• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

“Por que o senhor atirou em mim?”: a voz dos jovens inocentes mortos pela PM

Neithan

Ele não sabe brincar. Ele é joselito
“Por que o senhor atirou em mim?”: a voz dos jovens inocentes mortos pela PM
As últimas palavras de jovens negros mortos pela Polícia Militar são imortalizadas em página do Facebook


“Quero a minha mãe”, disse Herinaldo Vinicius de Santana, de 11 anos. Provavelmente não foi a primeira vez que o jovem falou essas palavras. Mas foi a última. Em 23 de setembro de 2015 ele foi baleado e morto por policiais militares na comunidade Parque Alegria, no complexo do Cajú, no Rio de Janeiro. Testemunhas disseram que um grupo de PMs patrulhava o local, que conta com uma Unidade Policial Pacificadora, e se assustou quando a criança desceu correndo uma escadaria do bairro. Em seu bolso, 80 centavos para comprar uma bolinha de pingue-pongue. Após receber os disparos, Santana caiu e, segundo testemunhas disse suas últimas palavras: “Quero minha mãe”. Não deu tempo. Quando ela chegou, ele já estava morto. A frase, no entanto, foi imortalizada na página Últimas Palavras de Jovens Negros, criada recentemente no Facebook. O caso de Santana ainda está sob investigação.

“Nossa página tem por objetivo mostrar que esses jovens não eram, e nunca foram enquanto viveram, coisa sem valor”, diz um dos posts, que traça ainda um paralelo entre os métodos violentos da PM de hoje com o dos feitores e capitães-do-mato dos tempos da escravidão no Brasil colônia: “só trocaram o açoites por armas de fogo”. A iniciativa toca em uma antiga ferida do país que ainda está longe de cicatrizar: a maneira como a polícia por vezes age de forma arbitrária e ilegal nos bairros mais pobres. Nas periferias, onde não é necessário ter um mandado de busca e apreensão para entrar na casa de alguém, as balas não são de borracha e muitas vezes levarapenas um tapa na cara é o melhor desfecho para umenquadro.

As frases são acompanhadas pelo nome da vítima, uma breve descrição dos fatos e ahashtag #últimaspalavras. Algumas delas são simples, apenas gemidos ou gritos de dor, o último registro vocal de alguém prestes a morrer. “Mmmm....”, teria dito André Luís Parruda Goulart Siqueira Junior, 17, ao levar um mata-leão de um policial militar no dia 19 de março deste ano. Ele não resistiu e morreu sufocado. A versão oficial é que ele fugiu de uma abordagem da tropa, e precisou ser imobilizado.

“Parece que a sociedade não se toca que existe um recorte racial bem grande nisso, parece que a bala da polícia tem um sensor na ponta que só encontra jovem negro”, afirma Luzia Souza, a professora de História por trás da página. Moradora da periferia da zona leste, ela perdeu um irmão e um primo para a violência. A inspiração para a iniciativa veio de uma série de montagens semelhantes feitas tendo como base asmortes de jovens negros nos Estados Unidos em 2014 e 2015, que deu origem ao movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).

Pense duas vezes antes de atirar em mim. Tenho filhos pequenos para criar

A professora aponta ainda o papel da mídia na “naturalização” da violência policial contra jovens negros. “Você percebe isso nas manchetes. Se é um jovem branco preso com droga, é ‘Estudante preso com droga’. Se é um negro, é ‘Traficante preso com droga”. Segundo Luzia, isso colabora para tornar as mortes de jovens negros “normais”. “É como se eles não tivessem humanidade, profissão, família, futuro...”, explica.

Outras frases da página refletem o espanto de quem foi baleado sem motivo algum por quem deveria ser responsável por sua proteção. “Por que o senhor atirou em mim?”, indagou Douglas Rodrigues, 17, após ser alvejado por um PM em 28 de novembro de 2013, na Vila Medeiros, zona norte de São Paulo. Os policiais foram ao local para atender uma denúncia de “distúrbio da paz”. Quando o soldado Luciano Pinheiro Bispo foi sair da viatura para realizar a abordagem, sua arma disparou. Em nota, a corporação afirmou que “por motivo a esclarecer, houve disparo acidental, que atingiu um adolescente, de 17 anos, no tórax”. A morte de Rodrigues provocou uma série de protestos na região norte da capital, que culminaram com a interdição da rodovia Fernão Dias, três caminhões e seis ônibus queimado.


A morte de Douglas - e suas últimas palavras - deram origem a uma campanha contra a violência policial que se espalhou pelas redes sociais. À época, um grupo de artistas, entre eles o rapper Emicida, o cantor de funk MC Guimé e o dj Kl Jay, dos Racionais MC's, gravou um vídeo para dar visibilidade ao caso.

"Não precisa me matar, senhor...", teria dito Lucas Custódio, 16. Em 29 de maio de 2015 o jovem jogava bola com amigos quando foi abordado por policiais. Algemado, foi levado para um matagal na favela Sucupira, no Grajaú, zona sul de São Paulo, onde foi morto. Em um dos posts, os administradores da página dizem que querem “ecoar as vozes dos mortos para que cheguem a todos que não puderam ouvir naquele momento”. E elas chegam. Como um chute no estômago.

Fonte

_____________

Pior que o comportamento dos policiais, é o de boa parte da população, que simplesmente ignora esses problemas. Essas chacinas. Esses crimes. Arrotam frases de efeito como "bandido bom é bandido morto", que pobre é tudo vagabundo, que a Polícia também morre muito na favela, etc. Como se a morte de policiais por bandidos fosse equiparável ao número de mortos pela policia.

Eu mesmo só criei uma forte empatia quando me mudei para a periferia. Vi a diferença no enquadro. Quando enquadrado no bairro classe média do ABC, foram educados. Na periferia, absurdamente folgados. Mas não apanhei, nem nada pior. Sou branco, ainda que pobre. Mas vi e ouvi relatos de amigos negros que moram ali. Colega meu de trabalho apanhou por não acreditarem que ele era honesto. Após apanhar, ele mostrou a carteira de trabalho, que por sorte estava com ele, e os policiais foram embota. Sem pedir desculpa, claro.

E o pior é não ver muita esperança nessa situação. Cada ano que passa vejo uma polícia mais letal e uma sociedade com mais ódio.
 
Uma coisa que tem me irritado nesses debates sobre a Polícia Militar - na verdade, como tem acontecido em qualquer discussão ultimamente - é que não existe nenhum esforço de empatia para se compreender o outro lado. Quem critica a ação policial truculenta é defensor de bandido e quem toma partido dos policiais é opressor. Se a gente refletir a fundo o que leva à formação de opinião do "adversário", vai acabar chegando a pontos de compreensão, e é daí que pode surgir uma discussão útil que leve até à formação de convencimento.

De qualquer lado que você esteja, se você tiver o mínimo de bom senso, vai admitir que todas essas preocupações são justas: a quantidade inaceitável de inocentes que morrem em ação policial; a quantidade inaceitável de policiais que morrem em ação de bandidos; a necessidade de se tomar medidas para reprimir a ousadia dos criminosos; a necessidade de se tomar medidas para reprimir o excesso das ações policiais. Então o debate passa a ter valor quando a gente começa a discutir as melhores formas para solucioná-los de forma eficaz. O que todo mundo quer é paz, mas o povo se perde escolhendo seu time, troca ofensas, não aprende nada, não conclui nada, nada se traduz em ação política e tudo continua como está.
 
Esse caso da UPP tem mais coisas pra se considerar que se afastam de um julgamento rápido.

Obviamente os policiais tem responsabilidade e obrigação de estar em condições psicológicas de não atirar em civis inocentes desarmados em qualquer circunstância e devem responder pela quebra da conduta e também da lei. Porém em certas cidades não estamos falando de condições normais e controladas, de fronteiras nítidas. Toda vez que vemos num mapa fronteiras nítidas é porque o governo ali foi forte e há um mínimo de administração.

Áreas de disputa, periferias e zonas de guerra não funcionam com a mesma lógica de locais aonde o governo é forte. Os locais de domínio são flutuantes e tensos, as linhas de fronteiras são pontilhadas ao invés de contínuas, são como os rios de regiões áridas que secam durante o verão. Por isso, quando eu penso que o adulto supostamente responsável soltou uma criança para sair correndo igual louco em volta do perímetro de uma base de homens armados enfrentando crime organizado com todos tensos só posso pensar se ela não estava maluco. Áreas de bases são locais delicados e perigosos e o comportamento do cidadão deve ser condizente e respeitoso.

Claro que a mídia atrapalha um bocado também porque cria glamour e ilusão de normalidade em bairros aonde se sobrevive como num campo de refugiados dizendo que favela é "tipo exportação" empurrando na cabeça de pessoas que moram lá que é tudo igual nos outros bairros com única diferença da falta de dinheiro. Mas não é e a vida em áreas violentas é tão cruel (quando não é o próprio inferno) que o raciocínio de quem mora lá fica contaminado e dessensibilizado e vez ou outra o povo baixa a guarda e esquece que aquela área urbana tem pontos críticos aonde estouram crises e imaginam que está normal e a criançada pode brincar solta.
 
E a letalidade dos criminosos?

Um policial morre a cada 6 dias no Brasil.

Mas isso justifica algo? É de se esperar que políciais, treinados fisica e psicologicamente, tenham uma conduta diferente da que vemos atualmente, não? Matar uma criança de 11 anos, outra enforcada por supostamente estar oferecendo resistência, e outra levada até uma região vazia e executada, o que justifica ações como essas?

Uma coisa que tem me irritado nesses debates sobre a Polícia Militar - na verdade, como tem acontecido em qualquer discussão ultimamente - é que não existe nenhum esforço de empatia para se compreender o outro lado. Quem critica a ação policial truculenta é defensor de bandido e quem toma partido dos policiais é opressor. Se a gente refletir a fundo o que leva à formação de opinião do "adversário", vai acabar chegando a pontos de compreensão, e é daí que pode surgir uma discussão útil que leve até à formação de convencimento.

De qualquer lado que você esteja, se você tiver o mínimo de bom senso, vai admitir que todas essas preocupações são justas: a quantidade inaceitável de inocentes que morrem em ação policial; a quantidade inaceitável de policiais que morrem em ação de bandidos; a necessidade de se tomar medidas para reprimir a ousadia dos criminosos; a necessidade de se tomar medidas para reprimir o excesso das ações policiais. Então o debate passa a ter valor quando a gente começa a discutir as melhores formas para solucioná-los de forma eficaz. O que todo mundo quer é paz, mas o povo se perde escolhendo seu time, troca ofensas, não aprende nada, não conclui nada, nada se traduz em ação política e tudo continua como está.

Qual o lado do policial que justifica a execução de tantos menores pobres?

Esse caso da UPP tem mais coisas pra se considerar que se afastam de um julgamento rápido.

Obviamente os policiais tem responsabilidade e obrigação de estar em condições psicológicas de não atirar em civis inocentes desarmados em qualquer circunstância e devem responder pela quebra da conduta e também da lei. Porém em certas cidades não estamos falando de condições normais e controladas, de fronteiras nítidas. Toda vez que vemos num mapa fronteiras nítidas é porque o governo ali foi forte e há um mínimo de administração.

Áreas de disputa, periferias e zonas de guerra não funcionam com a mesma lógica de locais aonde o governo é forte. Os locais de domínio são flutuantes e tensos, as linhas de fronteiras são pontilhadas ao invés de contínuas, são como os rios de regiões áridas que secam durante o verão. Por isso, quando eu penso que o adulto supostamente responsável soltou uma criança para sair correndo igual louco em volta do perímetro de uma base de homens armados enfrentando crime organizado com todos tensos só posso pensar se ela não estava maluco. Áreas de bases são locais delicados e perigosos e o comportamento do cidadão deve ser condizente e respeitoso.

Claro que a mídia atrapalha um bocado também porque cria glamour e ilusão de normalidade em bairros aonde se sobrevive como num campo de refugiados dizendo que favela é "tipo exportação" empurrando na cabeça de pessoas que moram lá que é tudo igual nos outros bairros com única diferença da falta de dinheiro. Mas não é e a vida em áreas violentas é tão cruel (quando não é o próprio inferno) que o raciocínio de quem mora lá fica contaminado e dessensibilizado e vez ou outra o povo baixa a guarda e esquece que aquela área urbana tem pontos críticos aonde estouram crises e imaginam que está normal e a criançada pode brincar solta.

Cara, discordo. Favela tem, na maior parte do tempo, uma rotina tranquila. Aliás vejo mais criança na rua de favela do que em bairro classe média.
 
Cara, discordo. Favela tem, na maior parte do tempo, uma rotina tranquila. Aliás vejo mais criança na rua de favela do que em bairro classe média.

Não, essas áreas não são tranqüilas. As pessoas se esforçam para trabalhar e rir e serem educadas com visitantes para não serem tragadas pela escuridão dos problemas. Dentre muitas coisas as áreas pobres sofrem com falta de vários tipos de espaço e privacidade entre outros fatores que impedem a tranqüilidade (lei e ordem também é um recurso que falta mais em favela que outras áreas). Entrar desavisado numa área carente (até de espaço) e não perceber as disputas internas seria correr o risco de ofender muita gente sem perceber e ir embora sem respeitar o lugar devidamente.

Mas não é só isso, o modo de vida em área conflagrada se autoalimenta da rotina de sofrimento da pobreza que promove dessensibilização. Ver o sofrimento e violência todo dia tem seqüelas na pessoa com estresse pós-traumático e outros problemas. Algumas áreas são linhas e regiões vermelhas temporárias (insegurança em uma parte do dia, principalmente depois que o sol se põe) outras são permanentemente vedadas e perigosas a qualquer hora do dia. E não, não é rotina tranqüila sobreviver a cada segundo com medo de diversos tipos (fome, bandido, falta de energia, água, doença).

Eu tive oportunidade de participar de treinamento simulado de tropas de pacificação da Onu em país pobre (pela habilidade em línguas), que é um trabalho muito parecido com o das UPPs, e eles enfatizam muito que essas áreas possuem locais com a famosa "linha vermelha" que separa grupos opostos que as disputam e que a pessoa tem que ficar esperta para não ficar no meio do fogo cruzado. Eventualmente, quando a situação econômica altera essas pequenas zonas de guerra podem crescer ou diminuir rapidamente (pobres são afetados rapidamente e situações mudam dramaticamente em pouco tempo diferentemente daqui de fora). Como eu disse não podemos usar nosso parâmetro aonde a lei ainda está chegando, é outra lógica, até mesmo a punição do soldado tem que ser proporcional porque se o estado é fraco então a punição também não pode ser tão rígida porque a sociedade vai dividir a punição com o soldado porque é nossa responsabilidade também.
 
Última edição:
Um policial morre a cada 6 dias no Brasil.

Mas isso justifica algo?
Só seis por dia? Não estou fazendo piada. A sensação que temos quando assistimos um noticiário é que a polícia está sendo literalmente caçada. Quando um criminoso descobre que sua vítima é um policial, ele simplesmente a executa.
Bem, não justifica, mas mostra a situação de extrema violência em que vivemos. Sobra para todos, adultos, velhos, crianças. As situações de conflito se multiplicam de tal maneira, que uma hora alguém sob extrema tensão comete um erro, um inocente paga e todos choram.

Eu devo ser uma espécie de raridade... um sujeito que nunca foi assaltado, nunca se viu numa situação de real violência direta. Eu pareço estar meio longe, mesmo morando numa cidade (Santo André) que tem sua quota de violência. Mas toda a vez que ouço que um "suspeito" foi morto durante um assalto, é impossível reprimir um pensamento grudento de satisfação.
É errado eu sei, mas não dá para reprimir.

É de se esperar que políciais, treinados fisica e psicologicamente, tenham uma conduta diferente da que vemos atualmente, não? Matar uma criança de 11 anos, outra enforcada por supostamente estar oferecendo resistência, e outra levada até uma região vazia e executada, o que justifica ações como essas?
Não há treinamento que sustente indefinidamente alguém. Uma hora a tensão, o cansaço, o medo e a frustração criam uma fissura.
Não estou justificando. Estou tentando compreender.
 
A sensação que temos quando assistimos um noticiário é que a polícia está sendo literalmente caçada. Quando um criminoso descobre que sua vítima é um policial, ele simplesmente a executa.
Esse é justamente o problema da nossa imprensa, se um policial morre fazem parecer que houve uma chacina (não que cada um que morre não seja uma vida importante), e quando morre um jovem na periferia (executado por PMs) é só um número. Se você chegasse agora no Brasil e vai assistir datena você iria achar que os criminosos tomaram conta do Brasil.

E não é a mesma coisa um PM matar uma criança ou jovem negro e um policial ser morto por bandidos. O policial tem obrigação de obedecer a lei, essa é a diferença básica, até porque ele se usa do poder que o Estado lhe confere pra soltar sua raiva contra (na maioria dos casos) quem não tem poder nenhum, não tem visibilidade nenhuma na sociedade, quem só é visto como um possível criminoso, mesmo que seja um menino de 10 anos. Essa energia toda que a polícia encontra na hora de violentar um jovem que não poderá resistir, até porque se o fizer o homicídio será chancelado pela imprensa e pela população (afinal ele resistiu, era bandido mesmo), se fosse mesmo direcionada ao combate do crime (essa instituição tal etérea e intangível) seria até defensável, mas não é, até porque a coragem mostrada na hora de agredir com um tapa na cara um jovem franzino que não poderá agredir 5 homens armados e treinados não existe quando o criminoso possui poder de fogo. É clichê, mas um policial que usa de seu poder pra cometer crimes é pior que um bandido, ele não teria coragem de fazer o mesmo sem o Estado a lhe defender (e pior ainda, a população vítima dessa esma violência).
 
Se você chegasse agora no Brasil e vai assistir datena você iria achar que os criminosos tomaram conta do Brasil.
Olha, eu não assisto o Datena, não cheguei hoje ao Brasil e tenho a sensação que os bandidos tomaram conta deste país... e não só os bandidos de terno e gravata.
 
  • Curtir
Reactions: Tek
O problema é um ciclo vicioso.

Quanto mais policial morre, mais eles ficam tensos e com sentimento de vingança. Ai qualquer coisa vira pretexto para matar, seja um cara com um macaco hidráulico na garupa de uma moto, seja uma criança correndo em uma viela da favela. Por outro lado, PMs ganham mau, tem uma das (senão a) mais perigosas profissões do país, trabalham em condições péssimas e, mesmo os que não são corruptos ou violentos, são todos taxados de vilões pelas "classes intelectuais" do país.

Quem paga a conta é realmente a população que vive nas áreas dominadas pelo crime organizado.

Outro problema é a empatia que essas populações pobres costumam ter pelos bandidos "criados na área". Morei numa das ruas de acesso a uma comunidade da Zona Norte aqui do RJ e via cada coisa absurda. Vi um "motoboy" que todos viam que era bandido (até mesmo porque andava voltimeia com fuzil nas costas) ser morto pela PM e a população da área (que sabia que era bandido) saiu pra incendiar carros e saquear lojas em represália. Vi gente que defendia chefão de morro somente porque ele usava algum dinheiro do tráfico para reformar casas da região ou para financiar festas de 15 anos de meninas pobres da comunidade.

Obviamente que mesmo essa empatia não justifica a PM matar ou agredir.
 
  • Curtir
Reactions: Tek
Detesto o povo de outros estados palpitando em como as coisas deveriam ser aqui no RJ. Os caras nem moram aqui e já querem se meter nos nossos assuntos, a polícia militar é algo q cabe a esfera estadual e não federal.

Primeiro têm de falar corretamente Biscoito, e deixar dessa merda de dizer Bolacha, quando vcs fizerem isso vcs podem palpitar nos nossos assuntos.

Enviado de meu LG-D227 usando Tapatalk
 
  • Grr
Reactions: Tek
Na vdd só quem fala de maneira correta Biscoito, e não fica com bronca de querer impor o errado como se fosse o certo(falar Bolacha).

Enviado de meu LG-D227 usando Tapatalk
 
Detesto o povo de outros estados palpitando em como as coisas deveriam ser aqui no RJ. Os caras nem moram aqui e já querem se meter nos nossos assuntos, a polícia militar é algo q cabe a esfera estadual e não federal.

Primeiro têm de falar corretamente Biscoito, e deixar dessa merda de dizer Bolacha, quando vcs fizerem isso vcs podem palpitar nos nossos assuntos.

Enviado de meu LG-D227 usando Tapatalk
PM só existe no Rio?
 
Pior que o comportamento dos policiais, é o de boa parte da população, que simplesmente ignora esses problemas. Essas chacinas. Esses crimes. Arrotam frases de efeito como "bandido bom é bandido morto", que pobre é tudo vagabundo, que a Polícia também morre muito na favela, etc. Como se a morte de policiais por bandidos fosse equiparável ao número de mortos pela policia.

A dinâmica da violência no Brasil não se resume a polícia x bandidos. A maior parte dos homicídios certamente não é de bandidos matando policiais, nem de policiais matando bandidos. É de bandidos matando bandidos e outros civis. E sim, na esmagadora maioria das vezes, pobres. Mas é besteira tentar equiparar em termos absolutos de qualquer forma: policiais possuem treinamento, armamentos e outros equipamentos que, em geral, lhes dão poder de fogo maior do que o dos bandidos. Tanto é que em confrontos diretos com várias mortes, o número de óbitos no lado dos bandidos é quase sempre maior. De qualquer maneira, o que eu quero dizer é que, apesar de existir um problema óbvio na questão de policiais executando bandidos ou suspeitos em condições de simples execução (ou mesmo sendo truculentos desnecessariamente), é sempre preciso atentar para uma série de outras questões. Vou falar brevemente sobre elas mais abaixo.

Se a gente refletir a fundo o que leva à formação de opinião do "adversário", vai acabar chegando a pontos de compreensão, e é daí que pode surgir uma discussão útil que leve até à formação de convencimento

A ideia é essa. Mas, por mais evidente que pareça a princípio, é bem difícil conseguir isso na prática. Bem ou mal, mas é aquela coisa: não somos máquinas perfeitamente racionais, e tirar os antolhos dos nossos vieses, quaisquer que sejam, é um exercício difícil e que deve ser constante. Mas vou deixar a divagação de lado e voltar ao tema:

De qualquer lado que você esteja, se você tiver o mínimo de bom senso, vai admitir que todas essas preocupações são justas: a quantidade inaceitável de inocentes que morrem em ação policial; a quantidade inaceitável de policiais que morrem em ação de bandidos; a necessidade de se tomar medidas para reprimir a ousadia dos criminosos; a necessidade de se tomar medidas para reprimir o excesso das ações policiais. Então o debate passa a ter valor quando a gente começa a discutir as melhores formas para solucioná-los de forma eficaz. O que todo mundo quer é paz, mas o povo se perde escolhendo seu time, troca ofensas, não aprende nada, não conclui nada, nada se traduz em ação política e tudo continua como está.

Exato. São mecanismos de causa e efeito múltiplos, com uma série de problemas que são interdependentes em certo grau, e que não devem ser pensados em termos isolados se nossa intenção é visualizar panoramicamente a questão.

Por exemplo: há efeitos de preconceito/discriminação? Há. Direta e indiretamente. Tanto na ação do policial que trata diferentemente negros e brancos quanto no próprio fato de que negros são maioria entre a população marginalizada, o que, por consequência, tende a colocá-los em situações "de risco" muito maiores. Agora vamos inserir esses dados em um modelo mental: qual é a probabilidade de um policial encontrar um traficante negro numa abordagem em um morro/favela qualquer? Vamos comparar com a mesma probabilidade relativa a um branco. Intuitivamente um policial normal vai assimilar essas informações, num modelo meio bayesiano mesmo. Se tratando (o policial) de alguém que em geral não tem elevado nível educacional, que arrisca sua vida por um salário miserável e está constantemente agindo sob pressão, não é de se admirar que essas informações se traduzam, na prática cotidiana, em um preconceito na hora da ação. Não quero com isso insentá-los de culpa. Mas se queremos pensar o problema, precisamos realmente pensar nas várias dimensões e ramificações do mesmo.

Existem ainda várias outros lados para os quais podemos olhar e pensar a respeito. Alguns exemplos:
  • Tráfico de drogas: um dos maiores - senão o maior - fator que se associa com uma criminalidade tão obscena. E aí entramos no velho debate sobre liberalização de drogas. Liberalizar pode ajudar?
  • Estrutura familiar: crianças que crescem em famílias desestruturadas possuem uma propensão absurdamente maior a enveradar pelo caminho do crime. E por famílias desestruturadas podemos caracterizar: aquelas onde não há presença de pai e/ou mãe, onde estes se envolvem com o crime, ou não possuem emprego e não conseguem prover sustento adequado, ou são dependentes químicos, ou são violentos uns com os outros e/ou com os filhos, ou não dão carinho e proteção para estes, etc. E até mesmo a legalidade do aborto pode se relacionar com isso (tem um exemplo no Freakonomics). Quais medidas podem ser pensadas para superar ou minimizar esses problemas?
  • Acesso a emprego e educação: fatores que permitam ao indivíduo vislumbrar outros caminhos. Que condições podem facilitar o acesso a ambos?
  • Legalidade do porte da arma: outro aspecto bastante polêmico, mas que pode estar relacionado em alguma dimensão com tudo isso. Devemos legalizar? Sob quais condições?
Enfim, só alguns pontos, e só pra nos lembrarmos que - embora às vezes a emoção fale mais alto - precisamos admitir que esse é um problema complexo, que tipicamente não tem soluções únicas ou simplistas. Logo, apesar de alguns resultados nos deixarem mais indignados do que outros - seja por seu impactos midiáticos ou pelo quanto se aproximam da realidade de cada um -, não podemos perder de vista essa complexidade, e termos em mente que respostas inflamadas dificilmente nos levarão a algum lugar. 50 mil homicídios em um ano deixam qualquer um indignado. Mas na hora de pensar a violência, estar indignado não basta - e pode até atrapalhar.

Mas isso justifica algo? É de se esperar que políciais, treinados fisica e psicologicamente, tenham uma conduta diferente da que vemos atualmente, não? Matar uma criança de 11 anos, outra enforcada por supostamente estar oferecendo resistência, e outra levada até uma região vazia e executada, o que justifica ações como essas?

Nada justifica. Mas algumas coisas podem nos ajudar a explicar isso.

Infelizmente o treinamento da polícia não é tão adequado assim. Aí também entra a questão - amplamente discutida - da militarização da polícia, e do quanto isso pode afetar o trato da mesma com a sociedade em geral. Mas não quero entrar nesse ponto. Quero apenas mencionar outros aspectos menos polêmicos. Um deles é o que acabei de falar: o treinamento não é tão adequado. Mas existem outros. O salário é baixo, sobretudo se considerarmos que a pessoa está arriscando sua vida todos os dias e está lidando com situações de tensão bastante alta, que às vezes podem anular até mesmo o melhor preparo psicológico. Nessas condições, quem tende a procurar emprego de policial militar? Quem já é meio fodido na vida (por "fodido" digo: baixo nível educacional, sem boas perspectivas de empregabilidade em outros setores, etc.) ou quem tem senso de justiceiro. Ambas as categorias são muito problemáticas, naturalmente, e nos afastam daquilo que desejamos se queremos uma polícia melhor, mais preparada para lidar com aquilo que a realidade brasileira demanda. Agora, para ver e entender essas coisas precisamos do que o Eriadan falou: empatia.
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo