Porra, tem tantos assuntos pertinentes e mais produtivos para o intelecto e cultura humanos...
Eu acho extremamente válido e produtivo para o conhecimento humano discutir sobre a validade e o sentido da vida. Aliá, acredito que essa seja a principal questão humana.
3- "Exercer o direito adquirido": dar fim à própria vida nunca foi um direito, nem mesmo forçadamente subjetivo, pelo menos neste país. Decidir sobre o próprio corpo? Ok, faça as tatoos que você quiser, bote piercing no clitóris, no esfincter anal, onde quiser... mas que tais pessoas não tentem estender esse raciocínio ao de tirar a própria vida ou de quem quer esteja "associado" ao corpo dela, trocando em miúdos: aborto também não é direito, mas essa é uma outra discussão.
Qual a relação de legalidade entre suicídio e aborto?
Coisas completamente diferentes.
3- quem disse que não tem nada de errado com as outras formas de se incitar o suicídio? E que tratado nacional, internacional, lei, decreto, MP, portaria ou whaRever que o declarou como 'direito adquirido'?
Eu achei que estivesse na Declaração Universal dos Direitos Humanos... (
http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php)
É claro que apesar de não ser
ilegal, não quer dizer que seja legal no sentido estrito da lei, que é estar inscrito. O suicídio é uma parte esquecida da legislação. Apenas não há proibições. Ou seja, um suicida pode sim exercer um direito de liberdade sobre si mesmo e optar por se extinguir.
Quanto a prestar auxílio ao suicida, isso é proibido, segundo me parece. Não porque exista uma lei específica de proibição ao incitar o suicida, mas é encaixado como omissão de socorro.
Apesar de sofrer desaprovação moral por parte da sociedade, o suicídio não é proibido.
4- Ela poderia já ter uma série de problemas, problemas esses que certamente não eram culpa dos músicos, como por exemplo a falta de carinho da sociedade, especialmente dos pais, e mais N problemas de ordem emocional. Ninguém nega isso.
Esse é um engano comum: rotular a emotividade dilacerada como causa comum e única para o suicídio. Há muitas formas de suicídio e nem sempre a causa é afetiva. Ela pode ser de ordem econômica, política, ideológica ou mesmo intelectual.
Mas a música pode ter agido como a "gota d'água', aquela pequena pecinha que faltava para completar a motivação. Talvez a menina não tivesse se suicidado se não tivesse ouvido a música. Isso confere responsabilidade moral aos compositores.
As causas para um suicídio podem ser das mais diversas. A música que ela ouvia poderia ser mesmo a conseqüência de seus pensamentos suicidas e não a causa. O que é bem possível.
E exatamente por o suicído ter essa pecha de desespero último, bastante recriminável, que é óbvio que o impulso é culpar alguém pelo incentivo do suicida.
Uma coisa é um indivíduo resolver se matar, subir na laje e pular.
Outra, completamente diferente, é um cara que pensa em se matar mas está em dúvida só o fazer DEPOIS de receber incentivo e ajuda de anônimos do mundo inteiro, que continuam vivos mandando pessoas se matarem.
Isso, além de imoral e anti-ético é ilegal em quase todo lugar, Brasil incluso.
Anti-ético é um termo variável. Ética se dá pela reflexão e análise de comportamentos que podem ser encaixados como "bons" e "sadios". Incitar a morte com certeza não é ético, mas prover uma pessoa de aparatos mentais que a ajude a se deicidir sobre si mesma, não julgo que seja recriminável. A questão seria a de mostrar todos os ângulos e não forçar a ver somente um desses ângulos (levar uma vida de "felicidade" norteada por valores que não se adaptam a tal pessoa). Também seria igualmente válido, ao falar de suicídio como solução, falar de uma vida regrada por outros valores que não os que ela rejeita. Mas aí é uma questão de escolha.
E a questão de receber orientação para o suicídio. Eu, numa opinião pessoal, veja bem, não acho recriminável. Sendo o suicídio um direito sobre si mesmo e que, portanto, não prejudica os demais, todos têm o direito de receber informações que viabilizem tal prática. Isso é completamente diferente de que alguém receber instruções de como praticar um homicídio, estupro ou qualquer outro crime bem sucedido, já que
esses atos prejudicam outrem.
Se recebemos informações de como viver nossas vidas, porque não poderíamos receber informações sobre como dar um fim às nossas vidas? Eu não escolhi nascer, mas posso e gostaria de poder escolher morrer.
Claro que essa é toda uma questão de escolhas subjetivas, em cada um tem um pensamento sobre o assunto de vida e morte. O problema é querer suprimir, e quase diria censurar, um direito sobre si mesmo, quando exatamente essa é uma das premissas básicas da nossa sociedade.
Vamos acabar com o suicídio no Brasil de maneira simples fácil e barata.
1º - Vamos queimar todos os exemplares de Werther e proibir sua distribuição - por qualquer meio que seja. A mesma coisa pra músicas EMO e composições artísticas em geral que sejam tristes/depressoras.
2º - Vamos proibir a venda de Paracetamol, afinal de contas o remédio mais usado mundialmente pra se matar não pode ser vendido por aí, né ?
3º - Vamos proibir que jornais impressos, revistas, sites, rádios e tele-jornais noticiem qualquer coisa que possa deprimir alguém.
A partir de hoje teremos somente os Trapalhões (das antigas) desenhos animados (previamente autorizados, nada de animê e desenhos violentos) e musicais da Disney na TV (Bambi não vale, porque é triste...).
Nas bancas de jornais só Turma da Mônica e Caça-Palavras com motivos animadores (Horizontal: Felicidade, Alegria, Amor Vertical: Não se mate!, Seja Feliz, Blá blá blá...)
Sim, porque inviabilizar um poder de escolha? Porque proibir uma informação que poderá quem sabe talvez num futuro incerto ser utilizada desta ou daquela maneira?