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Os paralelos mitológicos na obra de Tolkien e as referências bíblicas no Silmarillion:

Ragnaros.

Usuário
Primeiramente, uma boa tarde a todos.

Estava lendo um dos posts referente ao tópico: Brasil ganha novo livro sobre Tolkien nesta sexta

É realmente bom ver novidades sobre o Professor.
Já estou muito empolgado para ver este livro e saber qual foi a influência da fé crista nas obras de Tolkien, em primeiro lugar porque gosto de tudo relacionado a Tolkien e em segundo por que sou evangélico e sempre que manifesto minha admiração pela obra do Professor no meio cristão que frequento ouço de várias pessoa inclusive alguns amigos que a obra de Tolkien é satânica.

Bem, a despeito do fato de que (aparentemente) o Silmarillion possui elementos "retirados" de outras mitologias, à exemplo do mito de formação do Dreamtime aborígene, conforme especulei neste post: http://forum.valinor.com.br/showthread.php?t=105013. Há uma série de miríades interessantes que até então me passavam desapercebidas.

Destarte, sendo Tolkien conhecedor das linguagem antigas, religião e mitologias, a denominação Ilúvatar é a (provável) combinação da palavra semita "El" ou "Ilu" (Deus) e a denominação (salvo me engano) de origem Indo-europeia "Avatar" (manifestação de uma deidade/entidade divina). Assim, o nome Eru enfatizaria concepção de Tolkien da unicidade de Deus, que corresponde ao nome bíblico de El, "Deus", e ao nome divino com que Deus se revelou a Moisés: YHWH, "Aquele que é", "o único Deus", "Uma auto-existente" ou possivelmente (dependendo da sua visão de mundo teológica) "o único ser que realmente existe".

O nome/denominação Ilúvatar, pelo contrário, corresponde à forma em que o Deus da Bíblia normalmente se faz manifesto, ou seja, na forma de uma assembléia divina de muitos espíritos menores, liderados por um Deus Absoluto/supremo. Interessante é que isto tem um cognato pronto em nome hebraico para Deus, que está misteriosamente descrito no plural, pois qual seja: Elohim "Deuses" (ou, mais especificamente, El Elohe, "o Deus dos deuses"). Este é, naturalmente, idênticas na concepção do Deus da Bíblia, que é um, e ainda multiforme, como uma entidade multifacetada. Ademais, Eru/Ilúvatar possuí outros elementos similares ao Deus bíblico em sua capacidade para criar um universo inteiro com um pensamento, ou "Palavra". Logos, como visto em João 1:

In the beginning was the word, and the word was with God, and the word was God. The same was in the beginning with God. All Things were made by him; and without him was not anything made that was made.

Sem dissentir:

In him was life; and the life was the light o men. And light shineth in darkness; and the darkness comprehended it not.

Vide o possível comparativo:

..verás que nenhum tema pode ser tocado sem ter em mim sua fonte mais remota, nem ninguém pode alterar a música contra a minha vontade
- Silmarillion - Ainulindalë - pag. 6.

e

Eä! Que essas coisas Existam! E mandarei para o meio do Vazio a Chama Imperecível; e ela estará no coração do Mundo, e o Mundo Existirá;
- Silmarillion - Ainulindalë - pag. 9.

Vê então seu paralelo no legendarium? A ênfase na luz que brilha nas trevas aqui parece ter sido representado na cosmogonia do professor com a Chama Imperecível, a luz da vida no universo que é a luz da humanidade, que preenche a escuridão, ou o vazio, e que a escuridão cobiça, mas não pode controlar ou mesmo compreender plenamente. Não obstante, no mito de criação apresentando no Silmarillion, há uma manifestação de vários seres divinos, de forma que o universo foi "cantado" para existir. O Eru de Tolkien torna-se aqui um "Maestro" de um coro imenso de seres menos grandiosos, que aparentam existir por si só/de forma independente (daí a questão de que o livre arbítrio ser a dádiva grandiosa aos filhos de Deus, e que, portanto, os seres angelicais não possuem tal presente), são extensões do próprio Deus, as manifestações de sua unicidade divina.

Me parece que um exemplo basilar de tal extensão (os seres celestiais serem em relação à Deus) ocorre com a leitura deste ótimo texto de Ilmarinen: http://de-vagaesemhybrazil.blogspot.com.br/2009/09/ungoliant-dualismo-e-livre-arbitrio-nos.html

Em relação aos Ainur. Os equivalentes aos anjos na mitologia de Tolkien. Parece ter origem na palavra "Anunna", sendo que tal denominação provém da mitologia da Suméria, ou seja, "Anu" - Deus - Céu - Estrela, uma indicação de que eram seres de caráter divino, divididos em 2 classes:

I - Igigi (os observadores/vigias): Os que possuem mais potência/poderes; sendo os Valar os espíritos mais parecidos em autoridade e poder, lembra muito a figura dos Arcanjos, querubins e Ophanim da Bíblia:


Archangel_Michael-2.jpg

e

Manwe-Sulimo-Gustavo-Malek.jpg

II - e os mais famosos (os entusiastas dos Deuses Astronautas conhecem bem). Anunnakis (aqueles que desceram para a Terra), correspondentes aos Maiar. Interessante que foram (me parece) eles, assim como os Elohim:

Quando os homens começaram a aumentar em número na terra e filhas nasceram para eles, os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram formosas, e eles casaram algum deles que escolheram
- Genesis 6:1

Elwe-Melian.jpg

Esses nefilins (filhos dos filhos com as filhas de Deus) eram os valentes, os homens de renome, que houve na antigüidade
Gênesis 6:4

Melian e Thingol, e os grandes heróis que surgiram desta união.


Muitas pessoas religiosas repelem os conceitos de criação do "Existir" numa definição metafísica/metafórica (etc) de uma grande "canção"/orquestra criacionista (na minha opinião é uma linguagem semi-figurada para algo que nossa mente poderia "Pifar" se contemplássemos tal processo de origem do universo), conforme apresentado no Silmarillion:

Vide esta crítica "O Senhor dos Anéis: Paganismo, Cristianismo, ou Cristianismo Sincretizado?":
http://www.espada.eti.br/n1630.asp

Entretanto, a despeito desta definição "herética" apontada na obra (por alguns), a própria bíblia relata no livro de Jó:

Then the LORD answered Job out of the whirlwind, and said, Who is this that darkeneth counsel by words without knowledge?

Gird up now thy loins like a man; for I will demand of thee, and answer thou me.


Where wast thou when I laid the foundations of the earth? declare, if thou hast understanding.


Who hath laid the measures thereof, if thou knowest? or who hath stretched the line upon it?


Whereupon are the foundations thereof fastened? or who laid the corner stone thereof; When the morning stars sang together, and all the sons of God shouted for joy?

Dependendo da interpretação de tal citação:

Das viagens espaciais e a configuração da vida no universo:


Isso me fez lembrar de algo que mais ou menos eu pensava sobre a harmonia inicialmente planejada e a criação do universo em Ainulindalë na representação (vide a imagem) mais próxima da criação (na minha opinião), com Eru (a grande luz) e os Ainur (os que seriam tido como Valar são os mais próximos e as maiores centelhas, com os Maiar como "pequenas chamas") no centro como as "luzes criativas/primevas" sendo elas as potências "geradoras"-cósmicas, cada Ainur como uma centelha como uma luminosidade que reflete ("tem seu tema") e orbitam uma luz "original" ("na chama imperecível colocada no centro de Eä") dando origem à galáxias, planetas, estrelas com a grande canção (na minha opinião é, em parte, uma descrição metafórica de algo que realmente vai além da compreensão das nossas mentes ou entendimento, à exemplo da correlação entre os ecoar dessa canção ser o motriz da expansão espaço-temporal que ainda hoje acontece):




A "retaliação" de Melkor com o ferimento ao universo (a luz que é bela, mas destrutiva, como uma interpretação do mal uso dos seus dons):



E o resultado: "se faça luz, e a luz se fez, e o existir fora abençoado com a luz, calor, magnetismo, gravidade e todas as energias para/do universo (o nosso)." Sendo os maiores Ainur, mais tarde denominados Valar, os "dominadores"/senhores desses "reinos" (em todo lugar e em lugar nenhum) já que seus poderes ainda não tinham sido "contidos" na terra (como condição de Iluvatar para àqueles que tinham adentrado em Arda).

Portanto, a ideia da criação do universo de ter sido realizada por (ou, pelo menos, acompanhada) um canto, me parece ser não tão forçada assim. Na verdade, parece que a Bíblia realmente fala de Deus ter sido "ajudado", ou pelo menos acompanhado. Em Provérbios, Deus foi realmente acompanhado por uma pessoa chamada "Senhora Sabedoria", a quem alguns teólogos acreditam que se refere ao Espírito Santo, a "esposa" do Deus divino, que tem sido com ele desde o início. De fato, "Ela", de acordo com Provérbios 3:19, foi realmente usado por Deus para criar a Terra:

Happy is the man that findeth wisdom, and the man that getteth understanding. She is a tree of life to them that lay hold upon her: and happy is every one that retaineth her. The LORD by wisdom hath founded the earth;
by understanding hath he established the heavens. By his knowledge the depths are broken up, and the clouds drop down the dew

Varda_Elbereth_by_edarlein.jpg

e

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Varda e o espírito santo?

Enfim, podemos encontrar várias referências e elementos interessantes no conto de criação do Professor. Falarei depois da figura de Prometheus (na minha interpretação) no Silmarillion.

Atenciosamente.
 
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Belíssimo texto, e com referências interessantes.

Só quero comentar algumas coisas.

Ainda que certos verbetes élficos possam ter origens linguísticas mais ou menos claras, é bom lembrar que esses idiomas élficos foram criados pelo professor. Então, eu não creio que o segundo nome de Eru tenha algo a ver com algo além de uma etimologia propriamente eldarin.

Só comentar:

Chama: não vejo a Chama tanto como o Espírito, mas como o Logos, o Filho de Deus antes de sua Encarnação, o que procede do Pai (Fonte), porque, no meu entender, é a partir da Chama que Eä vem à existência, assim como o Pai criou o mundo no seu Verbo. Você tocou na questão do uso da palavra na Criação, essa Palavra (Verbum em latim, Logos em grego) é o próprio Cristo, pelo Qual tudo foi criado, existe e se mantém. Exegese católica, como sabemos o professor era católico-romano e apesar das referências ao paganismo, toda a sua obra me vem como um tratado de teologia agostiniana e tomista, nas partes mais essenciais, assunto que ele chega a comentar em algumas Cartas.

Varda: não se trata do Espírito Santo, mas apesar dos Valar serem seres angelicais em inspiração, parece que a ligação, na teologia católica, da Virgem Maria enquanto dispensadora de Graças, por ser ela um exemplo de criatura espiritualmente exaltada na comunhão dos santos, você encontra ecos dela tanto em Varda, sempre a interceder pelos Filhos diante de Eru, quanto em Galadriel, isso já no SdA. Creio que o Ilmarinen toca nesses pontos em alguns tópicos aqui. :think:
 
Posso procurar amanhã, mas acho que o próprio Tolkie faz a comparação entre Varda e a Virgem Maria em algum lugar.

É verdade. Há um post em que ele trata deste conceito.

http://forum.valinor.com.br/showthread.php?t=95060&page=3

Re: Gandalf, pagão ou cristão?
Por isso, ainda acho estranho ver Gandalf comparado a Cristo. Apesar de a cena remeter à morte/ressurreição com três testemunhas, Jesus e o Peregrino Cinzento têm tão poucos elementos semelhantes, assim como Gandalf e Odin, com a exceção das vestes e da aparência.

No mais, Odin era um deus sanguinário e muito vingativo a a imagem onde ele está montando o cavalo Sleipnir remete as famosas Wild_Hunt (Caçadas Selvagens) que ele gostava de praticar. Outra curiosidade à respeito de Odin era que seu nome era usado em imprecações, informação que nem eu conhecia:
A comparação de Gandalf com ambos é pertinente no que tange ao aspecto específico destacado na analogia particularmente considerada. Grosso modo os elementos de Morte-Ressurreição são aplicáveis a Gandalf, a Odin e ao Cristo, ao passo que Encarnação e Transfiguração se aplicam só a Gandalf e ao Cristo. Diferente da alegoria, uma analogia não é isomórfica, com correspondência "de um pra um", ela é por, assim dizer, aproximativa.

Se vc ler sobre o conceito de Tipologia vai ver que nessa analogia em particular dispensa-se a reprodução ou presença de características tidas como essenciais no objeto "original". Então, por exemplo, Moisés é análogo ou tipologia do Cristo porque recebe o "chamado" de Deus para cumprir a sua vontade e, a partir daí, poder "delegado" para cumprir sua missão, operando "milagres" com o poder de Jeová ( assim como seu herdeiro, Josué, que é outra grafia de Jesus, o faria depois) não sendo,ele mesmo, encarnação da Divindade.

Já Enoque e Elias são considerados figuras tipológicas porque ambos foram levados para o céu ainda vivos, recebendo a dádiva de Assunção ( ao passo que Jesus teria passado por Ascenção), e por serem ambos "profetas", sábios com conhecimento parcial do futuro mostrado a eles por Graça Divina.

Inclusive a tipologia pode ser considerada um tipo específico de alegoria ( que tem sentido muito mais amplo do que aquele referido pelo Tolkien na introdução do SdA).

Quanto às analogias com Odin, o lance é que Tolkien redistribuiu as características do original entre diversas entidades diferentes do seu Legendarium ( essa é outra diferença entre alegoria e analogia, a alegoria concentra os empréstimos e correspondências num receptáculo só).

Como o texto anexado explica muito bem, Gandalf, Manwë, Sauron, Melkor e Saruman todos compartem características específicas analógicas de Odin. Por isso que caracteres negativos foram pra Sauron, Melkor e Saruman enquanto as "positivas" acabaram com Gandalf e Manwë, do mesmo jeito que Oromë é uma versão "positiva" do Senhor da Caçada Selvagem.



Capa da Lua de Gomrath de Alan Garner mostrando o Caçador Selvagem da história, Garanhir, "aquele que dá cabeçadas" na arte de David Wyatt.



Gwynn, o "Branco", o Caçador Selvagem do País de Gales, chamado também Arawn, o protótipo do nome Gondoriano de Oromë, Araw."Cavaleiro Branco"? Epa!!!.

Do mesmo jeito Galadriel , Varda e Nienna dividem entre elas características variadas da Virgem Maria sendo, ao mesmo tempo, análogas com outras personagens literárias e mitológicas diversas* como a deusa Brighid ou Brigite da mitologia céltica cujo nome traduzido tem "coincidentemente" o mesmo significado de "Varda" uma vez traduzido do élfico, "the lofty", "the exalted", a "Elevada", a Exaltada. Lembrando que Varda tem outro nome élfico que é Bridhil, virtual anagrama de Brighid. Tolkien era chegado em fazer esse tipo de piadinha.

*algumas sendo elas mesmas influenciadas pela Virgem ou surgidas das mesmas fontes que ela) como Ayesha, Mara de George Macdonald, gritantemente, o protótipo de Nienna na versão pós Book of Lost Tales .E Tolkien, em entrevista, teve a cara de pau de dizer que Macdonald nunca o influenciou depois de ter já ter admitido a influência em Cartas)

Helena Nelson Reed pinta Brighid
 
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Considero a obra de Tolkien sincrética, a moralidade que a rege é a judaico-cristã, porém sua estética é quase totalmente pagã. E, infelizmente, como sempre ocorre nestes casos, é à estética que o "mundo lá fora" se apega.

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Cara, esta citação do site que eu anexei ao post: (http://www.espada.eti.br/n1630.asp) é o/um exemplo basilar do que você disse. Vide:

Quando assisti ao filme O Senhor dos Anéis, fiquei tomado quase que instantaneamente pela mais inacreditável sensação de profundo e penetrante satanismo. Quase imediatamente, fiquei tomado pelo pior pressentimento que já senti e, durante todo o filme, senti um grande poder do mal emanando da tela. Esse filme é de longe mais maligno e satânico que Harry Potter.

Toda a história é de um total sincretismo, definido como: "Tendência à unificação de idéias ou de doutrinas diversificadas e, por vezes, até mesmo inconciliáveis; amálgama de doutrinas ou concepções heterogêneas; fusão de elementos culturais diferentes, ou até antagônicos, em um só elemento, continuando perceptíveis alguns sinais originários" [Novo Dicionário Aurélio]. A Bíblia proíbe totalmente a "unificação" de crenças, métodos, e doutrinas divinas com as de Satanás [2 Coríntios 6:14-17]. Todavia, é exatamente isso o que auto-intitulados líderes cristãos estão fazendo quando insistem que Deus e Jesus Cristo podem ser encontrados nesse enredo dos mais satânicos.

Sem dissentir:

Em 1969, escreveu uma carta afirmando que "o propósito principal da vida, para qualquer um de nós, é fazer crescer, segundo nossa capacidade, nosso conhecimento de Deus por todos os meios que temos, e sermos movidos por isso aos louvores e graças." [4] No entanto, o foco principal de sua vida foi sua mítica Terra Média, controlada por um "Deus" distante e impessoal, o que pode mais confundir do que esclarecer a natureza do Deus da Bíblia.

Em suas cartas pessoais (muitas estão incluídas em um livro intitulado The Letters of J. R. R. Tolkien [As Cartas de J. R. R. Tolkien]), expressou cautela com relação às práticas ocultistas. No entanto, equipou seu time de heróis míticos — a Sociedade do Anel — com os poderes pagãos que Deus proíbe. Por exemplo, "Gandalf [um mago prestativo] maneja a magia potente... Para batalhar contra os poderes das trevas, Gandalf, o Cinza, pode invocar não somente suas feitiçarias, mas também usar seu bastão de poder e a espada de Elven, Glamdring." [5].

Um católico romano ferrenho, afirmou sua fé no único Deus, que criou o universo. No entanto, seu Deus mítico parou de criar antes de o trabalho ficar pronto, então atribuiu o restante a um grupo de deuses menores ou "subcriadores". Em outras palavras, Tolkien inventou uma hierarquia de deidades que contraria as sábias advertências do Deus bíblico referentes tanto à real quanto à imaginada idolatria. [6].

Você não encontrará esses deuses e espíritos em O Senhor dos Anéis, pois o trabalho criativo deles terminou muito tempo antes de a história corrente começar. No entanto, essa estranha história de criação lançou os fundamentos para todas as outras partes do conto multifacetado de Tolkien. Isto também nos ajuda a compreender os pensamentos do autor e a avaliar a mensagem que divulga por meio de seu mito popular.

O Dr. Ralph C. Wood, professor de Inglês na Universidade Baylor e especialista nas obras de Tolkien, descreveu esses "deuses menores" ou espíritos dominadores. Observe que o Deus reinante parece-se mais como a deidade indiferente do deísmo que o Deus atencioso da Bíblia. Outros "deuses" podem se encaixar direitinho dentro das mitologias nórdica e celta (duas áreas de pesquisa que fascinaram Tolkien):

"No topo está Ilúvatar, o Pai de Todos, correspondendo grosseiramente àquele a quem os cristãos chamam de Deus Pai Onipotente, Criador dos Céus e da Terra. Dele todas coisas procedem, e para ele voltam todas as coisas. Ele é o começo e o fim, aquele que forma todos os eventos para seus próprios propósitos. Ele... raramente intervém em sua criação, preferindo em vez disso trabalhar por intermédio de... quinze seres subordinados...

"Manwë, o Bom e Puro... está mais preocupado com o ar, o vento, as nuvens, e os pássaros que voam. A esposa de Manwë é Varda, a Exaltada. Ela criou as estrelas, estabeleceu os cursos do sol e da lua, e criou a estrela da manhã e da noite Eärendil nos céus. Assim é ela conhecida dos elfos como Elbereth (Estrela-Rainha) e Gilthoniel (Acendedora das Estrelas). Ela ouve os clamores dos homens e dos elfos e vem em sua ajuda e socorro.

"Em seguida vem Melkor ('Aquele que sobe em poder'). Ilúvatar deu a ele maiores poderes e conhecimentos que para qualquer outro Valar... Ele desejou ter seu próprio poder para criar as coisas do nada — dar a elas a existência verdadeira — como tinha o Pai de Todos. Assim, ele buscou no Vazio a Chama Imperecível, perturbando a Música original que Ilúvatar tinha criado para conservar os Corredores Eternos em harmonia...

"Ulmo ('aquele que derrama, ou envia a chuva') é... senhor de águas... habita no Oceano Exterior ou nas águas debaixo da Terra Média, governando o movimento de todos os oceanos e rios. Ulmo se preocupa grandemente com os Filhos de Ilúvatar, aconselhando-os por aparições diretas, por sonhos, ou por meio da música das águas...

"Irmo ("mestre do desejo") é o autor das visões e dos sonhos..." [7].

Juntos, Ilúvatar e os deuses menores sugerem uma mistura não-bíblica de monoteísmo impessoal e politeísmo pessoal, pois somente os deuses menores se envolvem nas vidas das pessoas. Em contraste, a fé cristã baseia-se em uma compreensão clara de Deus como ele se revelou na sua Palavra. Ele somente é Criador e Senhor de tudo, e continua a se envolver na vida do seu povo. Ele não delega esse senhorio para nenhuma outra deidade.

Parte do que me motivou a criar este tópico foi justamente (tentar) rebater esta última citação que fala dos "deuses menores". Enfim. Nada a comentar.
 
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Mesmo pessoas esclarecidas e, às vezes, nem sequer religiosas também incorrem neste erro. O fato é que somos a minoria das minorias e penso que sempre a seremos.

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Não sei quanto ao catolicismo, mas o espirito santo no protestantismo seria uma figuranha interna que cada crente carregaria consigo. Um deus conosco, seria o proprio deus conosco a cada minuto da nossa vida. Sendo dessa forma a comparação com Varda é completamente erronea.
 
Então o espirito santo é o proprio deus, dessa forma ele seria Eru e não Varda. Varda pra mim sempre foi comparavel a Maria, não vejo muita relação entre ela e o espirito santo.
 
Então o espirito santo é o proprio deus, dessa forma ele seria Eru e não Varda. Varda pra mim sempre foi comparavel a Maria, não vejo muita relação entre ela e o espirito santo.

Mas Deus é Um em essência em Três hipóstases (pessoas). Acho que devem existir referências às hipóstases divinas no Ainulindalë, assim é que eu enxergo a Chama como o Logos, mas não sei até que ponto Tolkien pensava sobre o assunto.
 
Tinham uns posts do usuário Vilya sobre a chama imperecível. Se alguém encontrar vale a pena ler.

É muito bom pensar sobre as bases das obras.

Tolkien construiu o universo dos livros em função daquilo que ele conhecia como origem dos idiomas. Biblicamente ocorre o mesmo quando em Gênesis o criador é associado ao verbo ser ao invés de ser colocado como um substantivo com limites restritos. Razão para que Deus muitas vezes apareça na literatura como possuindo um nome impronunciável. E que mesmo que houvesse infinitas vozes descrevendo dia e noite não conseguiriam descrever um único segundo daquilo que representava. E muitas vozes tinham sido concebidas para cantarem enquanto trabalhavam (que foram os Ainur).

Todas as ações no universo de Tolkien são como o cerimonial de uma canção ou de uma dança. Por exemplo, se observarmos o trabalho de um comissário de bordo ou de uma aeromoça dando instruções de vôo para os passageiros aquilo pode ser comparável a uma dança, com ritmo, progressão, metodologia e até mesmo sons.

Quer dizer a palavra não era só um resumo daquilo que apontava. Ela era a manifestação de uma memória e pode ser apresentada por meio da escrita e da fala. O que significa dizer que antes de deixar a boca ela está incompleta. Conhecer uma palavra escrita é diferente de conhecer ela na forma falada/articulada. Em conseqüência foi preciso organizar o idioma que iria contar a história de Arda, a forma como o mundo era preservado (memória) e como se movia.

No panteão grego quando Zeus escolhe Mnemosyne por causa da preservação da memória que ela representa ele se decide por um fragmento de conceito maior do que o representado pelas Musas. Ou seja, para função de mulher Mnemosyne é mais interessante que as Musas por ser mais profunda e misteriosa que elas e ainda assim ela era apenas um fragmento derivado de Gaia, a qual era também outro fragmento ao lado de outros primordiais cuja origem os gregos não conseguiram alcançar.

Para Varda escolher Manwe (e vice versa) é necessário dizer que o Vala sagrado falava diretamente com a vontade de Eru indo habitar o local menos vulnerável a mudança que é o topo de uma montanha acima das nuvens. E por um tempo enorme, nesse local, a memória do mundo poderia ser preservada, ainda que um dia ela também se desfizesse pelo fato de ser uma obra que aguardasse a cura.

Era atributo de Eru manifestar o poder parcialmente. Em seres parciais era esperado que se comportassem de forma parcial até que ele finalmente erguesse as duas mãos e completasse aquilo que lhes faltava.

No cristianismo o Espírito Santo é uma das figuras mais misteriosas pelo potencial que ele encerra da presença divina entre as pessoas, se comunicando por caminhos secretos. Semelhante a isso nos livros, tão secreta era essa comunicação que dentro dos círculos do mundo Eru sempre chegava antes de Melkor.

Essa função de ouvir e agir em silêncio abnegado nos lugares mais esquecidos podia ser ansiada (por aqueles que amam a piedade) e incompreendida. No caso dos livros a comunicação e manifestação de Eru no mundo seria preservada de forma perfeita apenas em lugares inacessíveis a maldade, com um telefone privilegiado livre de grampos. De modo que Eru guardava na própria memória que Manwe era o Vala sagrado e que o mundo dependia de um diálogo entre cada uma das partes.

E os filhos de Eru podiam procurar receber um pouco da luz imaculada através desse sistema que não permite perdas, como o frasco de Galadriel que podia brilhar na noite mais escura debaixo das maiores trevas. Por exemplo, o templo na montanha que havia em Númenor consagrado a Eru lembra o lugar de Manwe e Varda, em busca do que é duradouro e sem falhas.

Para tudo isso os idiomas foram muito importantes em Tolkien. As vezes é preciso se policiar porque dá vontade de ficar uma manhã inteira pensando nas implicações contextuais de um trecho de poucas palavras em relação ao resto de um livro a partir de umas poucas frases dele. Estou lendo o livro "O Discurso do Rei" e fico com "pena" de continuar a leitura sem destrinchar, as vezes tenho que sacrificar a análise para conseguir acabar uma obra. Por isso a releitura dá tanto prazer, porque ela traz de volta uma reminiscência e algo que continuamos fascinados.

Parece coisa de velhos XD Mas é verdade que cada palavra no Silma possui um peso enorme dentro do universo criado, o universo dos livros é muito parecido com o nosso.
 
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Falando ainda do Espírito, é muito significativo que Akira (é o Akira ou 'a' Akira, :lol: sorry, nunca sei) tenha apontado o Espírito como um tipo de 'canal' por onde flui a Divindade, por onde Deus age no mundo, por onde o Ser se derrama na Criação, porque aí eu me lembra da nossa teologia oriental.

Fazendo uma breve exposição do que a Ortodoxia ensina sobre a teologia trinitária e a economia divina, e tentando traçar alguns paralelos com a 'teologia tolkieniana'.

Está no Credo Niceno-constantinopolitano: "E no Espírito Santo, Senhor Vivificante, que procede do Pai, e que com o Pai e o Filho é juntamente adorado e glorificado. Foi Ele que falou pelos Profetas, e na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica."

O que isso quer dizer, no nexo ortodoxo, que não difere tanto assim, pelo menos na essência, do nexo católico?

Primeiro, que o Espírito é Senhor, ou seja, Ele domina a Criação, é fonte de Poder. Por isso ele é adorado e glorificado como Deus, porque é tão Senhor como o Pai e a Imagem do Pai, o Cristo, o Filho. Segundo, ele procede do Pai, ou seja, ainda é o Pai que domina nas relações hipostáticas, ainda é Ele que 'envia' atemporal e eternamente o Espírito como o faz com o Filho. A diferença está que a procedência eterna do Filho pelo Pai é o que chamamos de Ser. Ora, todo tempo e espaço, toda a existência, todo o Ser o é 'porque' o Filho procede do Pai. Na procedência eterna do verdadeiro monarca, o Pai, vemos onde reside a Unidade na Trindade e mais: o Espírito sendo assim enviado, atesta que Ele, enquanto Vivificante, é fonte da Vida, ou seja, toda a procedência eterna, atemporal, do Espírito pelo Pai demonstra a vida que pulsa, os ritmos cósmicos e biológicos, a Luz que irradia e confirma nos ciclos e dinâmicas, nos devires e pulsões de vida abundante por todo o Universo, é tudo isso o Espírito procedendo do Pai.

Temos aqui o Ainulindalë. A Chama e a Vida. E sua Fonte acima. Trindade Una. Unidade Trina.

Em terceiro lugar, temos não mais teologia trinitária propriamente, mas 'economia divina', ou seja, a forma como, temporalmente, Deus age para resgatar, dentro do ciclo do devir, das transformações, da existência, do pulsar das energias que movimentam o mundo e o Ser, como Ele, sendo transcendental, o próprio Ser Acima e Inacessível, realiza o milagre de interferir na Criação, e em resgatá-la de todo o mal moral que assola a Natureza, as imperfeições nascidas do Mal que, em Si, é a negação das relações trinitárias, do Espírito de Amor. Essa negação nascida do egoísmo de uma parte da Criação que se fecha em si mesma e busca dominar outras partes pela opressão dos espaços, pelo domínio do tempo e, pior, pela deturpação da ordem moral que é também ordem cósmica. Morgoth. Elemento-Morgoth. O Inimigo e seu Anel que comprime Arda e a escraviza, temporalmente, ao seu Escuro que é corrupção, morte, imperfeição.

Como Deus age. Primeiro com seu Amor, falando pelos Profetas, anunciando a recapitulação do mal. Depois o Imanifestado, Transcendente, Perfeito, Sumo Bem, Eterno, Imóvel, entra na história, se manifesta, se submete à carne, ao tempo, ao movimento, com o objetivo de, com sua morte na carne, levar as culpas da humanidade, lavá-las com seu sangue, seu Amor, retirando totalmente o domínio do Elemento-Morgoth, e reinstaurando uma comunhão com o homem, através de um corpo Teantrópico (Deus-homem), que, assim como Deus torna-se homem para transformar o homem em Deus (Theosis=deificação), Ele opera essa transformação da história em eternidade, com seu Espírito Vivificante, na Igreja.

Nesse nexo é que dizemos que a Igreja é Santa, não pela perfeição moral de seus membros, mas pela fonte de santidade, o Espírito, que vivifica os membros do Corpo, as pedras do Templo, Ele purifica as almas e age nelas, transformando-as em algo divino, operando na hierarquia, nas orações, na fé celebrada nas Escrituras, na Tradição sempre viva, no testemunho dos Padres, nos Concílios, nos Sacramentos, sobremaneira na Divina Liturgia, onde os Santos Dons oferecidos e consumidos demonstram, nesse nexo da Igreja Ortodoxa, o maior milagre existente. Invoca-se o Espírito Santo na Epiclese, e pão e vinho tornam-se o Corpo e o Sangue de Cristo que, na comunhão, não apenas unem homem consigo mesmo, a comunidade entre si, e todas as Igrejas com seus Bispos, presbíteros, diáconos, monges e leigos, mas une Toda a Igreja Una, tanto a militante, terrena, histórica, quanto a triunfante, santa, celestial, sem separação entre uma e outra.

Dessa união entre história e Ser, nasce a comunhão de todos os santos, vivos e mortos, a União perfeita entre Terra e Céu, onde a Fonte a tudo revitaliza e eterniza no Seu Filho, a Chama que está no âmago de todo Ser e que, em sua encarnação, assume nossa natureza, na sua morte, derruba Morgoth de seu trono, e na sua ressurreição, renova a Si Mesmo no seio de todas as coisas, a tudo purificando e salvando pelo Espírito que vivifica.

:lol: Eu leio Tolkien e só consigo me entusiasmar teologicamente, desculpem pela empolgação.
 
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Yo! o/

Normal cara, é comum confundirem, a resposta para a pergunta é "o" Akira.

Tem um outro tipo de comunicação que ocorre entre Manwe e Varda que lembra o pacto de forças entre Manwe e Ulmo diante de Eru.

Enquanto o pacto de Ulmo com Eru no Silma é por meio de uma amizade e de palavras, o pacto de Eru com Varda é ainda mais sutil através da luz que ficou preservada e que ainda brilha na face dela e do comprometimento que Manwe assimiu com aquele tipo de luz. Quer dizer, no Gênesis a luz era o braço direito na construção do mundo.

Como as mulheres são especialistas em se comunicar com o olhar (através dos olhos e do que eles tocam), tudo que é deixado visível ou invisível possui significado e dizer que Manwe enxerga tudo ao lado de Varda é dizer que ele possui olhos aguçadíssimos para perceber qualquer variação mais triste que a luz de Eru adquira no brilho de Varda e Súlimo é extremamente perceptivo para ver aonde a luz de Eru pode se lançar no mundo e por onde ela passa. Nesse ponto Melkor era completamente cego e se existe comunicação secreta entre um casal existe comunicação super-secreta em um super-casal.

Já Varda pode ouvir tudo do mundo ao lado de Manwe. O som se tornava dócil ao lado dele porque ele se lembrava da música e da voz de Eru (era o principal instrumento contra Melkor). E Varda ouve tudo que Manwe diz enquanto Manwe vê tudo aquilo que Varda quer transmitir porque ela era aquela que se lembrava melhor da imagem de Eru. A mais antiga e querida amizade era para aquela que ouvia os aflitos, Varda tintale dos elfos.

Biblicamente a palavra oráculo aparece ilustrando algumas situações e é bem possível que a comunicação do casal ocorresse num nível oracular, parecido ao espelho de Galadriel, cada um refletindo aquilo que o outro devia buscar, sem necessariamente olhar o horizonte do lado de fora ficando apenas um do lado do outro se observando e se ouvindo (as vezes por pensamento).

Curiosamente os dons dos Valar são antes de tudo dons e portanto com semelhanças àqueles oferecidos pelo espírito santo os quais são também submetidos à prova. Por exemplo, um deles fala da habilidade das línguas em que por línguas podemos entender um profundo conhecimento de como as coisas ao redor conversam entre si. Os Valar tinham um conhecimento sem igual dos dons do mundo e aliado a essa sabedoria havia poder para implementar na prática o conhecimento, moldando diretamente como o ferro quente na manteiga. Em menor escala eram assim os elfos enquanto os homens podiam almejar apenas conhecimento e uma pequena parte de poder, o bastante de comunicação apenas para manter a fé.
 
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Conforme explanei no post inicial, Ilúvatar usou os seres "inferiores" que ele tinha manifestado a partir de seu próprio ser (do seu pensamento, conforme descrição do Silmarillion), no intuito de que estes "cantassem" a fim de trazer o universo a existência plena. Ressalte-se que, tal conceito está presente em muitas das cosmogonias do mundo antigo, à exemplo do épico babilônico Enuma Elish, que geralmente era descrito por meio de uma canção nas festas de Ano Novo anual. Me parece que Tolkien usa tal elemento como corolário do Panbabilonismo e a similaridade que os contos Mesopotâmicos possuem com a Bíblia Sagrada, vide:

http://en.wikipedia.org/wiki/Panbabylonism

Quanto à Melkor, entidade similar/cognato óbvio com o Satanás bíblico, o maior dos anjos que se rebelara contra Deus e levou muitos outros seres angelicais à sua rebelião. Acredito que a passagem mais relevante/importante e que destrincha ainda mais a relação com tal figura maléfica se encontra com as descrições elencadas em Ezequiel 28, onde um personagem misterioso chamado "o rei de Tiro" é dito como alguém que já andou no Éden/céu, mas que, por causa da sua iniquidade, fora lançado/banido para a Terra. Curiosamente, este rei misterioso de Tiro também fora associado com uma espécie de música celestial:

Son of man, take up a lamentation upon the king of Tyrus, and say unto him, Thus saith the Lord GOD; Thou sealest up the sum, full of wisdom,
and perfect in beauty. Thou hast been in Eden the garden of God; every precious stone was thy covering, the sardius, topaz, and the diamond, the beryl, the onyx, and the jasper, the sapphire, the emerald, and the carbuncle, and gold: the workmanship of thy tabrets and of thy pipes was prepared in thee in the day that thou wast created.

Thou art the anointed cherub that covereth; and I have set thee so: thou wast upon the holy mountain of God; thou hast walked up and down
in the midst of the stones of fire. Thou wast perfect in thy ways from the day that thou wast created, till iniquity was found in thee.

By the multitude of thy merchandise they have filled the midst of thee with violence, and thou hast sinned: therefore I will cast thee as profane out of the mountain of God: and I will destroy thee, O covering cherub, from the midst of the stones of fire. Thine heart was lifted up because of thy beauty,thou hast corrupted thy wisdom by reason of thy brightness: I will cast thee to the ground, I will lay thee before kings, that they may behold thee.
Thou hast defiled thy sanctuaries by the multitude of thine iniquities, by the iniquity of thy traffick; therefore will I bring forth a fire from the midst of thee,
it shall devour thee, and I will bring thee to ashes upon the earth in the sight of all them that behold thee.

A descrição de Melkor (trazida no Silmarillion) parece ter sido razoavelmente inspirada por esta misteriosa "entidade" descrita em Ezequiel. Não só pela figura ímpia do rei de Tiro (Satanás, segundo interpretações, vide: http://av1611.com/forums/showthread.php?t=1085 e http://www.learnthebible.org/satan-the-musician.html), mas pelos elementos trazidos pela passagem: tambores e tubos/flautas que remetem ao paralelo cosmogônico da obra de Tolkien:

E então as vozes dos Ainur, semelhantes a harpas e alaúdes, a flautas e trombetas, a violas e órgãos, e a inúmeroscoros cantando com palavras, começaram a dar forma ao tema de Ilúvatar, criando uma sinfonia magnífica; e surgiuum som de melodias em eterna mutação, entretecidas em harmonia, as quais, superando a audição, alcançaram asprofundezas e as alturas; e as moradas de Ilúvatar encheram-se até transbordar; e a música e o eco da músicasaíram para o Vazio, e este não estava mais vazio.

Ou seja, há uma espécie de paralelo mitológico entre a figura descrita por Ezequiel e a entidade Melkor, uma vez que ambas não só fizeram/participaram de uma grande e magnífica "música celestial", mas também ambos eram os maiores de todos os anjos/"anjos", e eles também se rebelaram, pensando que suas próprias idéias poderiam ser melhores do que as de Deus. Também como Satanás, Melkor almejava atingir um status igualitário ou suplantador com a figura "Iluvatariana", sendo que para o "Diabo" de Tolkien o uso da Chama Imperecível era um pré-requisito para a "criação" destoante da concepção original instituídas pelo Deus absoluto/supremo.

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Quando viu que não poderia dominar ou possuir com exclusividade tal "fogo sagrado" (que para mim significaria o alcance dos seus objetivos primevos, ou seja, superar ou atingir um/o estado de ser o Deus, prerrogativa esta que se assemelha ao entendimento comum da figura do Satanás Bíblico), Melkor acabou por trilhar um caminho desastroso que lhe devorou e levaram-no a um comportamento (niilista) autodestrutivo, e que por sua vez resultou na sua inevitável queda.

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No entanto, nos anos posteriores, ele se elevou como uma sombra de Morgoth e como um espectro de seu rancor, e o acompanhou no mesmo caminho desastroso de descida ao Vazio.

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Neste sentido, vale analisar uma das figuras mais interessantes e enigmáticas da grande e desastrosa rebelião angelical: Azazel.

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Azazel que levou os anjos rebeldes para a Terra, como descrito em O Livro de Enoque. O Livro de Enoque, não obstante ser uma obra apócrifa (mas muito respeitada) possui citações interessantes no Livro de Daniel (Daniel 7:9-10 / Enoque 14:18-23) e no Livro de Judas (Judas 1:14-15 / Enoque 1:9). O livro, que é essencialmente uma exposição da vinda de 200 anjos do céu que chegaram à terra em um período antecessor ao Dilúvio; conta como estas poderosas figuras influenciaram e trouxeram ensinamentos que acabaram por levar a humanidade à sua derradeira queda, haja vista que a terra "herdou" todo um legado de corrupção e iniquidade, a solução ocorrera por meio de uma grande hecatombe/cataclismo: o dilúvio.

Há quem interprete que a figura de Azazel não corresponda necessariamente com o próprio Diabo, mas sim como uma entidade fiel aos desígnios do anjo líder da rebelião. Sendo assim, o seu "braço direito" poderia manifestar características similares ao mais fiel e poderoso servo de Melkor, pois qual seja: Sauron.

Nem preciso destrinchar todo o legado que Sauron trouxe à humanidade. É só lembrar da sua equivalente influência e o resultado (na 2ª e possivelmente na 4ª era) advindo de sua interação com a humanidade:

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Numa daquelas coincidências que o "Sobrenatural de Almeida" explica, semana passada, eu me peguei pensando: "Se Melkor é Lúcifer, quem seria Sauron, na demonologia judaico-cristã?". O Ragnaros forneceu a resposta em seu post antológico.

"Azazel is represented in the Book of Enoch as one of the leaders of the rebellious Watchers in the time preceding the flood; he taught men the art of warfare, of making swords, knives, shields, and coats of mail, and women the art of deception by ornamenting the body, dying the hair, and painting the face and the eyebrows, and also revealed to the people the secrets of witchcraft and corrupted their manners, leading them into wickedness and impurity".

Bem coisa do principal maia de Aulë.

http://en.wikipedia.org/wiki/Azazel

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Estou devendo ler os apócrifos... Até agora li apenas livros baseados neles e que os citam como fontes (o que já desperta bastante o interesse).

O passado está cheio de perguntas em culturas extremamente diversas. Outro dia estava lendo sobre a China com os 3 soberanos e os 5 imperadores lendários semi-deuses ou das histórias dos maias sobre o enviado que foi ao meio deles. São períodos de tempo de dezenas de milhares de anos, o bastante para a natureza produzir pessoas que realmente poderiam viver muito mais que a média ou ser muito mais inteligentes que a maioria. Pena que é difícil conseguir material. A China virou uma caixa preta depois da revolução e muitos segredos foram destruídos ou então selados como confidenciais. Parte dos segredos só poderá ser redescoberta quando as pessoas certas tiverem novamente acesso.

Biblicamente as perturbações celestes falam de mais de um desastre ocasionado por anjos (talvez até não relacionado a rebelião principal mas por oportunismo). Enquanto a queda de Lúcifer fora algo mais central, a vinda desse grupo de anjos fora mais localizada/regional. Inclusive alguns livros estudam a possibilidade de que os contatos entre seres celestes possam ter ocorrido também no mundo antigo da China e Índia por meio de instrutores como se relata na Bíblia.

Nesse meio tempo os relatos dos anjos caídos (ou demônios) se aplicavam a quase tudo que a população não gostava, e curiosamente, o conceito de demônio e deus na ásia é diferente igual ao que ocorre na terra média com os sulistas e orientais que viam os poderes como inimigos.

Naquelas regiões (leste e sul) os deuses tinham a possibilidade de ser bons ou maus e os demônios também podiam mudar de lado livremente, semelhante ao que Sauron poderia ter dito aos povos vassalos.

Houve uma época em que a Europa esteve imersa no orientalismo no século 19 e muitas semelhanças culturais foram percebidas principalmente com a Índia (apesar de haver ecos de semelhança na China também) entrando na cultura e imaginário da época. Kardek e Blavatsky são ecos dessa época através dos textos de reencarnação. Até o Japão se tornou moda devido ao exotismo (o Japão também tem umas estórias interessantes do passado longínquo)

Nesse caso, Sauron fora visto como mensageiro porque realmente viera de fora e os povos que usavam o ambíguo conceito de honra (honra ao que é bom ou ao que é ruim), demônios/deuses indefinidos que podiam ser bons ou ruins e que levava ao limite a duplicidade da vida (é só ver como a gueixa aparece a um passo da concubina trabalhando ambas como entretenimento feminino particular) que ele encontrou um solo bem fértil para se plantar.

Inclusive o comportamento dos anjos que vieram tomar as humanas demonstra uma indefinição ou dúvida com pouca fidelidade ao que prezam que vai encontrar uma combinação atraente nos modos de vida maliciosos dos ricos da antigüidade.
 
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Destarte, sendo Tolkien conhecedor das linguagem antigas, religião e mitologias, a denominação Ilúvatar é a (provável) combinação da palavra semita "El" ou "Ilu" (Deus) e a denominação (salvo me engano) de origem Indo-europeia "Avatar" (manifestação de uma deidade/entidade divina). Assim, o nome Eru enfatizaria concepção de Tolkien da unicidade de Deus, que corresponde ao nome bíblico de El, "Deus", e ao nome divino com que Deus se revelou a Moisés: YHWH, "Aquele que é", "o único Deus", "Uma auto-existente" ou possivelmente (dependendo da sua visão de mundo teológica) "o único ser que realmente existe".

Tolkien gostava de bolar verdadeiras combinações de influências desse tipo na hora de criar seus nomes.Embora o amálgama entre El e Avatar possa ter sido, subliminarmente, relevante, numa escala menor do que( penso eu ) o foi na hora de batizar o Avathar usado pra denominar a habitação ocidental de Ungoliant, me parece que Iluvátar é uma alusão ao indo-germânico "Pai de Todos", All-Father, sua tradução literal no idioma élfico. Em gaélico é parte do nome de Dagda, Eochaid Olathair.

O pai de Dagda por sua vez era chamado Elatha que é igualmente parecido e, provavelmente, tem o mesmo significado de Olathair.

The Dagda (Proto-Celtic: *Dagodeiwos, Old Irish: Dag Dia, Modern Irish: Daghdha) is an important god of Irish mythology. The Dagda is a father-figure (he is also known as Eochaid(h) Ollathair, or "All-father") and a protector of the tribe. In some texts his father is Elatha, in others his mother is Ethniu. Other texts say that his mother is Danu; while others yet place him as the father of Danu, perhaps due to her association with Brigit. The Dagda's siblings include the gods Ogma and Lir.

Já em nórdico era um epíteto de (óbvio) Odin, Pai de Todos,Alfodr (All Father).

Pra mostrar outro caso onde essa justaposição de referências em nomenclatura pode ter ocorrido, Melkor parece um compósito do deus Melqart com a influência norueguesa da personagem Melkorka do Laxdaela Saga. É como se Tolkien tivesse procurado um meio de "setentrionizar ou nortizar" a influência incluída nessa junção dos elementos M-L-K do nome de Melkor que aparecem sempre nos compósitos das línguas semíticas como significando rei ou mensageiro, implicando no significado de rei como emissário de Deus na Terra. Sentido evocado pelo título Rei mais Velho do Mundo dado a Manwë.


In Hebrew MLK has a matrix of meanings. It means messenger, angel, and king.

Tolkien was almost certainly aware of this. This dictionary uses the phrase 'the king of Israel appointed by Jehovah'. Hardly unimportant to someone who is translating the Bible.

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Primeiramente, gostaria de agradecer a ótima discussão que tem ocorrido neste tópico. Destarte, há outros elementos que planejo debater com vocês, pois quais sejam:

O possível simbolismo que as "Duas Lâmpadas" e "Duas Arvores" possuem quanto ao seus paralelos bíblicos. Pois bem, imperioso ressaltar alguns informes básicos sobre esses dois importantes e magníficos monumentos:

- Das Lâmpadas: Yavanna, a Valier cujo dom era a criação de plantas e animais, começou a cumprir a visão "transmitida" à ela na canção divina através da elaboração e o plantio de sementes de todos os tipos em toda a Terra Média. Entretanto, sem luz, suas sementes não brotavam. Assim sendo, no intuito de trazer/eivar a luz nas/das trevas e começar a próxima fase da ordenação da Terra, Varda, uma/a rainha dos Valar (cujo domínio foi o céu da noite/firmamento) requereu que Aulë (o senhor dos conhecimentos profundos da terra e seus minerais) criasse 2 poderosas lâmpadas para dissipar a escuridão que "dominava" o planeta.

Neste ínterim, Varda encheu estas lâmpadas com um fogo/luz excepcionalmente brilhante, e Manwë, seu esposo (senhor do ar) santificou tais empreendimentos, quando do momento em que as lamparinas encontravam-se em cima de dois pilares muito altos. Um ficava no norte da Terra Média, e a outra localizava-se no sul. Illuin ("céu azul") era a lâmpada que iluminava o norte, e Ormal ("alto-ouro/muito dourada") era a lâmpada que iluminava o sul, de forma que as sementes que Yavanna plantara e os animais que ela havia concebido através de suas artes floresceram sobre a face da Arda.

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Melkor, no entanto, atento que a Primavera de Arda "maculava" o "seu mundo de escuridão e trevas", fora tomado por um ciúme destrutivo e grandioso, haja vista que, seu mundo escuro não apenas estava sendo iluminado, mas florescendo com uma vida proveniente de um trabalho/dom que não podia alcançar ou criar. Em razão deste fato, Melkor reunira os Maiar que ele havia corrompido a seu serviço, e fez guerra contra os Valar e os asseclas lealistas. De sua fortaleza de Utumno no extremo norte, cavado profundamente na Terra, o ódio de Melkor começara a irradiar e a corromper a primavera de Arda.

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Não satisfeito com o "sucesso" de seu "empreendimento" corruptor, Melkor saiu em guerra e derrubou as lâmpadas que Aulë tinha feito, tendo gerado a maior extinção em massa já registrada em Arda.

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Mas isso não é o fim. Ante as trevas, os senhores do oeste encontraram uma outra solução para iluminar o mundo. Pois, no meio da bem-aventurada Valinor, na colina de Ezellohar, Yavanna invocara sua maior obra:

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Laurelin e Telperion.

- As duas árvores: Sob a música de Yavanna, cresceram as mudas que se tornaram não somente grandiosas e belas, mas delas proveram elementos que se emaranharam com o destino de boa parte dos contos que nos chegaram dos Dias Antigos. Uma tinha folhas verde-escuras que emanavam um brilho de prata, e de suas inúmeras flores um orvalho de luz prateada sempre se derramava na terra. A outra possuía folhas como ouro reluzente, e assim como sua "irmã" havia uma chuva dourada.

A este ponto, me parece que as "duas lâmpadas" e as "duas árvores" foram "aparentemente" equiparadas/destinada com as misteriosas figuras das "duas testemunhas" (http://en.wikipedia.org/wiki/Two_witnesses) citadas no livro do Apocalipse (vê-se aqui um caráter simbólico dos princípios espirituais eternos que elas representam). Estas duas figuras poderosas e enigmáticas, parecem estar associadas com as duas lâmpadas e árvores citadas não só no Antigo, mas também no Novo Testamento, haja vista que, suas aparições no livro do Apocalipse evidenciam suas "titularidades" quanto as "chaves" para os segredos dos fins dos tempos.

A menção mais proeminente no Velho Testamento (das duas figuras) ocorre no livro do profeta Zacarias:

Now the angel who talked with me came back and wakened me, as a man who is wakened out of his sleep. And he said to me, "What do you see?"
So I said, "I am looking, and there is a lampstand of solid gold with a bowl on top of it, and on the stand seven lamps with seven pipes to the seven lamps.

Two olive trees are by it, one at the right of the bowl and the other at its left." Then I answered and said to him, "What are these two olive trees — at the right of the lampstand and at its left?"

And I further answered and said to him, "What are these two olive branches that drip into the receptacles of the two gold pipes from which the golden oil drains?"

Then he answered me and said, "Do you not know what these are?" And I said, "No, my lord." So he said, "These are the two anointed ones, who stand beside
the Lord of the whole earth."

No livro do Apocalipse, é mencionado ainda que essas duas misteriosas "testemunhas" se equiparam com os dois "ungidos" citados em Zacarias:

I was given a reed like a measuring rod and was told, "Go and measure the temple of God and the altar, and count the worshipers there. But exclude the outer court; do not measure it, because it has been given to the Gentiles. They will trample on the holy city for 42 months. And I will give power to my two witnesses, and they will prophesy for 1,260 days, clothed in sackcloth.

These are the two olive trees and the two lampstands that stand before the Lord of the Earth. If anyone tries to harm them, fire comes from their mouths and devours their enemies. This is how anyone who wants to harm them must die.

These men have power to shut up the sky so that it will not rain during the time they are prophesying; and they have power to turn the waters into blood and to strike the earth with every kind of plague as often as they want.

Now when they have finished their testimony, the beast that comes up from the Abyss will attack them, and overpower and kill them.

Vê o caráter simbólico/referencial/"inspiratório" que Tolkien aparenta ter usado (é um especulação) entre as Lâmpadas-as árvores e duas testemunhas? Vide a sequência e o paralelo "destrinchado" pelas citações:

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Sobre estas duas "testemunhas" que estão ao lado de "Deus" no céu. Bem, não se sabe exatamente quem são esses homens, mas há intérpretes que associam tais figuras com Moisés e Elias, ou pelo menos os espíritos desses dois profetas excepcionais. Essa crença baseia-se em seis critérios básicos:

I - As "Mortes" destes dois profetas estão "eivadas" de fatos incomuns. Moisés, por exemplo, não teve uma morte plenamente "natural", uma vez que suaalma estava "tomada" por Deus antes que a força natural/vital de seu corpo tivesse diminuído/esvaído (ver Deuteronômio 34:5-7). Já Elias fora levado diretamente para o céu através das (famosas -deuses astronautas) "carruagens de fogo" citadas em Reis 2:11-12. Há quem veja, a "partida incomum" destes dois homens como um corolário de que ambos acabarão por regressar.

II - Moisés e Elias são considerados os mais excepcionais profetas da Bíblia, as suas vidas e ministérios marcam importantes pontos de inflexão na história de Israel, então se alguém pudesse voltar, há quem acredite que seriam eles.

III - Moisés e Elias são os únicos profetas que tinham visto Deus face a face (Dt 34:10; 1 Reis 19:9-18), ou seja, mais uma possível indicação de que estes possuíam uma elevada importância na hierarquia celestial.

IV - Há também a famosa aparição de Moisés e Elias junto/ao lado de Jesus no episódio da transfiguração e ambos falaram com Ele (Mateus 17:1-11). Seria isso uma indicação de que alguns homens possuem uma "espécie de hierarquia celeste superior à outras entidades angelicais?

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V - Os poderes que essas duas testemunhas mostram, ou seja, de enviar pragas e parar a chuva/controlar o clima, foram os mesmos poderes que Moisés e Elias exibiam durante seus ministérios na Terra.

VI - No livro de Malaquias, Moisés e Elias são profetizados para retornarem nos fins dos tempos (Malaquias 3:1; 4:4-6)

Interessante que as características compartilhadas entre os profetas, remete à um outro episódio enigmático, em que Deus estaria acompanhado por dois homens misteriosos quando estava a visitar Abraão. Mais interessante é que tais anjos, que resgataram Ló e sua família da derradeira obliteração de Sodoma e Gomorra com o "fogo do céu", compartilham de uma das "habilidades" concernentes à Elias (vide Lucas 9:54). Há também um outro episódio em que Maria Madalena testemunha um "Jesus ressuscitado" acompanhado por dois 2 seres angelicais. Destarte, em Apocalipse 11:08, as duas testemunhas seriam de alguma forma relacionados a Sodoma, Egito e Jerusalém - Sodoma (e Gomorra), sendo as cidades destruídas durante a época de Abraão, o Egito é o lugar onde Moisés fez sua marca na história, e Jerusalém é o lugar onde João Batista - que foi misteriosamente relacionada a Elias (Mateus 11:7-15) - fez a sua. E talvez o mais interessante de tudo, dois homens apareceram ao profeta Daniel e disse-lhe para "selar" as suas profecias até o fim dos tempos:

"But you, Daniel, shut up the words, and seal the book until the time of the end; many shall run to and fro, and knowledge shall increase." Then I, Daniel, looked; and there stood two others, one on this riverbank and the other on that riverbank.

And one said to the man clothed in linen, who was above the waters of the river, "How long shall the fulfillment of these wonders be? Then I heard the man clothed in linen, who was above the waters of the river, when he held up his right hand and his left hand to heaven, and swore by Him who lives forever, that it shall be for a time, times, and half a time; and when the power of the holy people has been completely shattered, all these things shall be finished.

Although I heard, I did not understand. Then I said, "My lord, what shall be the end of these things?" And he said, "Go your way, Daniel, for the words are closed and sealed till the time of the end.

Será que esses dois anjos possam ser os mesmos dois espíritos poderosos que "testemunharam" o desenrolar da história humana desde o início, manipulando o destino da humanidade por vezes revelando informações importantes em pontos críticos de viragem na nossa história? E qual o seu paralelo no Silmarillion?

Creio que Tolkien parece ter representado simbolicamente estes dois espíritos antigos, integralmente ligados com o destino da humanidade, não só com as figuras das lâmpadas e com as árvores citadas na obra, mas também com dois senhores Valar: Mandos/Námo e Lórien/Irmo. Verifica-se que os nomes e os atributos destes poderosos espíritos possam ser sim associados com os conceitos tipicamente atribuídos a Moisés e Elias, respectivamente:

- Mandos/Námo: Vala com "um saber" sobre os destinos das criaturas de Arda. Námo, que literalmente significa "juiz", também foi chamado de Mandos, "prisão-fortaleza", uma vez que possuía as "chaves" dos salões inescapáveis ​​dos mortos. Mandos, a priori, sempre fora severo e desapaixonado e nunca se esqueceu de nada. Sendo não só o juiz dos mortos, é também o responsável pelos "Salões de Mandos" (onde os espíritos dos mortos são enviados), mas tem conhecimento dos destinos de todos os seres. E o magnífico é o fato de que suas profecias sobre o destino de alguém/grupo sempre se concretizaram. Assim, como legislador e juiz, na mitologia da Terra Média, Mandos me apresenta similaridades com a figura de Moisés (ou à uma das testemunhas análogas àquele que trouxe a libertação do povo Hebreu no Egito), que não só trouxe/apresentou a Lei para a humanidade, mas agirá como uma figura julgadora da humanidade no fim dos tempos (poderia ser um possível "quase-papel" na Dagor Dagorath?)

- Irmo/Lórien: Era o Vala que estava no comando dos sonhos, incluindo visões e profecia. Irmo significa literalmente "sonhador", "mestre dos sonhos" ou "visões". Ele também era conhecido como Lórien, "jardim". Desta forma, seu nome completo "Irmo Lórien" significa "jardim dos sonhos". Neste sentido, sendo Lórien a (possível) fonte de todas as profecias (lembrar da importância profética dos sonhos na bíblia), na mitologia de Tolkien, Lórien me parece ter uma correlação com Elias, que representa a grande e importante figura dos profetas/profecias.

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