Beeeem... não é nenhum segredo que eu
odeio o Spawn com todas as minhas forças. Os inúmeros motivos para isso serão colocados aqui em breve, assim que eu estiver com saco de escrever mais do que dez linhas. Aguardem.
Bem, voltei aqui para editar o post. Espero que vocês percebam e leiam o que eu vou escrever aqui, pois
não é a minha opinião. É uma análise puramente técnica (e também histórica).
1- Dos motivos que levaram McFarlane a criar o Spawn:
Vamos voltar no tempo até o início da carreira de McFarlane. Em meados do começo da década de 90, Todd levou algumas páginas de teste na Marvel, como fazem dezenas de artistas todos os dias. Ao ver as páginas, quem quer que analisasse trabalhos na Marvel na época, riu da cara dele. O estilo não se adaptava de jeito nanhum aos padrões da editora, era simplesmente muito estranho. Era fato que se ele continuasse desenhando daquele jeito, nunca conseguiria emprego na Marvel Comics. Claro que eles ficaram com as páginas e lançaram o famoso "a gente entra em contato" (o que por certo eles nunca viriam a fazer).
Bem, Mcfarlane, que não é bobo nem nada, percebeu que não havia agradado, e tratou de se ocupar com outras coisas. O fato é que na época, a revista do Hulk estava fracassando nas bancas, e beirava o cancelamento. Então, alguém teve a brilhante idéia: "por que a gente não passa as últimas edições 'praquele cara que desenha esquisito', só de brincadeira?" Mcfarlane, então, recebeu um telefonema da Marvel, perguntando se ele aceitaria desenhar o Hulk. Como era um perfeito desconhecido, e como uma oportunidade dessas não bate à nossa porta todos os dias, Todd agarrou a chance com unhas e dentes.
Claro que os maiorais da Marvel não tinham a menor ambição de que Todd mudasse os rumos da revista, o trabalho foi passado "praquele desconhecido" quase como caridade (coitado, desenhando assim, nunca vai arrumar trabalho). Não preciso dizer o que aconteceu, não é? Mas vou mesmo assim: foi um sucesso. As vendas aumentaram vertiginosamente e McFarlane pode dizer sem sombra de dúvida que salvou
sozinho o Hulk do cancelamento. De repente, aquele "desconhecido que desenhava esquisito" virou um dos artistas preferidos dos fãs.
A Marvel, que também não era boba nem nada, logo se ligou no que tinha nas mãos, e passou pro titio Todd um de seus principais títulos, "Amazing Spider-Man", que também não ia muito bem das pernas. Novamente, é desnecessário dizer o que aconteceu, não é? Naquele ano, "Amazing Spider-Man" foi a revista mais vendida da Marvel. McFarlane passou de uma hora pra outra, de desconhecido a "pop star". Tudo isso culminou na minissérie "Tormento", onde a Marvel deu carta branca para que McFarlane fizesse virtualmente o que quisesse com o Aranha. Novamente, sucesso de vendas. Todd estava no topo.
O fato é que, nessa mesma época, Todd dividia o "topo" com Jim Lee, que fez a minissérie X-Men (com a última história escrita por Chris Claremont) ser a HQ da Marvel mais vendida de todos os tempos. Mas nem tudo eram flores, como veremos a seguir. Todd e Jim estavam... bem... putos, porque a Marvel (que na época ainda seguia o CCA), não aceitava a maioria das idéias "revolucionárias" que eles tinham para os personagens. Aqui vale fazer um adendo: as grandes editoras sempre tiveram um enorme cuidado com grandes mudanças, recorrendo a pesquisas e levando às últimas consequências o mote "em time que está ganhando não se mexe".
Todd e Jim tinham muitas idéias (não vamos entrar no mérito de se elas eram boas ou não) que foram descartadas pela Marvel na hora. Sentindo-se "presos" (coitadinhos), os dois saíram da Marvel e, juntando-se a Eric Larsen e Rob Liefeld, que também estavam putos (não me pergunte por que), criaram a Image Comics, onde eles podiam dar vazão a todas as suas idéias criativas (ahahahahahaha) e não precisariam submeter-se ao CCA. Bem, essa foi a desculpa que eles deram, pelo menos. O fato é que agora Todd estava livre para fazer o que bem entendesse. O problema é que ele não tinha uma idéia.
2- Sobre a criação:
Trocando em miúdos, o que ele fez, então? Juntou os dois personagens mais importantes da Marvel e da DC (Homem-Aranha e Batman, respectivamente), jogou uma temática demoníaca na mistura (por falta de uma idéia melhor) e criou o Spawn. Já disse que ele não era bobo nem nada? Bem, de fato. Spawn exigiu o mínimo do esforço criativo de McFarlane, e foi um sucesso estrondoso de vendas. Mas o que vendia a revista, vejam bem, era o
nome de McFarlane, e a promessa de "coisas que você nunca vai ver na Marvel". Sei.
3- Sobre a arte:
Bem, esse é um assunto delicado. Não quero ofender os fervorosos fãs de McFarlane, mas o fato é que a arte de Spawn era um lixo. E não, isso não é a minha opinião, é fato. Não vou nem entrar no campo da narrativa confusa (e errada, certas vezes), das falhas
grotescas de continuidade e do descaso na finalização. Basta citar que o Spawn não tem nariz, e em uma cena (na terceira edição, se não me falha a memória), vemos o volume de um grande nariz por baixo da máscara. Todd, desesperado com os prazos, deve ter se ligado nesse erro na última hora e falado "ah, vai assim mesmo, vai vender de qualquer jeito". isso é que é se preocupar com os fãs.
Tá certo que a arte melhorou com a entrada de Greg Capullo, não há como negar. Capullo, ao contrário de Todd, tem um estilo conciso e elegante, e o rebuscamento não é mero recurso para esconder as falhas (como acontecia na época em que McFarlane desenhava a revista). O fato é que, quando Capullo entrou no título, Todd estava ocupado demais contando seus milhares de dólares, e não tinha mais tempo de desenhar a revista. Melhor para os leitores.
3- Sobre o roteiro:
"Adulto"é uma palavra relativa. Se por "adulto" você entende "apelativo" e "violento", sim, Spawn é adulto. Agora, se um roteiro adulto é algo que coloca questões reais, com referências culturais e que questiona aspectos importantes da existência humana, Spawn nunca foi, nem nunca será "adulto". Já cheguei a dizer que McFarlane não é bobo nem nada? Bem, leiam o que o nhotö escreveu abaixo. Qual é o público do Spawn? Sim, isso mesmo, adolescentes revoltados, pura e simplesmente. Esse foi o público que Todd pretendia atingir, e ele conseguiu.
Analisando a parte técnica do roteiro, podemos chegar às seguintes conclusões: a história não tem ritmo, parece que Todd ia inventando ela à medida que ia desenhando (e eu tenho a forte impressão de que foi exatamente isso que ele fez); as tentativas de inserir pontos dramáticos eram pífias, constrangedoras, ridículas; a narrativa era fraca, desinteressante, chata (observem as repetições de palavras, a falta de método, a ingenuidade - Spawn parece que foi escrito por um moleque de 14 anos); os personagens eram estereotipados ao extremo (o Palhaço é um caso à parte aqui), tinham a profundidade de um pires, não eram verossímeis e mudavam de comportamento a cada página.
4- Sobre a colorização:
Um caso à parte. No começo, era tão ruim quanto o resto, mas à medida que os caras lá aprenderam a usar o computador, a colorização se tornou a única coisa razoável no título, chegando até a impressionar certas vezes.
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Bem, espero não ter ofendido os muitos fãs o Spawn. Não há problema nenhum em gostar da revista, eu por exemplo gosto de X-Men, e compro mesmo que a revista esteja numa fase ruim (a questão é que quando eles estão numa fase ruim eu admito e eles já tiveram fases boas, mas isso não vêm ao caso). Quero terminar com uma dúvida: como o desenho do Spawn consegue ser tão melhor que a HQ e o filme? É um mistério...