ouvem as suas playlists, não a lista da estação de rádio. Antes, era impossível evitar um repertório popular.O mainstream acabou”.

Mainstream, segundo explica José Flávio Junior significa a “corrente hegemônica cultural”. Nesta matéria, em que analisa o percurso da carreira de Madonna, ele cita também o fim do mainstream e por conseguinte o fim dos ídolos: “com a falência das gravadoras e o surgimento da internet, o papel do músico como antena de uma época e emblema de uma geração pode estar com os dias contados. Elvis, Beatles, Stones, Bowie e Madonna eram líderes das paradas de sucessos, apareciam na televisão, monopolizavam os cadernos culturais dos jornais. Era, assim, impossível escapar da exposição a suas músicas e suas ideias, a não ser que desse para tirar férias em outro planeta. As gravadoras já não tem poder de fabricar sucessos, e a importância da televisão e do rádio diminuiu com a internet, onde o ouvinte tem acesso à produção musical de todos os tempos”.

Ainda: “Vivemos o fim da era da massificação. Madonna talvez seja o último fruto desse tempo. Para o bem e para o mal, a era Madonna pode estar chegando ao fim”.[/align]

Fonte: Revista Capitu
 

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