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Palavras

Palavras. Muitas delas nasci sabendo, e tenho um costume quase bobo de não percebê-las. Estão por toda parte, nas placas, nas músicas, nos pedidos de desculpas, no casal que discute no 304, nas poesias do tão adorado Quintana. Palavras, com som, ritmo, vida, com lacunas, dúvidas, com amor do viveram felizes para sempre. Palavras na tela, nos livros, nas promessas, aliás, nas promessas de fé, que é unicamente fomentada por palavras. Vivo rodeada delas, as roubo, uso com tanto cuidado para que não sejam ditas contra mim. Que traiçoieras! Quando mais as quero, menos saem... ou vazam, se bagunçam sem ordem e lógica, em milhares de frases que não podem voltar atrás. Ah, palavras! Se soubessem como as amo e as odeio, como se esse dissídio pudesse ao menos ser organizado por vós, palavras capengas, incompletas e vazias. Se ao menos, soubessem o que significam, precisam se apoiar em outras palavras para dizer quem são... Dispensáveis! Meu pensamento é soberbado por elas, e uso algumas para vos pedir perdão, e selar nosso amor eterno, queridas palavras do meu coração! Palavras que constroem o mundo, palavras que desmoronam o amor, palavras que buscam a verdade, que definem dicionários e que contam uma bela mentira, sem ao menos aparentar desonestidade. Se-pa-ra-das, juntinhas formadas, mudam a cada sílaba... Promovem ditongos ou hiatos, assim, nesta relação de amor e ódio... Pois mesmo o meu silêncio, que nenhuma conseguirá explicar, está cheio delas... Aquelas que não puderam ser ditas!
 
Você escreveu em outro tópico:

Amélie disse:
Romeu e Julieta é absurdamente perfeito para citações românticas:

"Que há num simples nome? O que chamamos rosa, com outro nome não teria igual perfume?"

Palavras são engraçadas. Nos vem a cabeça palavras quando vemos as coisas, e coisas quando vemos as palavras. Gostei da viagem, me fez pensar em algumas coisas.
 
Exatamente! E não só... significante e significado, ícone, índice... Os semiólogos iam adorar debater sobre isso, não?

Essa frase do Romeu e Julieta, além de linda é reflexiva... Digamos... Teriam ou não igual perfume... e mesmo se não soubesse o que é uma rosa, ao saber da palavra não enchemos o nosso pensamento? É sempre essa confusão entre realidade e imaginação, e acho que é por isso que os livros nos intrigam tanto...
 
Pois é Amélie, semiótica foi um dos assuntos que mais me cativou na faculdade. Até me aventurei a ler o tratado do Umberto Eco (e foi aí que fiquei instigado a ler a Ilha do Dia Anterior e O nome da Rosa também). É isso mesmo, a discussão vai longe se deixar.

Amélie disse:
É sempre essa confusão entre realidade e imaginação, e acho que é por isso que os livros nos intrigam tanto...

Nossa, o livro é justamente isso. Símbolo atrás de símbolo. Por isso que percebemos a história diferente em cada fase da nossa vida, quando vamos aprimorando nosso repertório e as "imagens" começam a vir mais claras ou então diferentes. Aposto que quem leu senhor dos aneis quando era criança vai encontrar cenários completamente diferentes (isso se as imagens do filme não se transformarem no seu ponto de apoio para visualizar os locais do livro).

Ai ai, vamos abrir um tópico pra discutir essas coisa?! ehehehe
 
Amélie disse:
Ah, palavras! Se soubessem como as amo e as odeio, como se esse dissídio pudesse ao menos ser organizado por vós, palavras capengas, incompletas e vazias. Se ao menos, soubessem o que significam, precisam se apoiar em outras palavras para dizer quem são...

Adorei Amélie! =]
 
Sei bem o que é capenga, quando quebrei a perna e voltou a andar fiquei sendo chamado assim por um boooom tempo rsrsrs.

Palavras, elas dizem tanto e as vezes nada, mas possuem ums força descomunal.
 
Palavras destroem e palavras constroem. É interessante ver isso no jornal, por exemplo, criando medos e incertezas, falando hoje de coisas que são verdades absolutas e amanhã já são mentiras deslavadas. Todos os dias somos submetidos ao imediatismo dos jornais que se precipitam em dar a notícia antes de todo mundo, mas depois é tarde para consertar. Quem não garante que a crise (ou pelo menos a piora da crise) não foi culpa da imprensa. E o desespero do povo quanto a gripe nova, aquelas máscaras que não servem pra nada mas foram pregadas como salvação no começo da epidemia (que é tida como fatal e ameaçadora enquanto outras doenças estão trucidando muito mais pessoas no mundo e agora estão esquecidas). No plano de fundo das palavras é que acontece a verdadeira ação. E pra terminar a frase do nosso "queridíssimo" José Sarney: "É mais difícil lidar com o silêncio do que com as palavras". O plano de fundo, o silêncio, o que realmente importa, sobreposto por palavras, que criam toda a história em que nós acreditamos, mas não vemos, traindo os próprios olhos...

Amélie, desculpe encher seu tópico com essas coisas, é que seu texto dá margem para tantas discussões e pensamentos! Então, finalmente, uma última referência. A introdução do V for Vendetta (que comprei ontem encadernado americano na Saraiva, iupiii) fala exatamente sobre isso. Sobre como as próprias pessoas pedem para que omitam delas o silêncio, e as deixem apenas com as palavras, as falsas esperanças que sobrepõem um mundo do qual não deveríamos nos orgulhar.
 

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