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Pequeno dicionário para insultar sem perder a erudição

Fúria da cidade

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Na última quarta-feira, uma discussão no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) entre os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes foi uma lição involuntária de como discutir e proferir ofensas (quase) sem perder a pompa.

"Me deixe de fora desse seu mau sentimento. Você é uma pessoa horrível", disse Barroso em reação a críticas feitas por Gilmar a supostas decisões incorretas suas. "O senhor é a mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia."

Barroso disse em seguida, já bastante exaltado:

"Qual é a sua ideia, a sua proposta? Nenhuma, nenhuma, nenhuma. É bílis, ódio, mau sentimento, mal secreto, é uma coisa horrível".

Poucos devem ter notado na hora, mas, como destacou o jornalista Vinicius Torres Freire, o termo "mal secreto" é uma forma antiga de se referir à sífilis, "um xingamento dos tempos da minha avó".

O que não faltam na língua portuguesa são formas de xingar disparando palavras com um verniz de erudição contra o alvo da vez.

Você pode trocar estúpido por acéfalo, por exemplo. Se quiser dizer que alguém de ladrão, pode falar que é um amigo do alheio.

A quem é traiçoeiro, chame de insidioso. No lugar de morto de fome, que tal esfaimado? Na próxima vez que alguém não te der ouvidos, grite: "Mouco!".

'Reverendíssima besta'


Luís Milanesi, autor de Dicionário Brasileiro de Insultos (2002, Ateliê Editorial) sob o pseudônimo Altair J. Aranha, compilou esses e outros 3 mil termos em seu dicionário. Ele começou a fazer o livro por por acaso.

"Quando xingava as pessoas, fazia isso muitas vezes por escrito e buscava o significado no dicionário para ter certeza do que estava dizendo, porque a palavra escrita é permanente."
Entre suas expressões preferidas, está "reverendíssima besta", usada pelo escritor Mário de Andrade para insultar seus desafetos.

Milanesi também cita onagro (burro), mentecapto (louco, idiota) e sevandija (quem vive à custa dos outros).
Mas há um termo que ele deixou de usar depois de pesquisar melhor seu significado. "Nunca mais chamei alguém de babaca", conta.

"Na sua origem, o termo designava o órgão sexual feminino, provavelmente uma variação de tabaca. Mas por que isso é negativo? Tem um preconceito embutido ao falar isso do qual as pessoas não se dão conta."

'Sauna para a alma'


O escritor português Sérgio Luís de Carvalho, autor de Dicionário de Insultos (2014, Planeta), buscou a origem de 600 termos do tipo em nosso idioma.

Ele conta, por exemplo, que aberrante (anormal), vem do latim aberratio e, entre os romanos, designava quem andava sem destino. A partir do século 19, passou a ser usado para designar algo raro e desagradável.

"Insultar é importante, porque é uma sauna para a alma. Traz um alívio", diz Carvalho. "Todos precisamos fazer isso de vez em quando. Se não faz, tem algum problema."

Mais recentemente, diz o escritor, o português falado em Portugal incorporou alguns insultos comuns no Brasil, um efeito colateral do sucesso das novelas brasileiras por lá.

"Há algumas décadas, nenhum português sabia o que significava 'cafajeste' ou 'brega', por exemplo. Ao mesmo tempo, 'puto' não é um insulto em Portugal, quer dizer 'rapaz'."

Ele dá ainda alguns outros exemplos a quem deseja ampliar o seu repertório de ofensas com alguns termos correntes além mar.

"Em vez de xingar alguém de ladrão, pode dizer flibusteiro. Ou chamar um burocrata de manga-de-alpaca. Ou dizer que uma pessoa diabólica é mefistofélica."

"Insultar é uma arte. Há muitas formas de fazer isso. Há o jeito grosseiro, que usamos no trânsito e uma forma elegante, que costumava ser usada nos velhos parlamentos. É o insulto fino", diz Carvalho.

"No último século, esse jeito elegante deixou de ser usado no universo parlamentar, que caiu muito de nível."

Mas, como mostra a discussão entre Barroso e Mendes, segue em prática em alguns tribunais.

Insultos cultos de A a Z


Uma seleção de palavras para quando você precisar xingar alguém, mas não quiser descer do salto.

Abantesma: Assombração, figura que assusta, espectro. Pessoa cuja presença causa desconforto, repugnância. Vem do grego phántasma.

Bonifrate: Boneco articulado e movido para representar cenas. Pessoa dócil que age comandada por outro. Fantoche. A origem do termo é nebulosa, mas parece que seja derivada do latim: bonus + frater - bom irmão.

Concupiscente:
Pessoa que tem desejo irrefreável pelo gozo. Luxurioso, lascivo. Essa ânsia pode ser por bens materiais ou pela posse sexual. Ou por ambas simultaneamente. Um concupiscente é voraz, tarado. O conhecimento exato do termo, em alguns ambientes sociais, pode transformá-lo em elogio. A palavra é latina.

Dendroclasta:
Destruidor de árvores, agressor da natureza. Do grego dendron - árvore - e klatos - quebrado.

Espurco:
Sujo, sórdido, torpe, que vive na espurcícia. Vale para o indivíduo que aprecia a imundície e se apresenta imundo. Usa-se, ainda, para a pessoa moralmente suja. "Nasceu e cresceu num chiqueiro moral e é tão espurco quanto o meio onde vive."

Futre:
Do francês, froutre. Homem desprezível, vil. Pode, também, ser sinônimo de avarento.

Grasnador:
Indivíduo que fala com voz desagradável, que grasna como o corvo ou o pato.

Histrião:
No antigo teatro romano, o histrione era o comediante que representava farsas. Designa o sujeito ridículo, farsante, palhaço ou charlatão. "Foi eleito, mesmo sendo um histrião ou, talvez, por isso."

Intrujão:
Se um sujeito que se aproxima de um grupo e finge participar de seus valores e atividades com o objetivo de enganar os seus membros e obter vantagem para si próprio está cometendo uma intrujice. "Quem iria desconfiar daquele intrujão golpista? Ele parecia o mais bonzinho de todos..."

Jacobeu:
Nome dado ao partidário de uma seita fanática que apareceu em Portugal no século 18. Acabou designando um sujeito hipócrita, falso.

Liliputiano:
Baixinho como os habitantes de Lilipute. Em As Viagens de Gulliver, o escritor inglês Jonathan Swift (1667-1745), descreve um país imaginário onde tudo era muito pequeno, inclusive os seus moradores. Aplica-se não apenas às pessoas de baixa estatura, mas aos que são moral e intelectualmente reduzidos.

Misólogo:
Quem tem aversão ao raciocínio, à lógica, à ciência. Do grego miséo - odiar + lógos - palavra, estudo.

Nóxio:
Nocivo.

Obnubilado:
O que tem o pensamento obscuro e lento. Obnubilare, em latim, é "cobrir como nuvem". Emprega-se no caso da incapacidade de enxergar com clareza. O obnubilado é o que está em campo escuro, sem a luminosidade necessária à visão.

Peralvilho:
Indivíduo que se veste para estar elegante e só consegue ser ridículo. É o metido a elegante sem o ser. Janota, almofadinha.

Quebra-louças:
Pessoa desastrada, que provoca confusão.

Réprobo:
Perverso, malvado. Do latim, reprobu.

Soez:
Vil, reles, ordinário.

Traga-mouros:
Homem brutal, violento.

Usurário:
Usura é palavra latina para juro de capital. O usurário é o que exige juros altos pelos empréstimos feitos a quem precisa de dinheiro. Agiota.

Valdevinos:
Pode ser vagabundo, um esperto que vive à custa dos outros. Ou um doidivanas, amalucado. É derivado do nome próprio Balduíno ou Valdovinos, um cavalheiro que aparece nos romances de cavalaria que, em séculos passados, tornou-se popular. O personagem transformou-se em substantivo comum.

Xenômano:
Quem tem mania por tudo que vem do exterior. É o oposto do xenófobo, que despreza o que é de fora. A xenomania leva o sujeito a gostar do ruim porque tem um rótulo estrangeiro e a menosprezar o melhor porque tem um rótulo com texto em sua própria língua.

Zoantropo:
Pessoa perturbada mentalmente que se sente transformada em um animal. Vítima de zoantropia. Do grego zôon -ser vivo + ánthropos - ser humano.


Fonte: Dicionário Brasileiro de Insultos (2002, Ateliê Editorial)
http://www.bbc.com/portuguese/geral-43517662
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Essa primeira frase de insulto... Comparando-se a falta de qualidade do STF com a melhor qualidade das instâncias inferiores ele é uma amostra do que pode vir a ser no futuro o "apagão cognitivo" nas sociedades. Um grupo repelido por pessoas em todo espectro ideológico que produz a tempestade perfeita. Um ambiente odiado que pode gerar terrorismo vindo de qualquer lado e não permite nem "capitalizar" com a desgraça dos outros lados. Quando a alta corte abre mão do monopólio da justiça a natureza toma conta do vazio deixado e a natureza domina cruel. De que adianta ter habilidades políticas ou instinto de sobrevivência se nada mais restar é a pergunta. Enquanto no sul os agricultores se matam em favor da própria honra em Brasília ninguém nem sabe o que é isso e depois ficam espantados com a reação da população ao querer insultar. O governo merece mais que insulto e sim revolta porque pedir desculpas não resolve o problema.
 

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