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Persona (idem, 1966)

Sister Jack

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P E R S O N A

Um filme de INGMAR BERGMAN



Esse é de longe o melhor filme de Ingmar Bergman que eu já vi, eu que antes não gostava muito de seu estilo morto e sombrio (um pouco sombrio demais) e havia apenas gostado de Gritos e Sussurros e O Sétimo Selo. Quando vi Morangos Silvestres, eu certamente me surpreendi e adorei o filme, por que ao contrário dos dois outros filmes citados, esse era um filme tanto sentimental quanto honesto. Mais acolhedor, eu diria. E eu pensei que nunca ia gostar do lado frio de Bergman... Até assistir Persona, ontem, dia 28/1/03.

Eu ouvi muitos elogios há este filme. Sério, muitos mesmo. Mas a maioria dizia ser muito complexo e difícil de entender(que não nego) e frio demais. Então, eu vi um filme esperando algo tão bom quanto Morangos Silvestres, mas sabendo que a possível frieza dele poderia me perder. O filme certamente é bem destacado, afastado dos espectadores, com um clima hipnótico e até mesmo um tanto erótico. Ele mistura cenas de sonhos na trama sem avisar previamente a quem o assiste e assim o tornando confuso para os menos atentos. Ele também trata de temas sérios, como uma série crise de identidade, ou a união de duas mulheres com dúvidas de suas existências. Mas eu tentei e prestei atenção e deixei o filme me levar para onde queria, e como presente, eu recebi uma das melhores experiências cinematográficas que eu já tive.

A trama: uma atriz chamada Elisabeth Vogler perde a fala no meio de uma apresentação de teatro e assim continua por vários meses. Ela é internada em um hospital e os médicos não conseguem encontrar nenhuma explicação para a perda da voz. Então, uma enfermeira, Alma, é enviada para cuidar de Elisabeth na casa de praia que a médica da atriz emprestou. Tanto Alma quando Elisabeth mal se conhecem, mas na medida que convivem juntas e sozinhas na casa de praia, a sua relação se transforma de enfermeira e paciente para uma conexão de identidade e personalidade.

Pelo que parece, o problema de Elisabeth realmente não é um problema que pode ser curado com medicina. É um problema emocional, interno. Não é que ele não pode falar, é que ela não quer falar. Ela não quer atuar mais, ou conversar, ou nem mesmo assumir as suas responsabilidades. Ela só quer existir. E Alma é totalmente o oposto dela. Conversa bastante, mostra os seus sentimentos e não deixa nenhum segredos para a fria atriz. Ela sente que Elisabeth pode ser mais que uma amiga, ainda. Ela pensa na atriz como alguém em que deve confiar e se apaixonar, e tentar ajudar de qualquer maneira, mas não faz a menor idéia por que. É um mistério, um segredo. Será que a atriz e a enfermeira são mais ligadas do que imaginam? Será que elas são a mesma pessoa dividida em dois lados da personalidade? O nome da enfermeira, Alma, pode significar muito para um entendimento maior do filme. Pelo que vemos, ela parece realmente ser a alma de Elisabeth, tentando de qualquer forma dar um sentido para que ela volte a falar.

O filme tem momentos espetaculares, que te deixam de respiração presa. Por exemplo, tem um monologo aproximadamente na metade do filme que é simplesmente arrepiante. Totalmente erótico. Alma começa a falar para a Elisabeth sobre uma experiência sexual que ela teve numa praia com um jovem. O jeito que ela conta parece formar imagens imediatas na nossa mente, sem necessariamente mostrar as imagens em forma de flashback. Aliás, Ingmar Bergman provou nessa cena que flashbacks não são necessários.

Um outro tema mostrado no filme é o sacrifício. A abertura do filme é uma série de imagens que aparentemente não tem ligação alguma com o resto da história. Começa com um filme sendo rodado em um projetor, e depois mostra(pelo que eu consigo lembrar) rápidas imagens de filmes mudos(talvez representando o problema de Elisabeth) e em seguida as imagens mais importantes para o tema: um carneiro sendo sacrificado e um mão atingida por um prego. Essas duas, eu acho, são algum tipo de metáfora. As duas lembram sacrifícios. O carneiro pode representar algum tipo de ritual de alguma religião antiga que sacrificava animais para os deuses. E a mão sendo martelada pelo prego lembra a imagem de Cristo sendo pregado na cruz, que foi um tipo de sacrifício para a humanidade. Como isso se relaciona com o resto da trama? Bem, as duas mulheres tiveram problemas com a maternidade: Alma fez um aborto e Elisabeth odeia o filho por nascer deformado(que é contado em um monólogo arrepiante) e assim se afastou dele. As duas fizeram sacrifícios na vida por vontade própria. E a relação enfermeira/paciente também é um sacrifício para Alma, que tem que abandonar a sua vida para cuidar de Elisabeth.

A trama, no entanto, continua bem mais complicada que isso. Eu não revelei nem metade do filme ainda(e olha que o filme só tem 82 minutos, infelizmente), e muito mais acontece. Não revelei por que é muito melhor ver o que acontece na outra metade do que ser contado. Visualmente, o filme é simplesmente orgasmático(essa palavra existe? Ah, foda-se). A fotografia em preto-e-branco é linda e o Bergman inventou a famosa tomada das faces, com uma virada para a esquerda próxima a câmera e a outra no fundo, olhando para frente. Não apenas por estética, mas esse tipo de tomada faz lembrar muito das identidades das duas mulheres que podem ser unidas. O filme também é belo de se ver, não só pela fotografia, mas pelas duas estonteantes mulheres principais: Bibi Anderson(Alma) e a celestial Liv Ullman (Elisabeth). Suas performances foram perfeitas, mas o que poderia dar errado nas mãos de Bergman? Ele pode ser frio, mas as atuações que ele consegue do seu elenco nunca me decepcionaram. O que se tem mais para citar? A trilha sonora é surpreendentemente assustadora, parece que foi tirada diretamente de um filme de terror, e tem momentos em que ela lembra do "Tema do Monolito" de 2001: Uma Odisséia No Espaço, principalmente nas seqüências hipnóticas.

Para terminar, vou dizer que esse filme é como um poema. Um sonho. Quanto mais você aprende sobre os personagens e quanto mais fundo você chega na trama, mais o filme te suga completamente e não deixa nem piscar. Ele é lento, sim. Mas eu não vi o tempo passar. Os 80 minutos do filme me pareceram algo como meia hora. É porque Bergman sabe como fazer o filme fluir de um jeito que você simplesmente não pode parar de olhar. É assombroso. Corajoso. Original. É perfeito.

NOTA 10

(um dos pouquíssimos filmes que eu já dei nota 10)


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PS: Esse filme também é conhecido aqui no Brasil por "Quando Duas Mulheres Pecam".

PPS: Review escrito por mim, tirado do meu site: http://www.monkeu.kit.net/indexx.htm

PPPS: Eu sei que pouca gente aqui no forum viu esse filme, mas por favor, assistam.
 
Pergunta básica pra quem jah viu város filmes do Bergman. Qual é o melhor filme que ele jah fez na opinião de vocês?
 
Por enquanto, Morangos Silvestres, Gritos e Sussurros e Fanny & Alexander...maaaaaasss, eu vou assistir Persona, então tudo pode mudar...
 
o meu favorito dele é O Sétimo Selo.. dele só assisti O sétimo selo, Gritos e Sussurros e Morangos Silvestres...
 
Não assisti nada dele que eu me lembre...

Engraçado... esses filmes não me dão boa impressão... eu sempre acho q vou achar eles chatos...

Acho que tenho q parar de achar tanto. :disgusti:
 
Persona, 1966

Persona foi um dos poucos filmes que me deixaram, literalmente, preso à tela. Começa com uma espécie de prólogo, que resume o que vai ser mostrado adiante; um poema, segundo o próprio Bergman. Um projetor sugere que estamos prestes a assistir um filme; filmes mudos incidem na condição de Elisabeth; e ainda imagens de pessoas mortas voltando à vida e um garoto que tenta alcançar uma mulher atrás de uma tela podem ser relacionadas com o resto do filme. Dizem, ainda, que outras imagens como a neve e uma aranha representam situações de filmes anteriores do mesmo diretor. Bergman define seu filme como "um poema em imagens", e aconselha: "Você pode interpretá-lo do jeito que quiser. Como em qualquer poema. Imagens têm significados diferentes para pessoas diferentes".

Elisabeth Vogler (Liv Ullman) é uma atriz famosa que um dia, no meio de uma apresentação parou de falar. Desde então, ela vive em total silêncio. É, porém, sã em seu corpo e mente e nega o direito de falar como uma forma de protesto. Assim ela não teria de fingir, nem de mentir, nem de interpretar um papel em sua vida real. A enfermeira Alma, é designada a tomar conta dela e, por sugestão da médica, as duas se mudam para uma casa de praia, a fim de se relacionarem mais intimamente. E é o que acontece! Alma conta sua vida pessoal inteira a Elisabeth, inclusive o famoso monólogo da praia. E cada vez mais ela vai se esquecendo de sua posição para dar lugar ao sentimentalismo.

O filme muda totalmente de ritmo, quando Alma abre uma carta escrita por Elisabeth, onde a atriz conta que o silêncio reduz as preocupações ao mínimo, e que gosta de estudar a enfermeira. Alma acusa Elisabeth de usá-la e explorá-la. Há uma citação em que a enfermeira diz que "pensa que a inspiração dos artistas vêem de situações reais e de carências físicas e mentais, e da cura". Alma questiona se é possível viver sem diálogos triviais, sem fingir, sem mentiras. A partir daí, as duas entram em um confronto pessoal que propõe uma troca de personalidade. A enfermeira presencia a condição da alma da outra mulher. É um espelho. E isso fica mais claro no final quando é apresentada a situação inicial de Elisabeth. A cena é se repete duas vezes, uma focalizada na atriz e outra na enfermeira, o que sugere que elas sejam a mesma pessoa. O filme termina com as duas mulheres sainda da casa, sozinhas.

Cada mulher era diferente uma da outra no começo do filme; já no final, são quase iguais. Se identificaram uma com a outra. Persona fala sobre a descoberta da personalidade própria e da busca pela singularidade e da identidade. É um filme misterioso e poético, e à primeira vista pode parecer um pouco difícil de entender. Ele termina do mesmo modo que começou, com a luz do projetor apagando indicando o fim. Outro ponto alto é a direção de Bergman e seu estilo sombrio, que se encaixa perfeitamente no clima pesado do filme.
 
É um bom review, Quisito.

Só um comentário:

Bergman define seu filme como "um poema em imagens", e aconselha: "Você pode interpretá-lo do jeito que quiser. Como em qualquer poema. Imagens têm significados diferentes para pessoas diferentes".

Então, seguindo a definição de Bergman, essas aqui foram as suas interpretações do prólogo:

Um projetor sugere que estamos prestes a assistir um filme; filmes mudos incidem na condição de Elisabeth; e ainda imagens de pessoas mortas voltando à vida e um garoto que tenta alcançar uma mulher atrás de uma tela podem ser relacionadas com o resto do filme.

Certo?
 
Re-Assisti. Tão bom quanto a primeira vez. É incrível o quanto esse filme trascende trama/história, mais do que a maioria dos filmes; eu já sabia tudo que ia acontecer e mesmo assim fui tão afetado emocionalmente quanto na primeira vez. Dessa vez ficou muito mais claro alguns dos simbolismos, e referências ao tema do filme pelo diálogo.

[spoiler:c9f767eafb]Eu cheguei a conclusão de que Alma realmente é a "alma" de Elisabeth, fazem referência a isso em algumas cenas de diálogos em que elas discutem sobre a alma humana.[/spoiler:c9f767eafb]

É um filme puro Anos 60: Experimental, chocante, toca em assuntos que não iam nem ousar em tocar na década de 50 e antes. Lindo.

Bibi_Andersson_Persona.jpg


persona1.gif
 
Quase 3 anos depois, volte à vida!!


O filme está sendo lançado em DVD aqui no Brasil e o lance é que o nome que era conhecido aqui, "Quando Duas Mulheres Pecam" foi deixado de lado e ficou Persona mesmo.
 
Tisf disse:
O filme está sendo lançado em DVD aqui no Brasil e o lance é que o nome que era conhecido aqui, "Quando Duas Mulheres Pecam" foi deixado de lado e ficou Persona mesmo.

O que seria apropriado desde que o filme foi lançado :-|

Top 3 do Bergman:
1- Persona
2- Sonata de Outono
3- Morangos Silvestres.

Editado: O Site da Versatil é o que vende mais caro o DVD, na Livraria Cultura sai mais barato.

Cenas de Casamento vai ser o próximo a ser lançado em DVD duplo.
 
Mullets Bundeta disse:
Top 3 do Bergman:
1- Persona
2- Sonata de Outono
3- Morangos Silvestres.

Quase igual ao meu:
1 - O Sétimo Selo
2 - Sonata de Outono
3 - Morangos Silvestres

Mas eu ainda não vi o Persona
 
Jedan disse:
Quase igual ao meu:
1 - O Sétimo Selo
2 - Sonata de Outono
3 - Morangos Silvestres

Mas eu ainda não vi o Persona

Fiquei em dúvida

Lembrei de Gritos e Sussurros que é obra-prima.

Tiraria Morangos Silvestres talvez ou os dois ficariam pau a pau,etc.
 
Gritos e Sussuros foi um dos filmes mais chatos que já assiti na vida. Talvez tenha achado isso apenas na ocasião e revendo hoje mudasse de opinão, mas enfim.
 
1. O Sétimo Selo
2. Morango Silvestre
3. Sonata de Outono

Preciso ver Persona. E Gritos e Sussuros tem uma das melhores fotografias do cinema(assim como os outros filmes do Bergman, em especial Sonata de Outono) e belas atuações mesmo, o que não me agrada tanto é o roteiro... mas ainda sim leva 70.
 

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