Ana Lovejoy
Administrador
Wilde foi criado numa família protestante (convertendo-se à Igreja Católica depois), estudou na Portora Royal School de Enniskillen e no Trinity College de Dublin, onde sobressaiu como latinista e helenista. Ganhou depois uma bolsa de estudos para o Magdalen College de Oxford.Wilde saiu de Oxford em 1878. Um pouco antes havia ganhado o prêmio "Newdigate" com o poema "Ravenna".
Passou a morar em Londres e começou a ter uma vida social bastante agitada, sendo logo caracterizado pelas atitudes extravagantes. Foi convidado para ir aos Estados Unidos a fim de dar uma série de palestras sobre o movimento estético por ele fundado, o esteticismo, ou dandismo, que defendia, a partir de fundamentos históricos, o belo como antídoto para os horrores da sociedade industrial, sendo ele mesmo um dândi.
Em 1883, vai para Paris e entra para o mundo literário local, o que o leva a abandonar seu movimento estético. Volta para a Inglaterra e casa-se com Constance Lloyd, filha de um rico advogado de Dublin, indo morar em Chelsea, um bairro de artistas londrinos. Com Constance teve dois filhos, Cyril, em 1885 e Vyvyan, em 1886. O melhor período intelectual de Oscar Wilde é o que vai de 1887 a 1895.
Em 1892, começa uma série de bem sucedidas histórias, hoje clássicos da dramaturgia britânica: O leque de Lady Windermere (1892), Uma Mulher sem Importância (1893), Um Marido Ideal e A importância de ser Prudente (ambas de 1895). Nesta última, o ar cômico começa pelo título ambíguo: Earnest, tem o mesmo som de Ernest, nome próprio; Publica contos como O Príncipe Feliz e O Rouxinol e a Rosa, que escrevera para os seus filhos, e O crime de Lord Artur Saville. O seu único romance foi O Retrato de Dorian Gray.
A situação financeira de Wilde começou a melhorar, e, com ela, conquista uma fama ainda maior. O sucesso literário foi acompanhado de uma vida bastante mundana, e suas atitudes tornaram-se cada vez mais excêntricas.
Fonte: Wikipedia
***
Agora Anica fala sobre Wilde
Meu primeiro contato com Oscar Wilde se deu bem cedo, eu tinha algo em torno de 8 a 9 anos quando peguei na biblioteca do bairro O Fantasma de Canterville e outras histórias. Achava que seria um livro todo de histórias de fantasmas, e mesmo que a que dava nome à coletânea seria assustadora, e bem, não era. Fiquei meio decepcionadinha, confesso. Mas né, eu era uma criança ainda. Passam alguns anos, eu tinha quatorze anos quando li O Retrato de Dorian Gray pela primeira vez. Foi uma paixão imediata, especialmente por causa das coisas que a personagem Lord Henry dizia. E eu que estava em uma fase de profunda paixão pela Inglaterra, vibrei ainda mais com aquele retrato da sociedade com o tal do "humor britânico" que Wilde dominava tão bem. Assim, ele entrou na minha lista de favoritos (tanto o livro quanto o escritor).
Passou mais algum tempo quando ganhei de um ex-namorado um Obras Completas, que tinha junto as peças de teatro de Wilde. Eu tinha ali algo na casa dos 19 anos de idade, e me encantei com os diálogos precisos do autor, chegando ao ponto de pensar que era realmente uma pena que muitas pessoas só conhecessem Wilde pel'O Retrato de Dorian Gray, desconhecendo peças geniais como A Importância de Ser Prudente ou ainda O Marido Ideal (uma das minhas favoritas). Foi mais ou menos nessa época que tranquei a faculdade de jornalismo e tentei Letras, planejando já desde o primeiro ano fazer minha monografia sobre Wilde (não, não fiz. Mas apresentei um seminário sobre Wilde em Literatura Inglesa que me deixou orgulhosa foréva pelos elogios que ganhei de Liana Leão, uma das ~~minhas ídolas~~ da graduação, hehe).
Pulam alguns anos, vou para Paris e entre tanto defunto famoso enterrado lá, adivinha para quem vou prestar homenagens? Sim, Wilde. Será sempre um autor muito querido para mim, porque acho que um dos responsáveis por me guiar aos clássicos foi justamente ele. Enfim, comprei girassóis (a flor favorita dele), saí como uma doida com aquilo nos braços de metrô em metrô até chegar no Père-Lachaise, onde tive a oportunidade de visitar o túmulo do Wilde ainda sem o vidro de proteção (que foi colocado em novembro do ano passado). Ó eu pimpona aqui (a imagem tá bem grande e talz, só para avisar):
Enfim, tudo isso para dizer que Wilde, quando você conhece, não sai mais da sua vida. Juro, não lembro mesmo de alguém chegando para mim e dizendo "Nossa, achei O Retrato de Dorian Gray chato" ou "Joguei meu tempo fora lendo Wilde". Ele é delicioso, divertido, ácido, apaixonante. E muito do que ele disse continua surpreendentemente atual.
Começo por onde, Anica?
Sejamos óbvios e não vamos arriscar: o melhor começo é realmente O Retrato de Dorian Gray. Evite o De Profundis, que já é mais coisa de fã hardcore (embora eu ache que se você estiver em um momento pé na bunda vai se identificar profundamente com as queixas de Wilde para Bosie). E dê uma chance para as peças de teatro, que são realmente fantásticas. Se alguém estiver interessado nas peças, recomendo fortemente A importância de ser prudente e outras peças que saiu ano passado pela Penguin-Companhia das Letras. A edição é um capricho só, e dá para achar bem em conta por aí. Vou copiar aqui minha resenha que publiquei no Meia Palavra:
A importância de ser prudente e outras peças (Oscar Wilde)
Há algo de irônico na produção teatral de Oscar Wilde: as falas e ações de suas personagens parecem a todo momento um festival de tapas de luva de pelica na mesma sociedade que iria aos teatros assistir às peças, ou que aceitaria o dramaturgo em seu convívio (obviamente aceitação anterior ao período que passou na prisão de Reading). O artista que falava da arte pela arte, de escrever sem querer passar morais edificantes, no final das contas conseguia através de suas peças fazer as mais ácidas críticas a uma sociedade que vivia de aparências, um jogo de máscaras onde ninguém de fato era o que aparentava ser.
É o que se pode ver em A importância de ser prudente e outras peças, lançado recentemente através do selo Penguin-Companhia da editora Companhia das Letras. As três peças que fazem parte da coletânea têm em comum o fato de servirem como retrato perfeito do comportamento da grande sociedade da época, cheia de figuras que mostram a mais completa frivolidade sobre assuntos considerados importantes, como o casamento, por exemplo.
A coletânea abre com Uma mulher sem importância, que teve sua primeira apresentação em 1893. A ação se passa na casa de campo de Lady Hunstanton, em um encontro com diversas pessoas que representam a alta classe inglesa, embora nas palavras de Lady Caroline “ela seja um pouco permissiva na seleção das pessoas que convida para vir aqui”, o que pode significar uma crítica inclusive para sua interlocutora, a americana Hester. Aos poucos durante a peça as verdadeiras personalidades vão se revelando, até chegarmos ao desfecho que é até um tanto inesperado se considerarmos a época.
O chame de Uma mulher sem importância não reside tanto no enredo, mas nos diálogos criados por Oscar Wilde. Muitas das citações que as pessoas fazem do escritor sobre casamento, mulheres, etc. são retirados desta peça, principalmente das falas da ótima personagem que é Lorde Illingworth. Para quem está familiarizado com o Retrato de Dorian Gray, acredito que basta dizer que ele se parece em muito com Lord Henry.
A peça a seguir é O marido ideal, que aqui mescla politicagem e amor a já mencionada falsidade da alta sociedade vitoriana. Mais uma vez os diálogos inteligentes e rápidos fazem toda a graça da história, que tem como enredo o sucesso político de Robert Chiltern sendo ameaçado por uma chantagista, Lady Cheveley. Quem rouba a atenção aqui é o excelente Lorde Goring, que como os outros “lordes” de Wilde é um bon vivant encantador, talvez até mesmo por sempre dizer a verdade que a sociedade tanto se esforça para esconder sob máscaras.
Inclusive a relação de Goring com a irmã de Robert Chiltern, Mabel, também rende ótimos momentos. Há um diálogo próximo no quarto ato que é simplesmente impagável:
É esse tipo de conversa, com jogos de palavras e um tom muito espirituoso que tomam conta das peças de Wilde, inclusive na última da coletânea e que justamente dá nome ao livro: A importância de ser prudente. Há nesse título um trocadilho que infelizmente acaba se perdendo na tradução, entre a palavra Ernest (nome bastante importante no enredo) e Earnest (palavra que pode ser traduzida como “honesto”). Uma vez que não há pessoa que se chame “honesto”, está aí a razão para que tenha sido escolhida a outra possibilidade de tradução da palavra, “prudente”, que até que satisfaz o sentido. Essa peça já foi traduzida também como A importância de ser honesto e A importância de ser Ernesto, mas prefiro a tradução da Penguin-Companhia.MABEL – Você quer dizer que não veio até aqui expressamente para me pedir em casamento?
LORDE GORING – (triunfante) Não; foi um lampejo de genialidade.
MABEL – O seu primeiro.
LORDE GORING – (com determinação) O meu último.
MABEL – Fico muito feliz em saber. Agora não saia daqui. Volto em cinco minutos. E não caia em nenhuma tentação enquanto eu estiver longe.
LORDE GORING – Mabel, querida, quando você esá longe, não há nenhuma tentação. Isso me torna terrivelmente dependente de você.
O motivo pelo qual o nome é tão importante é que o enredo todo se sustenta nele: Prudente (Ernest no original) é o nome adotado por Jack para viver uma vida livre de qualquer cobrança ou preocupação na cidade, enquanto no campo por conta da resposabilidade que deve à Cecily encarna uma personalidade de “homem respeitável”. Por outro lado, Algernon adota o nome Prudente quando visita a casa no interior de Jack, e se apaixona por Cecily. Temos então alguns desencontros misturados sempre ao ótimo humor de Wilde até chegarmos ao final feliz.
O tema da falsidade se repete, servindo como crítica para a alta sociedade da Inglaterra vitoriana. O mesmo grupo que tanto parece admirar Wilde embora como colocado na introdução de Richard Allen Cave, o trate como uma espécie de bufão, o bobo da corte que tem a licença poética para falar as verdades que eles mesmos queriam tanto esconder. Aliás, a introdução de Cave é muito interessante, por ser observada principalmente sob a ótica do teatro em si – algo que falta em material traduzido aqui no Brasil sobre Oscar Wilde.
A importância de ser prudente e outras peças vem também com as já conhecidas notas do selo Penguin-Companhia, que complementam (e muito) a leitura. Considerando que boa parte do texto do Wilde é crítica social, é fundamental conhecer detalhes da sociedade em questão, que é uma das informações que as notas trazem. Elas aparecem no final do livro, e embora eu prefira as que fiquem no rodapé da página, até entendo a opção: alguns textos das notas são relativamente longos e a formatação da página ficaria estranha. Mas é realmente algo que faz valer inclusive eventuais releituras. Comento isso por experiência, já que O Marido Ideal é uma das minhas peças favoritas e a conheço quase de cor. Mesmo assim, ler acompanhando as informações das notas enriqueceu muito a experiência.
Assim, somando à introdução de Cave e à boa seleção das peças, dá para dizer que A importância de ser prudente e outras peças é indispensável para os fãs de Wilde, e uma boa sugestão para quem leu O Retrato de Dorian Gray e quer conhecer um pouco mais do autor. Acreditem, ler Wilde é realmente um prazer. São raros os casos em que fica tão claro que humor é também um sintoma da mais fina inteligência.
A importância de ser prudente e outras peças
Oscar Wilde
Tradução: Sonia Moreira
424 Páginas
Preço sugerido: R$28,50