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Poesia Sempre!!! (versão 2- não fui eu quem escreveu)

Ana Lovejoy

Administrador
Hai-kais

Sabem aqueles poemas de três versos dos japoneses? Então... eu sou apaixonada... os primeiros hai-kais que eu li foram de uma poeta curitibana maravilhosa, a Alice Ruiz. Alguém conhece? Gosta? Sabe de algum site legal que tenha hai-kais????

Da Alice Ruiz:
"Você deixou tudo a tua cara
Só para deixar tudo
com cara de saudade"


Do Cyro Armando Catta Preta:
"Entre adeuses e ais,
a saudade de outra idade
que acena:jamais..."


*nossa, essa última tem cara de assinatura do clube da nostalgia!*
Hai-kai meu eu posto quando tiver coragem lá no clube dos escritores :mrgreen:
 
Bom tópico, e espero que não se importe se eu cortar o clima dele com uma piada. Mas é que o único hai-kai que eu me lembro de cabeça é aquele que o Hyde fez pra Jackye no That 70's Show:

"My heart inches with pain
When I see you, I vomit
Die, away from me"

Ahahahahahah... muito cômico!!!!
 
Poxa Anne eu gosto sim, ate conheço o material dessa autora... comecei a gostar aos 11 anos quando meu pai me deu uma agenda que inha um por dia. Eram maravilhosos! Mas agora estou triste porque ia postar alguns de um livro q tenho, uns japoneses otimos com boa tradução pro ingles, mas descobri q meu livrinho amado sumiu... snifffff
 
Nossa, agora mesmo eu tinha pensado em abrir um tópico sobre isso, e resolvi conferir ^^ Muito legal, eu adoro Hai-kais... eu tenho um livro que tem uns muito legais, do Millôr Fernandes ^^

Eu adoro esse:

"Na poça da rua
O vira-lata
Lambe a lua."


hehehe
 
Bem, a gente tava com o costume de postar poesias tto nossas como de terceiros no Poesia Sempre do CdE. Mas o V pediu q a gente passasse a fazer issu aki, jah que o Clube dos Escritores fikou mais como espaço para os poemas dos usuarios do forum.

Fica aqui, entao, o espaço pra vcs colocarem poemas de terceiros (que eu imagino q vcs farao o favor de identificar :mrgreen: ), poemas que vc faria de td para ter escrito, poemas famosos ou naum, mas q sempre chamaram a sua atençao...

Entao, eu mando o primeiro, ok? :wink:

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente.
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leêm o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só as que eles não tem

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

(Fernando Pessoa)
 
Ciclo
------

Sorrimos para as mulheres bojudas que passam como cargueiros adernando,
sorrimos sem interesse, porque a prenhez as circunda.
E levamos balões às crianças que afinal se revelam,
vemo-las criar folhas e temos cuidados especiais com sua segurança,
porque a rua é mortal e a seara não amadureceu.
Assistimos ao crescimento colegial das meninas e como é rude
infundir ritmo ao puro desengonço, forma ao espaço!

Nosso desejo, de ainda não desejar, não se sabe desejo, e espera.
Como o bicho espera outro bicho.
E o furto espera o ladrão.
E a morte espera o morto.
E a mesma espera, sua esperança.

De repente, sentimos um arco ligando ao céu nossa medula,
e no fundamento do ser a hora fulgura.
És agora, o altar está brunido
e as alfaias cada uma tem seu brilho
e cada brilho seu destino.
Um antigo sacrifício já se alteia
e no linho amarfanhado um búfalo estampou
a sentença dos búfalos.

As crianças crescem tanto, e continuam
tão jardim, mas tão jardim na tarde rubra.
São eternas as crianças decepadas,
e lá embaixo da cama seus destroços
nem nos ferem a vista nem repugnam
a esse outro ser blindado que desponta
de sua própria e ingênua imolaç~çao.

E porque subsistem, as crianças,
e bóiam na íris madura a censurar-nos,
e constrangem, derrotam
a solércia dos grandes,
há em certos amores essa distância de um a outro
que separa, não duas cidades, mas dois corpos.

Perturbação de entrar
no quarto de nus,
tristeza da nudez que se sabe julgada,
comparação de veia antiga a pele nova,
presença de relógio insinuada entre roupas íntimas,
um ontem ressoando sempre,
e ciência, entretanto, de que nada continua e nem mesmo talvez exista.

Então nos pungimos em nossa delícia.
O amor atinge raso, e fere tanto.
Nu a nu,
fome a fome,
não confiscamos nada r nos vertemos.
E é terrivelmente adulto esse animal
a espreitar-nos, sorrindo,
como quem a si mesmo se revela.

As crianças estão vingadas no arrepio
com que vamos à caça; no abandono
de nós, em que se esfuma nossa posse.
(Que possuímos de ninguém, e em que nenhuma região nios sabemos pensados,
sequer admitidos como coisas vivendo
salvo no rasto de outras coisas, agressivas?)

Voltamos a nós mesmos, destroçados.
Ai, batalha do tempo contra a luz,
vitória do pequeno sobre o muito,
quem te previu na graça do desejo
a pular de cabrito sobre a relva
súbito incendiada em línguas de ira?
Quem te compôs de sábia timidez
e de suplicazinhas infantis
tão logo ouvidas como desdenhadas?
De impossíveis, de risos e de nadas
tu te formaste, só, em meio aos fortes;
cresceste em véu e risco; disfarçaste
de ti mesma esse núcleo monstruoso
que faz sofrer os máximos guerreiros
e compaixão infunde às mesmas pedras
e a crótalos de bronze nos jardins.
Ei-los prostrados, sim e nos seus rostos
poluídos de chuva e de excremento
uma formiga escreve, contra o vento,
a notícia dos erros cometidos;
e um cavalo relincha, galopando;
e um desespero sem amar, e amando,
tinge o espaço de um vinho episcopal,
tão roxo é o sangue borrifado a esmo,
de feridas expostas em vitrinas,
jóias comuns em suas formas raras
de tarântula
cobra
touro
verme
feridas latejando sem os corpos
deslembrados de tudo na corrente.

Noturno e ambíguo esse sorriso em nosso rumo.
Sorrimos também - mas sem interesse - para as mulheres bojudas que passam,
cargueiros adernando em mar de promessa contínua.

----

Isso é Drummond.
 
meus amigos
quando me dão a mão
sempre deixam
outra coisa

presença
olhar
lembrança calor

meus amigos
quando me dão
deixam na minha
a sua mão


É do Leminski :mrgreen:
 
Xi, vou ter que tomar cuidado para não me empolgar (vou tentar postar no máximo um poema por semana, se eu conseguir).

Para ser GRANDE, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
 
Vilya disse:
Xi, vou ter que tomar cuidado para não me empolgar (vou tentar postar no máximo um poema por semana, se eu conseguir).

Ihh.. idem... bom, vai essa da Alice Ruiz e semana que vem eu posto de novo :mrgreen:

Se

se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver
com garra
eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto
ia ser um riso
ia ser um gozo
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio
daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse...
 
Essa poesia eu li ontem e resolvi por aqui. Foi a primeira poesia de Carlos Drummond que realmente me emocionou.

OS BENS E O SANGUE


I

Às duas da tarde deste nove de agosto de 1847
nesta fazenda do Tanque em dez outras casas de rei,
[q não vale de valete,
em Itabira Ferros Guanhães Cocais Joanésia Capão
diante do estrume em q se movem nossos escravos e da
[viração
perfumada dos cafezais q trança na palma dos coqueiros
fiéis servidores de nossa paisagem e de nossos fins
[primeiros,
deliberamos vender, como de fato vendemos, cedendo
[posse jus e domínio
e abrangendo desde os engenhos de secar areia até o
[ouro mais fino
nossas lavras mto. nossas por herança de nossos pais e
[sogros bem amados
q dormem na paz de Deus entre santas e santos
[martirizados
Por isso neste papel azul Bath escrevemos com o a nossa
[melhor letra
estes nomes q em qualquer tempo desafiarão tramóia
[trapaça e treta:

Esmeril Pissarão
Candonga Conceição

E tudo damos por vendido ao compadre e nosso amigo
[o snr. Raimundo Procópio
e a d. Maria Narcisa sua mulher, e o q não for vendido,
[por alborque
de nossa mão passará, e trocaremos lavras por matas,
lavras por títulos, lavras por mulas, lavras por mulatas
[e arriatas,
q trocar é o nosso fraco e lucrar é nosso forte. Mas fique
[esclarecido:
somos levados menos por gosto do sempre negócio q no
[sentido
de nossa remota descendência ainda mal debuxada no
[longe dos serros.
De nossa mente lavamos o ouro como nossa alma um
[dia de erros
se lavarão na pia da penitência. E filhos netos bisnetos
tataranetos despojados dos bens mais sólidos e rutilantes
[portanto os mais completos
irão tomando a pouco e pouco desapegode toda fortuna
e concentrandoseu fervor numa riqueza só, abastrata
[e uma.

Lavra da Paciência
Lavrinha de Cubais
Itabiraçu

II

Mais que todos que deserdamos
deste nosso oblíquo modo
um menino inda não nado
(e melhor inda não nado)
que se parte de nonada
e que nada, porém nada
o há de ter desenganado.

E nossa rica fazenda
já presto se desfazendo
vai-se em sal cristalizando
na porta de sua casa
ou até na ponta da asa
de seu nariz fino e frágil,
de sua alma fina e frágil,
de sua certeza frágil
frágil frágil frágil frágil

Mas que por frágil é ágil
e na sua mala-sorte
se rirá ele da morte.

III

Este figura em nosso
pensamento secreto.
Num magoado alvoreço
e queremos marcado
a nos negar; depois
de sua negação
nos buscará. Em tudo
será pelo contrário
seu fado extra-ordinário.
Vergonha da família.
que de nobre se humilha
na sua malincônica
tristura meio cômica,
dulciamara nux-vômica.

IV

Este hemos por bem
reduzir à simples
condição de ninguém.
Não lavrará campo.
Tirará sustento
de algum mel nojento.
Há de ser violento
sem ter movimento.
Sofrerá tormenta
no melhor momento.
Não se sujeitando
a um poder celeste
ei-lo senão quando
de nudez se veste,
roga à escuridão
abrir-se um clarão
Este será tonto
e amara no vinho
um novo equilíbrio
a seu passo tíbio
sairá na cola
de nenhum caminho.

V

-Não judie com o menino,
compadre.
-não torça tanto o pepino
major.
-Assim vai crescer mofino
sinhô!

-Pedimos pelo menino porque pedir é nosso destino.
Pedimos pelo menino porque vamos acalenta-lo.
Pedimos pelo menino porque já se ouve planger o sino
do tombo que ele vai levar quando montar a cavalo.

Vai cair do cavalo
de cabeça no valo
Vai ter catapora
amarelão e gálico
vai errar o caminho
vai quebrar o pescoço
vai deitar-se no espinho
fazer tanta besteira
e dar tanto desgosto
que nem a vida inteira
dava para contar.
E vai muito chorar.
(A praga que te rogo
para teu bem será.)

VI

Os urubus no telhado:

E virá a companhia inglesa e por sua vez comprará tudo
e por sua vez perderá tudo e tudo volverá a nada
e secado o ouro escorrerá ferro, e secos morros de ferro
taparão o vale sinistro onde não mais haverá privilégios,
e se irão os últimos escravos, e virão os primeiros
[camaradas;
e a besta Belissa renderá os arrogantes corcéis da
[monarquia,
e a vaca Belissa dará leite no curral vazio para o menino
[doentio,
e o menino crescerá sombrio, e os antepassados no
[cemitério
se rirão se rirão porque os mortos não choram.

VII

Ó monstros lajos e andridos que me perseguis com vossas
[barganhas
sobre meu berço imaturo e de minha minas me expulsais.
Os parentes que eu amo expiraram solteiros.
Os parentes que eu tenho não circulam e mim.
Meu sangue é dos que não negociaram a terra, minha alma é dos
[pretos,
minha carne dos palhaços, minha fome nas nuvens,
e não tenho outro amor a não ser o dos doidos.

Onde estás capitão, onde estás, João Francisco,
do alto de tua serra eu te sinto sozinho
e sem filhos e netos interrompes a linha
que veio dar a mim nesse chão esgotado.
Salva-me, capitão, de um passado voraz.
Livra-me, capitão, da conjura dos mortos.
Inclui-me entre os que não são, sendo filhos de ti.
E no fundo da minha, ó capitão, me esconde.

VIII

-Ó meu, ó nosso filho de cem anos depois,
que não sabes viver nem conheces os bois
pelos seus nomes tradicionais... nem suas cores
marcadas em padrões eternos desde o Egito.
Ó filho pobre, e descorçoado, e finito
ó inapto para as cavalhadas e os trabalhos brutais
com a faca, o formão, o couro... Ó tal como quiséramos
para a tristeza nossa a consumação de eras,
para o fim de tudo o que foi grande!
Ó desejado
ó poeta de uma poesia que se furta e se expande
à maneira de um lago de pez e resíduos letais...
És nosso fim natural e somos teu adubo,
tua explicação e tua mais singela virtude...
pois carecia que um de nós nos recusasse
para melhor servir-nos. Face a face
te comtemplarmos, e é teu esse primeiro
e úmido beijo em nossa boca de barro e sarro.
 
Eu tive de postar essa poesia aqui, ela foi declamada em sala de aula ontem e eu tive de me controlar um pouco, porque me emocionou de uma forma que eu não esperava, não estava preparado.

Vou postar muitas outras coisas aqui, mas como foi já foi dito, tenho que me controlar ... he he he
 
Hum... já foi uma semana? Bem... esse é do W. H. Auden (tradução obscura, mas tudo bem)

Funeral Blues

Pare os relógios, cale o telefone
Evite o latido do cão com um osso
Emudeça o piano e que o tambor surdo anuncie
a vinda do caixão, seguida pelo cortejo.
Que os aviões voem em círculos, gemendo
e que escrevam no céu o anúncio: ele morreu
Ponham laços pretos nos pescoços
brancos das pombas na rua
e que guardas de trânsito usem finas
luvas de breu.

Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste
Meus dias úteis, meus finais de semana,
meu meio dia, meia noite,
minha conversa, minha canção
Eu pensava que o amor era eterno; estava errado


As estrelas não são mais necessárias
apague-as uma a uma
Guarde a lua, desmantele o sol
Despeje o mar e livre-se da floresta
pois nada mais poderá ser bom
como antes era.
 
Bom, eu falei ali no CdA que postaria aqui a versão completa dessa poesia do Vinícius de Moraes... então lá vai:

Para Viver um Grande Amor

Para viver um grande amor
Precisa muita concentração e muito siso
Muita seriedade e pouco riso
Para viver um grande amor
Para viver um grande amor
O mistério é ser um homem e uma só mulher
Pois ter muitas, pôxa, é prá quem quer
Não tem nenhum valor
Para viver um grande amor
Primeiro é preciso sagrar-se um cavalheiro
Ser de sua dama por inteiro
Seja lá como for
Há de fazer do corpo uma morada
Onde enclausure-se a mulher amada
Postar-se de fora como espada
Para viver um grande amor
Para viver um grande amor
Não basta apenas ser um bom sujeito
É preciso também ter muito peito
Peito de remador
É sempre necessário, pelo visto,
Um crédito de rosas num florista
E mais, muito mais que um modista
Para viver um grande amor
E tampouco saber fazer cozinhais
Ovos mexidos com arroz, sozinhas, molhos
Filés com fritas, comezinhas para depois do amor,
E o que há de melhor que ir prá cozinha
E preparar com amor uma galinha e uma gostosa farinha
Para o seu grande amor
Para viver um grande amor,
É muito, muito importante viver sempre junto
E até ser, se possível, um só defunto
Para não morrer de dor
É preciso um cuidado permanente,
Não só com o corpo mas também com a mente
Pois qualquer baixo seu a amada sente
E esfria um pouco o amor
Há que ser bem cortês, sem cortesia
Grosso e conciliador, sem covardia
Saber ganhar dinheiro com poesia,
Não ser um ganhador
Mas tudo isso não adianta nada
Se nessa selva escura e desvairada
Não se souber achar a grande amada
Para viver um grande amor


VÊÊÊÊÊÊÊ!!!! Fixa esse aqui, vaiiiiii :lily:
 
Ok... ressussitando o topico...
Eu tava remexendo nas minhas coisas e achei um poema do Carlos Drummond de Andrade, de que eu sempre gostei bastante:

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é a entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.


Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



Obs: a parte em negrito (não o titulo!!!) é a que eu, particularmente, acho mais bonita :D
 
Engraçado ... alguns dias atrás eu havia pensado nesse tópico, como ele é legal e como foi esquecido, ate havia pensando em ressucita-lo, mas me esqueci. Bom trabalho Lis :D

Eu já devo ter escrito isso no Fórum

Quando eu vejo a cotovia bater suas asas
de alegria contra o raio de sol,
até que se deixa cair, esquecida de voar,
devido à docura que lhe vai no coração
ai, tão grande inveja me vem
daqueles que vejo cheio de alegria
que me assombro que meu coração
não derreta imediatamente de desejo

Ai, tanto cuidava eu saber do amor
e tão pouco sei
pois não posso me conter de amar
aquela de quem não terei favor.
Ela roubou de mim meu coração,
e todo o meu ser, e todo o meu mundo.
e quando se retirou de mim
não me deixou nada
além de desejo e um coração vazio


(primeira e segunda estrofe de Can vei la lauzeta mover de Benart de Ventadorn)

A velha imagem do que se deixa morrer pelo amor, sob a imagem de uma cotovia que inebriada pela felicidade de voar contra o raio de sol se deixa cair, na primeira estrofe. Mesmo sob um entendimento diferente, essas palavras ainda significam muito para as pessoas dos dias atuais, para mim. Isso é um clássico.
 
Não é novidade que eu não sou muito chegado em poesia... mas essa detona:

O Navio Negreiro


'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.


'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...


'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...


'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...


Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.


Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!


Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!


Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!


Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia,
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
..........................................................


Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!


Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.



II

Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.


Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!


O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!


Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu!...



III

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!



IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...


Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!


E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...


Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!


No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."


E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...


V

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!


Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...


São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão...


São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.


Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
...Adeus, ó choça do monte,
...Adeus, palmeiras da fonte!...
...Adeus, amores... adeus!...


Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.


Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...


Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...




VI

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

-Castro Alves, aos 22 anos de idade
 
Ai! laurië lantar lassi súrinen,
Yéni únótimë ve rámar aldaron!
Yéni ve lintë yuldar avánier
mi oromardi lisse-miruvóreva
Andunë pella, Vardo tellumar
nu luini yassen tintilar i eleni
ómaryo airetári-lírinen.

Sí man i yulma nin enquantuva?

An si Tintallë Varda Oiolossëo
ve fanyar máryat Elentári ortanë
ar ilyë tier undulávë lumbulë
ar sindanóriello caita mornië
i falmalinnar imbë met, ar hísië
untúpa Calaciryo míri oialë.
Sí vanwä ná, Rómello vanwa, Valimar!

Namarië! Nai hiruvalyë Valimar.
Nai elyë hiruva. Namarië!


Isso é Tolkien, amigos!
NAMARIË - J.R.R.TOLKIEN
 
Gosto bastante deste poema aqui:

Ismália

"Quando Ismália enlouqueceu,
Põs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar...

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar."

Alphonsus de Guimaraens :clap:
 

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