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Os Ensaios -- Montaigne

Mavericco

I am fire and air.
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LEIA A RESENHA DO LUCAS AQUI!

E aí galera? Vamos discutir? Um resumo básico pra começar:

Da edição da Companhia da Sopa das Letras disse:
Personagem de vida curiosa, Michel Eyquem, Seigneur de Montaigne (1533-1592), é considerado o inventor do gênero ensaio. Herdeiro de uma fortuna deixada pelo avô, um comerciante de peixes abastado, foi alfabetizado em latim e prefeito de Bordeaux. A certa altura, retirou-se para ler, meditar e escrever sobre praticamente tudo.
Esta edição oferece ao leitor brasileiro a possibilidade de ter uma visão abrangente do pensamento de Montaigne, sem que precise recorrer aos três volumes de suas obras completas. Selecionados para a edição internacional da Penguin por M. A. Screech, especialista no Renascimento, os ensaios desta edição passam por temas como o medo, a covardia, a preparação para a morte, a educação dos filhos, a embriaguez, a ociosidade.
De particular interesse para nossos leitores é o ensaio “Sobre os canibais”, que foi inspirado no encontro que Montaigne teve, em Ruão, em 1562, com os índios da tribo Tupinambá, levados para serem exibidos na corte francesa. Além disso, trata-se da primeira edição brasileira que utiliza a monumental reedição dos ensaios lançada pela Bibliothèque de la Plêiade, que, por sua vez, se valeu da edição póstuma dos ensaios de 1595.
O crítico Eric Auerbach, que assina o prefácio do livro, afirma que a modernidade de Montaigne se deve ao fato de ser o primeiro autor a não se preocupar com um público determinado. Esta nova e fluente tradução permite que o leitor brasileiro descubra o pensamento rico (e vivo) de Montaigne.

Começando do começo, o Auerbach vai bem no X da questão: Montaigne é, antes de mais nada, um leigo; mas, por ser um leigo com uma ânsia de conhecimento profunda, muito mais profunda que a de um especialista qualquer, o seu relato e o seu pensamento não deve ser em hipótese nenhuma descartado. Numa sociedade como a nossa, de uma tendência ao conhecimento e à sabedoria pedante, um cara como Montaigne é um constante tapa na cara...

A segunda coisa que eu observei foi o estilo do Montaigne, constantemente se utilizando de exemplos de suas leituras, dando às vezes a entender que a única razão de ser de seus ensaios é a de correlacionar o que ele leu com o que ele está pensando... Um diário? Algo assim, os ensaios do Montaigne têm indubitavelmente esse caráter pessoal, esse caráter de fortaleza própria, de terreno exclusivo: mas são como que apontamentos de alguém que em determinada parte de sua vida decidiu se reclusar da sociedade e aguardar, enfrentar a morte, aproveitando o fato de que ela estava cada vez mais próxima para analisá-la cada vez mais de perto.

Se a morte, então, é o sentido principal dos Ensaios, aquele ponto crucial em que tudo parece convergir, poderemos também supor que no fundo o que Montaigne pretendia era desmistificar esse dogma essencial e simplesmente que é a morte, em si? O caráter de desconstrutor de dogmas dos ensaios é notório; Montaigne refuta aquelas verdades irrefutáveis, mas, ao que me consta, quando ele encontra aquelas verdades essenciais à sua própria natureza, ele como que entra num estágio de resignação, como se Montaigne não conseguisse refutar ao próprio Montaigne ou àquilo que lhe faz parte da essência de ser humano.

Enfim... Algumas reflexões que fiz lendo alguns ensaios iniciais. Estou bem no comecinho, e muita coisa há ainda de ser pensada...:sarcasm:
 
Quero muito ler esse livro. Acho os ensaios uma das formas literárias mais interessantes, gosto da liberdade que eles dão para discussão de qualquer tema, mostra que não é necessário um diploma ou um título para se pensar e, principalmente, mostrar esse pensamento para um público.
 
De fato os Ensaios parecem mais uma discussão do Montaigne com o próprio Montaigne do que propriamente um material que almeja um pensamento sistêmico. Embora a organização do texto mostre como o autor pensava no provável público ao qual iria chegar, o centro em torno do qual orbitam todos os questionamentos parece ser ele mesmo.

Não que isso faça dele um sujeito que enxergue somente o próprio umbigo, ou que ache que o mundo só vai até onde se estende seu nariz; mas ele parece fazer isso porque, uma vez que não está 'enquadrado' num campo do saber específico, que lhe fomentaria questões de forma mais clara, ele parte de sua empiria como forma de adentrar na discussão. Isso faz com que os Ensaios tenham sua marca mais pessoal - e às vezes íntima - mas que não se restrinjam a um acerto de contas consigo próprio, são escritos calcados na realidade experimentada diariamente.

Não creio que os Ensaios possuem um 'valor revolucionário' no sentido de abarcarem toda uma questão ou procurarem 'esgotar' um tema específico, mas sim pelo tratamento proximal que Montaigne os dá ao ocupar-se de sua realidade cotidiana e cotejá-la com o saber da Filosofia da Antiguidade. Esse exercício do autor é que torna os Ensaios particulares, acompanhá-lo fazendo isso é o que há de mais interessante a seu respeito. Isso se dá não só em relação ao que ele representa em relação ao seu tempo como indivíduo peculiar - e pitoresco - mas também como a forma dele de compreender e utilizar-se do conhecimento veio a ser utilizada posteriormente, com o Renascimento e mesmo com o Iluminismo.

Não dá para dizer que o Renascimento e o Iluminismo foram produto do pensamento de Montaigne, mas não dá para dizer que não foram influenciados por ele, direta ou indiretamente. Acho esse um dos aspectos que faz a obra de Montaigne assumir o vulto que possui.
 
"Um autor que interroga a si mesmo, mais preocupado em fazer perguntas do que dar respostas". Em sintese seria isso ?
Meus parabéns caros membros pelas explanações. Despertou-me muito o interesse por este autor.
 
"Um autor que interroga a si mesmo, mais preocupado em fazer perguntas do que dar respostas". Em sintese seria isso ?
Meus parabéns caros membros pelas explanações. Despertou-me muito o interesse por este autor.

Também, mas não só, Vigário. O que faz de Montaigne peculiar em relação ao seu tempo é sua referência na filosofia da antiguidade clássica, embrionariamente renascentista; e o fato de buscar usar de uma abordagem racional ao perscrutar os temas e as questões que ele busca palmilhar. De certa forma ele é uma espécie de pioneiro do espírito de seu tempo na medida em que faz da referência e da abordagem sui generis (principalmente em relação ao pensamento religioso que ainda grassa amplamente sua realidade) o conjunto que usa para investigar. Seus Ensaios, no entanto, não se assemelham à explorações científicas, estão mais próximos de abordagens filosóficas de temas que estão mais próximos do cotidiano do que as grandes questões metafísicas que marcaram a filosofia religiosa que o antecedeu. Daí, também, o peso da filosofia grega e romana clássica em seus escritos.

Ainda não estou tão certo do que faz Montaigne tão peculiar e tão determinante para a civilização e para o cânone ocidental, tenho que ler mais sobre.

***

Em outras notícias, Mavericco, tu está lendo os Ensaios ainda ou largou de lado?
 
@Mavericco e demais, vocês ainda estão aí?
Montaigne é um de meus ídolos. Os "Ensaios" formam um livro fabuloso. Não sei se daria para tirar deles uma conclusão geral; mas há coisas bem interessantes e pouco observadas. Qual edição vocês acham melhor? Conhecem a bela edição que fizeram de "Sobre a amizade", da editora Tinta Negra?
 

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