Não é que vim? Esse tópico tá indo bem mesmo.
Da questão principal, eu não estou muito certo sobre nada. Para falar a verdade, não leio a descrição dos mortos há algum tempo, então minha memória pode me pregar algumas peças. Mas esse caso não deve ser totalmente diverso do caso dos nazgûl, uma vez que o cerne é o mesmo, o apresamento de humanos nesse mundo indefinidamente. Acho essencial verificar se os mortos realmente morreram ou se exatamente nunca puderam. Mas acho difícil confirmar um ou outro. Entretanto, eu creio mais que os mortos na verdade nunca morreram. Penso isso porque acho que é como a maldição deve ter funcionado. Bom, no momento em que a maldição foi "endossada" por Eru, e estou tomando isso como verdade, algo foi feito para prender aqueles homens à Terra. Se foi alguma alteração nos próprios espíritos ou somente a retirada da ordem para que saiam do mundo, isso altera fundamentalmente a relação do corpo com o espírito. Apesar de não retirar a necessidade do espírito de morrer, deixa de estabelecer uma necessidade de separação entre corpo e espírito. Não há mais um ponto (temporal) onde o corpo e o espírito devam se separar, ou pelo menos esse foi afastado indefinidamente. Portanto, os mortos nunca devem ter morrido, nunca seus fear se separaram dos hroar. Portanto, sua “fantasmagorização” deve ter se dado pelo consumo de seus hröar pelos feär ao longo dos milhares de anos que “viveram”, da mesma maneira que os nazgûl e elfos esvaídos [dois casos bem diversos entre si e entre o dos mortos, mas em todos os corpos desapareceram após longos anos de vida fora de condições normais de existência]. O problema continua sendo os cavalos, e surge mais um: o do envelhecimento. Desse autogerado, vou criar uma tentativa de resposta. E dar uma quebrada no parágrafo também, hehe.
Eu admito, será especulação, mas se alguém souber algo que a invalide é só contestar. Bom, o problema é que se os homens não morreram e simplesmente continuaram vivendo como seres biológicos deveriam, portanto, também continuar com todo o seu ciclo biológico e assim continuar envelhecendo. Ou seja, iriam chegar a tal ponto de deterioração que os corpos não poderiam suportar os espíritos, iriam apodrecer e morrer. Mas aí o que restaria seriam espíritos completamente desencarnados, sem qualquer vínculo com a matéria, e dessa forma poderiam sustentar qualquer imagem? E sua memória sustentada seria de um corpo humano normal ou a da horrenda deterioração posterior? O espírito desencarnado não constrói um corpo espiritual, só apresenta uma visão do que seu corpo foi, dessa forma essa visão deve ser inconscientemente formada, e aí o que parece mais provável, que o corpo se lembre de algum momentâneo estado de corpo normal ou de seu último estado deteriorado (e doloroso) de vida (semi) biológica? Acredito que esse último, mas aí essas visões pareceriam saídas diretamente do inferno, não do passado. Além disso, bastante grotesco e parece bem longe de Tolkien. Mas então como os espíritos poderiam parecer saídos do passado, imagino que do tempo da maldição, não um ponto qualquer de um passado qualquer, e seus corpos terem apodrecido? Só vejo um jeito, se o envelhecimento tivesse sido suspenso.
Bom, aí que começa a viagem mesmo. Como poderia o envelhecimento ser suspenso? Primeira possibilidade, Eru. Eru poderia ter feito com os mortos o mesmo que os anéis fizeram aos nazgûl. Possibilidade posta, possibilidade descartada. Eru não teria motivo pra fazer isso, e apelar para Eru como explicação é última opção. A outra é na verdade um questionamento: será que os humanos envelheceriam se não morressem (separação de corpo e espírito)? Talvez não. Comparando humanos e elfos, sabemos que os corpos são biologicamente quase idênticos, e a grande diferença entre eles é o destino dos espíritos que os ocupam. O espírito humano tem ligação mais fraca com a terra, resultando em corpos mais frágeis, suficientes apenas para viverem por curto período, o élfico é preso fortemente à matéria, e seus corpos são fortes e podem sustentar o espírito por longuíssimos períodos (pelo menos mais uma dezena de milhares de anos na TM, centenas de milhares em Aman). Sempre houve a diferença de destino com relação à permanência na Terra, mas nem sempre existiu diferença entre a relação entre corpo e espírito entre elfos e humanos. Existem duas mortes: “uma que é uma ferida e uma perda mas não um fim, e outra que é um fim sem retorno; e os Quendi sofrem apenas a primeira?", uma que é somente separação do hröa e fëa, e outra que é a partida do ser deste mundo. Da segunda, os homens sempre sofreram, ela não provém da matéria, e nem, portanto, da Desfiguração, diretamente. Da primeira, ambos sofrem, mas os elfos não a tem como destino inelutável. E Finrod crê nem os humanos a deveriam ter:
“Logo, ele supõe que é o medo da morte o resultado do desastre. Ela é temida por agora estar ligada com a separação de hröa e fëa. Mas os fëar dos homens devem ter sido designados a deixarem Arda de boa vontade ou de fato pelo desejo de fazê-lo – talvez após um tempo maior do que a atual vida humana média, mas ainda assim em um tempo muito curto comparado às vidas élficas. Assim, baseando seu argumento no axioma de que a separação de hröa e fëa não é natural e é contrária ao seu desígnio, ele chega (ou se preferir, precipita-se) à conclusão de que o fëa de um homem não caído levaria consigo seu hröa ao novo modo de existência (livre do Tempo).”
Portanto o homem não-caído não sofreria a primeira morte para sofrer a segunda, e sim manteria a união de seu espírito e corpo até além do mundo e Tempo. Então seu corpo deveria ser capaz de se manter bem até a partida, e além desta, saudável e vigoroso, para sustentar o espírito por todo o seu destino posterior. Mas, ao invés disso, os homens são os Enfermiços. É exagero supor que então foi também resultado do Desastre a enfermidade e enfraquecimento dos hröar humanos? E, mais além, para que o espírito, potencialmente eterno, carregaria consigo para um destino supostamente definitivo um corpo fraco e velho, sem a beleza e vigor da juventude? Então não faz sentido que o envelhecimento só tenha origem na decretação inevitável da primeira morte a todos os homens?
Bom, teoria criada, passando pro caso dos mortos. Eles tiveram seus destinos indefinidamente afastados, deixaram de ter (a um prazo calculável) um ponto onde necessariamente seus espíritos romperiam a comunhão com os corpos e deixariam Eä. Então o hröa não precisaria ser destruído para a libertação do fëa, e se o envelhecimento é disparado pelo fëa (como acho que é, pois creio que a alteração do desastre só ocorreu no primeiro plano de derivação de Eru, no espírito) esse não teria motivo para prosseguir. Assim, no momento que a maldição foi endossada e a morte afastada, os mortos ficariam paralisados em seu envelhecimento.
Quanto aos cavalos, não faço idéia de uma resposta. Só também considero que não podem ser imagens sustentadas pelos fëar desabrigados. Os fëar refletem a imagem da sua memória do seu corpo perdido, em algo como uma tentativa de repor esse. Não é um projetor de imagens intencionalmente criadas, e os fëar não se lembram de cavalos como acessório de seus corpos, como roupas podem ser. Isso sem falar da complexidade extrema dos cavalos para serem reproduzidos. Mas e aí, como fica? Não consigo pensar em nada.
E vou desistir de falar sobre os espíritos dos ainur e etc., que era o que me trouxe ao tópico porque já tô cansado de escrever. Depois eu falo especificamente sobre isso.
P.S. Obrigado à Swan, que me mostrou o tópico e conversamos tanto sobre ele.