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Por que homens não leem ficção?

Mavericco

nequid nimis
Usuário Premium
Boa discussão:


Alex and Finn* both feel compelled to make ‘good’ use of their time – ‘good’ being a capitalist innuendo for ‘productive’. In our increasingly time-poor, grind-obsessed hellscape — 7-9 gym, 9-5 work, and 5-9 side hustle — coming up for air from being a cog and curling up with a novel just because you want to is a borderline sensual pleasure. “Our culture makes a fetish of practical outcomes, and perhaps because the outcomes of fiction-reading don’t patently lead to higher wages, it seems less worthy,” says Suzanne Keen, Professor of English at Scripps College.
 
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Teu cu


Agora, falando sério. Fico curioso pra saber qual tratamento estatístico foi tomado como base pra essa discussão.
Se for pegar o tipo de literatura que mais viceja por aí - Collin Hoover dominando as listas de mais vendidos, os young adults pra adolescentes com roteiros cada vez mais mirando o público feminino, e os "Na cama com o CEO" ou "O melhor amigo do meu marido" pras mulheres de terceira idade - é fácil entender o porque homens não lêem.
Gostaria de ver uma análise dessas levando em conta literatura mais clássica, ou menos nichada. Será que a diferença ainda seria assim tão grande?
 
Boa discussão:

Li (com a ajuda do google tradutor) esse trem, ontem, porque o link apareceu no Twitter, e até pensei em trazer para o fórum, mas aí eu teria de falar: "meninos, vocês fazem parte da bolha de homis que leem ficção, não é sobre vocês". E teria de fazer post sério, coisa que não se deve fazer nas férias, né, gente?

Eu acho que o artigo, para os homis do fórum, serve mais como uma brecha para que eles possam tentar visualizar um ambiente do qual não participam do que para oferecer algo com o que se identificar. E, nisso, acredito que a contextualização histórica da ficção como distração reservada às mulheres ajuda-nos a entender como os "mentores" do masculinismo se utilizam disso para desmerecerem a prática da leitura desses livros.

Repito: não é a realidade da bolha que habita o Literatura do fórum Valinor, o que não significa que não seja a realidade na qual boa parte dos homens está inserida e, vou além, na qual boa parte dos meninos e das meninas são socializados. E, aqui, entra um dos pontos de que mais gostei do artigo (mas que, claro, pode ser aprofundado); há que se fazer a associação entre a rejeição masculina aos livros de ficção e ao Capitalismo, uma vez que este visa ao lucro e, por conseguinte, é sempre utilitarista.

Sendo assim, se tempo é dinheiro, por que perder tempo lendo ficção se você pode ler livros sobre finanças e outras coisas que podem te trazer benefícios imediatos? O Capitalismo não compreende o ser humano em sua totalidade, e muito menos se importa com o seu bem-estar. Logo, quaisquer benefícios que a leitura de ficção possam propiciar ao indivíduo são irrelevantes para este sistema.

Na perspectiva da intersecção, que o artigo trouxe à baila, é impossível não mencionar que, novamente, fora da nossa bolha (agora, eu me coloco na bolha, meninos), quanto menor o poder aquisitivo e quanto mais retinta a pessoa (recorte de classe, gênero e raça é sempre importante, não para separar, mas para compreender e fortalecer a luta), mais vulnerável ela fica aos discursos alienantes. Sejam esses discursos de líderes religiosos (que fazem do "reino" um empreendimento; que adotam uma perspectiva bastante excludente para mulheres), de masculinistas, coachs, whatever.

Voltemos ao fato de que fomos/somos socializados de uma maneira extremamente machista, que prega que a ficção é "coisa de mulher e que homem não perde tempo com isso, porque tem mais o que fazer". O homi é pobre, ferrado, fodido. Aí um cara fala que ele precisa ler o livro "Como se tornar um empreendedor de sucesso". Soma-se à isso eni propagandas dos meios de comunicação para "empreender", porque o Capitalismo VENDE isso (ele lucra ao vender essas coisas, sabe?), e o fato de o contato com a literatura ter sido pouco/mínimo, porque estudou em uma escola pública na qual a professora teve calo na garganta porque os alunos faziam bagunça o tempo todo e, por mais que a professora tentasse ensinar, ela falava para as paredes, e mesmo que o cara se interessasse por literatura, o interesse foi sufocado pelos gritos dos seus colegas...

Acho que dá para a gente começar a pensar um pouco sobre o quão profundo é o buraco cujo artigo só toca na borda.

P.S.: Fiz um post QUASE sério. SOCORRO!​
 
Há menção a alguns dados no terceiro parágrafo do texto, mas, de todo modo, não creio que a questão se resuma a um levantamento estatístico mais ou menos sólido. É muito mais, como interpreto, levantar a bandeira de como a literatura de ficção é importante para a heterossexualidade masculina: "Reading fiction opens your eyes to uncomfortable truths and unexpected perspectives that you may otherwise not have sought out".

Uma das funções da literatura é, digamos assim, fazer com que sintamos com mais critério; que saibamos sentir mais, sentir melhor, sentir mais alto. Deixar que a emoção nos invada, que um verso nos comova e que uma passagem fique na nossa memória. Nada mais diferente do que se espera de um macho alfa em uma sociedade machista: que ele cale seus sentimentos e menospreze o dos outros. A literatura faz justamente o oposto: ela nos permite dar vazão ao que está entalado na garganta e nos faz olhar de maneira mais generosa, ou pelo menos mais demorada, para o que os outros sentem.

Por isso eu concordo com o autor do texto quando ele diz como a ficção e, penso eu, a literatura de modo mais amplo, é importante para os homens. A maior parte de nós não tem uma rede de apoio ou um ombro amigo com quem desabafar; a literatura pode servir como uma ferramenta para entender melhor os demônios que nos assolam e, principalmente, para que nos vejamos diante de sentimentos difíceis e situações incômodas.
 
Voltemos ao fato de que fomos/somos socializados de uma maneira extremamente machista, que prega que a ficção é "coisa de mulher e que homem não perde tempo com isso, porque tem mais o que fazer". O homi é pobre, ferrado, fodido. Aí um cara fala que ele precisa ler o livro "Como se tornar um empreendedor de sucesso".​
E, além de tudo, tem muito mais ficção nesses tipos de livros que em qualquer romance :lol:
 
Minha dúvida é, essa literatura que abre os olhos para verdades inconfortáveis e etc. está de fato sendo lida por quem?

Se pegar a lista dos mais vendidos, tem um lixo de não-ficção sendo direcionado pro público masculino e um lixo de ficção sendo direcionada pro público feminino.
Até aí, ok. Mas é essa a literatura que faz diferença? Se passar uma régua e tirar toda essa porcariada que vende litros e que daqui uns anos ninguém vai lembrar que existe, o que sobra de público leitor? Sobra que:
1. Ninguém lê porra nenhuma.
2. Desse ninguém, a discrepância entre gêneros ainda é assim tão grande?

Do texto "in 2023, women made up 80 per cent of the book-buying market in the UK, US, and Canada, and accounted for 65 per cent of all fiction purchases in the UK according to Nielson BookData."

Não que duvide que mulher leia mais, mesmo quando se passe esse filtro, mas acho que o texto não leva isso em conta. Só falar que mulher lê mais baseado na estatística de compras não indica que estão lendo o tipo de literatura que faria bem aos homens lerem também, como sugere partes do texto.

O direcionamento do mercado não é só pra homem comprar não-ficção, também é pra mulheres comprarem ficção. Não é só que homem é induzido a achar que livro de macho é livro de negócios e que ficção é livro de mulherzinha. Grande parte da ficção vendida a rodo é, de fato, livro de mulherzinha, e só corrobora essa visão. Quem consegue furar essa bolha? quem tem acesso pra isso?
 
Entendi... Realmente, não sei.

Estamos buscando por coisas diferentes no texto. Na minha perspectiva, o texto fala não só do que a literatura tem a oferecer como conteúdo em si, como descrição da vida, mas também - e, penso eu, principalmente - da importância da ficção na sensibilização dos leitores e dos homens em particular.

Nesse sentido, mesmo que um homem consuma literatura de mulherzinha, ainda assim a ficção desempenha um papel importante de criar “a safe space for allowing oneself to feel, with no strings attached”. É um olhar mais voltado para a recepção do texto literário.
 
Entendi... Realmente, não sei.

Estamos buscando por coisas diferentes no texto. Na minha perspectiva, o texto fala não só do que a literatura tem a oferecer como conteúdo em si, como descrição da vida, mas também - e, penso eu, principalmente - da importância da ficção na sensibilização dos leitores e dos homens em particular.

Nesse sentido, mesmo que um homem consuma literatura de mulherzinha, ainda assim a ficção desempenha um papel importante de criar “a safe space for allowing oneself to feel, with no strings attached”. É um olhar mais voltado para a recepção do texto literário.
Axé, Kamala!
 
(movi as mensagens para um tópico separado)

***

eu estava pensando nesse texto quando bati com um artigo do guardian comentando uma pesquisa que fizeram na grã bretanha que tem um modelo bem parecido com o nosso retratos de leitura no brasil. a pesquisa fala que mais de um terço dos adultos na inglaterra desistiram de ler por prazer.


e talvez passe um pouco por aí - ainda em uma visão de utilidade da literatura de ficção, aqui a utilidade seria entretenimento. andando em círculos, mas sempre isso: os livros deixados de lado por quem não enxerga utilidade na leitura - mas a diferença aqui é que não é o aspecto "como é que posso ganhar mais dinheiro com isso?".

meu ponto é que eu não consigo ver um debate sobre por que homens não assistem filmes ou séries, por exemplo - e é ficção também, e tecnicamente não há utilidade nenhuma em passar uma hora na frente da tv vendo dragão e tramas palacianas que não seja o entretenimento. e ainda na questão da utilidade x capitalismo, notem que cinema e tv acabam produzindo um monte de necessidades desnecessárias, vide adulto que paga uma fortuna para ter réplica de sabre de luz em casa (ou bonequinho, ou caneca, camiseta, boné, roupa de cama, etc.).

ou seja, não é a ficção e o dinheiro, mas a forma como as pessoas enxergam o hábito de leitura.

e aí talvez a questão toda seja um não problema? óbvio que tem tintas de fim de mundo para nós que adoramos ler, mas hum, é isso, os tempos mudaram, um livro compete com muitas mídias hoje em dia, para não falar de telas de celulares e computadores.
 
Eu só vejo em 1.25x (mais que isso já acho zoado) podcast, entrevista, palestra, notícia, youtuber e, claro, aula da faculdade. Filme e série é pra matar, néam. Audiolivro nem pensar. Quero ver se escutam música mais rápida também rs.
 
Livro não dá pra ler no 2x, e tá cheio de textão.

tecnicamente até dá, vide a quantidade de curso de leitura dinâmica que vendem por aí. mas dá trabalho aprender a ler mais rápido. e enquanto ver filme e série é uma coisa mais passiva, dá para deixar rodando na tela enquanto você conversa com alguém no whatsapp e tá de boas, a leitura é uma coisa que demanda 100% da atenção. o tempo de ler é tempo só de ler.
 
O melhor da leitura é justamente não poder falar com mais ninguém.

né. pena que tem sempre um chato que não entende e tenta puxar conversa

Sesame Street Ugh GIF by ABC Network
 

A pergunta que surge dos números: homens são alérgicos a livros?​

Rodrigo Casarin

Stanczyk, de Jan Matejko
Stanczyk, de Jan Matejko Imagem: Reprodução

Faço um desafio: chegue numa mesa cheia de homens e preste atenção. Marque no relógio quanto tempo levará para que falem de futebol ou política. Siga observando. Agora repare em qual momento a conversa caminhará para algum assunto relacionado ao mundo dos livros.

Sugestão: não prometa que só sairá de lá após ouvir algum papo sobre literatura, seja ela qual for. A chance de você morrer plantado no lugar é grande. Seriam todos alérgicos a livros?

Um homem que circula por rodas onde romances, ensaios e poemas são assuntos frequentes é um privilegiado. O mais comum é que, nessas mesas, livros sejam vistos como aberrações. Quando algum marmanjo comenta com outro o que está lendo, faz isso sempre de forma discreta, sem alardear para o grupo.

Daí que chama a atenção, mas não chega a causar surpresa um dos números da última Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que aconteceu há algumas semanas. Nos dez dias de evento, passaram pelo Anhembi 722 mil visitantes, um público quase 10% maior do que a última edição, em 2022.

A maior parte dessas pessoas, 43,3%, tinha entre 18 e 24 anos. A quantidade de gente entre 25 e 29 anos foi parecida com a do povo entre 30 e 39 anos: 18,6% a 17,1%. O pessoal na faixa dos 40 representaram 13,8%. Na faixa dos 50, 5%. Acima dos 60, 2,2%.

E, segundo levantamento feito pela própria Bienal, a imensa maioria desses visitantes era formada por pessoas do gênero feminino. 68,8% de quem esteve passeando pelos estandes de editoras e livrarias se identificaram dessa forma, enquanto a opção "masculino" ficou com apenas 28,5% (1,2% citou "outros" e 0,5% preferiu não responder).

Não por acaso, a Rocco, só para ficarmos num exemplo, apurou que 90% dos livros vendidos em seu estande dominado por romantasia e ficção coreana foram escritos por autoras.

Apostaria que, pensando num outro ponto, a presença da minoria masculina tenha sido mais intensa nos espaços de coaches da vida. Quando Pablo Marçal esteve pelo Anhembi, sobretudo rapazes cercaram e bajularam o sujeito.

A pesquisa Panorama do Consumo de Livros de 2023, feita pela Nielsen BookData a pedido da Câmara Brasileira do Livro, tem dados que seguem a mesma toada, ainda que com discrepância menor. Aponta que as mulheres, 51% da população, representam 57% dos compradores de livros no país.

No ensaio "Os Pastons e Chaucer", Virginia Woolf conta a história de Sir John. Homem rural, às vezes ele deixava as negociações ou o cuidado com o campo de lado para, durante o dia, procurar por um lugar para ler. Trocar qualquer atividade prática por aquele mundo de histórias e sonhos era visto como desperdício de tempo pelos seus pares. Mas o prazer da leitura se impunha.

Séculos atrás, quando os romances se popularizaram, foram tidos como coisa de desocupados, de gente sonhadora e pouco séria que não tinha mais o que fazer. Ao que parece, muitos homens seguem com a mesma visão mofada sobre os livros, um olhar estúpido para a literatura.

Quem perde são eles. Sir John é que sabia das coisas.

 
Eu lia muito (ficção) na infância e adolescência, mas, realmente, depois de adulto, sobretudo, depois da universidade, o que mais leio hoje em dia é não-ficção.
 
Engraçado que a informação trazida pela Nielsen BookData basicamente desmonta a tese criada, de que homens seriam alérgicos a livros, enquanto o autor finge que ela segue "na mesma toada". São 43% de compradores homens nessa pesquisa contra os 28% da Bienal. Talvez ele ficasse satisfeito apenas com a perfeita igualdade de 50% entre gêneros rs.
 

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