Oi para todos. Tenho um registro neste fórum há um tempinho já, mas nunca tinha entrado aqui no Nostalgia. Visitei alguns tópicos de vocês nesse final de semana, mas o que eu mais gostei foi este. Comecei a escrever alguma coisinha sobre o MSX, e quando vi a coisa já estava num tamanho tal que me fez pensar na conveniência de desistir, ou escrever com algum muidado a mais do que eu vinha tendo.
Bem, eu não desisti, e taí o resultado.
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Eu sou da turma que começou no MSX. BASICamente foi ali que tudo começou, computadores, programação, faculdade (eu tenho um problema sério com essa palavra, em 12 anos nunca consegui usá-la fluentemente), etc. Eu aprendi a programar nele, fazia uns programinhas para brincar com meus irmãos, pequenas planilhas, mais tarde cheguei até a implementar alguns dos meus EPs lá. Quando o infame gravadorzinho quebrou, eu tive que parar de usar a máquina e perdi muitas coisas que eu tinha gravado. A máquina tinha 3,4 MHz e 28 K de memória livre para programas em BASIC. Tinha um jeito de carregar Assembly nele que permitia usar acho que quatro páginas de memória desse tamanho aí. Nossa, eu achava demais mexer com aquilo. Não, eu não sabia Assembly naquele tempo, isso foi só uma fase curta bem depois. Tinha uns livrinhos com os programas em hexa, que a gente comprava, e...
Isso tudo foi antes ainda da era do glorioso monitor CGA de fósforo verde. Aquele mesmo que, porque ficava todo cheio de marcas de onde o fósforo acendia mais. Antes disso, eu usava era aquele triplamente maldito conector RGB com a TV de casa. E só tinha uma TV em casa. A era da Programação Dominical Full Time não havia ainda começado. No máximo dava pra fazer uns campeonatos com o jogo da arvorezinha, que era o melhor que tinha.
Mas isso foi bem depois. Meu primeiro contato com computadores de verdade foi mesmo na faculdade (ugh), num grande caldeirão onde todos os calouros (outra palavra difícil) dos dois lados da Grande Avenida foram confinados. Os do lado de lá... bem, melhor não falar neles, afinal nós de cá é que éramos os intrusos.
O Grande Caldeirão era equipado com 5 redes de XT 256 4,7 MHz e uns poucos 512 de 8 MHz, cada uma delas com uma impressora matricial de 132 colunas que a gente não chegava nem perto. Os micros eram todos iguais, e era estratégico saber, dias antes de uma entrega de EP, quais eram os XT de 512K, qual rede vinha se portando melhor nos últimos dias e também em qual delas aquela impressora com a fita boa estava conectada. Ficar limitado a debugar por writelns depurativos no Turbo 3 numa véspera de entrega de EP ou se expor a uma queda na rede, com a consequente perda do assento, podia sair caro. Ah, sim, a gente tinha uma quota de 120 horas por semestre, com sessões de duas horas e um intervalo obrigatório de duas horas entre cada sessão. Eu aprendi mais naquele ano sobre boa convivência e negociação do que qualquer curso teria me ensinado, pelo menos naquela época. E a ocasião em que a minha turma recebeu uma senha extra para cada um, uma arma estratégica na luta pela sobrevivência entre os de Lá, foi memorável.
Depois, veio o regresso do Cativeiro no Caldeirão. Os XT de 512 eram agora individuais e com acesso livre. Meu primeiro contato com um winchester de 10 M foi uma glória. Needless to say, também glorioso foi o meu primeiro contato com seres estranhos como o Stoned e o Ping Pong. Alguns colegas mais audaciosos começaram a colecioná-los, mas eu não aderi à nova moda. Não que eu me incomodasse muito com eles. Eu logo percebi que a pretensa liberdade era de fato um exílio em outra forma, e me adaptei depressa à convivência com essas entidadezinhas de conversa tão contagiante (literalmente). Eu me pergunto se não teria ainda alguns vestígios deles nas algibeiras. Acho que não, aqueles eram seres de um mundo rude, não sobreviveriam no ambiente refinado dos computadores de hoje.
Não mesmo?
Eu dominei depressa algumas ferramentas básicas de sobrevivência, como PCTools e Norton Utilities (um XT com um desses aí instalado direito valia o seu peso em ouro, por causa dos disquetes, que bichavam a toda hora), Flow (pelo amor de deus, alguém aí conheceu o Flow e lembra da interface?! Era de longe a "melhor" de todas!!), Arj, LHA, PKZIP, News, Word 5, e maravilha das maravilhas, o Turbo 5, que finalmente me libertou dos writelns depurativos, e, mais tarde, o Turbo C 2, que apresentou aos printfs depurativos. Naquele ambiente de tamanha liberdade individual eu sempre tinha comigo um kit com alguns disquetes (5 1/4 dupla face dupla densidade, ou seja: 360K) com os módulos principais de todos esses programas gravados, e pelo menos um deles sendo bootável. Nunca se sabia quando essas coisas iam ser necessárias, e nunca se podia contar com elas à mão numa hora de emergência, a não ser que você fosse precavido. Agora me ocorre uma lembrança bizarra de que havia, às vezes, mais de um tipo de command.com disponível pela sala. Eu cuidava sempre de escolher os meus command.com com todo o cuidado, através do tamanho deles.
No final desse período veio um duro teste de proficiência, na forma de um projeto semestral, que exigiu que eu aplicasse todos os truques de sobrevivência que eu havia desenvolvido. Aquela experiência deixou marcas indeléveis na minha psique. Uma das minhas lembranças daquele tempo é de que, sempre que eu ouvia no rádio "Lea", do Toto, eu pensava em outra coisa. [1]
Essa foi para mim a era do DOS, da memorização de comandos e switches, do segmento de 64K, dos ponteiros near e far, do gabinete horizontal e do já mencionado Monitor de Fósforo Verde. A fase seguinte me trouxe à época da interface gráfica, em que uma nova geração, menos adaptável, menos forte, mais suscetível à beleza puramente superficial, nos sucedeu. Mas aqueles que viveram, como eu, essa fase de esplendor da história da computação, têm direito ao orgulho verdadeiro, que é reservado apenas aos Grandes.
[1] LEA = Load Effective Adress em Assembly 8088.