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“Passageiro do Brasil: São Paulo”

heimmrich

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Visto que nasci em um avião, parecia estranho que eu olhasse tão pouco para cima em Brasília e tanto em São Paulo. A explicação é simples: o céu brasiliense está sempre lá à desarrumar nossos cabelos. Já São Paulo têm arranha-céus, que guiam a visão do turista desacostumado para cima, levando-o a olhar o que ninguém sabe se é mesmo céu ou só fumaça.

Era exatamente o que eu fazia, fora da minha zona de conforto, no meio da Av. Paulista com o sol a pino. Milhares de pessoas cruzavam-me e nenhuma notava o jovem embasbacado com uma cidade diferente de tudo aquilo que ele havia visto – o que é óbvio, já que em meus dezessete anos de vida, vi muito pouco. Era tanta a falta de atenção que tenho certeza que, se eu estivesse nu, ainda passaria desapercebido – já que também não há lá grandes coisas à se perceber.

Já noite, desci até a Rua Augusta para entender sua famosa reputação. Era notável. Cosmopolita, como diziam, é pouco para descrevê-la. Podia-se ver, em qualquer dos lados que olhasse, novos baianos, mutantes, titãs e ratos de porão, todos ultrajados à rigor.
Sentei em um bar qualquer, pedi uma água e fiquei à observar a procissão de tudo aquilo que me é brasileiro. Não era o brasileiro sertanejo, carioca ou africano como cantam os saudosistas, mas o novo, aquele que injeta até nos estrangeirismos uma essência perfeitamente brasilis.

Pedi a conta e aí veio o primeiro assalto. Cinco reais – diz a atendente com um sorriso falso que eu queria afogar no que restou da minha água e só não o fiz porque, pelo visto, ela era preciosa. Paguei à contra-gosto. Ser brasileiro não é barato.
Continuo descendo a Augustinha (chamo assim porque depois de pagá-la cinco reais, já me sentia íntimo da garota) até não saber mais onde estava. Peguei o primeiro ônibus que passou, esperançoso, já que o motorista não fez questão de responder quando lhe perguntei, de que este se dirigisse até alguma rodoviária onde poderia localizar-me melhor.

Após atravessar a Marginal, o ônibus pára em qualquer lugar e o motorista avisa: fim da linha. Desço me sentindo tão perdido quanto um brasiliense em São Paulo. Vejo um rapaz parado na esquina e pergunto-lhe onde posso encontrar o metrô mais próximo. Aí veio o segundo assalto da noite: Metrô o caralho, mermão, passa a grana e o aparelho, meu! – Desde então comecei a questionar essa possessividade tão típica dos paulistanos. Para eles, tudo é “meu”. Oras, fui eu quem comprou o celular. Seu não, meu! Mas quando ele me apontou a arma decidi que não adiantava discutir e entreguei o que foi pedido.

Depois de muito andar acabo dando de cara com o metrô. Logo que vi a placa, sinalizando onde eu estava, compreendi que ser assaltado era o mínimo que eu podia esperar: “aqui é Capão Redondo, truta, não Pokémon” como já diriam os Racionais. Com o pouco dinheiro que havia escondido na meia consegui voltar para o meu hotel. Passei o dia seguinte trancado em meu quarto, assistindo a tv que passava os mesmos programas ruins de Brasília e à noite tomei o avião rumo ao “meu” avião.
Passar alguns dias na garoa é turbulento para quem nasceu passageiro.
 

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