Olá a todos
Sou novo por aqui e o que me trouxe foi a necessidade de encontrar pessoas que gostem de literatura para avaliar e dar dicas para melhorar a minha escrita.
Há 3 dias comecei um pequeno romance para tentar dar os primeiros passos numa escrita ligeiramente prolongada de modo a melhorar o meu modo de escrever para ter uma boa nota na escola quando recomeçar o período de aulas.
Estou aberto ás vossas sugestões para melhorar a história.
Aqui está o primeiro capítulo:
O Clube de Ténis
Três amigos desciam a rua, dirigindo-se aos campos de ténis da cidade. Um grupo normal, que por nada daria nas vistas: dois rapazes e uma rapariga normais, a descer uma rua normal, numa cidade normal em direcção a uns campos de ténis perfeitamente normais. Eram, de facto, normais.
E normais eram também os devaneios de um rapaz adolescente da idade de Fernando. Alguns dias atrás fizera uma promessa: Iria contar a Denise, a sua melhor amiga, a quem pertencia o rosto que o atormentava dia após dia, que assombrava o seu coração há seis meses.
Sendo sua melhor amiga, não seria então simples a tarefa a que se propôs? Sim, seria a resposta para a maioria dos casos, mas não quando a resposta seria ao mesmo tempo algo que Fernando mais receia. Uma declaração de amor. Denise era quem amava, e Denise era quem o estava prestes a descobrir. Esta cadeia de pensamentos foi interrompida aquando da chegada ao clube.
-Queres ir para que campo?- Perguntou Miguel, o segundo rapaz- Eu preferia vir para este já aqui, mas está ocupado.
O Clube estava quase vazio, mas o campo que eles pretendiam utilizar já se encontrava ocupado. Um treino para os pequenos tenistas que davam os primeiros passos na modalidade. Sempre lhes achara piada. Ainda tão jovens e já agarrados tão afincadamente ao sonho de serem profissionais. Thiago acenou-lhes.
Thiago era um dos treinadores do Clube. Fernando gostava dele, já se conheciam há 5 anos e, caso seja possível afirmá-lo, tornaram-se amigos. De vez em quando nas pausas dos treinos conversavam sobre tudo: escola, família, musica, namoradas… namoradas, la veio o nefasto e tao odioso receio que o atormentava. Olhou de soslaio para Denise.
Ao contrário dele e de Miguel, que vinham ambos de calções e t-shirt prontos para mais um rigoroso treino das seis, Denise vinha de calças de ganga e uma t-shirt branca com riscas vermelhas que ela tanto adorava (para dizer a verdade não sabia se adorava, apenas tirou essa conclusão do facto de a ver vestida muitas vezes). Ela vinha apenas acompanhá-los. Eles iriam jogar uns minutos sozinhos antes do treino, e ela iria assistir, indo-se de seguida embora quando o pai chegasse para a levar. Denise olhou para Fernando, que desviou rapidamente o olhar.
-Vamos então para aquele atrás do bar- respondeu finalmente. Pessoalmente, Fernando gostava daquele campo mais do que os outros. Passara lá longas horas sozinho a treinar contra a parede (característica única do campo, o que o distinguia dos restantes) e, além do mais, era mais isolado sendo que se trata de um campo individual, ao passo que todos os outros se encontravam aos pares. Era um excelente lugar para descontrair, quer pelo sossego fornecido pelo ambiente calmo e sereno, quer pela libertação do stresse despejando toda a nossa frustração nas pobres velhas bolas de ténis que saiam disparadas com a intenção de quebrar a parede.
Dirigiram-se para lá, fazendo uma corrida forçada ao descer a relva que dava acesso ao campo desejado, assustando pelo caminho a gata que lá morava. Lembrava-se da altura em que ela por lá tinha aparecido há uns 3 anos. Surgiu de nenhures e por lá se instalou, causando uma dor de cabeça ao Sr. João e á D. Beatriz, que tomavam conta do bar e da manutenção dos campos e dos relvados. Com o tempo lá se habituaram, chegando ao ponto de tomar conta da gata como se fosse um animal do próprio Clube. De momento já lá se encontra uma autêntica ninhada, com três gatinhos que andavam sempre por lá a brincar. Estes devaneios sempre animaram Fernando que gostava de recordar o que de bom aconteceu no passado, e foi com um sorriso nos lábios que entrou no campo com Denise e Miguel. Deu-se então início à discussão do costume:
-Miguel, ficas aí desse lado, que eu fico aqui- apressou-se Fernando a informar já de raquete na mão e pronto para jogar, dirigindo-se para o lado esquerdo do campo.
-Olha que lata, da última vez fui eu! Hoje trocamos, e não há discussões!- respondeu sem mais demoras Miguel, num tom que antevia mais uma das discussões que tão famosas eram no seio dos seus amigos. Miguel era o seu melhor amigo desde o 5º ano. Note-se que de momento se encontram nas férias de Verão, na transição do 9º para o 10º ano. Esta longa amizade permitiu-lhes criar laços dos quais ambos se orgulhavam, laços tão fortes que por vezes os dois rapazes se auto-intitulavam de irmãos. E quem os visse não estranharia se o fossem.
Ambos são altos, sendo Fernando uns dez centímetros mais alto do que Miguel, ambos possuem cabelo castanho, e, até bem recentemente, olhos castanhos. Fernando adquirira há um ou dois anos, uma tonalidade mais clara, obtendo um misto de verde e castanho claro que lhe tornava a íris dos olhos algo de diferente, e que pelo que lhe foi dito, atraente. Mas na aparência era onde menos se assemelhavam.
Os traços da personalidade dos dois eram bem vincados pela relação que tiveram durante os passados cinco anos, e principalmente pela semelhante educação que tiveram por parte dos seus pais. Um desses traços que era fortemente indicado por todos os que rodeiam os dois rapazes é a sua teimosia. Extramente lógicos, os dois eram capazes de arrastar uma discussão sobre os temas mais banais e desinteressantes durante vários minutos, argumentado com base em teorias formuladas no momento, criando um impasse do qual dificilmente sairiam, visto que aceitar a derrota é algo que quase nunca aceitam, e muitas vezes só se calam após um ralhete da professora ou de um amigo que por perto se encontrasse e já se sentisse irritado de os ouvir discutir. Denise, conhecendo os dois tão bem, interveio de imediato:
-Não comecem, afinal que diferença faz o lado do campo? Parecem-me os dois iguais.
Os dois olharam para ela com o divertimento estampado no rosto. Foi Miguel quem respondeu:
-Uma palavra, três letras: S.O.L.- referiu lentamente, pronunciando cada letra com um cuidado exagerado colocando nessas palavras o maior ênfase possível para irritar Fernando, ao mesmo tempo que apontava para o céu nas costas do mesmo, onde se via o sol brilhar, que encadeou a rapariga.
-À ok, mas por favor, não discutam- Denise dirigiu-se a Fernando- Faz lá um favorzinho ao Miguel e vai para o outro lado… Anda lá Fernandooo…
Sempre que ela o tratava pelo nome o seu coração falhava uma batida. E ainda por cima quando o chamava naquele tom carinhoso, com a voz melodiosa que apenas ela podia fazer, fazia-o desistir de quase tudo por ela. Tencionava começar a andar para o outro lado, quando uma má recordação perfurou o seu cérebro como um espigão afiado que o atingiu mesmo no coração, trazendo-lhe a memória de um rosto e de um nome: Mariya.
Fora naquele preciso espaço que se declarara a Mariya, dois anos antes. Quem fora Mariya? Um autêntico fiasco.
Fernando sempre fora do tipo conservador, íntimo e reservado, inteligente e dedicado ao estudo, e sem qualquer sorte no que toca a relações. O amor correspondido sempre lhe parecera uma ilusão que apenas se tornava possível na vida adulta, na qual, mesmo assim, duvidava. Mas mostrou-se o oposto. Conheceu Mariya no Clube durante um torneio e tornaram-se amigos, e acabaram por se apaixonar um pelo outro.
Até que, sensivelmente à mesma hora, e no mesmo campo, se encontrava sozinho com ela e decidiu arriscar e declarar-se. Para surpresa de Fernando, correu bem, e combinaram encontrar-se um dia para falar melhor, visto que não tinham muito tempo.
Começaram a encontrar-se regularmente, mas sempre com algum desconforto. Na verdade, Fernando nunca beijara uma rapariga, e não conseguia tomar a iniciativa para beijar Mariya. Esta acabou por se fartar, e acabou uma relação, que mal se pode denominar de relação.
Esta torrente de memórias pô-lo com os nervos à flor da pele, travando-o repentinamente. Sem tomar consciência dos seus receios, Miguel berrou-lhe:
-Pronto, paciência fica tu aí, ganho-te na mesma!
E assim foi, passou meia hora, e chegaram as seis. Era hora de ir para o treino de Thiago. Era hora de Denise se ir embora. Era a hora de cumprir a promessa. Era a hora que mais receava.
Os três saíram do campo e foram andando para o campo destinado aos treinos do grupo de Fernando e de Miguel.
-Miguel vai andando e diz ao Thiago que eu já lá vou ter-disse Fernando- Eu vou só acompanhar a Denise e despedir-me dela.
-Oh, então espera aí que eu também vou- replicou o amigo.
-Não, deixa estar, vai andando, a sério- tornou a responder Fernando, com uma entoação, que sabia que Miguel compreenderia. E compreendeu. Olhando-o com um ar divertido perguntou:
-Ok ok… Têm alguma conversa privada que eu não possa ouvir?
-Sim temos- respondeu Fernando forçando um riso para tentar disfarçar o nervosismo que sentia, enquanto que Denise assistia à conversa com uma cara que transmitia uma certa confusão perante a troca de palavras dos dois rapazes. Era assim que muita gente ficava quando os dois falavam de um modo aparentemente normal sem segundas intenções. Mas já toda a gente sabia: com eles existem sempre segundas intenções.
Fernando e Denise afastaram-se o suficiente para poderem falar, e, sem saber como, foi Fernando que tomou a iniciativa:
-Parece que está na hora de te contar de quem gosto, não é verdade?
-Pois, parece que sim- respondeu Denise com um entusiasmo claro na sua voz. Andava em pulgas por aquele momento, e nem sonhava qual seria a resposta.
-Vamos combinar o seguinte- começou Fernando- Depois de eu dizer, tu não dizes nada, não gozas, não me chamas. Eu digo, viro as costas e vou embora.
-Ok… Não percebo porquê que estás com isso, mas pode ser.
-Muito bem… Então é assim… A pessoa de quem eu gosto… és tu.
Dito isto, Fernando não espera um segundo e desata a correr a passos largos até ao recinto do campo onde iria decorrer o treino, sem esperar por qualquer resposta da sua amada, sem ter coragem de encarar a expressão de surpresa que não duvida que estivesse neste momento estampada no seu rosto. Tudo o que ouviu foi a rapariga dizer:
-A sério…?
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
“A pessoa de quem gosto… és tu.”
Estas palavras tiveram um efeito similar a um choque eléctrico que pára o coração por instantes para retornar à sua rotina de um modo extraordinariamente acelerado. De todas as respostas que esperava ouvir de Fernando, esta era a que Denise menos esperava.
É claro que já tinha considerado essa hipótese, afinal, para quê tanto secretismo se a pessoa que Fernando amasse não fosse ela própria? No entanto descartara logo a ideia. Fernando nunca se mostrara interessado nela desde o sétimo ano, no qual eram ainda crianças. Ele apaixonara-se por ela, e esta acabou por descobri-lo, sendo que nesse mesmo dia tentou falar com ele, mas acabaram por ficar frente a frente num silêncio constrangedor.
Denise na altura não o amava. Queria apenas dizer-lhe que não se importava e que podiam continuar a ser amigos como sempre o foram desde o quinto ano. Resultado: Fernando amuou e não lhe falou o resto do dia. Mas tal como pensara, eram crianças e muito mudou desde essa altura.
Com o choque das palavras de Fernando, Denise mal conseguiu reagir antes de este lhe virar as costas e desatar a fugir. O que lhe deveria dizer? Ele pediu-lhe que não lhe falasse, mas não conseguia deixá-lo ir embora sem falar com ele. Com a pressão da iminente fuga do melhor amigo, Denise atabalhoou-se e apenas conseguiu dizer, muito a medo:
-A sério…?
Fernando, como seria de esperar, limitou-se a ignorá-la e continuou a correr como se Denise nada tivesse dito. Subitamente ficou com medo. Medo de o perder. Por mais crescidos que fossem, um amor não correspondido é sempre motivo de embaraço. E se a experiência do sétimo ano se repetisse mas de um modo mais grave? Poderia ele deixar de lhe falar com medo de um julgamento cruel por parte da rapariga? Ela não queria isso.
Tinham-se tornado melhores amigos há pouco tempo. Foi uma situação um pouco confusa e repentina, mas que apesar de tudo lhe soube bem:
Era o último dia de aulas. Grande parte da turma e alguns amigos combinaram passar a tarde no Parque Verde da Várzea, um grande espaço livre com café, relvado, postos para a prática do exercício físico, e um campo de jogos. Foi no campo de jogos que tudo começou.
Estavam lá todos. Rapazes e raparigas a conversar, cantar, tocar, jogar à bola… resumidamente, o que um grande grupo de amigos faz. Com o passar do tempo foram-se embora alguns e ao fim do dia já lá só se encontravam alguns rapazes a jogar futebol, entre os quais se encontrava Fernando, e ela, a única rapariga que restava.
Estava encostada ao muro do campo, sozinha, sem ninguém para conversar, apenas à espera da chegada do seu pai para a ir buscar. Surpreendentemente Fernando começou a ir ter com ela de vez em quando para ela não se sentir tão sozinha, mas mandava-o sempre embora para ele ir jogar e não se preocupar com ela. Ele continuou a “visitá-la” regularmente, até que Gonçalo, um dos seus amigos gritou:
-Oh Fernando, pede-a mas é em casamento de uma vez por todas!
Fernando afastou-se meio envergonhado, e Denise apenas levou o comentário como se fosse brincadeira, rindo-se. Mas pelos vistos, por menos sérias que fossem as suas palavras, estas sempre carregavam um pouco de verdade.
Quando o pai lhe ligou para ela se ir embora, Fernando veio despedir-se dela. Ele ia beijá-la na face, mas Denise não aguentou e abraçou-o. Este tempo que ela passara sozinha permitira-lhe reflectir sobre o que a aguardava. A sua turma acabara e iria começar uma nova fase da sua vida numa turma desconhecida sem o apoio dos seus amigos. Pela primeira vez, Denise sentira a falta de alguém que ainda se encontrava presente, e abraçou Fernando como se não o quisesse deixar fugir. Iria sentir tantas saudades…
Após esse tão breve, mas ao mesmo tempo tão longo, momento, os dois aproximaram-se muito. Passavam dias inteiros a falar um com o outro no computador. Partilhavam emoções, experiências de vida, receios e esperanças. Denise nunca acreditara que se pudessem aproximar tanto, apesar de alguns meses atrás esta lhe ter perguntado:
-Fernando, quem é a tua melhor amiga? É a Ana Inês não é?
-Hum, por mais surpreendente que isto te possa parecer, não, não é. -dissera-lhe ele.
-Então é quem?
-Tu.
Teria ela tido este tempo todo um amigo tão chegado que nunca se dera ao trabalho de conhecer? Ter desperdiçado tanto tempo fê-la sentir-se mal, e decidiu aproveitar para passar mais tempo com ele.
Nos dias que se seguiam iriam ter exames e algumas aulas de preparação para os mesmos, e teriam a oportunidade de estar juntos, finalmente, como os amigos que sempre deveriam ter sido. Chegou até ao ponto de o convidar a dormir em sua casa, o que infelizmente os seus pais não deixaram.
O telemóvel tocou interrompendo-lhe os pensamentos. Piscou os olhos como se tivesse acabado de acordar de um sono profundo e demorou alguns segundos a aperceber-se do que a despertara. Pegou à pressa no telemóvel, viu que era o pai, e atendeu:
-Estou?
-Então Denise, onde é que andas? Já estou à tua espera há cinco minutos.
-Desculpa papá, estava a despedir-me do Fernando e do Miguel.
-Anda lá, despacha-te que a mamã está à nossa espera.
-Ok.
E com isto o pai desligou.
Foi para o parque de estacionamento onde se encontrava o pai no carro à sua espera. Era um carro prateado e pequeno, com espaço para a sua família e cómodo para as viagens longas. Gostava do carro, já tiveram tantos e finalmente arranjaram um que lhe agradasse.
Como que para estragar os elogios que eram feitos mentalmente ao carro, reparou que estava todo sujo de lama e pó. O pai era demasiado preguiçoso para o limpar e era capaz de passar meses sem lhe tocar. Algumas coisas nunca mudam…
Entrou no carro e o pai arrancou. Voltou a pensar em Fernando. Ainda não acreditava no que tinha acabado de acontecer.
Na verdade estivera apaixonada por Fernando este ano lectivo. Fora, aliás, um amor duradouro, mas cuja chama começara a perder lentamente o seu brilho, tornando-se menos intensa.
Acreditava que a chama já estivesse extinta, mas à luz dos recentes acontecimentos esta ganhou algum brilho, e uma réstia de esperança renasceu no coração de Denise…
Sou novo por aqui e o que me trouxe foi a necessidade de encontrar pessoas que gostem de literatura para avaliar e dar dicas para melhorar a minha escrita.
Há 3 dias comecei um pequeno romance para tentar dar os primeiros passos numa escrita ligeiramente prolongada de modo a melhorar o meu modo de escrever para ter uma boa nota na escola quando recomeçar o período de aulas.
Estou aberto ás vossas sugestões para melhorar a história.
Aqui está o primeiro capítulo:
O Clube de Ténis
Três amigos desciam a rua, dirigindo-se aos campos de ténis da cidade. Um grupo normal, que por nada daria nas vistas: dois rapazes e uma rapariga normais, a descer uma rua normal, numa cidade normal em direcção a uns campos de ténis perfeitamente normais. Eram, de facto, normais.
E normais eram também os devaneios de um rapaz adolescente da idade de Fernando. Alguns dias atrás fizera uma promessa: Iria contar a Denise, a sua melhor amiga, a quem pertencia o rosto que o atormentava dia após dia, que assombrava o seu coração há seis meses.
Sendo sua melhor amiga, não seria então simples a tarefa a que se propôs? Sim, seria a resposta para a maioria dos casos, mas não quando a resposta seria ao mesmo tempo algo que Fernando mais receia. Uma declaração de amor. Denise era quem amava, e Denise era quem o estava prestes a descobrir. Esta cadeia de pensamentos foi interrompida aquando da chegada ao clube.
-Queres ir para que campo?- Perguntou Miguel, o segundo rapaz- Eu preferia vir para este já aqui, mas está ocupado.
O Clube estava quase vazio, mas o campo que eles pretendiam utilizar já se encontrava ocupado. Um treino para os pequenos tenistas que davam os primeiros passos na modalidade. Sempre lhes achara piada. Ainda tão jovens e já agarrados tão afincadamente ao sonho de serem profissionais. Thiago acenou-lhes.
Thiago era um dos treinadores do Clube. Fernando gostava dele, já se conheciam há 5 anos e, caso seja possível afirmá-lo, tornaram-se amigos. De vez em quando nas pausas dos treinos conversavam sobre tudo: escola, família, musica, namoradas… namoradas, la veio o nefasto e tao odioso receio que o atormentava. Olhou de soslaio para Denise.
Ao contrário dele e de Miguel, que vinham ambos de calções e t-shirt prontos para mais um rigoroso treino das seis, Denise vinha de calças de ganga e uma t-shirt branca com riscas vermelhas que ela tanto adorava (para dizer a verdade não sabia se adorava, apenas tirou essa conclusão do facto de a ver vestida muitas vezes). Ela vinha apenas acompanhá-los. Eles iriam jogar uns minutos sozinhos antes do treino, e ela iria assistir, indo-se de seguida embora quando o pai chegasse para a levar. Denise olhou para Fernando, que desviou rapidamente o olhar.
-Vamos então para aquele atrás do bar- respondeu finalmente. Pessoalmente, Fernando gostava daquele campo mais do que os outros. Passara lá longas horas sozinho a treinar contra a parede (característica única do campo, o que o distinguia dos restantes) e, além do mais, era mais isolado sendo que se trata de um campo individual, ao passo que todos os outros se encontravam aos pares. Era um excelente lugar para descontrair, quer pelo sossego fornecido pelo ambiente calmo e sereno, quer pela libertação do stresse despejando toda a nossa frustração nas pobres velhas bolas de ténis que saiam disparadas com a intenção de quebrar a parede.
Dirigiram-se para lá, fazendo uma corrida forçada ao descer a relva que dava acesso ao campo desejado, assustando pelo caminho a gata que lá morava. Lembrava-se da altura em que ela por lá tinha aparecido há uns 3 anos. Surgiu de nenhures e por lá se instalou, causando uma dor de cabeça ao Sr. João e á D. Beatriz, que tomavam conta do bar e da manutenção dos campos e dos relvados. Com o tempo lá se habituaram, chegando ao ponto de tomar conta da gata como se fosse um animal do próprio Clube. De momento já lá se encontra uma autêntica ninhada, com três gatinhos que andavam sempre por lá a brincar. Estes devaneios sempre animaram Fernando que gostava de recordar o que de bom aconteceu no passado, e foi com um sorriso nos lábios que entrou no campo com Denise e Miguel. Deu-se então início à discussão do costume:
-Miguel, ficas aí desse lado, que eu fico aqui- apressou-se Fernando a informar já de raquete na mão e pronto para jogar, dirigindo-se para o lado esquerdo do campo.
-Olha que lata, da última vez fui eu! Hoje trocamos, e não há discussões!- respondeu sem mais demoras Miguel, num tom que antevia mais uma das discussões que tão famosas eram no seio dos seus amigos. Miguel era o seu melhor amigo desde o 5º ano. Note-se que de momento se encontram nas férias de Verão, na transição do 9º para o 10º ano. Esta longa amizade permitiu-lhes criar laços dos quais ambos se orgulhavam, laços tão fortes que por vezes os dois rapazes se auto-intitulavam de irmãos. E quem os visse não estranharia se o fossem.
Ambos são altos, sendo Fernando uns dez centímetros mais alto do que Miguel, ambos possuem cabelo castanho, e, até bem recentemente, olhos castanhos. Fernando adquirira há um ou dois anos, uma tonalidade mais clara, obtendo um misto de verde e castanho claro que lhe tornava a íris dos olhos algo de diferente, e que pelo que lhe foi dito, atraente. Mas na aparência era onde menos se assemelhavam.
Os traços da personalidade dos dois eram bem vincados pela relação que tiveram durante os passados cinco anos, e principalmente pela semelhante educação que tiveram por parte dos seus pais. Um desses traços que era fortemente indicado por todos os que rodeiam os dois rapazes é a sua teimosia. Extramente lógicos, os dois eram capazes de arrastar uma discussão sobre os temas mais banais e desinteressantes durante vários minutos, argumentado com base em teorias formuladas no momento, criando um impasse do qual dificilmente sairiam, visto que aceitar a derrota é algo que quase nunca aceitam, e muitas vezes só se calam após um ralhete da professora ou de um amigo que por perto se encontrasse e já se sentisse irritado de os ouvir discutir. Denise, conhecendo os dois tão bem, interveio de imediato:
-Não comecem, afinal que diferença faz o lado do campo? Parecem-me os dois iguais.
Os dois olharam para ela com o divertimento estampado no rosto. Foi Miguel quem respondeu:
-Uma palavra, três letras: S.O.L.- referiu lentamente, pronunciando cada letra com um cuidado exagerado colocando nessas palavras o maior ênfase possível para irritar Fernando, ao mesmo tempo que apontava para o céu nas costas do mesmo, onde se via o sol brilhar, que encadeou a rapariga.
-À ok, mas por favor, não discutam- Denise dirigiu-se a Fernando- Faz lá um favorzinho ao Miguel e vai para o outro lado… Anda lá Fernandooo…
Sempre que ela o tratava pelo nome o seu coração falhava uma batida. E ainda por cima quando o chamava naquele tom carinhoso, com a voz melodiosa que apenas ela podia fazer, fazia-o desistir de quase tudo por ela. Tencionava começar a andar para o outro lado, quando uma má recordação perfurou o seu cérebro como um espigão afiado que o atingiu mesmo no coração, trazendo-lhe a memória de um rosto e de um nome: Mariya.
Fora naquele preciso espaço que se declarara a Mariya, dois anos antes. Quem fora Mariya? Um autêntico fiasco.
Fernando sempre fora do tipo conservador, íntimo e reservado, inteligente e dedicado ao estudo, e sem qualquer sorte no que toca a relações. O amor correspondido sempre lhe parecera uma ilusão que apenas se tornava possível na vida adulta, na qual, mesmo assim, duvidava. Mas mostrou-se o oposto. Conheceu Mariya no Clube durante um torneio e tornaram-se amigos, e acabaram por se apaixonar um pelo outro.
Até que, sensivelmente à mesma hora, e no mesmo campo, se encontrava sozinho com ela e decidiu arriscar e declarar-se. Para surpresa de Fernando, correu bem, e combinaram encontrar-se um dia para falar melhor, visto que não tinham muito tempo.
Começaram a encontrar-se regularmente, mas sempre com algum desconforto. Na verdade, Fernando nunca beijara uma rapariga, e não conseguia tomar a iniciativa para beijar Mariya. Esta acabou por se fartar, e acabou uma relação, que mal se pode denominar de relação.
Esta torrente de memórias pô-lo com os nervos à flor da pele, travando-o repentinamente. Sem tomar consciência dos seus receios, Miguel berrou-lhe:
-Pronto, paciência fica tu aí, ganho-te na mesma!
E assim foi, passou meia hora, e chegaram as seis. Era hora de ir para o treino de Thiago. Era hora de Denise se ir embora. Era a hora de cumprir a promessa. Era a hora que mais receava.
Os três saíram do campo e foram andando para o campo destinado aos treinos do grupo de Fernando e de Miguel.
-Miguel vai andando e diz ao Thiago que eu já lá vou ter-disse Fernando- Eu vou só acompanhar a Denise e despedir-me dela.
-Oh, então espera aí que eu também vou- replicou o amigo.
-Não, deixa estar, vai andando, a sério- tornou a responder Fernando, com uma entoação, que sabia que Miguel compreenderia. E compreendeu. Olhando-o com um ar divertido perguntou:
-Ok ok… Têm alguma conversa privada que eu não possa ouvir?
-Sim temos- respondeu Fernando forçando um riso para tentar disfarçar o nervosismo que sentia, enquanto que Denise assistia à conversa com uma cara que transmitia uma certa confusão perante a troca de palavras dos dois rapazes. Era assim que muita gente ficava quando os dois falavam de um modo aparentemente normal sem segundas intenções. Mas já toda a gente sabia: com eles existem sempre segundas intenções.
Fernando e Denise afastaram-se o suficiente para poderem falar, e, sem saber como, foi Fernando que tomou a iniciativa:
-Parece que está na hora de te contar de quem gosto, não é verdade?
-Pois, parece que sim- respondeu Denise com um entusiasmo claro na sua voz. Andava em pulgas por aquele momento, e nem sonhava qual seria a resposta.
-Vamos combinar o seguinte- começou Fernando- Depois de eu dizer, tu não dizes nada, não gozas, não me chamas. Eu digo, viro as costas e vou embora.
-Ok… Não percebo porquê que estás com isso, mas pode ser.
-Muito bem… Então é assim… A pessoa de quem eu gosto… és tu.
Dito isto, Fernando não espera um segundo e desata a correr a passos largos até ao recinto do campo onde iria decorrer o treino, sem esperar por qualquer resposta da sua amada, sem ter coragem de encarar a expressão de surpresa que não duvida que estivesse neste momento estampada no seu rosto. Tudo o que ouviu foi a rapariga dizer:
-A sério…?
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
“A pessoa de quem gosto… és tu.”
Estas palavras tiveram um efeito similar a um choque eléctrico que pára o coração por instantes para retornar à sua rotina de um modo extraordinariamente acelerado. De todas as respostas que esperava ouvir de Fernando, esta era a que Denise menos esperava.
É claro que já tinha considerado essa hipótese, afinal, para quê tanto secretismo se a pessoa que Fernando amasse não fosse ela própria? No entanto descartara logo a ideia. Fernando nunca se mostrara interessado nela desde o sétimo ano, no qual eram ainda crianças. Ele apaixonara-se por ela, e esta acabou por descobri-lo, sendo que nesse mesmo dia tentou falar com ele, mas acabaram por ficar frente a frente num silêncio constrangedor.
Denise na altura não o amava. Queria apenas dizer-lhe que não se importava e que podiam continuar a ser amigos como sempre o foram desde o quinto ano. Resultado: Fernando amuou e não lhe falou o resto do dia. Mas tal como pensara, eram crianças e muito mudou desde essa altura.
Com o choque das palavras de Fernando, Denise mal conseguiu reagir antes de este lhe virar as costas e desatar a fugir. O que lhe deveria dizer? Ele pediu-lhe que não lhe falasse, mas não conseguia deixá-lo ir embora sem falar com ele. Com a pressão da iminente fuga do melhor amigo, Denise atabalhoou-se e apenas conseguiu dizer, muito a medo:
-A sério…?
Fernando, como seria de esperar, limitou-se a ignorá-la e continuou a correr como se Denise nada tivesse dito. Subitamente ficou com medo. Medo de o perder. Por mais crescidos que fossem, um amor não correspondido é sempre motivo de embaraço. E se a experiência do sétimo ano se repetisse mas de um modo mais grave? Poderia ele deixar de lhe falar com medo de um julgamento cruel por parte da rapariga? Ela não queria isso.
Tinham-se tornado melhores amigos há pouco tempo. Foi uma situação um pouco confusa e repentina, mas que apesar de tudo lhe soube bem:
Era o último dia de aulas. Grande parte da turma e alguns amigos combinaram passar a tarde no Parque Verde da Várzea, um grande espaço livre com café, relvado, postos para a prática do exercício físico, e um campo de jogos. Foi no campo de jogos que tudo começou.
Estavam lá todos. Rapazes e raparigas a conversar, cantar, tocar, jogar à bola… resumidamente, o que um grande grupo de amigos faz. Com o passar do tempo foram-se embora alguns e ao fim do dia já lá só se encontravam alguns rapazes a jogar futebol, entre os quais se encontrava Fernando, e ela, a única rapariga que restava.
Estava encostada ao muro do campo, sozinha, sem ninguém para conversar, apenas à espera da chegada do seu pai para a ir buscar. Surpreendentemente Fernando começou a ir ter com ela de vez em quando para ela não se sentir tão sozinha, mas mandava-o sempre embora para ele ir jogar e não se preocupar com ela. Ele continuou a “visitá-la” regularmente, até que Gonçalo, um dos seus amigos gritou:
-Oh Fernando, pede-a mas é em casamento de uma vez por todas!
Fernando afastou-se meio envergonhado, e Denise apenas levou o comentário como se fosse brincadeira, rindo-se. Mas pelos vistos, por menos sérias que fossem as suas palavras, estas sempre carregavam um pouco de verdade.
Quando o pai lhe ligou para ela se ir embora, Fernando veio despedir-se dela. Ele ia beijá-la na face, mas Denise não aguentou e abraçou-o. Este tempo que ela passara sozinha permitira-lhe reflectir sobre o que a aguardava. A sua turma acabara e iria começar uma nova fase da sua vida numa turma desconhecida sem o apoio dos seus amigos. Pela primeira vez, Denise sentira a falta de alguém que ainda se encontrava presente, e abraçou Fernando como se não o quisesse deixar fugir. Iria sentir tantas saudades…
Após esse tão breve, mas ao mesmo tempo tão longo, momento, os dois aproximaram-se muito. Passavam dias inteiros a falar um com o outro no computador. Partilhavam emoções, experiências de vida, receios e esperanças. Denise nunca acreditara que se pudessem aproximar tanto, apesar de alguns meses atrás esta lhe ter perguntado:
-Fernando, quem é a tua melhor amiga? É a Ana Inês não é?
-Hum, por mais surpreendente que isto te possa parecer, não, não é. -dissera-lhe ele.
-Então é quem?
-Tu.
Teria ela tido este tempo todo um amigo tão chegado que nunca se dera ao trabalho de conhecer? Ter desperdiçado tanto tempo fê-la sentir-se mal, e decidiu aproveitar para passar mais tempo com ele.
Nos dias que se seguiam iriam ter exames e algumas aulas de preparação para os mesmos, e teriam a oportunidade de estar juntos, finalmente, como os amigos que sempre deveriam ter sido. Chegou até ao ponto de o convidar a dormir em sua casa, o que infelizmente os seus pais não deixaram.
O telemóvel tocou interrompendo-lhe os pensamentos. Piscou os olhos como se tivesse acabado de acordar de um sono profundo e demorou alguns segundos a aperceber-se do que a despertara. Pegou à pressa no telemóvel, viu que era o pai, e atendeu:
-Estou?
-Então Denise, onde é que andas? Já estou à tua espera há cinco minutos.
-Desculpa papá, estava a despedir-me do Fernando e do Miguel.
-Anda lá, despacha-te que a mamã está à nossa espera.
-Ok.
E com isto o pai desligou.
Foi para o parque de estacionamento onde se encontrava o pai no carro à sua espera. Era um carro prateado e pequeno, com espaço para a sua família e cómodo para as viagens longas. Gostava do carro, já tiveram tantos e finalmente arranjaram um que lhe agradasse.
Como que para estragar os elogios que eram feitos mentalmente ao carro, reparou que estava todo sujo de lama e pó. O pai era demasiado preguiçoso para o limpar e era capaz de passar meses sem lhe tocar. Algumas coisas nunca mudam…
Entrou no carro e o pai arrancou. Voltou a pensar em Fernando. Ainda não acreditava no que tinha acabado de acontecer.
Na verdade estivera apaixonada por Fernando este ano lectivo. Fora, aliás, um amor duradouro, mas cuja chama começara a perder lentamente o seu brilho, tornando-se menos intensa.
Acreditava que a chama já estivesse extinta, mas à luz dos recentes acontecimentos esta ganhou algum brilho, e uma réstia de esperança renasceu no coração de Denise…