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"Por que quadrinhos nacionais não vendem?"

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Excluído a pedido
Oi, gente! Que tal dar uma lidinha neste texto que eu peguei no site da Nona Arte? è interessante! Dêem uma lidinha...

Quadrinhos nacionais não vendem?

Por André Diniz (07/03/2002)

Nos últimos dias, fui convidado pelo amigo Pablo "Ajax" para acrescentar minha opinião em um debate num fórum sobre HQs, no qual se discutia a questão da vendagem dos quadrinhos nacionais.

Acabei escrevendo mais do que o necessário, e achei que seria interessante estender esta discussão além do fórum. Parte do texto a seguir contém comentários que inseri por lá. A maior parte, porém, foi escrita aqui, para esta coluna. Como sempre, depois quero saber a sua opinião! Basta me mandar um e-mail. Só peço desculpas caso demore um pouco para responder a todas as mensagens, mas sei que terão paciência comigo...

Então, vamos lá: por que HQs nacionais vendem pouco? Começarei a escrever partindo do princípio de que isso é um fato (mas lembremos que essa afirmação pode ser contestada, se não for limitada unicamente às bancas de jornal. A Front, mesmo com preço na casa dos vinte reais, já lançou cinco edições e criou seu público, só para dar um exemplo).

Se houvesse uma equação matemática para resolver essa questão, estaria tudo OK, mas a coisa é bem mais complexa... Talvez o maior trunfo que o quadrinho estrangeiro que chega aqui tenha, e que uma HQ nacional não possui, é que os importados já vem como uma fórmula de sucesso comprovada. Lá também há inúmeros títulos que fracassam, mas estes, ninguém vai trazer pra cá. Por isso, tem-se a impressão de que tudo que é estrangeiro vende. No entanto, mesmo com essa bagagem, vários também naufragam aqui.

Outro ponto é a disposição de autores e editoras apostarem em uma publicação. A Veja deu prejuízo nos seus dez primeiros anos, e, mesmo assim, a Editora Abril tocou a publicação em frente. Por que, então, uma edição de HQ com personagens e autores desconhecidos do grande público precisa dar lucro já no número 1, sem contar com anunciantes ou com propaganda ostensiva?

Por fim, nós, autores, também temos grande parte dessa culpa, pois a maioria não tem uma postura profissional, não procura pensar seriamente se há mesmo um porquê de se lançar essa HQ ou se ela é apenas "mais uma". E são poucos os que estão abertos a ouvir críticas e sugestões - que não devem ser toleradas, mas sim exigidas dos leitores.

Se você faz uma crítica, é porque tem preconceito. Se o autor leva uma HQ sua para um grupo como o Front, por exemplo, e tem seu trabalho recusado, a desculpa é que lá é "panelinha". Essas posturas infantis corroem o "meio" como ácido, e dificilmente alguma coisa vai mudar enquanto isso prevalecer.

Também tem ainda aquela lógica simplista que diz que se X-Men faz sucesso, então vou criar o meu próprio grupo mutante que vai vender bem.

Hoje, um consenso entre os empresários de todos os setores é a idéia de que você deve apostar em nichos de mercado, e não querer abraçar o mundo todo de uma vez. Um exemplo: as lojas de CD de rua estão perdendo feio a concorrência para as Lojas Americanas e outras que vendem em shoppings.

Se eu fosse abrir amanhã uma nova loja numa rua do centro, esta teria muito mais chance de êxito, sefosse focada num público específico, tipo uma loja especializada em bossa-nova ou em world music.

Da mesma forma, os cinemas de rua estão acabando todos (a maior parte vira igreja). Mas, aqui no Rio, o grupo Estação é o único que, mesmo sem ter cinemas em shoppings, está cada vez maior. Isso porque exibe filmes que fogem do "circuitão". No geral, são filmes europeus, latinos, americanos independentes e reprises de clássicos, de Buñuel a Fellini.

É claro que o número de pessoas que curte esse tipo de filme é bem menor, mas eles formaram um público fiel, e estão aumentando cada vez mais o interesse do espectador comum em conhecer um tipo novo de filme. Mas, se a sua linha fosse exibir Homem-Aranha e 007, dariam com os burros n'água, pois o espectador desse tipo de filme vai vê-lo no shopping, que tem tela maior, som surround e vários tipos de pipoca diferentes.

Esse conceito já está sendo aplicado aos quadrinhos, e um bom exemplo é a Via Lettera, que já deve estar completando aí uns cinco anos de vida, com gás para vários outros.

Para o assunto não se estender demais, podemos resumir aqui as principais (creio eu) posturas, tanto de autores como de editores, que encobrem o mercado nacional:

1) Não se aprende com os erros

Anos e anos passam-se e vemos os mesmos erros sendo cometidos por editoras iniciantes e até mesmo por algumas já veteranas. A insistência num mix de autores, sem qualquer critério editorial, talvez seja o mais clássico. Juntam-se tiras, quadrinho escatológico, uma HQ de super-herói e outra estilo mangá, tudo no mesmo título. Acredita-se que, para ter uma revista, basta juntar um monte de páginas.

O Ota (Nota do UHQ: editora da revista MAD) já mostrou por A + B como se juntam HQs de vários autores numa mesma linha editorial. Mas, infelizmente, sua lição foi pouco assimilada.

Mas há outros erros: a megalomania (o autor que já quer começar publicando sua minissérie colorida em seis edições, tipo "quadrinho de autor"), o descaso com a divulgação, a aposta em lucro no primeiro número. Entre vários outros...

2) O uso de "escudos"

Poucos são os autores que ouvem uma crítica e refletem sobre ela. Em sua "defesa", usam aquele leque de argumentos que todos conhecem: "é preconceito", "é panelinha", "você é que não entendeu a história".

O mais engraçado é que já vi autores pedirem opiniões sobre seu trabalho e rebaterem com um desses "argumentos", diante de uma crítica. Essas pessoas, enquanto agirem desta forma, estarão estagnados para sempre.

3) Repetição de fórmulas gastas

Quantas vezes você viu uma revista mix com capa estilo Heavy Metal? Já perdeu a conta? Acho que deu para entender do que estou falando...

4) Falta de ousadia

Desnecessário citar a cada comentário que há honrosas exceções, e o mesmo se repete neste caso. Mas o que predomina é uma visão conservadora e retrógrada, segundo a qual, se uma HQ tem algo que não seja exatamente o arroz-com-feijão do que já se espera de uma HQ, ela não é vendável.

Se a HQ é infantil, tem que ser estilo turma da Mônica. Já para o público mais velho, pode-se criar à vontade, desde que se obedeça fielmente a uma destas escolas: Marvel, Vertigo, mangá ou RPG. Tirando Holy Avenger - que está entre as honrosas exceções deste tópico -, onde estão as revistas campeãs de vendas que justifiquem esta limitação?

5 - Péssima relação entre autores e editoras

Este é um problema editorial como um todo, que não se restringe aos quadrinhos. Mas, certamente, mesmo não sendo uma questão exclusiva, a produção de HQs acaba muito prejudicada por isso.

Falo mais pelo que ouço, pois nunca editei meus quadrinhos por outra editora que não fosse a minha (não que me recuse, mas apenas não aconteceu ainda). Mas, em outras áreas (como informática), 90% dos meus trabalhos para outras editoras terminaram com ameaça de processo a editores inescrupulosos, que encomendam o trabalho, combinam preço, mas depois não querem pagar.

E nas HQs, isso não muda: o que não faltam são relatos sobre editores que prometem e não pagam, que adulteram histórias sem a consulta ao autor, que somem com originais... Só que os autores também não são santos. Prazo, por exemplo, não é uma palavra ainda muito assimilada pela maioria...

Ative-me aqui a comentar os obstáculos que estão ao alcance dos editores e autores de serem mudados. Há outros problemas, como o fato de ser mais caro para uma editora pagar um artista nacional do que comprar uma HQ estrangeira pronta. Este é um tipo de questão que continuará existindo e dificilmente será encontrada uma fórmula para driblá-la. Então, que façamos valer a pena este valor a mais a ser pago. Por isso, nós podemos lutar.

Bem, a coluna terminou. Se quiser, pode parar de ler aqui mesmo. Não inseri comentários sobre a Nona Arte acima, pois seria ridículo, como se estivesse me colocando como um modelo a ser seguido.

Mas, para os leitores mais curiosos, posso comentar aqui como tento me posicionar na prática sobre estas questões (mas se a Nona Arte está ou não conseguindo fugir de fórmulas prontas, aí é o público que deve avaliar, não eu). Nunca pensei em ter lucro imediato, mas sim em conquistar um público.

No caso da Nona Arte, tenho trabalhado com três linhas diferentes de atuação, que são as edições impressas para venda, as HQs no site e o Informal, que é um jornal para distribuição gratuita. Seria bobeira minha adotar o mesmo critério de seleção para cada um destes veículos, e digo o porquê.

Na edição impressa, a preocupação é a venda e a margem que cada título terá de ser comentado na mídia. Aqui já entra o que comentei sobre nicho: nem todo mundo quer ler HQs alternativas, mas o público que curte é sólido e fiel, e suficiente para dar saída a uma tiragem pequena.

Já os quadrinhos do site não têm a necessidade de venda, pois são gratuitos e estão acessíveis a qualquer internauta. Também não há limitação quanto ao número de páginas ou de títulos. Portanto, o meu critério passa a ser apenas se a história é boa ou não, e se ela se encaixa ou não na linha da editora. Daí, seria bobeira não colocar uma HQ que não venderia em banca, porque não é esse o objetivo. Dessa forma, estaria privando um seleto número de leitores de encontrar um tipo de material que jamais encontraria para venda. E isso conta muitos ponto a favor.

O Informal também tem esse mesmo critério, só que a linha das HQs é mais restrita (o que inclui até mesmo o formato e o aproveitamento da página).

E qual é a minha intenção? Jamais teria cacife para lançar uma revista por vários anos no prejuízo até que ela conquistasse seu público. Estou, com isso, buscando ter essa etapa inicial de outra forma, formando um público sem ter encalhes e mais encalhes de volta, e sem precisar vender horrores no número 1. A resposta, por enquanto está sendo ótima, mas só o tempo dará o resultado final dessa experiência.
 
Puxa! Eu li tudo isso mesmo!!!!! 8O 8O 8O

Gostei, foi uma boa explanação sobre o problema dos quadrinhos nacionais!
Infelizmente, nosso problema (como submundenses) é que queremos sempre que o Brasil publique histórias tão boas quanto as americanas, com desenhos tão bons quanto os de Jim Lee, e isso não é querer demais, porque roteiristas e desenhistas aqui tem. Só que no Brasil o mercado de quadrinho não é levado a sério (o que é algo que nunca vou entender), e estes profissionais morreriam de fome se fossem viver exclusivamente disso. Mas, se não nos esforçarmos para produzir algo e tentar quebrar essa regra maldita, então nunca vamos deixar de ser submundenses.

O negócio é botar tico e teco pra escrever e desenhar, e tentar encontrar nossa própria linguagem, não repetir a velha fórmula ets e mutantes numa eterna briga do bem contra o mal. Afinal, sempre que abraçamos um desafio acabamos por superá-lo e fazer melhor do que o resto do mundo. Foi assim com a literatura, com a música, com o futebol. Então o que há de errado com os quadrinhos, podemos ser melhores que o resto do mundo, nem que seja por amor à arte!
 
Hoje, um consenso entre os empresários de todos os setores é a idéia de que você deve apostar em nichos de mercado, e não querer abraçar o mundo todo de uma vez. Um exemplo: as lojas de CD de rua estão perdendo feio a concorrência para as Lojas Americanas e outras que vendem em shoppings.

Se eu fosse abrir amanhã uma nova loja numa rua do centro, esta teria muito mais chance de êxito, sefosse focada num público específico, tipo uma loja especializada em bossa-nova ou em world music.

Da mesma forma, os cinemas de rua estão acabando todos (a maior parte vira igreja). Mas, aqui no Rio, o grupo Estação é o único que, mesmo sem ter cinemas em shoppings, está cada vez maior. Isso porque exibe filmes que fogem do "circuitão". No geral, são filmes europeus, latinos, americanos independentes e reprises de clássicos, de Buñuel a Fellini.

É claro que o número de pessoas que curte esse tipo de filme é bem menor, mas eles formaram um público fiel, e estão aumentando cada vez mais o interesse do espectador comum em conhecer um tipo novo de filme. Mas, se a sua linha fosse exibir Homem-Aranha e 007, dariam com os burros n'água, pois o espectador desse tipo de filme vai vê-lo no shopping, que tem tela maior, som surround e vários tipos de pipoca diferentes.

Esse conceito já está sendo aplicado aos quadrinhos, e um bom exemplo é a Via Lettera, que já deve estar completando aí uns cinco anos de vida, com gás para vários outros.

Adorei o texto, e separei esse trecho porque nele você cita dois conceitos fundamentais do marketing moderno, que se aplicam a praticamente tudo o que se pretende estabelecer como algo que sobreviva no mercado. Os conceitos de fidelização e posicionamento de marca. O primeiro diz respeito a cultivar clientes/fregueses (é provado que é muito mais barato estabelecer vínculos com antigos clientes do que sempre buscar por novos). O segundo seria o de se orientar para atender a um público específico, um "nicho de mercado" (como foi dito acima), a fim de se tornar um diferencial de qualidade para esse público. Os custos são menores e, competindo por uma fatia menor do mercado, há chances de se estabelecer como líder na mente dessa categoria de consumidor. Melhor agradar alguém que se tenta agradar do que não agradar a ninguém tentando satisfazer todos com um meio termo. :D

Essa rotulação dos quadrinhos por categorias batidas e fórmulas desgastadas também é dose...
 
O problema é que no Brasil o mercado é pequeno, e já há um outro em pleno desenvolvimento (o americano).
Ele está pronto, enquanto nós não conseguimos criar algo coeso, e sim um monte de coisas desconexas.
 
Não são criadas coisas coesas justamente pelo que o texto explana.
Qdo um brasileiro recebe uma critica, ele tende a reclamar dela e procurar desculpas ao inves de aprender com ela e tentar sempre melhorar.

Um outro aspecto muito importante eh que sempre querem ganhar rios de dinheiros logo de cara acham que por copiarem conceitos americanos de forma descarada, ja vão se tornar um baita sucesso.

Alguem acha que qdo se eh lançado um titulo novo americano eles não tem a ciencia de que este pode ter uma vendagem baixa e ate mesmo não render oque eles querem logo de inicio? Eles tem plena conciencia e por isso mantem a revista em circulação por um tempo para terem uma noção do mercado do tipo de aceitção e etc.....

Outra coisa, nosso mercado não eh como o americano e eh fundamental que quem quer publicar quadrinhos entemda isso. Nosso mercado eh mais restrito que o americano e por isso com um certo grau elevado de dificuldades em relação ao outro.

E por fim como foi dito, não se pode abraçar o mundo. Tem-se de ter em mente que tipo de historia vc quer fazer e pra que alvo publico vc vai direcionar tendo isso vc deu um gde passo para publicar sua HQ.

Exemplo de historia direcionada a um publico especifico que por persistencia deu certo: Combo Rangers. Revista direcionada a um publico infantil que não se apegou a um molde pre determinado (leia-se Turma da Monica).
 
Pra mim a característica mais marcante que ele não citou é:
NÃO EXISTEM ROTEIRISTAS DE QUADRINHOS NO BRASIL. Quadrinho sério, pra adultos, não existe roteirista. Tem pra tirinhas, pra revistinhas esporádicas.
 

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