• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Programa Mais Médicos

E abrem-se os portões de Mordor. Imagine se isso realmente criar precedentes para outras áreas profissionais, sempre por decreto executivo e segundo as vontades da administração da vez?
 
@Tek: Necessariamente na rede pública?
Aluno de faculdade pública, sim. De particular, não posso afirmar com certeza, mas acho que sim, porque ninguém que paga hospital quer ser cobaia na mão de aluno.
Um dos hospitais em que estamos fazendo internato, além do HCPM, onde a Pim estava, são públicos e tinha interno de particular. Então, acho que sim, necessariamente.
 
Pra mim e pra Tekinha, que estudamos em faculdades federais, isso não iria fazer diferença alguma, o nosso internato é todo no setor público atendendo a população do SUS. Pro pessoal das particulares, cujas faculdades tem convênio com hospitais em sua maioria particulares, não sei como fica.

Aluno de faculdade pública, sim. De particular, não posso afirmar com certeza, mas acho que sim, porque ninguém que paga hospital quer ser cobaia na mão de aluno.
Um dos hospitais em que estamos fazendo internato, além do HCPM, onde a Pim estava, são públicos e tinha interno de particular. Então, acho que sim, necessariamente.

O pessoal da Souza, Gama e Estácio também rodam na Rede D'or, Prontobaby e outros hospitais particulares do Rio. Só parte do internato deles é feito no SUS.

O que mais me chamou a atenção, positivamente, foi este trecho:

Novas diretrizes também preveem que os estudantes sejam avaliados a cada dois anos, por meio de uma prova obrigatória para os programas de residência médica. A avaliação deve começar dois anos após a aprovação da medida e será aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que também é responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

ISSO é evolução no debate do currículo médico. Estes são os Steps americanos que tanto deram certo lá e fizeram uma up regulation no nível dos formandos.
 
  • Curtir
Reactions: Tek
Obrigada por esclarecer, Pim ^^

O que mais me chamou a atenção, positivamente, foi este trecho:



ISSO é evolução no debate do currículo médico. Estes são os Steps americanos que tanto deram certo lá e fizeram uma up regulation no nível dos formandos.
É, eu concordo, só tenho medo do Inepto fazendo e aplicando essas provas...
 
Teoricamente isso ai deve aumentar o nível dos formandos.
Porém pouco entendo da área da saúde, e nem sei como eles avaliariam esse povo, seria só de forma teórica ou prática também?
 
Nos EUA tem as duas formas, sendo as duas primeiras provas teóricas e a última prática com anamnese, exame físico e discussão do caso. Como a proposta ainda é muito recente, não sei se eles vão kibar os STEPs ou se vão criar a versão piorada deles. Mas que deve melhorar o nível dos formandos, isso deve.
 
Segue abaixo o posicionamento do atual ministro sobre o programa.
Programa Mais Médicos é provisório, diz Ricardo Barros, ministro da Saúde

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou nesta quinta (21), em entrevista à Folha, que o programa Mais Médicos é "provisório", uma vez que, na organização dos serviços de saúde, cabe aos municípios a responsabilidade de contratar os médicos, e não ao governo federal.

A afirmação contraria a posição de ministros anteriores da gestão da presidente afastada Dilma Rousseff, para os quais o programa, inicialmente temporário, "veio para ficar" e poderia continuar até depois de 2026, quando terminam as metas para formação de novos médicos.
Barros não estipulou prazo para o final do programa, mas afirmou que o pacto federativo determina que é de competência dos municípios a execução do sistema de atenção básica de saúde. "São eles que deveriam contratar os médicos. Mas temos 2.500 municípios que só têm médicos do Mais Médicos."

Segundo ele, parte desse cenário ocorre porque uma emenda na Constituição determina que a remuneração de funcionários públicos nos municípios não pode ser superior à do prefeito. "Isso precisa mudar. Há cidades pequenas em que o prefeito ganha R$ 3.000 ou 4.000. O médico não trabalha por isso."
Embora defenda o caráter "provisório", para que não haja descontinuidade imediata Barros pediu ao governo de Cuba e à Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), responsáveis pela vinda dos médicos cubanos ao Brasil, que "flexibilizem" sua posição para que parte dos cubanos que chegaram em 2013 possam prorrogar o contrato por mais três anos. "Mais de 1.000 já casaram com brasileiros e alguns têm filhos."

A Opas tem informado que os médicos serão substituídos em novembro. "Solicitamos e deverá haver flexibilização para que os que queiram possam permanecer, porque já estão articulados com a comunidade", disse.

Ao todo, 18.240 médicos atuam no Mais Médicos, que oferta bolsa de R$ 10 mil a brasileiros e estrangeiros. Destes, 11.429 são cubanos –cerca de 20% deles devem ser substituídos em novembro.

Barros afirmou ainda esperar que os cubanos sejam substituídos ao longo do tempo por brasileiros e que convidou o Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira para prepararem um edital com novas medidas que incentivem os brasileiros a ocupar vagas em cidades mais distantes, onde hoje a maioria é de cubanos.

"Podemos ao longo do convênio ir avisando a Opas de que vamos substituir alguns médicos. Eles saem e entram os brasileiros. Esperamos que isso aconteça ao longo do tempo, até que só brasileiros fiquem no Mais Médicos." Apesar de definir o programa como "transitório", Barros disse que o prazo para acabar ainda é "imprevisível", por depender da disposição de médicos brasileiros para ocupar os postos.

Sobre manter o programa só com brasileiros, afirmou que essa proposta, nos moldes de uma carreira de Estado para médicos, é contra o pacto federativo. "Por que vou ter um contingente de médicos no governo federal se não é minha responsabilidade e se o sistema de saúde é descentralizado?", disse. "A carreira de médico tem que existir nos municípios."
Leia a íntegra

Apesar de defender a proposta da criação de um plano de saúde popular, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse à Folha não ter expectativa de que a medida "traga alívio à fila do SUS". "Não estamos aliviando, estamos atendendo mais pessoas. Uns pelo plano, outros pelo SUS", afirmou. "Não tenho que atender pelo SUS, tenho que atender a saúde".

Segundo o ministro, a ideia é reduzir a exigência mínima de cobertura definida pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) para planos de "internação hospitalar". Questionado sobre a preocupação do setor com a qualidade dos planos, rebate as críticas: "E o SUS, garante bom atendimento?"

Para Barros, é preciso adequar o conceito de direito à saúde, definido pela Constituição, aos limites orçamentários. Daí o aceno ao setor privado. "Se queremos dar tudo para todos, alguém tem que pagar a conta: os próprios que recebem esse tudo para todos. Há que ter um equilíbrio."
Leia abaixo a íntegra da entrevista com o ministro.


Alan Marques/Folhapress
16203542.jpe
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, em entrevista à Folha
*

Folha - Uma das suas bandeiras tem sido o plano de saúde popular. Como surgiu essa proposta e quanto de alívio espera para o SUS?
Ricardo Barros - Plano de saúde acessível tem uma cobertura menor e um custo menor. Todo tipo de procedimento que pudermos oferecer às pessoas com segurança, qualidade e que não sejam feitos pelo SUS significam um alívio na fila. Se conseguirmos que o mercado possa oferecer planos mais acessíveis, todo recurso que entrar é um recurso para a saúde. Esperamos identificar mais rapidamente qualquer doença que as pessoas tenham para que possamos tratar a um custo mais barato à medida que tenhamos o diagnóstico precoce.

Mas esses recursos seriam para o setor privado.
São recursos para a saúde. Se a pessoa faz uma consulta especializada, se é SUS ou não SUS, não importa. Importa que seja atendido.

Isso também deve diminuir os gastos com o SUS?
Se pudéssemos diminuir o atendimento, sim, mas não é o caso. Toda a economia que eu fizer com gestão será reaplicada em saúde. Não vamos reduzir gastos em saúde. São recursos adicionais.

Há estimativa de quanto isso pode trazer de economia?
Não, porque os planos tem que ser desenvolvidos e precificados pelas empresas. Não tem alívio para o ministério. Só mais atendimento, facilidade de acesso e rapidez. O ministério vai continuar gastando seu orçamento, independente de quanto a saúde suplementar coloca de recursos na saúde.

Como essa proposta está sendo desenhada? O sr. já tem alguns requisitos mínimos?
Não. Isso é uma questão de mercado.

Mas pelo que a ANS regula hoje, há uma cobertura mínima obrigatória. Não haverá exigência semelhante, por mais que seja ainda menor?
Isso será decidido pela agência. A lei já permite planos ambulatoriais, sem internação, e alguns estão no mercado.

A ideia então é que sejam planos só para consultas e exames?
Não. Esses já estão autorizados. [A ideia é] Reduzir a exigência mínima para um plano de saúde de internação hospitalar.

O que deve sair da exigência?
O que a ANS achar que pode ser feito sem prejuízo da qualidade do serviço. Não vou desenhar planos de saúde, não é minha responsabilidade. Minha proposta é estimular as operadoras a ofertar planos mais acessíveis ao mercado. Só isso.

Mas há uma preocupação de movimentos do setor de que os planos de saúde não necessariamente são uma garantia de bom atendimento.
E o SUS, garante bom atendimento? É uma avaliação subjetiva. Ninguém paga o plano se não achar que está tendo reciprocidade.

Mas as reclamações têm crescido nos últimos anos.
Sim. Às telefônicas e aos bancos também.

Estamos tratando de saúde.
A pessoa não é obrigada a ter o plano. Se não está satisfeita, rescinde o contrato. Ninguém estaria pagando plano de saúde, R$ 140 bilhões por ano de faturamento, se não tivesse recebendo uma reciprocidade. O que não impede de ter reclamações sobre o serviço. Como média geral, as pessoas devem estar satisfeitas, senão não pagavam.

Há ideia de qual seria o teto de mensalidade desses planos?
O que o mercado aceitar. Os planos propõem, e a ANS decide.


Jorge Hely/Brazil Photo Press/Folhapress
16194236.jpe
O ministro da Saúde, Ricardo Barros

Propor uma cobertura menor do que a mínima obrigatória não é mexer no principal motivo de existência da ANS, que fez essa medida para evitar mau atendimento ao usuário?
O atendimento vai ser muito bom dentro do que for contratado. O que estamos discutindo é qual a cobertura. Não é a qualidade do plano. Se a cobertura é menor, o valor é menor, e mais pessoas podem ter acesso.

Os planos já deram um norte de quanto podem apresentar de mensalidade?
Não tratei com eles.

Foi uma sugestão dos planos essa proposta?
Não. É uma solução de gestão, porque estou andando Estado por Estado, me reunindo com prefeitos e gestores. Isso pode ajudar a melhorar a gestão da saúde no Brasil.

Além do setor privado, o que o sr. pretende fazer em relação ao SUS?
Aumentar a resolutividade da atenção básica. Melhorar a qualidade das consultas, informatizar todo o sistema para que possamos identificar com clareza quais procedimentos serão feitos, ver que não há duplicação de atendimento e exames que não sejam necessários. Vamos otimizar a aplicação de recursos do SUS. E investir muito em promoção e prevenção na saúde, para evitar que as pessoas recorram ao sistema de saúde. Fizemos uma portaria para estimular a alimentação saudável, e para que faça parte da merenda.

Em outra entrevista à Folha, o sr. disse que o Estado teria que em algum momento rever a questão das garantias previstas na Constituição, inclusive o direito à saúde, porque não teria como financiar.
Não falei de saúde, mas de Previdência. Essa discussão está no STF, onde ações discutem qual é a obrigação do Estado de atendimento para as pessoas. Nosso desafio é conciliar o conceito da Constituição aos limites orçamentários. Quero colocar mais recursos na saúde, mas não do Tesouro, porque o Tesouro não tem.

Seria então transferir parte do atendimento do SUS para o setor privado?
Já convoquei o setor privado para oferecer planos para aumentar o acesso das pessoas à saúde. Se queremos dar tudo para todos, alguém tem que pagar a conta. Quem? Os próprios que estão recebendo o tudo para todos. Eles têm que financiar isso. Há que ter um equilíbrio.

Quanto espera de alívio na fila do SUS com essa transferência para o plano de saúde?
Não terá nenhum alívio. Mas as pessoas que estão esperando na fila vão ser atendidas nesses serviços, e outras no SUS. Não tenho expectativa de que acabe a fila. Não estamos aliviando, estamos atendendo mais pessoas. Uns pelo plano, outros pelo SUS. Não tenho que atender pelo SUS, tenho que atender a saúde.
 
A gente se sentia explorado, diz cubano que saiu do Mais Médicos e ficará no Brasil

Médico lamenta fim da parceria com Cuba e diz que áreas isoladas devem ser afetadas


Estelita Hass Carazzai
Curitiba


mm.jpg

Integrante do Mais Médicos por quase três anos, o médico cubano Adrian Estrada Barber disse à Folha que se sentia explorado pelo programa e acha que muitos colegas irão abandoná-lo para ficar no Brasil até o final do ano.

Barber lamentou o fim da parceria com Cuba, mas atribuiu a decisão a uma “estratégia política” do regime cubano, e não às exigências do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que pediu a realização de testes de capacidade, o envio do salário integral aos profissionais (hoje, eles recebem apenas parte do subsídio, que é retido por Cuba) e a possibilidade de que eles trouxessem suas famílias ao Brasil.
“Eu concordo totalmente [com as exigências]. A maioria se sentia explorada”, disse.

O profissional deixou o Mais Médicos em 2016, quando passou no Revalida (prova para validar o diploma no país) e começou a clinicar por conta própria. Por causa disso, foi qualificado como “desertor” e está proibido de voltar a Cuba por oito anos.

  • Barber se casou com uma brasileira, após uma longa espera judicial motivada por impedimentos em seu contrato de trabalho, como noticiado pela Folha. Hoje, ele tem um filho de dois anos, nascido no Brasil.

    Folha - Quanto tempo o sr. ficou no Mais Médicos? Fiquei um pouco menos de três anos. Eu recebia R$ 2.976 por mês de Cuba, mais a ajuda do município [em Arapoti, interior do Paraná], de moradia e alimentação, de R$ 2.500. O resto do pagamento ia todo para o governo de Cuba. Era suficiente [para pagar as contas]. Era só a minha mulher e eu, não tínhamos criança, nada. Não dava para comprar um carro bom, uma casa, mas dava para as continhas, sim. Mas, para um padrão de um médico, no Brasil, está muito fora da realidade.

    O sr. se sentia explorado? Explorado, acho que todo cubano se sente. Com certeza. A gente saiu de Cuba com o objetivo de economizar uma grana para continuar o estudo por lá, depois. Para a gente, era muito bom esse dinheiro, porque era muito mais do que conseguíamos ganhar em Cuba. E também ter outra experiência, sair, olhar a realidade do mundo. Mas quando a gente chega aqui e vê como funciona o mundo, aí, para mim, ficou decidido que não dava mais para voltar.

    Eu acho que a maioria dos médicos se sente reprimida pelo sistema de Cuba. A gente não tem liberdade de fazer as coisas. Por exemplo, agora, eu não consigo entrar no meu país durante oito anos [por ter deixado o Mais Médicos]. Tive a minha liberdade completamente limitada.
    Aqui no Brasil, ainda foi muito mais tranquilo do que na Venezuela [que também mantém um programa de intercâmbio com médicos de Cuba]. Eu não cheguei a ir para lá, mas tenho colegas que foram. Tinham que dar uma preliminar do que iriam fazer durante o dia, não podiam sair depois das 18h. Foi uma perseguição terrível.

    Mas o sr. tinha alguma restrição em sua rotina no Brasil? Não, aqui não tinha regra. Mas, por exemplo, na hora do casamento, eu estava com medo. Segundo o contrato, eu tinha que pedir autorização ao governo cubano, tinha que falar que ia casar. Eu acho um absurdo isso. Não preciso falar com ninguém do governo. Eu sou livre para casar ou não.

    Eu lembro que vocês fizeram uma reportagem. No dia 23, vocês foram a Arapoti. No dia 24, o coordenador do programa [que era cubano] me ligou. Queria saber o que estava acontecendo, por que eu estava dando entrevista. Me questionando. Aí eu falei para a minha esposa: vamos casar logo, porque eu não sei o que vai acontecer. Aí casamos dia 25, com medo de que me falassem para voltar para Cuba.

    Por que o sr. decidiu deixar o Mais Médicos?
    Eu fiz o Revalida com o objetivo de ficar no Brasil, porque eu havia casado, minha esposa estava grávida. Tinha que fazer para ter uma estabilidade profissional e econômica no Brasil. Eu não sabia o que ia acontecer. E se me mandam embora para Cuba? Não tinha como. Eu não ia deixar minha família aqui.

    Aí, fiz o Revalida. Passei [em 2016] no exame teórico, depois no prático e na prova de proficiência em português. Apresentei minha documentação na universidade e pronto, me deram o CRM [registro do Conselho Regional de Medicina].

    Aí, pedi para me descredenciarem do programa. Mas [representantes de Brasil e Cuba] foram enrolando. Eu era livre, tinha permanência legal no país, tinha CRM. Mas me questionaram, falaram que eu não podia me desligar, que eu não estava indo mais. Eu realmente não estava, porque não queria mais estar no programa. Eu pedi para me liberarem, mas não queriam. Disseram que eu tinha um consultório particular. Pô, mas eu tenho CRM. Eu posso ter um consultório.

    Como o sr. avalia o fim da parceria com Cuba?
    Eu acho que foi uma grande estratégia política. O governo do PT era afim ao governo de Cuba. Eram dois governos de esquerda. Para mim, eles disseram: 'Fala para o governo de Cuba mandar todo mundo embora'. Para começar o governo do Bolsonaro de um jeito ruim.

    Então, o sr. atribui a responsabilidade pelo rompimento do programa ao governo cubano, e não ao brasileiro?

    Com certeza. Não foi o governo brasileiro que mandou os médicos embora. Ele colocou algumas exigências, mas não exigiu o fim. E o governo cubano decidiu mandar todo mundo embora. Porque vai perder. Não vão mais mandar grana para lá.

    O sr. concorda com as exigências que o governo Bolsonaro fez?
    Lógico. Porque não tem por que duvidar da nossa capacidade. Por que não fazer o teste? Que faça, sim. O Mais Médicos está funcionando errado, atualmente. A prioridade [para contratação no programa] eram os médicos brasileiros. Depois, os brasileiros que não têm CRM. Uma terceira opção seriam os médicos estrangeiros. E, como última opção, os médicos conveniados pela OPAS, que são os cubanos. A gente acabou virando a prioridade, mas éramos a quarta escolha. Não está correto. Meu país também está precisando de médico. E por que mandou todo mundo para cá? É tirar a roupa de um santo e vestir em outro.

    Foi uma opção política, com certeza. Eles achavam que iam mudar a ideia do povo brasileiro, para continuar com um governo de esquerda. Espalharam médicos cubanos por todo o país. Mas por quê? No Norte, Nordeste, onde ninguém queria trabalhar, beleza, eu acho ótimo. Que vão lá trabalhar. Mas, por exemplo, tem uma cidade bem próxima aqui, Ponta Grossa, que fica a 100 km de Curitiba. Por que Ponta Grossa tem que ter 60 médicos cubanos? A prefeitura fez um concurso público recentemente, e teve um monte de médico brasileiro que se alistou para fazer. Não tem médico interessado? Tem, sim. Mas o prefeito prefere pagar um valor muito baixo e justificar dizendo que não há médico brasileiro.
    O sr. acha que os municípios se aproveitaram do programa? Tem muito município que se aproveitou, sim. Muitos tiraram o médico brasileiro do posto de saúde para colocar um cubano. Está errado. Em Wenceslau Braz [no interior do Paraná], tinha um dermatologista que trabalhava no posto e foi retirado para colocarem um médico cubano. Em Arapoti, conheci um médico que tinha CRM e queria entrar no programa, e não deixaram entrar, porque disseram que só tinha vaga para cubanos.

    O Mais Médicos é um programa bom, porque prioriza as áreas carentes, dá atendimento à população. Mas não é tão bom para o médico. O objetivo final dele foi político. Para Cuba, era bom, porque recebia muito dinheiro do Brasil. E, para o governo brasileiro, era bom porque estavam fazendo a cabeça de todo mundo.

    Mas e a população? Muitos municípios vão ficar sem médicos em função do fim da parceria com Cuba.
    Tem município que vai ficar sem cobertura, sim, por um tempinho. Mas eu acredito que há médicos suficientes no Brasil para fazer essa cobertura. Você consegue estimular isso por meio de programas sociais. Por exemplo, há muito financiamento público de faculdade. “Olha, você vai ter dois anos para pagar isso, trabalhando lá no Xingu”, por exemplo. E se ele gosta do trabalho? E se ele casa por lá? Tem muita chance de que esse médico fique trabalhando por lá.

    Bolsonaro chegou a dizer que os médicos cubanos desempenham um “trabalho análogo à escravidão”. O sr. concorda?
    Concordo plenamente. E não é só aqui no Brasil. Acontece no meu país, também. Em Cuba, um funcionário da rede de hotéis Meliá recebe US$ 2.000 por mês. Mas isso não chega na mão dele, não. Vai para o governo, que converte isso em pesos cubanos, e manda para o funcionário o equivalente a US$ 80 por mês. E fica com o resto. É um trabalho escravo. Está roubando dinheiro do funcionário.

    Depois que o sr. deixou o Mais Médicos, como ficou sua situação?
    O governo cubano me qualifica agora como desertor. É um termo usado no Exército. As pessoas são condenadas por isso. É como se eu fosse propriedade do Estado. Mas eu não sou militar, eu sou médico. Eu não pertenço ao Estado. Eu sou meu.

    Não posso voltar a Cuba durante oito anos.
    Eles [o governo] queriam que eu voltasse para lá, para então me desligar do programa. Para mim, tinha uma chance bem alta de me deixarem lá. Já aconteceu com muitos colegas meus: ficaram cinco anos esperando para voltar para o país em que trabalhavam. Gente casada com um estrangeiro, com filho. Aí eu, com esposa grávida, vou voltar para Cuba, e arriscar ficar cinco anos longe? Jamais.

    O sr. ainda tem família em Cuba?
    Sim, meus pais e irmão ainda estão em Cuba. Não sofreram represália. Eles podem vir me visitar, mas é toda uma burocracia, demora três meses para liberar, é caro. Só a documentação dá cerca de R$ 1.000. E a gente tem que pagar, porque o salário do meu pai é de cerca de R$ 15 por mês. Daí, imagina. Atualmente, eu ganho mais do que na época do Mais Médicos, mas trabalho mais, também. Faço plantão, trabalho em posto. Mas valeu a pena. Hoje, eu sustento minha família aqui e minha família em Cuba. São três famílias: a minha, a do meu pai e do meu irmão.

    O que o sr. acha que vai acontecer com seus colegas cubanos agora? Acha que muitos irão desertar?
    Com certeza. Tomara que fiquem. Porque a probabilidade de um médico cubano passar no Revalida é muito alta. Eu escuto muito comentário, que tem cubano que não é médico, que vieram socorristas... Eu duvido muito. Todos são médicos, tenho certeza absoluta. E são competentes. Por exemplo, recentemente, houve outra prova do Revalida aqui no Paraná. 15% dos que passaram na prova teórica eram cubanos. Tem muitos que querem ficar, não querem ir embora. Vai ter muito cubano fazendo o Revalida. E passando.
 
O que acham dessa?

Há médicos em quantidade suficiente no Brasil? Interessa à classe médica que tenhamos mais médicos? O governo de Cuba é de fato solidário com nosso povo? Deveria ser? Os médicos cubanos deveriam receber integralmente o que nosso governo paga? Estamos alimentando a ditadura de Cuba?

Nesse breve vídeo tento responder a essas e outras questões sobre o problema dos médicos cubanos no Brasil.

ROTEIRO

OS MÉDICOS CUBANOS E A REALIDADE BRASILEIRA

Nosso sistema de saúde, o SUS, tem uma forte inspiração no sistema de saúde do Reino Unido, o NHS. Ainda temos muito o que melhorar, e muito o que aprender com eles, inclusive com uma desconcentração das atividades profissionais privativas. No Brasil ainda há uma concentração muito grande de atividades privativas nas mãos dos médicos. E o médico, como todos sabemos, é o profissional mais caro de um sistema de saúde. Logo não faz muito sentido que somente os médicos possam realizar uma série de procedimentos.

No Reino Unido os enfermeiros, por exemplo, realizam muito mais procedimentos do que os enfermeiros no Brasil. Fora o fato de que lá há uma atuação muito maior da atenção primária, a qual é responsável pela prevenção. E na atenção primária, como sabemos, há uma participação muito maior dos demais profissionais de saúde. Tudo isso diminui os custos da saúde.

Isso porém, infelizmente, não interessa a setores poderosos, que lucram muito com um sistema centrado em assistência, em hospitais. Porque se o modelo for centrado em hospitais, haverá um consumo maior de medicamentos e os mais diversos produtos hospitalares. E isso, como sabemos, alimenta setores da indústria que são muito poderosos e com capacidade de lobby.

Outro ponto importante é que ainda faltam médicos no Brasil. Nos últimos 5 anos conseguimos subir esse índice de 1.85 para 2.0 médicos para cada 1.000 habitantes, e essa foi uma evolução importante. Contudo, ainda estamos muito longe dos 2.82 do Reino Unido, que é, como já mencionei, o principal modelo no qual nos inspiramos.

Então não é verdade alegação do Conselho Federal de Medicina (CFM) de que já temos médicos suficientes para atender toda a nossa população. E isso é ainda menos verdade se formos levar em conta a má distribuição desses profissionais no território nacional. Nas regiões pobres e mais afastadas os índices são alarmantes.

Em algumas regiões do interior do Maranhão, por exemplo, antes da implantação do Programa Mais Médicos pelo governo Dilma, o índice era de 0.5 para cada 1.000 habitantes. E os médicos brasileiros, mesmos os recém-formados (inclusive sem terem feito a residência médica), não quiseram ir para essas regiões, com a remuneração (em 2013) de R$ 10 mil.

E qual foi a solução? Foi a vinda dos médicos cubanos para o Brasil. Eles ocuparam esses espaços, e foram protagonistas de grandes mudanças. Praticamente qualquer profissional da área de saúde, não médico, para o qual fosse oferecida uma remuneração inicial de R$ 10 mil, não hesitaria. Iria correndo disputar essa vaga com unhas e dentes. A concorrência ia ser grande.

E não interessa ao Conselho Federal de Medicina que tenhamos mais médicos, porque isso irá diminuir o custo do profissional médico. Pois é tudo uma questão de mercado. Se houver mais médicos, o preço da mão-de-obra desses profissionais irá diminuir. Isso não interessa para a classe médica.

Assim como não interessa nem mesmo que as demais categorias profissionais da saúde adquiram um papel mais importante, com uma maior atribuição de atividades. Uma evidência marcante desse ponto é que nos últimos anos a classe médica vem tentando, a todo custo, aprovar o ato médico, leis com uma quantidade grande de atividades privativas aos médicos, que torna a atuação dos demais profissionais bastante restrita.

Então entendam que é uma questão de luta de classes dentro do sistema de saúde brasileiro, a qual é bastante marcada pela movimentação da classe médica no sentido de manter seus altos salários, os quais são, em média, mais que duas vezes maiores do que os salários dos demais profissionais da saúde com nível superior.

As equipes de saúde da família (de prevenção, na atenção primária), no interior do Brasil, geralmente se completam, com todos os profissionais necessários. E o que ocorre é que o único profissional que costuma faltar, ficar ausente, é o médico.

E por que isso ocorre? Porque faltam médicos. Porque a concorrência é pequena. Se houvesse mais médicos, e a concorrência fosse maior, eles também estariam lá, como quaisquer outros profissionais de saúde.

Para completar meu texto, abaixo vou citar (e rebater) algumas falácias que estão sendo usadas nesse debate.

"Diante das condições impostas pelo presidente eleito, Cuba resolveu sair do Programa Mais Médicos. Isso demonstra que o governo cubano não está preocupado com nosso povo."

Mas nosso povo é problema nosso, e não do governo cubano.

"Mas o governo cubano pega a maior parte do salário deles."

Sim, Cuba, como país, e o povo cubano, dependem desse dinheiro, inclusive para continuar formando mais médicos, que são o principal produto de exportação deles. E se é exportação, não faz sentido esse dinheiro ficar aqui, correto? Esses médicos estão aqui em missão. Não emigraram pra cá.

"Isso é escravidão, é contra os direitos humanos." (Em relação ao fato dos médicos cubanos receberem somente R$ 3 mil e não os cerca de R$10 mil totais, pagos pelo governo brasileiro)

Como bem disse um colega, eis "o curioso caso dos brasileiros que acham que o trabalhador que ganha um salário mínimo tem direitos demais ao mesmo tempo em que o médico cubano que recebe 3 mil reais [mais ajuda de custo] é escravo."

“Permitir que o governo cubano se aproprie da maior parte desses cerca de R$ 10 mil, que são pagos em referência a cada um dos médicos cubanos que estão aqui, é financiar uma ditadura.”

Então seja coerente, e proteste também para que o Brasil rompa relações comerciais com a Arábia Saudita (e boa parte do oriente médio) e com a China, países nos quais imperam regimes ditatoriais. E já aviso: romper relações comerciais com esses países somente fará com que a economia brasileira quebre.

Outro ponto é que Cuba exporta médicos para mais de 100 países. Ou seja: mais de 100 países, do mundo todo, tem se beneficiado disso. É algo valioso. Se não fosse esse produto, esse commodity cubano, milhões de pessoas, pelo mundo afora, estariam sofrendo, incapacitadas, com sérios problemas de saúde, e até mesmo morrendo.

Vamos combinar uma coisa? Médicos cubanos, aqui dentro, recebendo R$ 3 mil por mês (mais ajuda de custo), com o restante indo para o governo cubano, são as condições impostas pelo governo cubano para fazer negócio conosco, como qualquer outra relação de colaboração humanitária ou comercial, e o resultado disso são mais de 20 milhões de brasileiros recebendo a assistência médica que os próprios médicos brasileiros se recusam a dar.

Se houvesse alguma solução factível, em curto prazo, para repor a falta dos cubanos, faria todo o sentido ficar insistindo nesses pontos. Como ainda não há essa solução, sejamos sensatos, primeiro encontrando uma alternativa, um substituto à altura, para depois romper o contrato com o governo cubano.

E a longo prazo nós já sabemos qual é uma das soluções: a formação de mais médicos no Brasil. Precisamos aumentar esse índice, de 2.0 para cada 1.000 habitantes, para algo próximo a 2.8. Assim ficaremos em patamares similares ao sistema de saúde britânico, o principal modelo no qual vem se baseando o SUS, desde a sua criação.

Adriano Facioli, professor na Escola Superior de Ciências da Saúde do Distrito Federal.


 
Médicos cubanos nos EUA ---> Doctors in Cuba Start Over in the U.S.

https://www.nytimes.com/2009/08/04/health/04cuba.html


Que acham dessa opinião abaixo, sobre o artigo acima?

Os EUA tiveram uma política de pegar médicos cubanos. Ninguém acusou os EUA de estarem criando um "exército esquerdista".

No início do programa, muita gente questionou a qualidade dos médicos. Acho que esse argumento já está superado.


Passados os anos, o único ponto questionável do programa é a forma de remuneração ao Estado cubano, mas não aos profissionais.

De resto, foi uma contratação de mão de obra qualificada por preço abaixo do mercado interno e em condições que não geraram encargos previdenciários de longo prazo. Isso foi inquestionavelmente vantajoso.

A competência deles, que era algo muito questionada por aqui, não se mostrou nem pior ou melhor do que a que os médicos nacionais oferecem. Estatisticamente falando, eu não vi conduta desabonável pior do que a média.

Hoje, eu digo que foi um bom negócio. Muita gente em áreas que médicos brasileiros (que na média pertencem mais a uma classe criada a danone) não vão, passaram a contar com atendimento médico graças ao programa (que, novamente, não é nenhuma novidade, já era feito mais de uma década antes) e o serviço foi devidamente prestado.

E não vi ninguém treinando guerrilheiros ou pregando o comunismo nos postos de atendimento.

Até isso não é tão criticável assim. Eles eram limitados ao atendimento clínico dentro do programa e os que buscaram prática complementar estão tendo que fazer a revalidação do diploma como qualquer outro médico. O número deles no programa caiu drasticamente provavelmente por conta disso. Viram que estavam trabalhando feito escravos e saíram do programa. E não desequilibrou o mercado de médicos no Brasil.

A verdade é que eles são mão de obra barata para uma parcela da população para a qual todo mundo está cagando. Mais pragmático e menos ideológico do que isso, impossível.
 
Cubanos não têm privilégio no edital do Mais Médicos; texto no WhatsApp é enganoso

https://aosfatos.org/noticias/cubanos-nao-tem-privilegio-no-edital-do-mais-medicos-texto-no-whatsapp-e-enganoso/


Escolas de medicina de Cuba formam mais de 3.600 médicos por ano, e não 300, como diz meme

https://aosfatos.org/noticias/escolas-de-medicina-de-cuba-formam-mais-de-3600-medicos-por-ano-e-nao-300-como-diz-meme

Vídeo viral de médica reúne várias informações falsas sobre Mais Médicos

https://aosfatos.org/noticias/video-de-medica-reune-diversas-informacoes-falsas-sobre-mais-medicos
 
Eu falei em forma de piada no outro tópico, mas era sério.
Isso é o que ocorre quando se terceiriza serviço. Sempre.
Espero que tenhamos entendido isso agora. Espero que essa revolta com as condições de médicos cubanos não seja apenas um episódio ideológico anti-PT. Espero que revisemos leis passadas aprovadas em anos recentes sobre o assunto.
 
Espero que essa revolta com as condições de médicos cubanos não seja apenas um episódio ideológico anti-PT
Creio que seja apenas isso. O ponto questionável seria realmente o valor pago aos médicos cubanos e o repasse ao governo cubano. Lembrando que Cuba financia totalmente a formação dos mesmos. Se o próximo presidente não fosse tão bravateiro/estúpido poderia negociar melhor o repasse ( já que ele alegou isso como grave), mas preferiu jogar para a galera ao invés de procurar o diálogo e resolver pontos questionáveis no programa, q apesar de críticas de entidades médicas brasileiras deu certo ao que se propôs.
 
Quanto ao programa, acredito que a maior parte dos médicos brasileiros no fundo não era contra a vinda de médicos estrangeiros, desde que os mesmos fizessem o Revalida para assim ficar formalmente certificado e garantido uma qualidade minimamente satisfatória de atendimento.
 
Trabalhar em areas violentas, sem estrutura, com a qualidade de vida do profissional la embaixo... E tem gente que ainda acredita na bobagem de Medicina ser um sacerdocio. Gente, nao eh! Quantos de voces topariam trabalhar nestas condicoes nas suas profissoes?
 
Muita gente trabalha nessas condições, e não recebe nem um terço do que pagam.
Agora, temos um impasse, dificilmente as condições de trabalho vão melhorar no curto, e quem sabe no médio prazo e a solução que tinham arrumado, teve discordâncias de alguns grupos. Essa população, vai ficar sem atendimento?

E outra, se não é surpresa nenhuma que o profissional pode ir para lugares com condições deploráveis, por que cargas dáguas se inscreve no programa?
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo