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Projetos em andamento

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Please understand...
Criei esse tópico para que os escritores do meiapalavra falem um pouco sobre o que estão escrevendo, se tiverem algum projeto em andamento, seja para publicação, para a internet ou para a gaveta, e que se sintam à vontade em discutí-los, é claro.
 
Um poema épico escrito em latim cantado do ataque de Paulino Suetónio à ilha de Mona com tons mais de Lucano que de Virgílio.

É claro que eu preciso primeiro aprender e dominar o latim. Mas as ideias estão sendo formentadas devidamente e diariamente, com doses cavalares de muita poesia épica de qualidade e tudo que há de bom (e assim nasceram as meninas superpoderosas)
 
Estou com um projeto que na verdade poderá um dia virar um livro, virtual ou da moda antiga mesmo. Acho que está ficando do jeito que eu quero. Vamos ver.:sim:
 
Estou pra retocar duas poesias que fiz recentemente, antes de soltá-las no mundo. Penso em me aventuras por contos também... é o tipo de coisa que gosto muito de ler mas nunca sentei pra botar as ideiais nesse formato.

E preciso dar um jeito de finalmente gravar as músicas de minha antiga banda, senão elas vão grudar no papel e nunca mais vão sair, rs.
 
Estou revisando (o que epero fortemente que seja a minha revisão final) do meu primeiro livro e escrevendo o segundo, que é uma continuação, e preciso terminá-lo antes de me sujeitar ao crivo cruel e esmagador das editoras :susto:
 
Eu tô lá pelo início de um livro de contos escrito somente pra ser submetido ao concurso literário do sesc, nesse ano. Pouco mais de um mês pra muitas páginas ):
 
Rahmati disse:
Estou revisando (o que epero fortemente que seja a minha revisão final) do meu primeiro livro e escrevendo o segundo, que é uma continuação, e preciso terminá-lo antes de me sujeitar ao crivo cruel e esmagador das editoras :susto:

Acabei de revisar meu primeiro livro, agora vou registrá-lo na BN e... ai, meu Deus... mandá-lo pras editoras... :blah:
 
Um livro de contos devidamente pronto, falta apenas publicar. A ideia é usar alguns editais que saíram esse ano. Se não der certo, registro na BN e vou de editora em editora.
 
Estou tentando escrever um romance. É a história de uma mulher que não se lembra dos dois últimos dias da sua vida (ou três, ou quatro – porque escritora amadora é assim...rs). E essa moça cometeu um crime, mas não sabe. E os seus amigos tentam ajudá-la, mas eles não têm coragem de entrar direto no assunto e então tudo fica confuso, atrapalhado.

[e que ninguém roube minha ideia, amém]

A grande besteira que fiz até agora – porque eu acredito que vou fazer muitas nesse processo – foi escrever a história em 1ª pessoa, pois isto torna o trabalho mais difícil, como se fosse um filme com uma câmera só. Eu tenho apenas os olhos da personagem principal, não tenho liberdade para mudar esse foco. É mais simples quando o narrador não faz parte da história, mas então, porque eu fiz do jeito mais difícil? Não sei. A história veio assim e pronto...
 
Bom saber que tem tanta gente produzindo aqui no Meia.

Eu tenho o esboço de um romance que vem mancando desde o fim do ano passado, sem saber agora se reescrevo ou se abandono e parto para outra (the easy way out).

Hum... escolher um narrador é sempre tarefa difícil, mas depois que a gente acerta as coisas começam a fluir melhor.
 
Que bonito, pessoas! Desejo que vocês tenham ainda mais perseverança (essa palavra ainda existe?) nessa jornada literária, em especial para o Pips e o Rahmati, que já estão bem adiantados no processo, torço pra que tudo aconteça melhor do que vcs imaginam!
:amor:
 
Projetos em andamento, eu tenho às dezenas. Concluídos, quase nenhum. Os que eu considero com o status de não-abandonados hoje são (vou colocar alguns trechos em spoiler, caso alguém se interesse):

Uma espécie de "novela de formação" que eu queria escrever pra resgatar um pouco do tempo que eu morei no litoral quando era criança, que eu pensei em usar o irmão mais novo do protagonista como narrador, mas isso tem me trazido problemas. O título de trabalho é "E agora o Pinhal", em referência à música do Cidadão Quem. Trecho:
Se tu cresceu num lugar mais ou menos como onde eu cresci, quando tu tem teus dez anos a tua maior preocupação é não apanhar. Não que tu apanhe com frequência, mas tu vive te vendo envolvido em situações que podem te levar a apanhar, sabe, possibilidades, e tu te preocupa justamente em evitar que essas possibilidades se concretizem. Eu não falo aqui de apanhar dos teus pais, porque nesses casos tu sempre sabe com uns noventa por cento de certeza se tu vai levar uma concha no braço do teu pai ou um tapa de mão aberta da tua mãe ou se o caso é só de um xingão e só demanda de ti um pedido de desculpas. Os teus pais são quase sempre coerentes. Grita com a tua mãe e tu leva uma concha do teu pai, continua fazendo bagunça mesmo depois que mandam tu parar e quebra alguma coisa, tapa da tua mãe. O que não dá é pra invocar com o teu pai e a tua mãe juntos, porque daí, de verdade, tu tá fodido. Mas tu sempre sabe bem essas coisas. Agora apanhar na rua é diferente, porque tu apanha de gente que tu não conhece bem e não sabe quanto vai doer e não sabe se o caso é de tomar um soco ou se o cara vai te espancar até a morte, por isso uma regra boa é nunca discordar de gente maior que tu. Acho que é mais ou menos daí que surgem as amizades, porque apanhar sozinho é deprimente, mas apanhar com um amigo do lado chega a ser reconfortante e até divertido depois quando se pensa a respeito.


Um conto que eu comecei hoje de manhã, sobre um casal adolescente conversando (ou tentando conversar) sobre a gravidez dela. O título de trabalho é "Latitude, longitude", mas só porque foi a primeira coisa que me veio à cabeça. Trechos:
Eles estavam na pracinha perto do colégio onde estudaram, ela ainda estudava, sentados cada um em um dos balanços, ela no do meio, ele no da esquerda. Uma fresta do sol se estendia à frente e tocava a canela dela, a meia cinza com um ursinho rosa coberto quase todo pelo all star, a sombra do pé balançando, balançando, o resto do corpo e ele protegidos pelas nuvens. Estava calor, era novembro. A fresta de sol agora se afastava, ia adiante e se fechava. Ele estava de bermuda e chinelos havaianas pretos, uma camiseta azul de estampa. O céu quase todo coberto, cinza, cerebral. Ia chover. Ela usava um short curto de jeans, as pernas nuas, uma blusinha branca, sem decote, não muito justa, que ela gostava e usava sempre, mesmo que não fosse realmente bonita e já estivesse desbotando. Ele mexia na terra com o chinelo meio solto no pé, cavando pequenas depressões na terra dura e jogando a terra solta e as pedrinhas nela pra cima e pra frente, com um movimento de perna. Os dois com as mãos nas correntes dos próprios balanços.
[...]
Ele não sabia o que dizer e o que pensava de si era que havia sido essencialmente insincero com ela o tempo todo, sempre com medo de não saber escolher as palavras certas e fundamentalmete com medo de não existirem palavras certas e oprimido pela necessidade de conversar com ela, de de alguma forma comunicar o que ele sentia, ele acabava escolhendo palavras seguras, que ele sabia que a confortariam, dizendo que a amava e que estava lá e que estaria lá com ela não importa o que acontecer e que a amava tanto, tanto, mesmo que por dentro ele sentisse que nada era tão simples, e que embora ele não fosse capaz de encontrar palavras mais adequadas, e que, pensando bem, amor poderia sim descrever o que ele sentia, tudo o que ele dizia soava raso e falso e insincero e ele se sentia arrependido e devastado tão logo tivesse dito uma dessas frases ou feito uma dessas promessas ou estendido o braço para fazer um carinho no cabelo dela ou para pegar na mão dela.
[...]
Quando ela disse, quando ela finalmente disse que ia tirar, ele se sentiu tão aliviado, tão cruelmente aliviado, que seus olhos lacrimejaram, ele engasgou em um risinho anasalado de rinite, tão dolorosamente aliviado que quase o fez vomitar.


Um conto sobre uma palestra de identidade surda numa universidade (ok, na minha universidade) pra uma plateia de não surdos. O título de trabalho é "Não, eles não sabem dançar". Ok, parece bizarro. E maldoso. Trechos:
E sabe não sei por que isso me lembra de quando eu era criança e eu não sei o que eu tinha, mas eu vivia com náuseas e vivia vomitando, mas não aquele vômito pesado, sabe, substancial, era só uma gosma amarela, daqueles amarelos orgânicos do tipo que só podem sair de dentro de ti, e às vezes eu vomitava duas, três vezes por hora e eu sei lá eu não queria que ninguém descobrisse, principalmente a minha mãe, mas eu não queria que ninguém ninguém descobrisse mesmo. Eu devia ter uns oito anos. Às vezes quando eu tava na sala vendo tevê e eu via que o vômito ia subir e eu não podia sair da sala sem levantar suspeitas, principalmente se tava dando alguma coisa boa na tevê, tipo a novela das oito, ou algum filme que a minha mãe já tinha visto e tinha gostado, eu simplesmente guardava o vômito na boca até o intervalo, porque eu sabia que no intervalo, meu pai ia levantar pra ir pra cozinha fumar e a minha mãe ia pro banheiro-- mas, tipo, o negócio de não poder sair no meio da novela ou do filme é que logo que eu levantasse do sofá, ou antes ainda, quando eu fizesse menção de levantar do sofá, a minha mãe ia me olhar e dar um risinho como se eu tivesse fazendo alguma atrocidade e ia me dizer “não levanta agora que essa parte é boa”, ela falava isso não importa o que tivesse passando, mesmo que fosse a imagem de um jardim ou sei lá, mas ela sempre falava isso e eu sabia que se eu tentasse levantar ela ia fazer isso e não ia me deixar levantar e se eu tivesse que explicar, ia acabar mostrando que tava guardando o vômito na boca, então eu esperava os dois saírem, e daí eu levantava e ia até um vaso grande de espada de são jorge que tinha na entrada logo depois da porta, e me abaixava ali e fazia um furinho na terra com o dedo e cuspia o vômito ali, depois cobria com um pouco de terra e limpava o dedo no bolso da bermuda ou da calça se fosse inverno. O bom de ver tevê com o meu pai e a minha mãe é que a gente não costumava conversar sobre o filme nem nada disso, a minha mãe só falava comigo ou com o meu pai se um dos dois ameaçasse levantar, fora isso ela só comentava o filme ou a novela com ela mesma, sabe, ela reforçava o que os atores diziam, por exemplo, a mocinha do filme diz “tu nunca me amou”, e a minha mãe repetia “nunca amou”, fazendo sinais de positivo com a cabeça, ou então ela comentava coisas absurdamente óbvias sobre o enredo, do tipo “quando tá lúcida ela é muito inteligente”, ou “ele tá traindo ela esse tempo todo”, isso me dava um certo tédio, eu lembro de rolar os olhos discretamente a cada comentário desses, mas eu já tava acostumado, e o meu pai não falava nada, ele geralmente só ria, e ele ria muito, principalmente em filmes de ação, ele gargalhava de chegar a chorar, e ele nem sentava no sofá, ele sentava numa mesinha de centro, de madeira, que não era assim tão pequena, mas era baixinha, sabe, uns cinquenta, sessenta centímetros, ele sentava na mesa porque assim ficava mais perto da tevê, isso porque ele enxergava mal e ouvia mal também. Aliás, acho que ele é surdo ou quase surdo do ouvido esquerdo, mas acho que não sei exatamente por que, sei lá, tenho que perguntar. E esse tipo de coisa vem e vai, sabe, como uma época uns dois anos atrás em que eu pensava que toda tomada que eu me aproximasse ia acabar explodindo, sabe, quando eu plugava e desplugava as coisas da tomada, e era um pensamento automático, não era pânico nem nada, simplesmente a cada vez que eu plugava ou desplugava alguma coisa eu pensava vai explodir, e existiam algumas variações disso, por exemplo no chuveiro, que era elétrico, toda vez que eu ligava eu achava que ia explodir e cair na minha cabeça e me eletrocutar, mas não era paranoia, sabe, era diferente, porque realmente eu já tinha visto um chuveiro explodir, mas por causa da pressão da água e uma tomada geralmente solta uma faisquinha de vez em quando, então, sabe, são dessas coisas que ficam incrostadas na periferia da nossa memória sem que a gente lembre e sem que esqueça e essas coisas voltam de vez em quando com uma abruptude-- sabe, tem uma dessas que vive voltando, é uma memória de quando eu tinha uns seis, sete anos e eu tava vendo um filme de pirata na tevê que eu agora não faço a menor ideia de qual era mas que na época eu gostava, e eu tava comendo um pacote de chocolate granulado que tinha sobrado de algum doce que a minha mãe tinha feito, e isso me volta com tanta força que eu chego tremer os dentes e chega a doer o meu maxilar.
[...]
O mudinho despencou mas ninguém tava olhando pra ele na mesa então a mudinha começou a mexer os braços que nem louca e a gente via que ela tava tentando gritar porque em uns dois segundos a cara dela ficou um pimentão, mas não saía som nenhum então ela só balançava os braços até que ela se tocou que a gente ali na plateia tava vendo tudo, daí ela começou a abanar os braços pra gente e uns dois caras se levantaram correndo pra ajudar mas eu fiquei rindo e o pessoal que tava ali comigo ficou rindo também, mas só quando os caras saíram correndo que o pessoal da mesa se tocou que o mudinho tinha despencado, e foi um pessoal lá acudir, dando uns tapinhas no rosto dele, quer dizer é o que eu imagino pelo menos porque ficou todo mundo agachado atrás da mesa e não dava pra ver nada.


Tem também um conto em que eu penso há mais de um ano mas não consigo sair do lugar, sobre uma criança que nasce sem nenhum sentido (visão, audição, olfato...), e eu já tentei estruturar, listar ideias, começar a escrever e nada deu certo. O único trecho de "texto final" que eu escrevi, acabei modificando e até postei aqui com o título de "O insignificante".

E um projeto de romance familiar ainda sem muita coisa definida e que provavelmente nunca vá adiante. Acho que eu definitivamente não tenho fôlego pra escrever um romance. Conseguir consistência é um troço absurdamente difícil. Me coloquei um prazo de cinco anos pra ser capaz de escrever isso. Mas claro que é arbitrário.
 
Manu M. disse:
Que bonito, pessoas! Desejo que vocês tenham ainda mais perseverança (essa palavra ainda existe?) nessa jornada literária, em especial para o Pips e o Rahmati, que já estão bem adiantados no processo, torço pra que tudo aconteça melhor do que vcs imaginam!
:amor:

Muito, muito obrigado, Manu :traça:

E aproveito para deixar uma pergunta...

Meu livro foi aprovado para o selo Novos Talentos da Literatura, da editora Novo Século, mas é aquele que tem que pagar 500 exemplares dos 1.500 que serão feitos (os outros 1.000 serão distribuídos normalmente nas livrarias)...

A dúvida é: será que compensa não desperdiçar essa oportunidade (mesmo que saia caro pra mim) ou compensa aguardar a resposta de outras editoras que bancam tudo sozinhas (e essa resposta pode demorar meses)?

Alguém aqui tem uma opinião formada sobre isso?
 
Rahmati disse:
A dúvida é: será que compensa não desperdiçar essa oportunidade (mesmo que saia caro pra mim) ou compensa aguardar a resposta de outras editoras que bancam tudo sozinhas (e essa resposta pode demorar meses)?

Relaxem, nem precisa de resposta, o valor que eu tenho que pagar é completamente fora de questão hohoho :hahano:

Vou mandar pras outras editoras mesmo XD
 
Rodrigo Lattuada disse:
Tem também um conto em que eu penso há mais de um ano mas não consigo sair do lugar, sobre uma criança que nasce sem nenhum sentido (visão, audição, olfato...), e eu já tentei estruturar, listar ideias, começar a escrever e nada deu certo. O único trecho de "texto final" que eu escrevi, acabei modificando e até postei aqui com o título de "O insignificante".

Isso é extremamente interessante :pipoca:
Já pensou em ler "O Som e a Fúria" do Faulkner? O Benjamin creio que está um pouco próximo desta condição... Ou, pelo menos, a narração do Benjamin.
 
Mavericco disse:
Rodrigo Lattuada disse:
Tem também um conto em que eu penso há mais de um ano mas não consigo sair do lugar, sobre uma criança que nasce sem nenhum sentido (visão, audição, olfato...), e eu já tentei estruturar, listar ideias, começar a escrever e nada deu certo. O único trecho de "texto final" que eu escrevi, acabei modificando e até postei aqui com o título de "O insignificante".

Isso é extremamente interessante :pipoca:
Já pensou em ler "O Som e a Fúria" do Faulkner? O Benjamin creio que está um pouco próximo desta condição... Ou, pelo menos, a narração do Benjamin.

Eu já tinha lido seu conto, Rodrigo. Foi pouco depois de eu ter lido "Eu sou a lenda", e lembro que na época sua história me fez lembrar um conto que vem ao fim do livro, chamado "Nascido de homem e mulher", acho que parece mais com seu tema que o pouco que li dO Som e a Fúria. (Aliás, comecei a ler hoje XD. Fiquei meio embananada, na verdade.)

Mas é um tema difícil, viu? Se como leitora já causa certa estranheza, imagino como autor, quão mais esquisito deve ser construir o personagem de um jeito verossímil...
 
Manu M. disse:
Mavericco disse:
Rodrigo Lattuada disse:
Tem também um conto em que eu penso há mais de um ano mas não consigo sair do lugar, sobre uma criança que nasce sem nenhum sentido (visão, audição, olfato...), e eu já tentei estruturar, listar ideias, começar a escrever e nada deu certo. O único trecho de "texto final" que eu escrevi, acabei modificando e até postei aqui com o título de "O insignificante".

Isso é extremamente interessante :pipoca:
Já pensou em ler "O Som e a Fúria" do Faulkner? O Benjamin creio que está um pouco próximo desta condição... Ou, pelo menos, a narração do Benjamin.

Eu já tinha lido seu conto, Rodrigo. Foi pouco depois de eu ter lido "Eu sou a lenda", e lembro que na época sua história me fez lembrar um conto que vem ao fim do livro, chamado "Nascido de homem e mulher", acho que parece mais com seu tema que o pouco que li dO Som e a Fúria. (Aliás, comecei a ler hoje XD. Fiquei meio embananada, na verdade.)

Mas é um tema difícil, viu? Se como leitora já causa certa estranheza, imagino como autor, quão mais esquisito deve ser construir o personagem de um jeito verossímil...

Já pensei em ler O Som e a Fúria, sim, mas não como pesquisa pra escrever esse conto. Vou ver se compro o livro.

Eu levantei essa hipótese em um trabalho de filosofia, pra contra-argumentar a hipótese do inatismo, e tentar trabalhar como um ser humano que não existiu de outra forma senão privado de todo o contato com a "realidade externa" (porque ele não sente quando tocam a pele dele, não vê nem ouve ninguém, não sente gostos nem cheiros, ou seja, não tem nenhum estímulo sensorial, nenhum insumo com que trabalhar, ele basicamente se percebe existindo exclusivamente dentro do próprio corpo) criaria significados na sua existência. Mas nesse trabalho eu só precisei da hipótese e da provocação, não precisei tentar responder...

O problema é que é basicamente impossível narrar isso do foco desse personagem, porque nada à volta dele existe pra ele. Já pensei em pesquisar biologia humana e tentar manter o conto nessa limitação do corpo humano dele, sem falar de nada externo a ele, tentar pensar que tipos de relações e significados ele seria capaz de construir tendo só o próprio corpo como todo o seu "universo". Mas a minha abordagem quando eu penso no conto é tentar um conte philosofique mais tangencial, colocando essa criança num contexto familiar, e narrar a história através de uma visão externa à criança, o que também não tem sido fácil pra mim.
 
"O problema é que é basicamente impossível narrar isso do foco desse personagem, porque nada à volta dele existe pra ele."

Acho que a coisa ficaria mais desafiadora se fosse narrada na primeira pessoa, pois aí não teríamos uma narração de fatos transformados para o contexto narrativo a partir da tríade experiência-eu-reflexão. Seria basicamente um processo binário, apenas de eu-reflexão, e onde todas as coisas ao redor ganhariam uma dimensão não de simplesmente significados ambíguos ou múltiplos; as coisas ao redor deste narrador, enquanto mensagens a serem decodificadas pela lente do narrador e na lente do leitor, deveriam ser analisadas também enquanto coisas antes de serem narradas enquanto mensagens. Dom Quixote vê monstros em bandos de ovelhas, vê dragões em moinhos de vento; mas nós sabemos que se tratam de ovelhas e de moinhos de ventos pois Cervantes nos diz que são moinhos de vento e ovelhas. Seria como se o narrador estivesse em um constante fluxo de consciência regrado não a partir da transformação e da descrição do processo de decodificação dos objetos enquanto mensagens; mas sim da sempiterna capacitação subjetiva (pura e simplesmente subjetiva, ou, em palavras mais adequadas, uma subjetivação constante da objetividade -- uma relação dialética) de mensagens e sua conversão em objetos.

Bem. Se deu pra entender, acho que esta seria meu escopo se eu fosse escrever o conto. O que não quer dizer que fosse ficar lá bom; literatura é resultado, no final das contas. Leve a ideia pra frente, ela é boa :pipoca:
 
A questão é que esse personagem não pode desenvolver uma linguagem, ele simplesmente não tem por quê comunicar, e ele não recebe mensagens e nem existe objeto pra ele significar ou subjetivar. Ele não é como um prisioneiro do mito da caverna de Platão, ele não tem a possibilidade de nenhum input da realidade externa, e todo o pensamento dele seria absolutamente orgânico, e eu não estou certo se ele conseguiria refletir ou racionalizar, porque ele não seria capaz de conceitualizar nada, ele não teria uma base conceitual e linguística sobre a qual pensar, ele não teria a que relacionar sensações... Se eu entendo corretamente, grande parte do nosso pensamento consciente é construído sobre bases relacionais da realidade, e esse pensamento é trabalhado em um estrato mais sofisticado, e mais afastado, do que o meramente orgânico... Claro que teria a questão da gestação, que seria a única experiência de troca humana de que ele teria sentido...

Eu me sentiria muito, muito desconfortável em narrar isso em primeira pessoa, porque eu me sentiria falsificando abstrações... Eu precisaria narrar isso da forma mais "humana" possível, sem metaforizações e sofisticações e dispositivos estéticos; mesmo que fosse narrado com o foco só nessa criança, eu iria narrar da forma mais próxima possível a uma conversa, não um fluxo de consciência, mas um fluxo de consciências, porque a minha questão com esse conto é tentar desconstruir o que for contingente, provisório e circunstancial e tentar tratar do que é verdadeiramente, essencialmente, humano. Eu preciso de alguém no conto além da criança, e se for só o leitor, ele não pode se sentir sozinho. E, cara, isso é pretensão pra levar a vida inteira.
 
Hum... Entendo :think:
Afinal de contas, esta pessoa sem nenhum sentido não tem contato nenhum com o mundo exterior -- a linguagem dela não teria função de comunicação extraterritorial, digamos, mas teria uma função de comunicação interna --, mas o mundo exterior provavelmente tenha algum contato com ela (ainda que este contato não seja tão forte, e ainda que o verdadeiro contato para com esta pessoa se dê apenas no âmbito emocional [como uma mãe que vê seu filho nesta condição muito diferente de um carteiro que vê a criança desta forma e ou a transformaria num objeto constante de dó e de pena ou num objeto pronto para ser descartado ou algo do tipo]).

No final, uma estratégia Machadiana/Sterniana talvez fosse o mais preciso (Capítulo CXXXIX).
 

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