"Primavera" Sulamericana?

[Fúria da cidade]

Recentemente..

No Chile, muitos protestos e a pressão popular está resultando um novo processo para mudar a constituição do país.

Na Bolívia Evo Morales caiu e exilou-se no México.

Na Venezuela sempre se espera que um dia mais cedo ou mais tarde Maduro seja o próximo.

Guardadas as devidas proporções com a famosa "Primavera Árabe" que causou algumas importantes mudanças, podemos dizer que o continente sulamericano está literalmente tendo a sua? No caso do Brasil, no mínimo a polarização política deve se acirrar.

 

[Neoghoster Akira]

Penso que tradicionalmente a América Latina se ajusta aos alinhamentos político-econômicos dos centros internacionais de decisões tardiamente e por meio de caos. Com freqüência a defasagem é corrigida com ruptura política.

Em particular no quesito ideológico dos embates de globalismo, islamismo, esquerda e direita há a tendência atual de países no pacífico de se posicionarem em modo de "stand by" sem escolherem a visão dos Eua ou da China, apenas esperando a melhor forma de obter vantagens.

O que vemos agora nesses países já ocorreu recentemente em várias nações do continente americano. Os mesmos dilemas que ocorreram nos EUA em 2016 e no Brasil em 2018 estão se pronunciando nos outros países que também precisarão se adaptar. Mesmo no Brasil há proposta de renovação da constituição por meio do projeto do deputado Luiz Phillipe para substituir a de 1988.

 

[Fúria da cidade]

Eu confesso que nunca achei improvável ou impossível acontecer o que aconteceu com o Evo Morales, já que ele estava no poder há mais de dez anos e quando alguém permanece a frente tanto tempo, sempre estará sujeito a questionamentos cada vez mais sérios que justifiquem essa permanência.

Só não imaginava ele saindo antes do Maduro.

 

[Haran]

O curioso é que a situação do Chile é bem diferente da Bolívia né. Que mecanismo faz com que a "primavera" chegue aos países mais ou menos ao mesmo tempo? Ou é apenas coincidência? Afinal são apenas dois países.... Se bem que dá pra inserir Brasil e Argentina nessas primaveras também, aumentando um pouco o intervalo de tempo.... o Chile de hoje lembra o Brasil do passe-livre de 2013.

 

[Neoghoster Akira]

Imagino que ele tenha caído rápido entre outras razões porque a Bolívia nas últimas décadas não tenha podido se dar ao luxo de não gravitar em torno de um centro, como atesta o episódio da refinaria de Gás que foi investimento do Brasil e que tomaram de nós quando o eixo político era outro. Mesmo o Mercosul quando o interesse fora da América Latina mudou nos anos 90s foi abandonado por fatores semelhantes.

A expectativa de investimento deles, incluindo promessas de uma usina nuclear, vinham também no rastro da possibilidade de os democratas ou de pelo menos os republicanos anti-Trump assumirem o poder. Com um outsider na Casa Branca (na época de campanha os republicanos eram contra o Trump) os cálculos de facilitações de países com governo de esquerda como México, Cuba (que tinha virado até centro político da esquerda do Brasil) , Venezuela (promessa de fábrica de armas) e Bolívia vão para a geladeira e os recursos foram cortados.

Com Maduro é mais difícil a queda porque a penetração de agentes cubanos estava avançada demais, mas é fato que se o rabo do demônio (e aqui eu não preciso demonizar já que os ditadores já fazem isso por si mesmos) andou açulando o continente americano nas últimas semanas é porque a bunda do demônio está em Cuba e a cabeça definitivamente não está na América Latina, que costuma ser massa de manobra como sempre.

 

[Ranza]

Com Maduro é mais difícil a queda porque a penetração de agentes cubanos estava avançada demais, mas é fato que se o rabo do demônio (e aqui eu não preciso demonizar já que os ditadores já fazem isso por si mesmos) andou açulando o continente americano nas últimas semanas é porque a bunda do demônio está em Cuba e a cabeça definitivamente não está na América Latina, que costuma ser massa de manobra como sempre.

Cuba tem esse poder todo mesmo?

 

[Neoghoster Akira]

Cuba tem esse poder todo mesmo?

A crise dos mísseis nucleares, quando o mundo quase foi para o vinagre foi no principal centro de treinamento da esquerda soviético da América Latina, por haver interesse estratégico oficial na guerra fria.

Historicamente, foi o laboratório de escolha (parecido com a Califórnia de hoje em dia) que continua nas cartilhas da América Latina e quando o eixo de poder muda a atenção se volta pra lá. Gostaria de poder dizer algo diferente, mas se até a esquerda americana é obediente a relação Sino-Russa então dá pra entender como uma ilha daquelas pode ser tão importante na parte continental latina.

 

[Fúria da cidade]

O curioso é que a situação do Chile é bem diferente da Bolívia né. Que mecanismo faz com que a "primavera" chegue aos países mais ou menos ao mesmo tempo? Ou é apenas coincidência? Afinal são apenas dois países.... Se bem que dá pra inserir Brasil e Argentina nessas primaveras também, aumentando um pouco o intervalo de tempo.... o Chile de hoje lembra o Brasil do passe-livre de 2013.

Ainda que sejam países distintos, por serem próximos e vizinhos a Argentina e Brasil, sempre existe a possibilidade de mais a frente algo respingar neles, mesmo não fazendo parte diretamente do bloco Mercosul, que aliás, continua com sua eterna dificuldade de deslanchar e uma "primavera" dessas chegando com força nos dois pode mais uma vez estagnar e minar os planos do bloco.

 

[Elring]

Primavera Sul Americana? Mas esse povo tá fumando uma erva uruguaia da boa. Não tem nem comparação o que acontece lá em países divididos entre xiitas e sunitas com o fim do populismo nas Américas. Aqui foi o mesmo de sempre: segurar o cambio pra valorizar a moeda artificialmente, rolar dívida pública e pagar juros exorbitantes, concentração de renda na União, apostar em comodites do setor primário em detrimento do setor de transformação, inchar a máquina pública etc. Todos os governos Sul Americanos fizeram isso e estão pagando caro pelo gasto desenfreado.

 

[Haran]

Não é pra causar terror não, até porque minha capacidade de fazê-lo em fórum esquerdista é zero... Mas penso que, se a esquerda voltar em 2022, tem boa chance de ter uma insatisfação generalizada e dar rolo como no Chile... Não vejo clima, pelo menos em São Paulo, para a volta do PT... Se pá rola até um separatismo... parece papo de internet, mas até pouco tempo Bolsonaro, Olavo de Carvalho, monarquia, independência da Catalunha, também eram bem underground, então sei lá...

Mas acho que seria uma situação difícil de ocorrer... Brasil não é um país pequeno que pode se dar ao luxo de quebrar ou de parar de funcionar... antes de chegar a esse ponto, interesses poderosos dos pontos de vista político e econômico tendem a empurrar o país de volta pro centro....

do deputado Luiz Phillipe para substituir a de 1988.

Luiz Phillipe tem perdido a moral, está ralando até pra manter a simpatia os eleitores, imagine a dificuldade que teria para articular implementação de uma nova constituição... Ele se alinhou demais com o PSL de Bolsonaro, inclusive em propostas corporativistas, depois não conseguiu se explicar... Recentemente ele andou puxando saco da maçonaria, com um papo esquisito, "a Igreja é contra a maçonaria por uma questão de poder... sou católico, mais hoje em dia catolicismo é mais um conceito, se o papa quiser me excomungar, fico feliz..". WTF? Quer dizer, tá pecando tanto no liberalismo quando no conservadorismo.

Por outro lado, parece estar com a moral alta com o bolsonarismo. Já pensou, 2026, nova constituição, parlamentarismo, e o cara como monarca? Vai saber hein, não duvido de mais nada... E ele tem articulado sim nos bastidores, disso inclusive se explica a fala do Mourão que defendia uma constituição sem Assembleia Constituinte, o que na época chocou bastante gente, mas é um procedimento que o próprio Luiz Phillipe também já defendeu em várias ocasiões, tomando como exemplo a carta outorgada de 1824. Aposto que essas ideias devem circular nessas rodinhas maçônicas aí...

 

[Fúria da cidade]

Tivemos recentemente invasão a embaixada venezuelana.
Aos poucos o que acontece nos países vizinhos vai tendo alguns respingos ao Brasil e sempre esperamos que nunca se torne algo maior capaz de trazer prejuízos mais sérios aqui.

 

[Elring]

É bem pouco provável que o que está ocorrendo nas cercanias do Brasil respingue por aqui. Meu sonho seria que implodisse de vez o Mercosul pois há muito tempo já perdeu o sentido. Aliás, o acordo mais beneficiava os demais países do que o Brasil pelo tamanho de seu mercado consumidor.
Essas ditas regiões de livre comércio são completamente prejudiciais a longo prazo por liberar a entrada de produto estrangeiro somente onde não há concorrência. Ou se existir a empresa paga tributos pesados.
Mas essa guinada da Argentina de volta para o peronismo é de lascar. Vão colocar de volta quem afundou eles na crise.

 

[Neoghoster Akira]

Não é pra causar terror não, até porque minha capacidade de fazê-lo em fórum esquerdista é zero... Mas penso que, se a esquerda voltar em 2022, tem boa chance de ter uma insatisfação generalizada e dar rolo como no Chile... Não vejo clima, pelo menos em São Paulo, para a volta do PT... Se pá rola até um separatismo... parece papo de internet, mas até pouco tempo Bolsonaro, Olavo de Carvalho, monarquia, independência da Catalunha, também eram bem underground, então sei lá...

Mas acho que seria uma situação difícil de ocorrer... Brasil não é um país pequeno que pode se dar ao luxo de quebrar ou de parar de funcionar... antes de chegar a esse ponto, interesses poderosos do ponto de vista político e econômico tendem a empurrar o país de volta pro centro....



Luiz Phillipe tem perdido a moral, tá malhando até pra manter a simpatia os eleitores, imagine a dificuldade que seria para liderar a implementação de uma nova constituição... Ele se alinhou demais com o PSL, inclusive em propostas corporativistas, depois não conseguiu se explicar... Recentemente ele andou puxando saco da maçonaria, com um papo esquisito, "a Igreja é contra a maçonaria por uma questão de poder... sou católico, mais hoje em dia catolicismo é mais um conceito, se o papa quiser me excomungar, fico feliz..". WTF? Quer dizer, tá pecando tanto no liberalismo quando no conservadorismo.

Pessoalmente eu vejo a proposta dele justamente como algo que aumenta a moral de um político (independente da sigla) tendo em vista o grande número de pessoas importantes no Brasil insatisfeitas com o texto de 88. Caminha num sentido popular que cobriria a deficiência de carisma nas campanhas que é algo que o Bolsonaro é mais expert em relação ao Phillipe.

O que enxergo na verdade é uma má vontade da mídia pra causar intriga artificial e ciúmes em momentos inoportunos como aumento e invenção de fofocas entre a equipe de maneira geral sendo que na época da campanha ninguém escondeu na imprensa que ele tinha sido a primeira escolha do Bolsonaro e pelo que o Luiz falou a oportunidade é chave para encaixar propostas de reformas nas leis e no amadurecimento de todo o resto.

Na eleição houve união de forças para eleger o Bolsonaro seja do lado anti-monarquia (os militares republicanos bolsonaristas), quanto cristãos conservadores (católicos marianistas e de direita, etc...) e membros da família real brasileira. Não vejo essa estranheza no comportamento do Luiz porque é das monarquias divergirem da igreja católica (na Europa divergiam muito) em razão de que Bolsonaro é um "outsider" como o Trump que lutou contra o próprio partido com apoios espontâneos de muitos setores da população e que apesar da mídia falar o inferno dele eu considero o presidente apenas de centro direita. Por sinal o Bolsonaro é um católico casado com evangélica o que indica uma tolerância semelhante ao Tolkien mais afastado de extremistas como o Hitler que o Tolkien repudiava. A criação do novo partido mostra novamente que é ponto fora da curva no sentido de voltar as origens de desgarrar.

Veja bem, a ditadura no Brasil foi mais light porque os militares não podiam se alinhar a direita ou ficariam na direita ao lado dos monarquistas e o Bolsonaro infelizmente não chega a ser direita (apesar de que ele gostaria de ser). Na eleição o máximo que deu pra votar foi num presidente centro-direita pegando apoio de militares e políticos com tendência de centro. E no Brasil não tinha ninguém extrema-direita na campanha ou o Lula já estaria com uma bala na cabeça.

 

[Haran]

Luiz Phillipe tem perdido a moral

Spoiler

Pô, tretar com Felipe Neto no twitter é de perder a majestade...

 

[ExtraTerrestre]

O curioso é que a situação do Chile é bem diferente da Bolívia né. Que mecanismo faz com que a "primavera" chegue aos países mais ou menos ao mesmo tempo? Ou é apenas coincidência? Afinal são apenas dois países.... Se bem que dá pra inserir Brasil e Argentina nessas primaveras também, aumentando um pouco o intervalo de tempo.... o Chile de hoje lembra o Brasil do passe-livre de 2013.

Artigo da Folha - Uma desaceleração da economia mundial, com seu impacto na América do Sul, parece ser uma explicação parcial.

 

[Elring]

Então a crise sócio econômica que assola a América do Sul foi causada por "variáveis exógenas"... e nossos governantes não sabiam do crescimento assustador da dívida pública que havia ultrapassado a casa dos trilhões, da elevada carga de impostos e juros altíssimos sobre a sociedade e da deterioração do setor industrial em favor das carreiras de servidor público que incharam ainda mais o estado.
Aliás, lotear cc's e criar secretarias e ministérios a rodo e raspar os cofres públicos eram a marca registrada dos governos petistas por onde passaram. E fizeram escola pelos demais paises do cone sul.

 

[Fúria da cidade]

Meu sonho seria que implodisse de vez o Mercosul pois há muito tempo já perdeu o sentido.

Na realidade não se perdeu algo que nasceu praticamente sem sentido. Se a ideia utópica era de sermos a versão sulamericana da UE, nós sempre passamos muito longe de ser algo próximo disso e com certeza um país como o Paraguai tem muito mais a ganhar do que o Brasil.

Por mais que o Mercosul fale basicamente apenas dois idiomas que teoricamente são bem próximos entre eles, é muito mais difícil ter alinhamento político, organização, consenso e sintonia plena de objetivos dos países-membros em comum do que a UE com muito mais países e dezenas de idiomas falados.