• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Notícias Porque amamos o uso do diminutivo

Fúria da cidade

ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ
Texto interessante sobre o intenso uso de palavras no diminutivo na linguagem brasileira.

fonte

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
15481736325c47414006e04_1548173632_16x9_md.jpg


Ian Walker

Eu estava no Brasil havia menos de 24 horas quando me revelaram um segredinho. Em um barzinho, quando o sol se punha, um novo amiguinho brasileiro que conheci no meu hostel no Rio de Janeiro tinha uma garrafa gelada de cerveja Antarctica na mão.

Conversando sobre a noite que teríamos pela frente, ele nos serviu a bebida e me disse: "Se você quiser falar com uma garota hoje à noite, não a chame para tomar uma cerveja; pergunte se ela gostaria de uma cervejinha. Ela vai adorar se você usar essa palavra".

E foi assim que fui apresentado à fofa, porém complicada conversinha brasileira. Não falo daqueles papinhos gentis sobre o tempo, mas do hábito que os brasileiros têm de usar diminutivos para dar um charme às suas frases, adicionando o sufixo inho/inha ou zinho/zinha.

Para muitos brasileiros, é como se uma montanha de diminutivos mudasse o sabor de suas palavras nesse processo.

LEMBRANÇA DA INFÂNCIA


A meteorologista Carine Malagolini, de São Paulo, diz que os diminutivos são uma forma de conversa infantil que os brasileiros nunca deixaram para trás.

"Usamos muitos diminutivos e muitas vezes sem perceber. Eu acho que o uso deles veio da infância, porque nós ouvíamos e conversávamos assim com nossos pais. Por exemplo, eles perguntavam 'Você quer uma bananinha?'", diz.

Literalmente, os inhos e inhas fazem as coisas serem menores, efetivamente suavizando uma palavra, tornando-a fofa e gentil. E enquanto em inglês diminutivos são vistos como algo infantil (gatinho, cãozinho, mamãezinha), todo mundo no Brasil, de políticos a médicos, utiliza-os sem qualquer indício de ironia.
Para um país tão famoso por suas grandes coisas - a Amazônia, o Cristo Redentor e o Carnaval - o Brasil pode, de uma forma engraçada, ser considerado a terra dos diminutivos.

Praticamente nenhuma palavra está imune à diminuição.

CONTEXTO É IMPORTANTE


Mas logo descobri que os diminutivos podem acrescentar todo tipo de significado oculto que pode fugir à percepção de um estrangeiro.

Contexto é tudo nessa dança linguística. Como meu novo amigo brasileiro depois me explicou, usar "cervejinha" em vez de "cerveja" implicava um convite inocente e amistoso, sem nenhuma intenção de se embebedar até tarde da noite e tudo o que isso envolve. "Genial", pensei. "Um sufixo pode dizer tudo isso?"
O linguista da Universidade de Brasília Marcos Bagno explica: "O diminutivo em 'inho' e 'inha', além de indicar o tamanho pequeno de algo, traz uma sensação de bondade e afeição - muito característicos do espírito brasileiro".

A advogada Suzana Vaz, do Rio de Janeiro, é uma das muitas brasileiras que adoram usar diminutivos. Antes de falarmos deste hábito linguístico, ela admitiu que nunca tinha realmente notado o quanto ela os usava. E explicou que "pessoas doces geralmente falam assim".

"Então, quer dizer que você é doce ou que os brasileiros são em geral?", perguntei.

"Os brasileiros são mais calorosos, amorosos. Eles gostam de contato, do corpo a corpo. Eles são vivazes. Falar no diminutivo é uma forma de carinho na maior parte do tempo, é a suavidade na fala ", disse ela.

ESPERAR UM MINUTINHO É UMA ETERNIDADE


O engraçado dos diminutivos no Brasil é que eles muitas vezes suavizam tanto o significado das palavras que acabam dando a elas um sentido oposto.

Como quando minha namorada brasileira me pediu para "esperar só um minutinho" enquanto ela se arrumava. Depois de esperar mais 15 desses alegados pequenos minutos, perguntei como ela poderia dizer um "minuto" como "um minutinho" com a consciência tranquila.

"Mas isso faz com que esses minutos passem mais rápido", ela me assegurou com um sorriso amoroso, o diminutivo saindo de sua língua como se pudesse dobrar o tecido do espaço e do próprio tempo.

Da mesma forma, uma vez fui convidado para uma festa em uma "casinha". Algum tempo depois, meu Uber estacionava em frente a uma mansão de quatro andares com uma piscina.

"Bela 'casinha'", eu disse ao dono. "Ah, sim", ele riu. "Isso não significa que a casa é pequena, significa que é um lugar aconchegante onde você deve se sentir confortável e bem-vindo."

E no verdadeiro estilo brasileiro, em meio a uma noite de risadas e dança com um bando de estranhos, me senti em casa.

E apesar do que eu disse anteriormente, a chamada "cervejinha" normalmente se transforma em uma mesa cheia de garrafas vazias no fim da noite.

Com exemplos como esses se acumulando, comecei a entender o fato de que usar diminutivos no Brasil pode ser tanto uma maneira divertida de falar quanto literal.

O professor de português Jean Fonseca, da escola de idiomas Caminhos, nota que há casos de diminutivos que se transformaram em outras palavras.

Camisa é a palavra para a peça de roupa em português, então, camisinha naturalmente levaria você a acreditar que é uma camisa menor. Errado. No Brasil, camisinha é, na verdade, o nome popular do preservativo para o sexo. "[O nome camisinha] foi usado como uma estratégia para popularizar o preservativo entre as pessoas", fala Fonseca.

"O nome original de 'preservativo' foi apelidado de 'camisa de Vênus' por causa da deusa romana do amor. E aí se tornou 'camisinha'."

PODER DE MUDAR AS COISAS


Mas os diminutivos no Brasil também têm seu lado subversivo. Tal é o seu poder que eles podem fazer algo ruim soar como algo bom, algo rude soar como algo agradável e algo chato soar como algo divertido.
Em nenhum lugar eu notei brasileiros tirarem mais proveito disso do que com apelidos.

Descobri isso quando visitei a pequena cidade costeira de Rio das Ostras, a algumas horas de carro do Rio. É um lugar onde gringos loiros como eu não são tão comuns, me transformando um pouco em uma novidade.

Enquanto conversava com uma moradora local sob as árvores frondosas de um quiosque à beira-mar devorando pastéis de carne deliciosamente crocantes, ela disse que sempre quis conhecer seu próprio Gasparzinho. "Um o quê?", perguntei, incapaz de decifrar prontamente esse diminutivo.

Ela pegou o celular, foi até as imagens do Google e tirou uma foto de Gasparznho, o fantasma do desenho infantil. Eu comecei a rir.

Ser chamado de branco fantasmagórico pode não ser o maior elogio para um australiano, mas era mais fácil aceitar isso quando falado dessa maneira.

Diminutivos também podem ser pejorativos, dependendo do nível de maldade na língua.

Como o linguista Bagno me disse: "Também pode ser uma maneira de menosprezar uma pessoa", observando que os alunos se referem a um professor de quem não gostam como "professorzinho".

Os brasileiros também usam diminutivos para se safar, como uma maneira indireta de dizer algo não totalmente lisonjeiro.

O exemplo mais famoso disso é o bonitinho/a. No começo, imaginei que isso era um elogio e, dependendo da situação, pode mesmo ser. Mas no léxico brasileiro também é transformado para se referir a alguém que talvez não seja o mais bonito da sala, mas que tenha seu próprio charme.

Pode ser o jeito que uma mulher diz "ele é um cara legal, mas eu não estou interessada", ou "bonitinho, mas mais como irmão".

Um dos escritores contemporâneos mais famosos do Brasil, Luís Fernando Veríssimo, resumiu toda essa situação confusa em seu ensaio "Diminutivos", quando escreveu sobre a "obsessão de seu país de reduzir tudo à menor dimensão, seja café, cinema ou vida".

"O diminutivo é uma maneira afetuosa e cautelosa de usar a linguagem. Carinhoso porque costumamos usá-lo para designar o que é agradável, aquelas coisas tão afáveis que se deixam diminuir sem perder o sentido. E cauteloso porque também o usamos para desarmar certas palavras que, em sua forma original, são muito ameaçadoras", escreveu.

O que eu aprendi durante o meu tempo no Brasil é que você não pode levar esses diminutivos ao pé da letra, literalmente, mas deve usá-los à vontade.

Quando faz isso, está realmente no caminho certo para falar como um brasileiro.

E se você estiver no Brasil procurando praticar esse tipo de conversinha fofa, mas complicada, lembre-se do primeiro passo: peça a eles para fazerem isso com uma cervejinha. Praticamente ninguém no Brasil dirá não a isso.

Lost in Translation é uma série da BBC Travel que explora encontros com idiomas e como eles são refletidos em um lugar, em pessoas e na cultura.


BBC News Brasil
 
Eu amo o uso do diminutivo porque eu sou mineira, uai. As más línguas diriam que eu amo o uso do diminutivo porque sou fofa, mas isso não é verdade. Acho fascinante o teor polifônico dos diminutivos.

Tudo é questão de contexto, né, gente? Os usos que fazemos dos vocábulos só podem ser analisados se considerarmos os pormenores da enunciação. A tonalidade, por exemplo, é muito importante para que se possa perceber a intencionalidade do uso de certas palavras. Quando se trata da escrita é necessário lançar mão de recursos que possam emular uma situação oral de comunicação, para que a tonalidade pretendida seja compreendida.

Há alguns usos relativamente canônicos. Via de regra, ninguém usa "queridinha" sem um tom de deboche. Por outro lado, quando se trata de nome próprio, usa-se o diminutivo de modo carinhoso. Todavia, os modos genéricos de se referir às pessoas, como "fulaninho", "fulaninha" e por aí vai, já nasceram sob a vigência do deboche.

No mineirês, cafezim e queijim é tudo sinônimo de aconchego. A gente também gosta de falar em ajeitar o cantinho (sinônimo de casa).
 
Última edição:
Olha só quem está desenterrando meus tópicos sem ser o Ilma ou o Cálion (ou ainda mais o seu alter ego em forma de Ditongo)? :lol:
 
Mas seria uma heresia não ter um post meu, aqui. Eu amo diminutivos!
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.404,79
Termina em:
Back
Topo