Morfindel Werwulf Rúnarmo
Geofísico entende de terremoto
Físicos profissionais e jornalistas de ciência são procurados com espantosa regularidade por indivíduos que afirmam ter descoberto furos na teoria da relatividade ou na mecânica quântica e que juram de pés juntos serem capazes de desmascarar as fraudes de Einstein e outros ícones da ciência.
São em geral físicos amadores – homens na maioria dos casos – que não têm vínculo com qualquer universidade ou centro de pesquisa. Ao abordar cientistas e jornalistas, eles buscam um atalho para apresentar as ideias que eles não encontram espaço para divulgar nos fóruns comumente usados pelos pesquisadores para apresentar suas ideias – as revistas e congressos científicos.
Um exemplo típico dessa fauna é o autor do cartaz retratado na foto abaixo. Por ocasião de um simpósio internacional no Rio de Janeiro, ele confeccionou um cartaz e passou o dia ao lado dele na frente do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), onde o evento era realizado.
O texto seguia com mais detalhes dos “erros primários” de Einstein, numa caligrafia cada vez menor à medida que diminuía o espaço disponível no cartaz. O autor elencou as promissoras perspectivas de aplicação do seu achado na exploração espacial e concluiu com um apelo dramático:
Por mais de quinze anos, a autora colecionou histórias desses cientistas que atuam à margem do circuito formal da ciência. As mais de cem teorias alternativas acumuladas por ela ocupam duas prateleiras de sua biblioteca e se apresentam numa grande variedade de formatos – de artigos de poucas páginas a obras que se estendem por mais de um volume. Physics on the Fringe é uma narrativa povoada de “portões harmônicos”, “transações energéticas”, “partículas virgens” e outras entidades idealizadas para substituir os conceitos propostos pela física estabelecida.
Wertheim faz um apanhado histórico dos físicos marginais e mostra que sua existência está longe de ser um fenômeno contemporâneo. No século XIX, o matemático britânico Augustus de Morgan compilou dezenas de relatos do tipo no volume A Budget of Paradoxes. Naquele momento histórico, naturalmente, o objeto de contestação era outro: a moda era dizer que Newton e sua teoria da gravidade é que estavam errados.
A autora faz um apanhado abrangente das teorias alternativas atuais e mostra que hoje elas encontram abrigo institucional na Aliança da Filosofia Natural, uma entidade que reúne membros que têm em comum o fato de terem
Physics on the Fringe se encerra com um relato da participação de Wertheim em uma conferência sobre a teoria de supercordas que reuniu alguns dos físicos mais conhecidos do planeta. Perturbada com as dimensões ocultas e outros artifícios teóricos pouco intuitivos a que os físicos recorreram em suas apresentações, ela concluiu:
Com uma escrita sensível e bem-humorada, Wertheim oferece ao leitor uma reflexão fascinante sobre os rumos da física e sobre o espaço ocupado pelos párias deixados de fora de sua narrativa predominante.
Fonte
São em geral físicos amadores – homens na maioria dos casos – que não têm vínculo com qualquer universidade ou centro de pesquisa. Ao abordar cientistas e jornalistas, eles buscam um atalho para apresentar as ideias que eles não encontram espaço para divulgar nos fóruns comumente usados pelos pesquisadores para apresentar suas ideias – as revistas e congressos científicos.
Um exemplo típico dessa fauna é o autor do cartaz retratado na foto abaixo. Por ocasião de um simpósio internacional no Rio de Janeiro, ele confeccionou um cartaz e passou o dia ao lado dele na frente do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), onde o evento era realizado.
dizia a introdução do cartaz, endereçado aos cientistas do CBPF e ao ministro da Ciência.“Preciso de ajuda e estou sendo discriminado”,
“Fiz uma importante descoberta científica e tecnológica, e não me deixam mostrá-la. Ninguém acredita em mim. Descobri a maior fraude científica da história do conhecimento moderno. Preciso ser ouvido, avaliado e ajudado por estudiosos. Toda fraude um dia vem à tona e a de Einstein chegou ao fim.”
O texto seguia com mais detalhes dos “erros primários” de Einstein, numa caligrafia cada vez menor à medida que diminuía o espaço disponível no cartaz. O autor elencou as promissoras perspectivas de aplicação do seu achado na exploração espacial e concluiu com um apelo dramático:
Cientistas amadores que contestam resultados estabelecidos pela ciência são mais comuns do que se poderia imaginar: essa é a constatação a que se chega após a leitura do livro Physics on the Fringe: Smoke Rings, Circlons and Alternative Theories of Everything, recém-lançado e ainda sem edição em português [‘Física na margem: anéis de fumaça, círclons e teorias alternativas de tudo]. Escrito pela física e jornalista australiana Margaret Wertheim, o livro reúne relatos de teóricos amadores que desafiaram alguns dos mais sólidos pilares da ciência nos últimos séculos.“Inteligências do Rio, onde estão vocês? Preciso de ajuda”.
Por mais de quinze anos, a autora colecionou histórias desses cientistas que atuam à margem do circuito formal da ciência. As mais de cem teorias alternativas acumuladas por ela ocupam duas prateleiras de sua biblioteca e se apresentam numa grande variedade de formatos – de artigos de poucas páginas a obras que se estendem por mais de um volume. Physics on the Fringe é uma narrativa povoada de “portões harmônicos”, “transações energéticas”, “partículas virgens” e outras entidades idealizadas para substituir os conceitos propostos pela física estabelecida.
Wertheim faz um apanhado histórico dos físicos marginais e mostra que sua existência está longe de ser um fenômeno contemporâneo. No século XIX, o matemático britânico Augustus de Morgan compilou dezenas de relatos do tipo no volume A Budget of Paradoxes. Naquele momento histórico, naturalmente, o objeto de contestação era outro: a moda era dizer que Newton e sua teoria da gravidade é que estavam errados.
A autora faz um apanhado abrangente das teorias alternativas atuais e mostra que hoje elas encontram abrigo institucional na Aliança da Filosofia Natural, uma entidade que reúne membros que têm em comum o fato de terem
O livro não cai na tentação fácil de tratar com desdém o trabalho dos cientistas amadores. Wertheim trata seus personagens com o mesmo respeito que os livros de divulgação científica costumam reservar aos cientistas reconhecidos – a começar por Jim Carter, físico amador que a autora encontrou pessoalmente em diversas ocasiões e cuja teoria dos círclons ocupa lugar central em sua obra.“estudado exaustivamente a ciência estabelecida e concluído que teorias como a relatividade, o Big-Bang e a tectônica de placas têm falhas fundamentais que precisam ser retificadas”.
Physics on the Fringe se encerra com um relato da participação de Wertheim em uma conferência sobre a teoria de supercordas que reuniu alguns dos físicos mais conhecidos do planeta. Perturbada com as dimensões ocultas e outros artifícios teóricos pouco intuitivos a que os físicos recorreram em suas apresentações, ela concluiu:
“A conferência de cosmologia de cordas foi de longe o evento de física mais surreal a que já fui, mais bizarro do que qualquer evento da Aliança da Filosofia Natural”.
Com uma escrita sensível e bem-humorada, Wertheim oferece ao leitor uma reflexão fascinante sobre os rumos da física e sobre o espaço ocupado pelos párias deixados de fora de sua narrativa predominante.
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