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[Paganus] Timidez [L]

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Paganus

Visitante
Uma coisa que o deixava vexado de morte naqueles dias, como em outros, além das pernas das moças, eram certos olhares que ele derramava assim, sem mais nem menos, ou melhor, raios de luz com que acertava suas vítimas, acertava com certa pena e só recebia pena, comiseração de volta, e muito asco em seguida. Tudo era muito simples naqueles tempos simples, menos ele e aqueles sentimentos estranhos que aqueciam seu coração e que ele evocava frequentemente, seja ao cagar, seja ao sentir o perfume doce que uma mocinha em especial exalava, perfume natural como as colônias vagabundas que as meninas roubavam das mães menos pródigas. Essas evocações lhe custavam muito sofrimento pra se chegar a algum gozo e nunca terminavam satisfatoriamente, isto é, sem muita culpa e despeito de outros olhares indignos dela e outras coisas mais ou menos opostas e confusas e misturadas. Mas sempre havia muita culpa e uma auto-higiene que demandaria ainda muitos anos de constrangimento familiar e aperfeiçoamento gradual. Além das evocações tudo o mais era tédio, dúvida e muita dor para se suportar sem nenhum alívio juvenil, já abundantes na época embora menos acessíveis hoje, nessa nossa época tão feliz.

Olhar para as moças era tão difícil quanto olhar para si mesmo, é difícil se amar aos quatorze anos mas parece ainda mais difícil se odiar e a vida nunca é fácil nessa idade. Pode-se sonhar muito e se desapontar consigo mesmo sem se quebrar as esperanças e assim se vive, se iludindo com esperanças que nunca se lhe parecem falsas, são tão verdadeiras quanto as evocações que lhe causam tanto prazer e dor. Outra coisa que se lhe afigura indomável são as batidas do coração que se tornariam tão mais fortes quanto mais fracas as evocações seriam depois dos anos de adolescência, o que não causa culpa nem dor nem gozo nem auto-higiene mas pura e simples impotência diante do que não tivera coragem de alcançar. Mais patético é lembrar o quanto seria simples, bastaria um simples ato de vontade e muito seria possível e até mesmo certo, mas que é hoje impossível, e por tão pouca coisa! Hoje há a distância, rivais mais fortes e competentes e principalmente experientes, novos círculos, há tanta coisa nova!, tanta coisa diferente e mesmo há pessoas tão diferentes.
Mas ele sabe, teima em saber de algo falso, ele sabe de sua falsidade mas insiste nessa veracidade sentimental e falseadora. Somos os mesmos! Nada mudou, só o tempo nos levou, nos distanciou um do outro e chegará a hora em que... em que... onde nos reencontraremos e dessa vez, dessa vez ele saberá o que dizer, dirá tudo e tudo será tão belo e brilhante, tão feliz e mágico! Tudo será como nesses filmes, mas mais verossímil, com menos palavras amargas e menos ‘sentimentalismo’ mas muita sinceridade e verdade, uma estoica resignação diante da verdade e da dor. É um otimista esse garoto e continuará sendo otimista para se desculpar da covardia e será covarde ainda por muitos anos e se desgastará esse coração sempre jovem, sempre agarrado nas esperanças mais ingênuas, sempre sonhando com algo que não sabe o que é nem pra que serve, mas deve ser belo, bom e útil, e sem o que não conseguirá viver...
 
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