Fiquei tão empolgado com Pendragon que comecei a reler meu Rei do Inverno.
Pelo que você falou, de que você é um "cavaleiro", e tem que escolher "virtudes cavalheirescas" (coragem, castidade, etc) não foi o que pareceu.
Mas o Rei do Inverno está cheio de demonstrações de virtudes dos nobres companheiros de Arthur - a honra e senso de justiça de Arthur é a causa de diversos conflitos, assim como a coragem de Tristan, lealdade de Derfel, etc. Basta trocar a palavra "cavaleiros" por guerreiros. Essas "virtudes" refletem o idealismo de Arthur e seus seguidores. Assim como os vícios lembram que no final, são apenas humanos.
Nem por sua perspectiva épica (você é um senhor de terras, ao contrário das Crônicas de Arthur onde a maior parte dos heróis principais é de soldados que se tornam pequenos senhores de bandos de guerreiros)
Mas ha várias passagens nos livros sobre Arthur trabalhando em suas terras, levantando muros e torres, indo a encontros diplomáticos com outros nobres, ouvindo os conselheiros e servos, passagens de temporadas e noticias do que aconteceu a sul, norte, leste, oeste, o inverno quando eles ficam dentro de casa (é exatamente no inverno que Pendragon faz as rolagens de administração, para ilustrar que os nobres estão em casa), etc.
Além do mais, esse 1/3 de "estratégia de tabuleiro" de Pendragon é perfeito para ilustrar a estrutura feudal (ainda que embrionária na época em questão) do período medieval. Ouso dizer que Pendragon é o jogo mais genuinamente
medieval que já vi, não só por ser histórico (ou fictício-histórico) mas por dar importancia, em termos de jogo, ao sistema feudal e suas particularidades - ainda que ilustradas por mecânicas simples e rapidas - e principalmente por ilustrar a ambientação com uma riqueza de detalhes incrível:
- Uma parte enorme do livro lida com a vida no perído da Idade das Trevas, e mais especificamente nessa região - habitada por Bretões, Saxões, Jutes, Anglios, Pictos, Irlandeses, etc. Na parte de religião, ha uma aprte enorme só para esclarecer as diferenças entre o cristianismo romano e o cristianismo "celta" ( Só pra você ter uma idéia );
- A magia dos druidas é totalmente sutíl (nada de bolas de fogo explosivas ou "magic missiles"), tendo mais a ver com influência sobre os outros (psico-somatização e auto-sugestão) e curas erbalísticas e presságios .
- O folclore regional - muito ligado à religião, é ilustrado. Formorians, the Fae, etc. E fica o autor deixa claro que tudo isso pode ser fato ou apenas crenças e superstições.
- Os utensílios e armamentos do período são bem caracterizados - nada de armaduras reluzantes e espadões de 2 mãos aqui! O máximo que existia no período eram proteções de couro e cotas-de-escamas, assim como elmos de ferro, e espadas simples de 1 mão que mais pareciam
gládius romanos mais alongados, do que as espadas medievais de hilt cruciforme que vemos na ficção.
- O combate é letal. 1 golpe bem colocado e bau-bau. Seja quem for que tomou (mesmo Arthur).
Posso dizer, Elda, que não existe uma ambientação que melhor caracteriza os livros de Bernard Cornwell do que Pendragon. E o interessante é que o autor dá essa versão histórica como defaut/padrão, mas oferece várias outras versões disso, baseadas em vários autores, que podem ser mais ou menos históricas como o grupo desejar (como o Arthur em armadura de placas brilhante em torneios de justas e com uma excalibur igual a uma espada de 2 mãos da baixa Idade média.
).
Quem curte as lendas de Arthur, seja de Bernard Cornwell como eu, ou de qualquer outro autor, deve a si mesmo uma lida em Pendragon. Acreditem, eu mesmo sempre achei esse papo de "Rei Arthur" meio tosco. Elda, é fácil de achar na net (se é que me entendes
). Se puder, consiga. Vale a pena. Aliás, nos ultimos tempos tenho percebdo que até mesmo jogos cujo tema não me atraem, mas são muito bem feitos e ilustram muito bem o tema que se propoem, acabam despertando minha curiosidade.