Morfindel Werwulf Rúnarmo
Geofísico entende de terremoto
A maioria das bactérias não faz mal a ninguém. Mesmo assim, todos os dias, zilhões de germes inocentes são exterminados por um arsenal cada vez maior e mais complexo de desinfetantes e sabonetes antissépticos.
A professora Priscila Blazko, que faz os filhos Vinicius, 6, e Marina, 4, tomarem banho toda vez que brincam na areia
Essa matança injusta e indiscriminada de micro-organismos é desnecessária e pode fazer mal à saúde.
Além de ocupar espaço e comer células mortas, bactérias neutras desempenham várias funções no organismo. Ajudam na síntese de vitaminas e no funcionamento do intestino, por exemplo.
O biólogo Marcos André Vannier-Santos vai além e diz que, sem os parasitas, os homens não seriam os mesmos.
É claro que muitos parasitas são nocivos e que os cuidados básicos com higiene são fundamentais, mas nada justifica uma certa paranoia desinfetante que está tomando ares de epidemia, a julgar pela quantidade de produtos "superpoderosos" que chegam ao mercado.
A professora de português Priscila Blazko, 34, é uma das adeptas dos produtos que matam 99% dos germes.
Quando seus dois filhos brincam na areia, Priscila exige que tirem a roupa antes de entrar em casa.
MANIA DE LIMPEZA
Em excesso, a limpeza pode virar doença. Medo de contaminação é um dos transtornos obsessivo-compulsivos mais comuns, segundo a psiquiatra Roseli Shavitt, coordenadora do Protoc, grupo ligado ao Hospital das Clínicas de SP.
Além de ser um sintoma de um transtorno, lavar várias vezes as mãos e tomar vários banhos não faz bem à pele.
Um banho de cinco a dez minutos ao dia é suficiente. E não é preciso esfregar.
RESISTÊNCIA
Muitos sabonetes e outros produtos bactericidas têm triclosan ou triclocarban na fórmula. Cientistas debatem se essas substâncias antimicrobianas podem selecionar bactérias resistentes, contribuindo para o surgimento de superbactérias.
Para ele, germicidas devem ser usados só em situações específicas: em hospitais e na manipulação profissional de alimentos e lixo.
Segundo a Unilever, fabricante da linha Lifebuoy, seu sabonete não tem triclosan na fórmula.
Fonte
A professora Priscila Blazko, que faz os filhos Vinicius, 6, e Marina, 4, tomarem banho toda vez que brincam na areia
Essa matança injusta e indiscriminada de micro-organismos é desnecessária e pode fazer mal à saúde.
diz a médica Flávia Rossi, diretora do laboratório de microbiologia do Hospital das Clínicas de São Paulo."Com a morte de bactérias neutras, sobra mais espaço para nocivas",
Além de ocupar espaço e comer células mortas, bactérias neutras desempenham várias funções no organismo. Ajudam na síntese de vitaminas e no funcionamento do intestino, por exemplo.
O biólogo Marcos André Vannier-Santos vai além e diz que, sem os parasitas, os homens não seriam os mesmos.
diz ele, que é pesquisador do laboratório de biomorfologia parasitária da Fundação Oswaldo Cruz,"Temos vários genes e enzimas de origem bacteriana. A coagulação sanguínea acontece graças a bactérias. A placenta foi formada a partir de um vírus",
É claro que muitos parasitas são nocivos e que os cuidados básicos com higiene são fundamentais, mas nada justifica uma certa paranoia desinfetante que está tomando ares de epidemia, a julgar pela quantidade de produtos "superpoderosos" que chegam ao mercado.
diz Stefan Cunha Ujvari, médico infectologista, autor do livro "Perigos Ocultos nas Paisagens Brasileiras _Como Evitar Doenças Infecciosas" (Senac/SP, 232 págs., R$ 45)."Não é necessário ter em casa todos os cuidados que temos no ambiente hospitalar. Não precisa desinfetar todos os lugares. Água e sabão comum são suficientes",
A professora de português Priscila Blazko, 34, é uma das adeptas dos produtos que matam 99% dos germes.
diz."Leio os rótulos e compro aquele que mata mais",
Quando seus dois filhos brincam na areia, Priscila exige que tirem a roupa antes de entrar em casa.
Não só ela. Estamos todos sob influência da "cultura da higiene", na visão da antropóloga Sônia Weidner Maluf, professora da Universidade Federal de Santa Catarina."Eu sei, às vezes exagero."
Isso é incentivado, segundo ela, pelo medo coletivo."A ideia do que é limpo e do que é sujo é construída socialmente. Na nossa cultura, tudo que não é esterilizado é sujo e causa doença."
"As situações de risco são ampliadas pela publicidade, e as pessoas ficam com a ideia de que podem se contaminar a qualquer momento."
MANIA DE LIMPEZA
Em excesso, a limpeza pode virar doença. Medo de contaminação é um dos transtornos obsessivo-compulsivos mais comuns, segundo a psiquiatra Roseli Shavitt, coordenadora do Protoc, grupo ligado ao Hospital das Clínicas de SP.
A dona de casa Marina Carpi, 53, sempre foi perfeccionista e gostou de tudo muito limpinho. Até que a mania passou a incomodar."A limpeza se torna um ritual obrigatório, que perturba a pessoa e impede que ela faça outras atividades."
diz ela, que fez terapia por três anos. Hoje, se considera bem melhor."Toda vez que saía de casa tinha que trocar de roupa porque achava que eu estava suja. Tomava vários banhos por dia para me sentir limpa",
Além de ser um sintoma de um transtorno, lavar várias vezes as mãos e tomar vários banhos não faz bem à pele.
diz a dermatologista Luciana Conrado."Nossa pele tem uma barreira sebácea natural. Se a agredirmos, podemos causar infecções",
Um banho de cinco a dez minutos ao dia é suficiente. E não é preciso esfregar.
O contato com micro-organismos também estimula o sistema imunológico."Não somos panelas, para ter que lavar com esponja. Sabonete, só onde está mesmo sujo."
afirma Clóvis Eduardo Santos Galvão, imunologista da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia."Crianças que não foram expostas a ambientes com mais bactérias e vírus têm maior possibilidade de desenvolver alergias",
RESISTÊNCIA
Muitos sabonetes e outros produtos bactericidas têm triclosan ou triclocarban na fórmula. Cientistas debatem se essas substâncias antimicrobianas podem selecionar bactérias resistentes, contribuindo para o surgimento de superbactérias.
diz Marco Miguel, professor de microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro."Qualquer antimicrobiano, ao eliminar bactérias, seleciona micro-organismos mais resistentes",
Para ele, germicidas devem ser usados só em situações específicas: em hospitais e na manipulação profissional de alimentos e lixo.
A polêmica vai longe. Semana passada, um grupo da Universidade do Arizona, nos EUA, depois de realizar estudos com os compostos químicos, declarou que não têm eficácia e não se degradam facilmente no ambiente."Sabão comum remove a sujeira com a mesma eficácia. Não devemos desperdiçar substâncias químicas. Com o tempo, teremos que criar novas, mais potentes".
Segundo a Unilever, fabricante da linha Lifebuoy, seu sabonete não tem triclosan na fórmula.
"O ingrediente foi substituído por outro agente para minimizar o impacto ambiental".
De acordo com a Reckitt Benckiser, fabricante do sabonete Dettol, que tem triclocarban na fórmula,"A ação antibacteriana do produto é comprovada por rigorosos testes em laboratório e o uso pode evitar doenças comuns como diarreia e infecções respiratórias."
Ainda segundo a fabricante, esses produtos"o uso de produtos antimicrobianos, tais como Dettol, é capaz de remover as bactérias patogênicas, mas não as bactérias inofensivas da pele".
A Colgate/Palmolive, fabricante do sabonete Protex, foi procurada pela reportagem, mas não respondeu."têm um papel importante na saúde pública e também ajudam a controlar surtos de resistência a antibióticos."
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