Muito interessante essa questão, que envolve a noção de legitimidade do poder constituído.
Pelas narrativas de Tolkien, percebemos que a estabilidade política é generalizada no tempo e no espaço, com algumas exceções elencadas pelo Elring.
Somente o apego à tradição poderia ser elencado como fator de estabilidade de um regime, mesmo quando este enfrenta contextos críticos?
E se avançarmos essa questão, situando-a no âmbito de uma temporalidade histórica (ou, para ser mais preciso, no que o historiador François Hartog chamaria de Regime de Historicidade).
Cada sociedade em uma dada época possui formas próximas de se relacionar com seu passado e futuro, ou, em outras palavras, formas dialéticas de elaborar sua experiência e projetar suas expectativas. Essa relação com passado e futuro orienta a própria ação dos sujeitos num dado presente.
O apego à tradição e a construção da legitimidade sobre esta aponta para um hiper-dimensionamento da experiência passada, apontando para uma idéia de um futuro qualitativamente semelhante ao passado. Algo como a Historia Magistra Vitae, teorizada pelo historiador alemão Koselleck. Ocorre que essa forma de temporalidade pode ser traduzida em um certo fatalismo, cristalizado na valorização dos costumes e da tradição.
Um fator que reforçaria essa idéia de um Regime de Historicidade baseado em um hiper-dimensionamento da experiência passada seria o fato de que a noção de "progresso" parece (ao menos pela minha leitura) estranha às sociedades descritas por Tolkien.