Primeiro uma boa noite a todos. No que tange ao nível/extensão de poder dos Ainur, é imperioso analisar alguns conceitos teológicos referentes aos modelos de criação do Gênesis. A criação de Eä ilustra (me parece) 2 modelos cosmológicos até hoje inferidos pelos estudiosos bíblicos. O primeiro é o Logos (verbo), ou seja, é o fato da (somente) Uma ÚNICA divindade absoluta e onipotente ser o causador/fonte da criação, estabelece um "motivo para todas as coisas", exerce um comando, "exprime um fato" que origina a criação do universo. Vide alguns dizeres que ilustram tal assertiva:
http://en.wikipedia.org/wiki/Logos
No que tange ao Legendarium, acredito que a melhor passagem que ilustra o conceito é:
Este primeiro modelo é o que cotidianamente se atribui na gênesis bíblica, haja vista todas as essências, ingredientes e a formação do "existir" partirem de Javé. No Silmarillion, a essência criativa primordial é atribuída à utilização (como ferramenta) da Chama Imperecível que provém do próprio Eru. Entretanto, me parece que Tolkien adiciona elementos de um
Segundo Modelo Cosmológico (não tão conhecido e difundido) que é a
versão de Combate - Agon struggle model:
http://en.wikipedia.org/wiki/Biblical_cosmology
O Javé-Guerreiro contra o (monstro do) caos, nas mitologias antigas retratado como uma grande serpente ou dragão devorador. Este conceito pode ser melhor entendido aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/Chaoskampf#Chaoskampf
Por esse modelo de criação, é sugerida a existência de uma segunda entidade tão poderosa quanto a figura absoluta-criadora (Iluvatar-Javé), uma espécie de Deus do Caos primordial/primevo, anterior, ainda, à criação dos Ainur/anjos (vide o retratado no livro: A batalha do Apocalipse, em que se retrata o embate indescritível entre Jeová, com seus arcanjos Vs Tehom, e os Deuses Caóticos), uma força que poderia ter contaminado Melkor (do momento em que este vagava no vazio pré-criação de Eä, o vilão começara a conceber pensamentos muitíssimos destoantes do propósito inicial - Lembra demais a corrupção de Sargeras, o destruidor de mundos em Warcraft:
http://www.wowwiki.com/Sargeras).
A imagem mais próxima de Tehom
Entretanto, Tolkien reiterava a inexistência de uma contra parte ao "Deus ÚNICO". Para um melhor entendimento, vale muito a pena a leitura da análise feita por Ilmarinen em seu blog:
http://de-vagaesemhybrazil.blogspot.com.br/2009/09/ungoliant-dualismo-e-livre-arbitrio-nos.html; Não obstante a inexistência de uma entidade rival de Iluvatar, Tolkien parece ter sim usado elementos do 2º modelo. São conceitos como:
Sem dissentir:
Desde já, nota-se que seus poderes se estendem por todo o universo criado, pessoalmente correlaciono simbolicamente o "ecoar da antiga música" com a construção e expansão constante que o Cosmo ainda sofre uma espécie de legado criativo que se converte em planetas, galáxias estrelas do universo:
http://forum.valinor.com.br/showthread.php?t=105013&page=2
E os Valar com acesso à chama imperecível utilizam os ingredientes (calor, gravidade, magnetismo e demais energias) primordiais do universo e deram origem à matéria/mundo visível.
É justamente aí que se verifica a correlação entre os modelos de Criação, ou seja, a criação por Potência/logos/palavra da 1º Versão - representada pela chama imperecível como fonte de criação – o 2º com a coexistência de forças menores que o Deus Supremo, mas com a capacidade de formarem o Universo. É praticamente a conversão de energia/luz em matéria:
Mas não somente a surgimento do universo é a tarefa dos Valar, eles também são as sementes da vida do planeta, à exemplo de Ulmo, o senhor dos águas, que fica vagando no grande “oceano de fora”, mas salvara a vida do planeta na grande hecatombe advinda da queda das lâmpadas:
http://lqes.iqm.unicamp.br/canal_cientifico/lqes_responde/lqes_responde_sopa_primordial.html
E a humanidade nos propósitos dos Valar? Pois, dentre as grandes realizações dos Poderes, não podemos deixar de falar da importância simbólica da criação de Arda, a grande morada dos filhos de Iluvatar. Há um interessante conceito no folclore judaico que fala de uma dimensão exclusiva para todos aqueles que ainda não nasceram ou existiram (para quem assiste Neon Genesis Evangelion vai saber o que eu estou falando): Os portões de Guf:
http://en.wikipedia.org/wiki/Guf - Vai ver que Arda seja apenas um portão de Guf tornado visível ou o misterioso local para onde os homens vão após o "Sheol de Mandos", evidenciando uma importância maior da humanidade nos propósitos do Deus único:
E Melkor nisso tudo? Como seus propósitos evidenciam seus poderes? Pois o que nos é familiar é sua capacidade destrutiva, seu niilismo insano e a deturpação da criação dos seus irmão. Pessoalmente, creio que Melkor será o catalizador da morte não só de Arda, mas também do próprio Universo. Uma das hipóteses dos biblistas advém da "Teoria da Lacuna/intervalo":