Não chega a ser um assombro ler que os membros do júri do Nobel, em 1961 esnobaram J.R.R. Tolkien. Me parece que o verbo esnobar não cabe no caso, por sua forte carga pejorativa. O que encontro nos jornais, e onde mais encontraria? é que CS Lewis tentou indicar seu colega ao Prêmio Nobel de Literatura, provocando reação contrária dos outros membros do júri.
razão apresentada, “o resultado não se comparava às ficções de boa qualidade”, não me parece fora de propósito, muito menos ofensivo. Quando alguém resolve escrever, precisa fazer algumas opções. E a propósito transcrevo trecho encontrado no facebook de Matheus Arcaro: A alta literatura faz o leitor tropeçar. E não é todo mundo que está preparado para cair. Por isso os best sellers são best sellers: porque dizem o que o leitor espera. O leitor menos preparado chama isso de “identificação” com a obra. “Puxa vida, este autor diz exatamente o que eu penso.” Não percebe que o prazer da leitura é justamente “fechar o círculo”. Recusar alguém sob a alegação de pouca qualidade não me parece que seja esnobar.
Ora, não há como negar que em literatura se têm duas categorias básicas: alta literatura e literatura digestiva. A primeira é arte; a segunda entretenimento. A primeira vende pouco, pois são poucos seus leitores; a segunda tem um caráter marcadamente comercial e consegue atingir o grande público. Não faço aqui apologia nem de uma nem de outra. Isso é apenas juízo de realidade, não de valor.
O júri do Prêmio Nobel pode muitas vezes ser questionado, como aconteceu no caso de Günter Grass, acusado de ligações com os nazistas em sua juventude. Alega-se, também, que o júri tem um viés político, conferindo o prêmio de acordo com tal critério. Tudo isso pode ser verdade, mas o que não se pode negar é que o júri esteve desde o início do prêmio preocupado com a “boa qualidade”, como alegou o júri em 1961. Ser bem ou mal vendido nunca entrou na cogitação desses senhores.
Aceito um autor da chamada literatura digestiva, isto é, de entretenimento, não só o futuro do prêmio estaria comprometido, como todo seu passado. Estaria esfacelado o prestígio daqueles autores que já foram agraciados pelo prêmio bem como daqueles que a ele ainda farão jus.
Caso semelhante aconteceu com nossa Academia Brasileira de Letras. A partir do momento em que Getúlio Vargas, General Lira Tavares, Roberto Marinho, e muitos outros de nomes bem conhecidos, conseguiram assento em nossa academia, até Machado de Assis foi arranhado em seu prestígio. O que se pode pensar num caso desses? Que o sodalício não imortaliza ninguém, isso é uma balela, e além disso, que nele tomam assento quaisquer pessoas que por prestígio consigam eleger-se. E o prestígio, meus amigos, sabe-se lá por que meios é obtido.