É que ao apresentar aquela hipótese, Dunkerson acaba por se afastar da proposta de uma discussão equilibrada e assume uma inclinação pró-asas. Nenhum problema com a opção em si, apenas destoou do resto do artigo.
Na verdade, aí a ironia é que o Conrad Dunkerson, apesar de ser um autor "pró-asas" ( em termos de estética, não,necessariamente, em termos de considerar viável o conceito no cânon tal como ele está, exatamente a minha posição, BTW),quebrou
altos paus durante anos com o Michael Martinez (pró-asas radical) por causa disso em Newsgroups e até em página de discussão da Wikipédia em inglês. E o ensaio que ele fez nasceu dessas discussões e dos argumentos e citações feitos nelas. Isso, então, ( o fato dele não omitir argumentos nem pró e nem contra) é até testemunho da imparcialidade dele e não um comprometimento dela , qualquer que seja a conclusão pessoal que ele sugira no fim do texto..
E, como vc mesmo sabe, a adição tardia de expressões como flight, winged speed, adicionada depois das "asas" terem aparecido no Senhor dos Anéis, o que é altamente relevante, sugere mesmo a conclusão que o Conrad está tendo.
Por mais imparcial que alguém possa ser entre teorias porfiantes, se vc vai mencionar fatos e sugerir explicações e possíveis conclusões, vc tem que tomar uma determinada posição no fim de um texto, mesmo que isso não implique em dizer ( como alguns fazem, caso do Martinez que é pró-asas e de muitos fãs brazucas , que são contra-asas igualmente radicais) que esse
tem que ser o único entendimento.
Os brasileiros radicais do partido "anti-asas" chegam a chamar outras pessoas de burras pq acham que o motivo da discordância da opinião é o fato das outras não sacarem os conceitos de símile e metáfora, o que mostra, por si só, que elas mesmas não estão tão a par da complexidade da questão como presumem estar. Ou seja, cometem o mesmo erro do Martinez pro lado oposto.
E isso é mais um ponto pro Dunkerson. Pra ser mais preciso, o Conrad Dunkerson é contrário às interpretações literais de todas as passagens envolvidas mas, justamente por isso, foi, tb ,o primeiro a reconhecer, de forma bem feita, a plausibilidade dos dois entendimentos.
De qualquer maneira , pra mim, ficou claro que ele abriu um aparte no fim do artigo pra dar uma
opinião pessoal conciliatória entre os dois extremos pq parece que essa era mesmo a posição do Tolkien ( o Tolkien nunca poderia ter deixado de perceber que a linguagem que ele usava pra descrever o Balrog estava dando margem a dupla interpretação. Acho muitissimo difícil que isso não tenha sido intencional). E isso tem tudo a ver com o método de Tolkien em muita coisa .
Como o ensaio da Ungoliant deve ter mostrado, nesse, como em muitos outros tópicos, Tolkien é tremendamente chegado em
síntese dialética entre conceitos, a princípio, díspares: Bem e Mal, Livre-Arbítrio e Predestinação, Feminismo x Machismo, Monarquia x Democracia, Isolacionismo x Expansionismo, Alegoria x Analogia. O mesmo tipo de raciocínio é o que parece mais apropriado pra se formar conclusões sobre o dilema das asas.
Inclusive, como as pessoas do tópico aqui chegaram a perceber , coisa que, eu posso atestar, é rara na Internet (um bom sinal), é perfeitamente possível que houvesse Balrogs COM e SEM asas.E é perfeitamente possível que um balrog que não tivesse asas antes pudesse ter passado a ter depois. Tb é possível que todos tivessem mas eles houvessem perdido a capacidade de voar por efeito colateral do processo descrito na nota 5 do Osanwë Kenta ( onde o fána virava hröa ,gerando corpo mais material e "sólido", e , por isso , mais pesado,vide a diferença de peso que Gwaihir citou entre Gandalf , o Branco e o Cinzento) e/ou por dano sofrido nessa forma depois que ela se tornou "hábito costumeiro" ficando mais vulnerável.
Sauron, inclusive, não teve que se contentar em recriar seu fána na Terceira Era SEM o dedo que foi cortado por Isildur junto com o Anel? Aí Tolkien demonstra que certas lesões sofridas no fána que virou "morada habitual" não podem ser reparadas nem com a criação de um fána inteiramente novo.Ele pode ter que "herdar" o ferimento ou mutilação recebida previamente, como se o próprio espírito ficasse traumatizado com o aleijão, mais ou menos como a "dor fantasma" de membros amputados que, nos maiar, parece virar um membro ou apêndice permanentemente lesado ou amputado.
O Tolkien nunca disse, explicitamente, que isso aconteceu com Sauron, mas a evidência da cronologia sugere que sim, uma vez que a perda do dedo foi na forma material anterior destruída no fim da Segunda Era, mas o dígito faltoso ainda estava presente no corpo de Sauron que Gollum viu quando foi preso na Torre Negra no fim da Terceira Era.
[ame]http://en.wikipedia.org/wiki/Phantom_limb[/ame]
No meio de tantas possibilidades essa disputa entre Pró-Asas x Anti-asas radicais vira pura puerilidade e "dogmatismo sem sentido" uma coisa contra a qual Tolkien tanto lutou na sua obra, tanto como fiilólogo e teórico das Letras quanto como escritor de literatura e ficção.