N'liärien disse:
Parisio disse:
"Por terem sido projetados para a imortalidade, sendo entretanto passíveis de destruição do corpo, os elfos reencarnam numa mesma personalidade, e sua memória não se anuvia. Já a personalidade dos homens se extingue com a morte, mas isso não implica que o fëa não possa retornar com uma nova persona, uma nova máscara, um corpo diferente."
Daí, eu pergunto, Parisio, siceramente intrigado: onde tu buscaste esta explicação? Ela é tão impressionante que desejo mais do que tudo descobrir tua fonte de conclusão... Será que está no dito texto que eu citei - e eu cometi o pecado de não perceber?... Acho que não, pois tu mesmo afirmas não tê-lo (ao texto) ainda lido.
Desculpe, mas isto é
opinião de Parísio. Não voltam: esta foi a definição que Tolkien deu para humanos. A única
exceção foi concedida a Beren mas no final ele seguiu todo o resto da galera.
Tudo bem que NÓS temos o espiritismo, allan kardec, teorias de reencarnação, etc., mas achar que Tolkien cogitou aceitar estas outras religiões seria no mínimo estranho. Tomem cuidado para não misturar os achismos e crenças pessoais com o que o Professor disse.
Mas há um paradoxo, no diálogo, Maglor, pois Finrod, ao mesmo tempo em que diz que elfos e humanos são filhos de Eru (e eles o são), salienta a sua diversidade de natureza íntima... Como explicar isto? E, talvez o mais importante: para onde vão os fëar humanos, após a morte, a libertação do mundo?...
Que paradoxo? Irmãos não são necessariamente iguais, nem precisam ter a mesma fisiologia... se fossem iguais, onde um tivesse um problema o outro também teria. Não haveria o ponto de vista diferente para ajudar o irmão a ver o problema sob outro ângulo.
Em termos biológicos: se um organismo falha, o outro se for igual as chances de falhar também são grandes. E por falhar não digo morrer/definhar, mas outros tipos de morte em vida: estagnação, indolência, etc.. (Isto foi trabalhado na raça Espacial nos romances de Asimov.)
Pense, homem! Um universo limitado (arda) e uma pessoa imortal. A curiosidade inata dos elfos, com um número limitado de coisas a ver. SE todos fossem elfos, eles ficariam aborrecidos consigo mesmos, entediados. Vendo a mortalidade dos homens ou se entristecem e se isolam, ou aproveitam o tempo que tem para conviver com eles, oras!
O homem fornece um material diferente. Por não ser eterno, cada nova geração é uma nova surpresa. E por terem tempo limitado, eles não deixam para amanhã o que podem fazer hoje. E vendo a imortalidade dos elfos ou invejam ou se inspiram.
Um completa o outro. Esse é o desejo de todo pai ao ter filhos diferentes. Mesmo que briguem e se matem de vez em quando, um acaba dando mais sabor à vida do outro.
Ninguém sabe para onde vão, e o Professor não quis dizer. E daí está a maravilha: ele também não sabe, ninguém sabe na nossa VIDA REAL! Por que é que Tolkien haveria de dar uma resposta a esta pergunta?
O que pergunto é o seguinte: sabemos que Eru e o Deus da teologia católica têm as mesmas características principais e sabemos que Tolkien fez isto por ser católico.
Ora, o Deus da teologia católica criou todos os sencientes (ou seja: homo sapiens em geral, o que equivaleria a dizer tanto elfos quanto homens, quanto anões) iguais, em essência e em destino (de acordo com o livre-arbítrio). Se Tolkien era católico, por que Eru não fez o mesmo que Deus: elfos e homens com natureza e destinos iguais???
Se fosse fazer Eru ser completamente igual a Deus, pra que escrever uma obra de fantasia?
Primeiro que Tolkien não gostava de alegorias. E até entendo, visto que isto seria uma limitação para o universo que ele emulou. Aí reside a limitação que vejo em Nárnia, que por vezes descamba para catequisação...
Segundo que o intento de Tolkien era montar uma mitologia final, onde todos os elementos das outras seriam vistas na obra dele, dando sentido ao que parece ser uma colcha de retalhos sem ligação uma com a outra (os Valar podem ser o Panteão Grego, o Nórdico, o Egipcio). Os elfos não foram criação da religião católica, e basear apenas na sua própria religião, vamos dizer que eles teriam sido eliminados ou distorcidos (como várias festas pagãs que foram cristianizadas). Voltamos ao problema da alegoria exagerada da própria fé católica.
Terceiro, o grande desafio que motivou Tolkien foi também linguístico. De novo, limitar as coisas a uma fé pessoal, montando um monte de alegorias diminuiria em muito o valor e esforço do Professor em não apenas redefinir estes povos fantásticos, mas em respirar o ar deles. Ou seja, em falar na língua deles, mesmo que tivesse de moldar uma linguagem para eles (a partir dos fósseis linguisticos espalhados pelo mundo)
De qualquer maneira que eu imagine, limitar-se apenas à fé pessoal levaria o Professor a uma armadilha, onde a fantasia propriamente dita estaria condenada necessariamente ao pior problema de autores de fantasia: LIMITAÇÃO. Não é suficiente para um autor de fantasia colocar dragões, elfos, fadas e bruxas para que a estória seja fantástica. Mesmo sendo uma estória clichê bem versus mal, a forma de Tolkien contar a estória não é feijão com arroz, como tantas estórias de "fantasia" (que de fantástico nada tem exceto os personagens que não existem na realidade).
Daí o fato da amizade de Lewis e Tolkien ter esfriado, pois Lewis não compreendeu o quanto Nárnia podia ter sido maior se não fosse essa limitação.
No mais, senhores, repito - respeitosamente - a pergunta: por que Tolkien deu naturezas e destinos diversos a homens e elfos?...
Porque senão seriam todos elfos, ou todos homens. E francamente, ninguém nem pergunta qual o destino dos anões?
