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Os órfãos da mitologia Tolkieniana

Como já disse em diversos tópicos, existe uma grande ligação com o Planeta Terra e a Terra-Média, já que um está dentro do outro.Portanto, Tolkien sempre buscava ter como referência sentimentos ou até mesmo situações que contornassem a sua vida, como ele olhava para a vida e como ela se desenrolava ante seus olhos.Acho normal ter ligação, e não acho coincidência, embora haja curiosidade.É bem bacana, divertido e inteligente observar essas ligações.Só mesmo fãns para desenterrar e olhar tão cuidadosamente coisas assim....
 
Última edição:
Não acho que o Frodo fosse Tolkien, existe um pouco de Tolkien em todas as suas personagens. É comum o autor usar suas próprias experiências para dar mais veracidade às personagens. É só reparar o quanto de livros o personagem é um escritor ou trabalha com a produção escrita.

Sobre os órfãos é outra coisa comum. A grande maioria dos heróis não tem pais, ou não tem contato com os pais. Talvez Tolkien tenha usado a ausência dos pais porque ele vivenciou isto, mas é um pensamento coletivo na criação de histórias e muito do que Tolkien leu tem heróis órfãos.
 
Tambem acho, o autor pode muito bem dar caracteriscas de sua vida em seus personagens, mas isso nao quer dizer que ele a faça pensando exatamente nesta cacteristicas. Entretanto vemos este aspecto muito na obra, talvez tenha sido algo que o marcou, mas nao creio que a obra seja a reflexão do real, muito menos...
 
Talvez haja algo de bíblico nisso também. Na bíblia (no Antigo Testamento, mais exatamente) os órfãos eram os marginalizados porque Israel tinha uma cultura paternalista. Então sem o pai (independentemente de ter ou não a mãe) eles acabavam desamparados.

Talvez esses "órfãos aventureiros" só queiram mostrar ao mundo que mesmo sem um norte moral, sem alguém que os sustente, dê apoio, etc eles, ainda assim, conseguem se superar, conseguem realizar algum feito digno e tal.
 
Tópico muito interessante, parabéns.

É interessante esses pensamentos sobre os órfãos, e é incrível como eles fazem sucesso, não apenas em Tolkien, mas em geral, órfãos sempre estão na mídia. Para citar dois exemplos mais atuais: Chiquititas que fez um sucesso tremendo entre as meninas e pré-adolescentes e Harry Potter que faz um sucesso tremendo com quase todo mundo, rs.

Acho que existem tantos personagens órfãos assim porque nos identificamos muito com eles, o que é interessante pois a maioria das pessoas não são órfãos de verdade, mas em alguma medida, nem que seja inconsciente, acredito que todos tem um sentimento de órfão, desprovido de pais e proteções, sozinhos no escuro das intempéries do mundo.

Freud diz que "o pai é para a criança o que deus é para o fiel", ou seja, quando somos crianças nossos pais são os heróis, eles (na nossa cabeça) são os mais fortes, os mais inteligentes e os mais bonitos. Quando uma criança entra em alguma encrenca corre logo contar para seu pai, seu protetor e defensor, ela tem certeza que ele cuidará de tudo, não importa que perigo ela tenha encontrado. Teve uma situação na praia que surgiu um gambá na varanda da casa. Os adultos espantaram o gambá com a mangueirade água e quando as mulheres chegaram o menino correu para mãe dele dizendo: "Mãe, o pai matou o Gambá". Na verdade, naa disso tinha acontecido, o gambá não foi morto, mas espantado, e não foi o pai dele que fez isso, o pai dele ficou com medo e correu para dentro da casa, mas na cabeça do menino o pai foi o herói e salvou o dia. Isto é: os pais são super-poderosos. Quando crescemos e percebemos que nossos pais não passam de reles mortais que tem que pagar contas e não têm todas as respostas do mundo, sendo subjugados desde o governo de outros países até o policial corrupto da cidade, nossos pais deixam de ser super-poderosos e se tornam mortais... nós ficamos órfãos, não temos mais um protetor insuperável, então encontramos deus. O nosso novo pai, esse sim insuperável, todo-poderosos de fato, que vai nos proteger, nessa vida ou na outra. Esse era o pensamento de Freud.

Talvez por isso nós nos interessemos tanto pelas histórias dos órfãos, porque nos sentimos como eles, entendemos como eles estão sozinhos no mundo e sem proteção, porque nos sentios assim. Talvez por isso algumas pessoas se dedicam tanto a religião, outras aos super-heróis (que se formos analisar veremos que também são outros órfãos. Mas estes se tornam tão poderosos que dispensam a necessidade dos pais, eles acabam se tornando os pais, os vigilantes misteriosos, nossos protetores invisíveis ), outras à fantasia. Na verdade essa busca e interesse nessas áreas pode muito bem ser uma busca pelos pais, para afastar nosso sentimento de órfão.

Voltando ao Senhor dos Anéis, Frodo não é só órfão dos pais dele, conforme o desenrolar da história ele fica órfão de cada figura protetora que conheceu. Ele fica órfão de Gandalf em Moria, fica órfão de Aragorn quando a Sociedade se divide, fica órfão de Boromir e até Gollum que por muito tempo cumprem funções protetoras, quase paternais, protegendo de inimigos e "mostrando o caminho"... e nos filmes, Frodo chega a ficar órfão até de Sam, quando Gollum faz a armadilha do Lembas na Escada Reta em Minas Morgul.

Desprovido de tantos pais, e absolutamente órfão Frodo morre, quando Laracna, o monstro da ausência, do escuro que é a falta de luz, a falta de esperança o atinge e o embalsama. Frodo só volta a vida quando seu pai Sam retorna triunfal para salvá-lo, super-poderoso, praticamente um "grande guerreiro élfico, bem ao modo como os pais fazem e parecem para as crianças indefesas. Além disso, Frodo tem a estrela de Eärendil, "uma luz quando todas as outras luzes se apagarem", quer frase mais maternal e protetora que essa? E quando ele tropeça em Mordor ele não cai em seu solo seco e frio, mas na grama macia e molhada de orvalho do Condado e quem oferece a mão para levantá-lo é Galadriel dizendo: "Essa missão é destinada a você Frodo Bolseiro, e se você não conseguir cumpri-la, ninguém mais conseguirá" é o pensamento de todos os pais a seus filhos, eles querem que nós nos demos bem na vida, para que sejamos "alguém na vida", que superamos as adversidades que vamos encontrar no nosso caminho e alcancemos nossos objetivos, embora eles não poderão nos acompanhar por todo o caminho. Por que por mais que eles vivam, a missão deles é apenas nos preparar como puderem, pois a demanda da nossa vida é um fardo que apenas cada um de nós pode carregar e ninguém mais pode fazer isso por nós.

Nesse caminho, vamos encontrar grandes dificuldades, fazer e perder amigos e inimigos, por diversas vezes nos sentiremos sozinhos, com frio e com fome, nunca saberemos ao certo se estamos no caminho correto e de vez em quando, nos perderemos. E no final, nossa demanda deixará marcas, visíveis e invisíveis. Frodo perdeu um dedo, nós perderemos nossa face, pois envelheceremos. Frodo perdeu o Condado, que nunca mais foi o mesmo para ele, nós perderemos o conforto da infância, pois envelheceremos.

Órfãos arremessados no mundo, encarregados de tarefas grandiosas e fúteis, muitas vezes sem saber em qual é essa missão, qual é a demanda, mas continuaremos (ao menos a maioria de nós) a caminhar e no final pode ser que nos surpreenderemos, pois teremos uma experiência de vida, uma história, que poderia ser colocada em um livro ou muitos deles. Mas isso tudo nós só conseguiremos se abandonarmos o útero aquecido de nossas super-poderoas mães e sermos cuspidos sozinhos no frio mundo e começarmos a nossa longa, e muitas vezes solitária, caminhada de órfão.

Afinal, já dizia o pensador: "Os barcos estão mais seguros nos portos, mas não foi para isso que eles foram construídos".
 
Morgoth fala...

Isso faz parte do arquétipo do herói, que podemos encontrar em diversas mitologias. Geralmente, o herói não é criado por seus pais biológicos mas sim abandonado por eles. Comumente, são encontrados e amamentados por um animal e, então, criados por pais adotivos como seu próprio filho - e geralmente tais pais são mais humildes e pobres que os outros. Esta criança, este herói, está destinado a grandes feitos, mas acima de tudo terá que enfrentar um grande desafio, geralmente uma criatura perigosa que assola o mundo, para só então atingir a glória (muitas vezes, a imortalidade).

Falando dos heróis tolkienianos, conseguimos encaixá-los muito bem, se não em todas, em muitas das características acima. Se pegarmos o Frodo: órfão, Portador do Anel, a luta contra o Anel pode ser vista como o seu rito de passagem para a glória que veio após as Fendas da Perdição. E sua glória final é a ida ao Oeste.

Samwise: deixou o Feitor e o Condado para ir com Frodo. Isto já uma grande ruptura para Sam, necessária ao herói que está por vir. A derrota de Laracna pode ser vista como o grande desafio de sua vida e, no final dos tempos, pode também ter ido para o Oeste.

Túrin - morte de Húrin, vida de Proscrito, Glaurung

Béren - morte de Barahir, Coroa de Ferro, Carcharoth... a glória de ter uma "segunda chance".

E assim vai... muito bom o tópico :)
 

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