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"Os Sertões" (Euclides da Cunha)

Clara

Perplecta
Usuário Premium
Conhecem aquele tópico aqui do Meia, "Promessas literárias"?, pois então, eu fui lá e prometi que iria ler "Os Sertões" de Euclides da Cunha ainda este ano.

Trata-se daqueles livros de que a gente ouve falar desde que se conhece, sabe do que se trata (neste caso, o relato da guerra de Canudos, ocorrida no sertão baiano, no século XIX) só que nunca leu nem o começo, nem mesmo um resumo.

Então depois de pesquisar em uns sites básicos como este aqui, decidi começar a leitura da obra que imaginava difícil pelo assunto de que trata.

Mas olha, bota difícil nisso!

Estou na metade do primeiro livro de dois volumes, publicados pela Abril em sua coleção "Clássicos".

E dá-lhe descrições intermináveis de montanhas, desertos, árvores, plantas, animais, cadáveres, pedras, sol, vento, chuva; e citações de cientistas e estudiosos; e comparações com outros cantos do planeta; e palavras que eu nem sabia que existia; e termos científicos; e... vírgulas! Muitas vírgulas! Centenas delas! Acho que se a gente tirasse todas as vírgulas do texto o livro diminuia pela metade! (Tá, essa parte eu exagerei. ¬¬ )

Tudo bem, às vezes ele consegue ser bem poético em suas descrições, principalmente das paisagens, mas às vezes dá uma angústia, a impressão de que se você virar e gritar: "Tááá, Euclides! Chega!! Cadê a p**** da guerra?! Cadê esse tal do Antonio Conselheiro, homem?!"

Então o Euclides vai virar a cabeça, olhar nos seus olhos por alguns segundos com essa cara aqui:

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olhar pra frente de novo, suspirar e continuar:

O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.

E você: :susto:

Bom, enfim.
A promessa está feita e eu já comprei os livros e vou continuar.

Depois volto aqui pra contar como cheguei ao final, porque eu vou chegar ao final!
Serei forte como os sertanejos de que fala o Cunha. :chibata:

Alguém aqui já leu inteira essa obra?
Conseguiu chegar até o fim dela? (o Lucas Deschain eu sei que conseguiu).
 
Clara, acho que um dos seus problemas foi não saber o que esperar do livro, né? Quando ouvimos falar do livro temos a impressão de se tratar de romance, ou algo do tipo, mas não é! É ciencias sociais, atropologia, sociologia... É um tipo de leitura bem específica.

Eu ainda não li Os Sertões, mas.. tu já viu a biografia de Euclides da Cunha? Tensa.
 
Bom, eu sabia que era um relato histórico.
Não esperava um romance não e sabia (pelos posts do Lucas neste tópico aqui sobre o Euclides da Cunha) que era com bastante descrições e tal.
Mas é muito (muito mesmo) arrastado e acadêmico, como se ele estivesse falando pra uma bancada de professores e estudiosos. =/
 
Força, Clara!!! :cheer:

Nunca li, mas tenho vontade de tentar... "Os Sertões" para mim tem uma aura de algo sobrenaturalmente erudito. Não sei se já viram, mas nas questões de provas de português do tipo "relacione a palavra ao seu significado correto", questões de vocabulário, "Os Sertões" é a fonte mais frequente... e essas costumam ser sinistras. Acho que dava para reescrever o dicionário da língua portuguesa a partir dele, em caso de algum cataclismo ou algo assim...
 
[align=justify]O livro além de ser calhamaço tem essa questão dos nomes mesmo. Acho que o que vale dar uma olhada para complementar a leitura e deixá-la mais interessante é justamente dar uma olhada no contexto histórico e nas teorias que estavam em voga na época, o determinismo, por exemplo; além do darwinismo.

Vale lembrar inclusive que a profusão de dados, nomes, datas e datalhes técnicos das batalhas, patentes, envolvidos etc. se dá também por conta do livro ter sido compilado a partir de escritos jornalísticos, já que Euclides da Cunha foi enviado como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo.

Apesar dessa vertente, o estudo e o detalhamento do contexto do conflito, desde os habitantes de Canudos, seu entorno natural e social, e da geografia do local fazem dele um estudo sociológico de relevância.

Acho que já falei em algum tópico do Fórum, mas o Sarmiento, autor de Facundo: Civilização e Barbárie no Pampa Argentino, tinha o Euclides da Cunha como um de seus autores prediletos.[/align]
 
Gigio disse:
Não sei se já viram, mas nas questões de provas de português do tipo "relacione a palavra ao seu significado correto", questões de vocabulário, "Os Sertões" é a fonte mais frequente... e essas costumam ser sinistras. Acho que dava para reescrever o dicionário da língua portuguesa a partir dele, em caso de algum cataclismo ou algo assim...

:sim:
O homem pelo jeito era apaixonado por palavras, pelo idioma português.
Achei bacana (até mesmo fofo) o trecho de uma carta que ele, Euclides da Cunha, enviou Domício da Gama em 15/08/1907, na qual chama a si próprio de "intransigente" e protesta contra a reforma ortográfica que aconteceu naquele período:

Não sei se já aí chegaram notícias da Reforma Orthográphica... (Aí deixo, nestes maiúsculos e nestes h h, o meu espanto e a minha intransigência etimológica!) Realmente, depois de tantos anos de alarmante silêncio, a Academia fez uma coisa assombrosa: trabalhou! Trabalhou deveras durante umas três dúzias de quintas-feiras agitadas — e ao cabo expeliu a sua obra estranhamente mutilada, e penso que abortícia. Há ali coisas inviáveis: a exclusão sistemática do y, tão expressivo na sua forma de âncora a ligar-nos com a civilização antiga e a eliminação completa do k, do hierático k (kapa como dizemos cabalisticamente na Álgebra)...

Como poderei eu, rude engenheiro, entender o quilômetro sem o empertigado k, com as suas duas pernas de infatigável caminhante, a dominar distâncias? Quilômetro, recorda-me kilometro singularmente esmagado ou reduzido; alguma coisa como um relíssimo decímetro, ou grosseira polegada. Mas decretou a enormidade; e terei, doravante, de submeter-me aos ditames dos mestres.

O que diria ele se visse a reforma atual? Com a eliminação do trema, por exemplo? :lol:


Gigio disse:
Força, Clara!!! :cheer:

:rofl:
Obrigada, Gigio!
 
Houve época em que era "escravo" do conceito de "li" ou "não li" determinado livro. Hoje abordo as obras que vou ler de uma forma muito mais livre, indo para frente, voltando para trás, saltando parágrafos e, às vezes, capítulos etc.

Enfim, não li Os Sertões, ainda, mas se estivesse na sua situação, já tinha "pulado" muito desses trechos que te desagradam. Como dizem em Hollywood, "cut to the chase". Garanto-lhe que o fantasma do Euclides da Cunha não retornará à terra para te atormentar por conta dessa heresia.
 
Obra destrincha traumas e manias por trás do autor de 'Os Sertões'

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quando escrevia "Os Sertões" em São José do Rio Pardo, no interior paulista, o engenheiro e jornalista Euclides da Cunha pintou a zarcão uma frase de "Hamlet", de Shakespeare, no barracão em que também supervisionava a reconstrução de uma ponte de metal: "What should a man do but be merry?" (que faria o homem, se não risse?).

Euclides não tinha motivo algum para rir. Nos anos em que escreveu o livro no barracão de zinco, entre 1898 e 1901, ele se debatia com um trauma: a visão da guerra de extermínio contra sertanejos que ele vira o Exército praticar em Canudos em 1897, matéria de sua obra-prima, "Os Sertões". Egresso da Escola Militar, onde se formara engenheiro, Euclides defendia que o Exército tinha um papel de vanguarda ao acabar com a monarquia.

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'400 Jagunços Prisioneiros', fotografia de Flavio de Barros que retrata o final da Guerra de Canudos Flavio de Barros - 2.out.1897/Instituto Moreira Salles

O trauma resultara da expectativa que tinha da guerra. Republicano radical, Euclides acreditava que o conflito na Bahia contra católicos conservadores restauraria a República recém-proclamada e já acusada de desvios de toda a sorte.

Enviado ao conflito como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, viu suas ilusões desabarem durante os 17 dias que acompanhou o conflito e presenciou degolas, torturas, mas não a chacina final de uma guerra que deixou cerca de 25 mil mortos e destruiu com fogo e dinamite a segunda cidade mais populosa da Bahia.

Ao final do ataque da quarta expedição do Exército, que Euclides não viu porque adoecera, restavam quatro pessoas, "um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5.000 soldados".

Não dá para entender "Os Sertões" sem conhecer os traumas e manias de Euclides, dizia o professor e ensaísta Roberto Ventura, autor de "A Terra, o Homem, a Luta --Um Guia para a Leitura de 'Os Sertões', de Euclides da Cunha", da Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha.

Ventura, morto aos 45 anos num acidente de carro quando retornava da Semana Euclidiana de São José do Rio Pardo, era considerado um dos mais talentosos pesquisadores do autor. Professor da USP, da Unicamp e da Universidade de Bochum, na Alemanha, mesclava erudição, obsessão detalhista na busca de documentos e clareza nos textos.

Ele não concluiu a biografia de Euclides que preparava havia dez anos, mas um esboço do texto, encontrado em seu computador, foi editado por mim e pelo pesquisador José Carlos Barreto de Santana em "Euclides da Cunha --Esboço Biográfico", que também está sendo reeditado pela Companhia das Letras.

Lançado originalmente em 2002 na Coleção Folha Explica, "A Terra, o Homem, a Luta" é o melhor guia que já li sobre "Os Sertões".

Aborda a guinada do pensamento de Euclides sobre o Exército, criticado duramente no livro, os preconceitos e erros de informação do escritor sobre Antônio Conselheiro, as obsessões literárias do autor (Dante, os poetas românticos) e o viés racial, hoje visto como preconceito eurocêntrico, que dominava o pensamento social entre o final do século 19 e o início do 20.

Euclides chamava "Os Sertões" de "livro vingador" porque omitira nos textos que escreveu para o jornal O Estado de S. Paulo os crimes que o Exército praticara contra sertanejos.

Ele "silenciou sobre as atrocidades da guerra, no que foi acompanhado por quase toda a imprensa", escreve Ventura. "Sentia-se tolhido para atacar o Exército e se deixou cegar pela máquina de propaganda da imprensa e do governo, para a qual contribuiu com artigos exaltados que se encerravam com brados patrióticos de 'Viva a República' ou 'A República é Imortal'."

A vertente vingadora de "Os Sertões", segundo Ventura, era derivada do apreço de Euclides por Émile Zola e a defesa que fez do capitão Dreyfus, acusado de traição ao Exército numa trama em que havia mais antissemitismo do que provas --o militar era judeu.

"Os Sertões" se tornou um sucesso desde a primeira edição, em 1902, apesar de toda a expectativa contrária que havia por ser um livro difícil sobre um tema macabro, a guerra civil, escrito com uma plêiade de termos científicos como socalco (trecho elevado e plano de um terreno) ou lençóis de grés (corpo arenoso cuja espessura é relativamente delgada; daí o nome de lençol).

Ventura dá algumas pistas sobre as razões de o livro ter se tornado um clássico.

Segundo ele, a obra "transita entre a literatura, a história e a ciência ao unir a perspectiva científica, de base naturalista e evolucionista, à construção literária, marcada pelo fatalismo trágico e por uma visão romântica da natureza".

Há também razões poéticas. "O livro ganhou permanência pela escrita poética, em que o jogo de antíteses e paradoxos indica os próprios conflitos do autor no julgamento da ação das tropas republicanas, supostos representantes do progresso."

E há razões políticas, frisadas pelo escritor Milton Hatoum num prefácio escrito especialmente para esta reedição, segundo o qual vários trechos de "Os Sertões" parecem tão atuais porque "a irracionalidade política e o fanatismo religioso parecem irmanados" no país.

Ventura ressalta a visão que Euclides tinha do Brasil, que se tornaria uma imagem recorrente nos discursos políticos, a "de um país fraturado por tempos históricos e mundos culturais conflitantes mas, no fundo, muito semelhantes".

A Terra, o Homem, a Luta: Um Guia de Leitura de 'Os Sertões', de Euclides da Cunha

Autor: Roberto Ventura. Ed.: Três Estrelas. R$ 37,90 (104 págs.)
 
confesso que tentei ler Os Sertões e fracassei miseravelmente. VERY HARD MODE
 
confesso que tentei ler Os Sertões e fracassei miseravelmente. VERY HARD MODE

Meu primeiro contato com essa obra foi através de uma peça de teatro muito bem adaptada. Graças a ela, foi bem mais tranquilo entender a profundidade de conteúdo dela.
 
Há duas biografias que recomendo para conhecer mais sobre a vida de Euclides da Cunha:
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