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Os cem melhores poemas do século XX.

Mavericco

I am fire and air.
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É uma lista antiga, feita pela Folha em 2000.

O link:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/inde02012000.htm

Ou, se preferirem vislumbrar o cheirinho de jornal:
http://acervo.folha.com.br/fsp/2000/01/02/72/

A lista:

1º A Terra Desolada (The Waste Land), de T.S. Eliot (1888-1965) - Nascido nos EUA, Eliot se sentia culturalmente ligado à Europa, tendo morado em Londres a maior parte da vida. Além de poeta, foi ensaísta e dramaturgo, tendo recebido o Nobel em 1948. No ano de 1922 publicou este poema-marco da literatura do século, em que constrói uma cerrada rede de referências à tradição literária européia na descrição de um continente devastado por um processo de desagregação que vinha desde o Renascimento. "Poesia", trad. de Ivan Junqueira, Nova Fronteira, R$ 24,00.

2º Tabacaria, de Fernando Pessoa (1888-1935), sob o heterônimo de Álvaro de Campos - O poeta português é autor da mais original criação poética deste século, a heteronímia, ou seja, a criação de múltiplas personalidades poéticas com vida pessoal e espiritual própria. Campos é, segundo Pessoa, um engenheiro formado em Glasgow (Inglaterra). Vivendo integralmente os conflitos da modernidade, é o mais inquieto e exaltado dos heterônimos. "Obra Poética", Nova Aguilar, R$ 64,00; "Ficções do Interlúdio", Companhia das Letras, R$ 25,00.

3º O Cemitério Marinho (Le Cimetière Marin), de Paul Valéry (1871-1945) - Valéry foi grande ensaísta e se via sobretudo como um homem devotado à inteligência. Daí viria sua relação tensa com a poesia que o tornaria um "poeta-não poeta", na expressão de Augusto de Campos. "Cemitério Marinho" é a prova cabal do acerto de um de seus aforismos, que diz que poema é aquilo que não pode ser resumido. "O Cemitério Marinho", trad. de Jorge Wanderley, Max Limonad.

4º Velejando para Bizâncio (Sailing to Byzantium), de William Butler Yeats (1865-1939) - O poeta e autor teatral irlandês recebeu o Nobel de 1923. Da plena maturidade são seus poemas mais citados, como este "Velejando para Bizâncio", no qual a velhice e a morte, confrontadas com a permanência da arte, se vêem transfiguradas num espaço mítico além da vida. "W.B. Yeats - Poemas", trad. de Paulo Vizioli, Companhia das Letras, R$ 20,00.

5º Hugh Selwin Mauberley, de Ezra Pound (1885-1972) - Este poema escrito em 1920 é o trabalho longo de leitura mais fluente do autor, já que é em grande parte escrito em forma mais tradicional e tem um eixo narrativo claro, o dos descaminhos do poeta americano E.P. e de seu duplo britânico, Mauberley, ameaçados de esterilidade artística. "Poesia", trad. de Augusto de Campos, Hucitec, R$ 26,50.

6º Pranto por Ignacio Sánchez Mejías (Llanto por Ignacio Sánchez Mejías), de Federico García Lorca (1899-1936) -Lorca foi tanto o poeta popular do "Romanceiro Gitano" (1928) quanto aquele que se horrorizou, fascinado, diante da metrópole, em "O Poeta em Nova York", publicado postumamente em 1940. Foi assassinado aos 38 anos pelos franquistas no início da Guerra Civil Espanhola. "Obra Poética", trad. de William Agel de Mello, Martins Fontes, R$ 39,80.

7º Elegias de Duíno (Duineser Elegien), de Rainer Maria Rilke (1875-1926) - Nascido em Praga, levou uma vida aristocrática, patrocinado pela nobreza européia. As "Elegias de Duíno" emprestam seu nome do castelo próximo a Trieste onde começaram a ser compostas nos anos de 1910-1912. Só foram concluídas mais de dez anos depois. "Elegias de Duíno", trad. de José Paulo Paes, Companhia das Letras, R$ 21,00.

8º À Espera dos Bárbaros, de Konstantinos Kaváfis (1863-1933) - O mais importante poeta grego deste século nasceu em Alexandria, no Egito, e morou na Inglaterra. Em "À Espera dos Bárbaros", poema ao mesmo tempo político e ontológico, aparece a figuração de um espaço em que nada se faz porque os bárbaros atacarão. "Poemas", trad. de José Paulo Paes, Nova Fronteira, R$ 21,00.

9º Zona (Zone), de Guillaume Apollinaire (1880-1918) - Poeta francês e patriota, apesar de nascido em Roma, teve uma biografia acidentada, que inclui participação voluntária como soldado na Primeira Guerra. Em "Zona" (1913), Apollinaire elimina a pontuação e cria um ritmo nervoso; abole o eu e faz um canto de louvor à modernidade. "Alcools", Gallimard, 34 francos.

10º Mensagem, de Fernando Pessoa (1888-1935) - Pessoa ele mesmo nasceu em Lisboa e passou seus anos de formação na África do Sul. Dos vários livros projetados e até efetivamente escritos por ele, "Mensagem" (1934) foi o único publicado em vida. "Obra Poética", Nova Aguilar, R$ 64,00; "Mensagem", Companhia das Letras, R$ 16,50.

11º A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock (The Love Song of J. Alfred Prufrock), de T. S. Eliot (1888-1965) - Publicado pela primeira vez em 1915 numa revista literária de Chicago, abriria o primeiro livro de Eliot, de 1917. "Poesia", trad. de Ivan Junqueira, Nova Fronteira, R$ 24,00.

12º - Quatro Quartetos, de T.S. Eliot "Poesia", trad. de Ivan Junqueira, Nova Fronteira, R$ 24,00.

13º - Cantos, de Ezra Pound "Cantos", trad. de José Lino Grünewald, Nova Fronteira (esgotado).

14º - Em Meu Ofício ou Arte Taciturna, de Dylan Thomas (1914-1955) - Nasceu no País de Gales, trabalhou como repórter. Sua poesia, às vezes de tom religioso, revisita temas como a infância e a morte. "Poemas Reunidos" (1934-1953), trad. de Ivan Junqueira, José Olympio, R$ 24,70.

15º - O Cão sem Plumas, de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) - Quando escreveu este poema, no final da década de 40, Cabral julgou que seria o último. O fluxo das memórias e o do rio Capibaribe se fundem nele para fazer um retrato tenso e novo do Recife. "O Cão sem Plumas", Nova Fronteira, R$ 21,00.

16º - Quarta-Feira de Cinzas, de T.S. Eliot "Poesia", trad. de Ivan Junqueira, Nova Fronteira, R$ 24,00.

17º - Noite Insular, Jardins Invisíveis, de Lezama Lima (1910-1976) - Poeta cubano, fundador da revista "Verbum", em 1937. Em 1959, foi nomeado por Fidel Castro diretor do departamento de literatura e publicações do Conselho Nacional de Cultura. É autor do romance "Paradiso" (1966), lançado no Brasil em 1987. Publicou também os livros de poemas "Morte de Narciso" (1937) e "Inimigo Rumor" (1941). "Poesia Completa", Alianza Editorial, 3.562 pesetas (Espanha).

18º - Campo de Flores, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) - Desde sua estréia, em 1930, com "Alguma Poesia", Drummond se tornou poeta central para a literatura brasileira. Fechando a segunda seção de "Claro Enigma" (1951), "Campo de Flores" fala do tema do amor na maturidade. "Claro Enigma", Record, R$ 10,40.

19º - Blanco, de Octavio Paz (1914-1998) -Prêmio Nobel de 1990, o mexicano Octavio Paz é o único poeta que tem a mesma dimensão internacional dos ficcionistas latino-americanos. Como poeta, publicou "Pedra de Sol", que, entre outros temas, revisita sua participação na Guerra Civil Espanhola e a experiência poética múltipla deste "Blanco". "Transblanco", trad. de Haroldo de Campos, Siciliano, R$ 25,00.

20º - Leda e o Cisne, de William Butler Yeats "Poemas", trad. de Paulo Vizioli, Companhia das Letras, R$ 20,00.

21º - Jubileu, de Vladímir Maiakóvski (1893-1930) - Nascido na Geórgia, Maiakóvski foi um entusiasta da Revolução Russa, enfrentando o desafio de escrever uma poesia engajada e ao mesmo tempo inovadora e pessoal por meio da "linguagem da rua". Suicidou-se seis anos após escrever "Jubileu". "Maiakóvski", trad. de Haroldo de Campos, Perspectiva, R$ 16,00.

22º - Orfeu. Eurídice. Hermes, de Rainer Maria Rilke "Rilke: Poesia-Coisa", trad. de Augusto de Campos, Imago, R$ 12,00.

23º - Esboço de uma Serpente, de Paul Valéry "Poésies", Gallimard, 34 francos (França).

24º - Manhã, de Giuseppe Ungaretti (1888-1970) - Na juventude lutou na Primeira Guerra. Viveu no Brasil entre 1937 e 1942, tendo sido professor da USP. Obra-prima na captação de um momento num poeta que deseja uma poesia reduzida ao mínimo de palavras, eis todo o poema "Manhã", na tradução de Haroldo de Campos: "Deslumbro-me/ de imenso". Publicou, entre outros, "Sentimento do Tempo" (1930), e "A Dor" (1947). "Vita d'un Uomo - Tutte le Poesie", Mondadori, 24.000 liras (Itália).

25º - Os Doze, de Aleksandr Blok (1880-1921) - Filho de intelectuais, Blok é considerado o grande poeta simbolista russo. A partir da fracassada revolução de 1905, sua poesia ganhou um realismo que se vê em "Os Doze" (1918) e que descreve a marcha de 12 soldados sobre a cidade. "Poesia Russa Moderna", trad. de Boris Schnaiderman e Haroldo de Campos.

26º - O Fogo de Cada Dia, de Octavio Paz (1914-1998) "Obra Poética (1935-1988)", Seix Barral, 3.800 pesetas (Espanha).

27º - Sutra do Girassol, de Allen Ginsberg (1926-1997) - Neste poema, Ginsberg fala de si ao lado de seu companheiro de geração "beatnik", Jack Kerouac (1922-1969). Sua linguagem torrencial, cheia de referências pessoais, dá conta do que é típico em Ginsberg, que criou celeuma já com seu livro de estréia, "Uivo e Outros Poemas" (1956), cujo poema-título chegou a ser proibido por obscenidade. "Uivo, Kaddish e Outros Poemas", trad. de Cláudio Willer, L&PM, R$ 20,00.

28º - Romanceiro Gitano, de Federico García Lorca "Obra Poética Completa", trad. de William Agel de Mello. 29º - Poema do Fim, de Marina Tzvietáieva (1892-1941) - Nome central da moderna poesia russa e européia, colocou-se em sua poesia contra a Revolução Russa e, mais tarde, contra o fascismo. Ao ver o marido ser fuzilado e a filha mandada para um campo de concentração, suicidou-se. Poemas da autora saíram em "Poesia Sempre" nº 7, em trad. de Augusto e Haroldo de Campos (Fundação Biblioteca Nacional, fax 0/ xx/21/220-4173).

30º - Ode Marítima, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa "Ficções do Interlúdio", Companhia das Letras, R$ 25,00; "Obra Poética", Nova Aguilar, R$ 64,00.

31º - A Pantera, de Rainer Maria Rilke "Rilke: Poesia-Coisa", trad. de Augusto de Campos, Imago, R$ 12,00.

32º - As Jovens Parcas, de Paul Valéry "Linguaviagem", trad. de Augusto de Campos, Cia. das Letras, R$ 21,00.

33º - A Torre, de William Butler Yeats "The Tower", Penguin, 3,99 libras (Reino Unido). Uma tradução de Augusto de Campos para o poema foi publicada no Mais! em 14/6/98.

34º - Xenia, de Eugenio Montale (1896-1981) - Ganhador do Nobel de 1975, o poeta italiano desejou ser cantor lírico, mas foi impedido pela Primeira Guerra. Sua poesia às vezes se aproxima da prosa, tal o uso que faz de elementos não-poéticos. "Poesias", trad. de Geraldo Holanda Cavalcanti, Record, R$ 25,00.

35º - A Segunda Vinda, de William Butler Yeats "Poemas", trad. de Paulo Vizioli, Companhia das Letras, R$ 20,00.

36º - A Enguia, de Eugenio Montale (1896-1981) "Poesias", trad. de Geraldo Holanda Cavalcanti, Record.

37º - De Todas as Obras, de Bertolt Brecht (1898-1956) - O principal interesse do escritor alemão foi o teatro, que revolucionou, mas escreveu poesia por toda a vida.
"Poemas - 1913-1956", trad. de Paulo César Souza, Brasiliense (esgotado).

38º - Cortejo, de Guillaume Apollinaire "Oeuvres Poétiques Complètes", Gallimard, 290 francos (França).

39º - Stretto, de Paul Celan (1920-1970) -Poeta romeno de expressão alemã, Celan chegou a ser preso num campo de concentração. Suicidou-se em Paris. "Cristal", trad. de Claudia Cavalcanti, Iluminuras, R$ 24,00.

40º - brIlha, de e.e. cummings (1894-1962) - O lado mais conhecido de sua poesia está nos poemas em que trabalha com a tipografia, decompondo as palavras e introduzindo uma série de sinais, em especial parênteses. "Poem(a)s", trad. de Augusto de Campos, Francisco Alves, R$ 17,00.

41º - Trilce, de Cesar Vallejo (1892-1938) - O peruano Vallejo teve a marca simbolista típica de sua geração na juventude. Posteriormente, notabilizou-se por sua poesia de cunho social, mas jamais abriu mão do impulso experimental, visível neste "Trilce" (1922). "Trilce", Cátedra, 1.142 pesetas (Espanha).

42º - Altazor, de Vicente Huidobro (1893-1947) - Chileno, Huidobro viveu em Paris e Madri. "Altazor" é um longo poema em que se mostra bem, em invenções vocabulares e livres associações, o caráter experimental de sua poesia. "Altazor e Outros Poemas", trad. de Antônio Risério e Paulo César Souza, ArtEditora, R$ 22,50.

43º - Fragmento, de Miklos Radnoti (1909-1944) - Em seu país, a Hungria, Radnoti é um mártir do Holocausto, já que foi fuzilado pelos nazistas. Pode ser encontrado em inglês em "Foamy Sky - The Major Poems of Miklos Radnoti", trad. de Frederick Turner e Zsuzsanna Ozsvath, Books on Demand, US$ 60,80.

44º - Dói Demais, de Attila József (1905-1937) - Húngaro, foi membro do então ilegal Partido Comunista e disse sobre si mesmo ser o poeta do proletariado. Fez de sua mãe, uma lavadeira, símbolo da classe trabalhadora. Pode ser encontrado em inglês em "Winter Night", trad. de John Batki, Oberlin College Press, US$ 14.95.

45º - No Túmulo de Christian Rosencreutz, de Fernando Pessoa "Obra Poética", Nova Aguilar, R$ 64,00.

46º - Ode Inacabada à Lama, de Francis Ponge (1899-1988) - Poeta francês que buscou afastar a poesia do eu, aproximando-a dos objetos. O mais conhecido de seus livros é "O Parti-Pris das Coisas" (1942). "Oeuvres Complètes", Gallimard, 390 francos (França).

47º - O Torso Arcaico de Apolo, de Rainer Maria Rilke Não há tradução brasileira disponível.

48º - Os Passos Longínquos, de Cesar Vallejo (1892-1938) "Obra Poetica Completa", Alianza, 2.010 pesetas (Espanha).

49º - El Hombre, de William Carlos Williams (1883-1963) - O poeta norte-americano foi escritor prolífico, autor de peças, contos e romances, além de poemas. "Poemas", trad. de José Paulo Paes, Companhia das Letras, R$ 17,20.

50º - Meus Versos São de Chumbo, de Jaroslav Seifert (1901-1986) - Foi o primeiro autor tcheco a ganhar, em 1984, o Prêmio Nobel. Há outros poemas do autor na antologia "Céu Vazio", trad. de Aleksandar Jovanovic, Hucitec, R$ 25,00.

51º - A Máquina do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade "Claro Enigma", Record.

52º - A Ponte, de Hart Crane (1899-1932) - Escrito em 1930, este poema longo em 15 partes é a tentativa de fazer um épico moderno que celebrasse o poder humano de reunir passado e presente. "Complete Poems of Hart Crane", W.W. Norton, R$ 13,95.

53º - Dia de Outono, de R. M. Rilke "Poemas", trad. José Paulo Paes, Companhia das Letras.

54º - Treze Maneiras de Olhar para um Melro, de Wallace Stevens (1879-1955) -Um dos mais importantes poetas norte-americanos, sua poesia é numas vezes discursiva, noutras bem concisa. "Poemas", trad. de Paulo Henriques Brito, Companhia das Letras, R$ 21,00.

55º - Domingo de Manhã, de Wallace Stevens "Poemas", Companhia das Letras.

56º - Sonetos a Orfeu, de R. M. Rilke "Poemas", Companhia das Letras.

57º - Vigília, de Giuseppe Ungaretti Em "Poesia Alheia", trad. Nelson Ascher, Imago.

58º - Perfil Grego, de Iannis Ritsos (1909-1990) - Comunista, o poeta grego foi preso pelos nazistas; depois, sua militância política lhe custaria o exílio. Há outros poemas do autor em "Gaveta do Tradutor", trad. de José Paulo Paes, Letras Contemporâneas, R$ 25,00.

59º - Poema dos Dons, de Jorge Luis Borges (1899-1986) - O grande autor do "boom" latino-americano, o argentino é muito mais lembrado por seus contos do que por sua refinada poesia. "Obras Completas", vol. 2, trad. de Josely Vianna Baptista, Globo, R$ 44,00.

60º - O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa - Segundo Pessoa, Caeiro nasceu em 1889 e era um homem inculto que sempre viveu numa aldeia. É reconhecido como o mestre dos outros heterônimos e do próprio Pessoa. "Ficções do Interlúdio", Companhia das Letras, R$ 25,00.

61º - nalgum lugar em que nunca estive, de e.e. cummings (1894-1962) "Poem(a)s", trad. de Augusto de Campos, Francisco Alves, R$ 17,00.

62º - Omeros, de Derek Walcott (1930) -Poeta caribenho de expressão inglesa, ganhador do Nobel em 1992, procura criar uma arte que dê conta da fusão cultural de sua região. "Omeros", trad. de Paulo Vizioli, Companhia das Letras, R$ 29,00.

63º - Degraus, de Hermann Hesse (1877-1962) - Autor do romance "O Lobo da Estepe" (1927), como poeta não dispensou um certo sentimentalismo ao explorar temas como a infância, a solidão. Ganhou o Nobel em 1946. "Gesammelte Werke", Suhrkamp, 148 marcos (Alemanha).

64º - A Serguei Iessiênin, de Vladímir Maiakóvski (1893-1930) "Poemas", Perspectiva.

65º - O Duro Cerne da Beleza, de William Carlos Williams "Poemas", trad. José Paulo Paes, Companhia das Letras.

66º - Sestina: Altaforte, de Ezra Pound "Poesia", Hucitec.

67º - Argumentum et Silentio, de Celan "Gesammelte Werke - Gedichte", Suhrkamp, 49,80 marcos (Alemanha).

68º - Encantação pelo Riso, de Vielimir Klebnikov (1885-1922) - Poeta russo considerado o líder do cubo-futurismo. "Poesia Russa Moderna", Brasiliense.

69º - Anabase, de Saint-John Perse (1887-1975) - Pseudônimo do diplomata francês Alexis Léger. Teve sua nacionalidade cassada na Segunda Guerra quando foi viver nos EUA. Só regressou a seu país em 1957. Ganhou o Nobel em 1960. "Éloges", Gallimard, 40 francos.

70º - Voz a Ti Devida, de Pedro Salinas (1892-1951) - O poeta espanhol notabilizou-se com seus poemas de amor. "Voz a Ti Debida", Losada, 617 pesetas.

71º - Réquiem, de Ana Akhmátova (1888-1966) - Fundadora do acmeísmo, corrente que se situa entre o simbolismo e o futurismo, a poeta russa foi considerada decadente durante a época do "realismo socialista". Sua poesia refinada e melancólica, mostra-se inteira em "Réquiem", um conjunto de pequenos poemas escritos entre 1925 e 1930. "Réquiem e Outros Poemas", Art Editora (esgotado).

72º - As Janelas, de Apollinaire "Oeuvres Poétiques Complètes" (Gallimard).

73º - A Ponte Mirabeau, de Guillaume Apollinaire "Oeuvres Poétiques Complètes".

74º - Oxford, de W.H. Auden (1907-1973) - O poeta britânico compartilhou com T.S. Eliot o pessimismo sobre o presente, mas não celebrou o passado: sendo homem da esquerda, viu o futuro com os olhos da utopia. Tematizou o amor homossexual e a religião. "Poemas", trad. de José Paulo Paes, Companhia das Letras, R$ 21,00.

75º - Em Memória de Yeats, de W.H. Auden "Poemas", Companhia das Letras.

76º - Briggflatts, de Basil Bunting (1900-1985) - É o poeta inglês mais conhecido nos Estados Unidos. Só se projetou em seu país aos 66 anos, com "Briggflatts", poema autobiográfico em que procurou explorar os aspectos linguísticos e antropológicos de sua região natal. "The Complete Poems", Oxford University Press, 11,99 libras (Reino Unido).

77º - No Centenário de Mondrian, de João Cabral de Melo Neto "Obra Poética", Nova Aguilar.

78º - Serpente, de D.H. Lawrence (1885-1930) - O ficcionista, crítico e poeta inglês ficou conhecido por romances como "Filhos e Amantes" (1913) e "O Amante de Lady Chatterley" (1928), processado como pornográfico. A divulgação de sua melhor poesia se fez postumamente. "The Complete Poems", Penguin, US$ 24,95.

79º - Áporo, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) "A Rosa do Povo", Record.

80º - Dizer Tudo, de Paul Éluard (1895-1952) - Na adolescência, o francês Éluard teve tuberculose e foi companheiro de tratamento e de leitura de poesia do brasileiro Manuel Bandeira num sanatório na Suíça. Foi um dos grandes mestres do surrealismo. "Oeuvres Complètes 1913-1953" (2 vols.), Gallimard, 700 francos (França).

81º - Liberdade, de Paul Éluard (1895-1952) Em "Gaveta do Tradutor", trad. de José Paulo Paes, Ed. Letras Contemporâneas.

82º - Morte sem Fim, de José Gorostiza (1901-1973) - O poeta mexicano preferiu, de maneira geral, o poema curto, mas este "Morte sem Fim" (1931) é um texto longo em que reaparecem as grandes essências que ele mesmo definiu como suas prediletas -amor, morte, Deus. "Poesia Completa", Fondo de Cultura Economica, 2.284 pesetas (Espanha).

83º - Romance Sonâmbulo, de Federico García Lorca "Obra Poética Completa", Martins Fontes.

84º - Pedra de Sol, de Octavio Paz "Pedra de Sol", Guanabara, R$ 13,00 (esgotado).

85º - Autopsicografia, de F. Pessoa "Obra Poética", Nova Aguilar.

86º - Os Cisnes Selvagens de Coole, de William Butler Yeats "Poemas", Companhia das Letras.

87º - Canção do Mal-Amado, de Guillaume Apollinaire "Oeuvres Poétiques Complètes" (Gallimard).

88º - Sobre a Poesia Moderna, Wallace Stevens "Poemas", Companhia das Letras.

89º - Sobre o Pobre BB, de Bertolt Brecht Em "Poesia Alheia", trad. de Nelson Ascher, Imago.

90º - Tristia, de Óssip Mandelstam (1891-1938) - Nasceu em Varsóvia e, muito jovem, esteve em Paris, aproximando-se do simbolismo francês. Mais tarde, tornou-se participante de destaque do acmeísmo. Há outro poema do autor na revista "Poesia Sempre" nº 7, abril/99, trad. de Haroldo de Campos (Fundação Biblioteca Nacional, fax 0/xx/21/220-4173).

91º - Miniatura Medieval, de Wislawa Szymbosrka (1923) - A escritora polonesa ganhou o Prêmio Nobel de 1996. Estreou em 1952 com "Por Isso Vivemos" e pertence a uma rica geração de artistas poloneses, entre os quais se inclui o cineasta Andrzej Wajda. Há outros poema do autora em "Poesia Alheia" (Imago) e na antologia "Céu Vazio" (Hucitec).

92º - Fuga sobre a Morte, de Paul Celan "Cristal", trad. de Claudia Cavalcanti, Iluminuras, R$ 24,00.

93º - Ode ao Rei do Harlem, de Federico García Lorca "Obra Poética Completa", M. Fontes.

94º - Dispersão, de Mário de Sá-Carneiro (1890-1916) - Apesar de ter se suicidado com apenas 26 anos, pôde escrever o suficiente para ser o principal autor português do início do século, ao lado de Fernando Pessoa. "Poesia", Iluminuras, R$ 24,00. "Obra Poética", Nova Aguilar, R$ 64,00.

95º - Os Peixes, de Marianne Moore (1887-1972) - Norte-americana, foi professora universitária. Virtuose da versificação, trabalhou com a decomposição dos versos e da sintaxe. "Poemas", trad. de José Antônio Arantes, Companhia das Letras, R$ 21,00.

96º - Provérbios e Cantares, de Antonio Machado (1876-1939) - Nascido em Sevilha, passou seus anos de formação em Madri. A extrema simplicidade formal da poesia de Machado esconde, porém, uma grande complexidade. "Poesias Completas", Espasa Calpe, 1.005 pesetas (Espanha).

97º - As Ratazanas, de Georg Trakl (1887-1914) - O austríaco foi um expressionista que enlouqueceu com os horrores da Primeira Guerra, na qual serviu como enfermeiro. "Poemas à Noite", trad. de Marco Lucchesi, Topbooks, R$ 18,00.

98º - A Outra Tradição, de John Ashberry (1927) - Poeta americano que pertenceu à chamada Escola de Nova York. Sua poesia é auto-referencial e expressa uma visão de mundo cética, mas que não perde o humor. Há outro poema do autor em "Poesia Alheia", trad. de Nelson Ascher, Imago.

99º - Acalanto, de Elizabeth Bishop (1911-1979) - A escritora norte-americana viveu no Brasil em Ouro Preto e no Rio de Janeiro por 16 anos. Além de poesia, escreveu contos, memórias e tem uma rica obra em cartas. "Poemas", trad. de Horácio Costa, Companhia das Letras, R$ 21,00.

100º - Homem e Mulher Passam pelo Pavilhão de Cancerosos, de Gottfried Benn (1886-1956) - A poesia inicial deste autor alemão é expressionista. Sua poesia madura, como a reunida no volume "Poemas Estáticos" (1948), é hermética e niilista. Em "Poesia Alheia", Imago.

A versão brasileira, com os 30 melhores, mas de todos os tempos:

1º A Máquina do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) - Nos "Lusíadas", Camões mostra Vasco da Gama recebendo a revelação do funcionamento da máquina do mundo como recompensa por sua heróica conquista do caminho para as Índias. O eu do poema de Drummond anda por caminhos familiares de Minas e, sem nenhum motivo, a máquina se oferece a ele, que a recusa. O final dessa experiência, que tinha tudo para ser grandiosa, é enxabido. Publicado em "Claro Enigma" (1952), revisita alguns dos elementos fundamentais da obra de Drummond, como a conflituosa relação eu/mundo e o lugar-símbolo que é Minas Gerais. "Claro Enigma", Record, R$ 13,00.

2º O Inferno de Wall Street, de Sousândrade (1833-1902) - O maranhense Joaquim de Sousa Andrade, que escolheu ser chamado de Sousândrade, foi o mais longevo dos românticos brasileiros, mas neste poema tudo vem expresso com ritmo nervoso e forma enxuta e inventiva. "Sousândrade", Ed. Agir, R$ 8,00. "Revisão de Sousândrade", Ed. Brasiliense (esgotado). Ambos organizados por Augusto e Haroldo de Campos.

3º Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810?) - Gonzaga nasceu em Lisboa, passou parte da infância na Bahia e depois fixou-se como ouvidor geral em Minas Gerais. Envolveu-se na Inconfidência Mineira e por isso foi condenado ao degredo na África. As liras que compõem as três partes do livro formam o mais importante conjunto da lírica amorosa brasileira. "Marília de Dirceu", L&PM, R$ 6,00.

4º Cântico dos Cânticos para Flauta e Violão, de Oswald de Andrade (1890-1954) - Com o verso cortante e conciso que é a marca de Oswald de Andrade, esse poema é composto de vários textos pequenos, mas formando um conjunto que trata do encontro do amor em contraste com um tempo, o da Segunda Guerra, que vê o amor morrer. "O Santeiro do Mangue e Outros Poemas", Ed. Globo.

5º Procura da Poesia, de Carlos Drummond de Andrade - O livro "A Rosa do Povo" (1945) representa um momento especial na poesia de Drummond, o da poesia política que se tinge de esperança com o fim da Segunda Guerra. Mas a abertura do livro se faz com dois poemas sobre o fazer poético: "Consideração do Poema" e "Procura da Poesia", este, paradoxalmente, sobre a inutilidade de procurar a poesia. "A Rosa do Povo", Record, R$ 18,00.

6º O Cão sem Plumas, de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) - O cão do título é o rio Capibaribe, que corta a cidade do Recife. Recorrendo à memória pessoal, mas pensada como algo capaz de mobilizar uma memória coletiva, o poeta acompanha o curso do rio, optando pelo mangue. "O Cão sem Plumas", Nova Fronteira, R$ 21,00.

7º Vou-me Embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira (1886-1968) - Mário de Andrade disse que Bandeira obteve nesse poema "a cristalização mais perfeita" do tema da fuga, recorrente em nossa poesia. Ir pra Pasárgada é expressão de nosso desejo de resolver toda a vida num único gesto. "Libertinagem e Estrela da Manhã", Nova Fronteira, R$ 9,00.

8º Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto - O poeta trabalha aqui no limite do lugar-comum da imagem do amanhecer como o tempo da liberdade e da união com o que é capaz de estabelecer esse alvorecer. "Obra Completa", Nova Aguilar, R$ 85,00.

9º Cobra Norato, de Raul Bopp (1898-1984) - Poeta gaúcho que se ligou aos paulistas da antropofagia e produziu uma obra que recupera as lendas amazônicas e a poesia negra. "Cobra Norato", José Olympio, R$ 15,00.

10º O Cacto, de Manuel Bandeira - A descrição de um enorme cacto é também a de tudo o que resiste -ao tempo, à força, à morte- e mesmo no fim inevitável deixa a marca de si. "Libertinagem e Estrela da Manhã", Nova Fronteira, R$ 9,00.

11º - Antiode, de João Cabral de Melo Neto - "Obra Completa", Nova Aguilar, R$ 85,00.

12º - Áporo, de Carlos Drummond de Andrade - "A Rosa do Povo", Record, R$ 18,00.

13º- A Canção do Exílio, de Gonçalves Dias (1823-1864) - O poeta maranhense passou boa parte da vida na Europa, tendo morrido num naufrágio quando chegava de volta, já em águas brasileiras. Sua poesia é um verdadeiro repositório de ritmos ainda não de todo explorados pelos poetas que o sucederam. A "Canção do Exílio", mais que um poema, é símbolo da nacionalidade, incorporado ao Hino Nacional e parodiado e comentado em dezenas de textos.
"Poesia e Prosa Completas", Nova Aguilar, R$ 85,00.

14º - Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima (1895-1953) -Dentro da vasta e variada produção de Jorge de Lima -poeta, romancista, pintor e médico-, "Invenção de Orfeu" representa um ponto de chegada e culminância. Poema longo em dez cantos fragmentários ou, como disse Murilo Mendes, poema-rio, que, segundo Mario Faustino, se faz a partir da urgência de criar "um mundo de antes mesmo da criação da palavra" -mundo, aliás, que sempre o obcecou.
"Invenção de Orfeu", Ediouro, R$ 11,00.

15º - Carregado de Mim Ando no Mundo, de Gregório de Matos (1623-1696) - Dono de todos os instrumentos barrocos, o poeta foi o "Boca do Inferno" dos poemas satíricos e eróticos, o delicado da lírica amorosa e o torturado dos poemas religiosos. Em "Carregado de Mim", ele dá vazão à idéia de que o mundo anda desconcertado, de cabeça para baixo: "O prudente varão há de ser mudo,/ Que é melhor neste mundo, mar de enganos,/ Ser louco c'os demais que só, sisudo".
"Gregório de Matos - Vida e Obra", Record, R$ 44,00.

16º - As Cismas do Destino, de Augusto dos Anjos (1884-1914) - O paraibano Augusto dos Anjos é um poeta originalíssimo, tanto pela obra quanto pelo destino que ela teve: "Eu" é caso único de grande livro de poesia que vende bem. "As Cismas", como o todo da obra do autor, é uma pessimista e dramática reflexão sobre os limites da existência humana, que tem versos como estes: "Uivava dentro do eu, com a boca aberta,/ A matilha espantada dos instintos!".
"Eu e Outros Poemas", L&PM, R$ 8,00.

17º - A Flor e a Náusea, de Carlos Drummond de Andrade - "Rosa do Povo", Record, R$ 18,00.

18º - Uma Faca Só Lâmina, de João Cabral de Melo Neto - "Obra Completa", Nova Aguilar, R$ 85,00.

19º - Campo de Flores, de Carlos Drummond de Andrade - "Claro Enigma", Record, R$ 13,00.

20º - Despede-se o Autor da Cidade da Bahia, de Gregório de Matos - "Gregório de Matos - Vida e Obra", Record, R$ 44,00.

21º - O Rio, de João Cabral de Melo Neto - "Obra Completa", Nova Aguilar, R$ 85,00.

22º - No Centenário de Mondrian, de João Cabral de Melo Neto - "Obra Completa", Nova Aguilar, R$ 85,00.

23º - Ode ao Burguês, de Mário de Andrade (1893-1945) - Ao lado de "Os Sapos", de Manuel Bandeira, "Ode ao Burguês" é símbolo da Semana de Arte Moderna, e sua agressividade crítica, conseguida por meio da ambiguidade sonora -pode-se entender "ódio ao burguês"- e de uma dicção sem papas na língua: "Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,/ O burguês-burguês!/ (...)/ O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,/ É sempre um cauteloso pouco-a-pouco!".
"Poesia Completa", Vila Rica, R$ 31,60.

24º - A Fábula de Anfion, de João Cabral de Melo Neto -"Obra Completa", Nova Aguilar, R$ 85,00.

25º - Pós-Tudo, de Augusto de Campos (1931) - O poema é um momento alto e maduro do tratamento de uma inquietação que impregna, desde o título do primeiro livro, "O Rei Menos o Reino", toda a poesia e a reflexão crítica de Campos: o isolamento do poeta moderno. O "mudo" -de mudar e de mudez- que fecha o poema é síntese fina da utopia da vanguarda que animou o autor e dos impasses "pós-utópicos" a que esse caminho o levou, desencantado. "Despoesia", Perspectiva, R$ 30,00.

26º - O Uraguai, de Basílio da Gama (1741-1795) -Poema épico construído entre o modelo clássico, do qual empresta a estrutura, e o espírito de renovação, responsável pelo enxugamento dos apenas cinco cantos em versos brancos, narra uma expedição do governador do Rio às missões jesuíticas. Cria uma nova visão -que os românticos admirariam- do índio em nossa literatura, concretizada em personagens como Cacambo e a admirável Lindóia. "O Uraguai", Record, R$ 8,00.

27º - LIFE, de Décio Pignatari (1927) - Ao lado de Augusto e Haroldo de Campos, Décio compõe o grupo central da poesia concreta. "LIFE" é uma experiência do auge do movimento. As letras da palavra inglesa para "vida" vão sendo traçadas com linhas retas, a partir do traço único que é a letra "i", ao qual são acrescidos outros, para as demais letras, culminando num todo que pode ser o número oito, ou o infinito, ou tudo o que é possível traçar nessa estrutura -a totalidade da vida. "Poesia Pois É Poesia", Brasiliense, esgotado.

28º - Mapa, de Murilo Mendes (1901-1975) - Esse texto faz parte do livro de estréia do poeta e de certa forma define toda sua obra ao dizer: "Viva eu, que inauguro no mundo o estado de bagunça transcendente". Tal "bagunça" aparece na mistura do real mais concreto à fantasia sem freio de uma poesia de grande plasticidade: "Me vejo numa nebulosa, rodando, sou um fluido,/ depois chego à consciência da terra, ando como os outros,/ me pregam numa cruz, numa única vida". "Os Melhores Poemas", Global, R$ 23,00.

29º - Tríptico na Morte de Sergei Mikhailovitch Eisenstein, de Vinícius de Moraes (1913-1980) - Nesse conjunto de sonetos, Vinícius volta à sua paixão adolescente pelo cinema, homenageando o diretor russo de "O Encouraçado Potenkim", também o teórico da montagem, ao qual o poeta faz referência: "O cinema é infinito -não se mede./ Não tem passado nem futuro. Cada/ Imagem só existe interligada/ À que a antecedeu e à que a sucede". "Livro de Sonetos", Cia. das Letras, R$ 19,50.

30º - O Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles (1901-1964) - Como Lorca havia feito 20 anos antes, Cecília recupera neste "Romanceiro da Inconfidência" (1953) a forma do romance popular ibérico, agora para revisitar a Minas Gerais do século 18, num conjunto de poemas em que não falta o caráter libertário expresso em versos exemplares daquela que é a grande fama da autora: a musicalidade. "O Romanceiro da Inconfidência", Nova Fronteira, R$ 18,86.

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Tá, vamos lá. O que já li:

Internacional disse:
76/100.

A Terra Desolada -- T. S. Eliot;
Tabacaria -- Álvaro Campos;
O Cemitério Marinho -- Valéry;
Velejando para Bizâncio -- Yeats;
Hugh Selwyn Mauberley -- Pound;
Pranto por Ignázio Sanchez -- Lorca;
Elegias de Duíno -- Rilke;
À Espera dos Bárbaros -- Kaváfis;
Zona -- Apollinaire;
Mensagem -- Pessoa;
Prufrock -- Eliot;
Quatro Quartetos -- Eliot;
Cantos -- Pound;
Em Meu Ofício -- Dylan Thomas;
O Cão Sem Plumas -- João Cabral;
Quarta-Feira de Cinzas -- Eliot;
Noite Insular, Jardins Invisíveis -- Lezama Lima;
Campo de Flores -- Drummond;
Blanco -- Octavio Paz;
Leda e o Cisne -- Yeats;
Jubileu -- Maiakóvski;
Orfeu. Eurídice. Hermes-- Rilke;
Esboço de uma serpente -- Valéry;
Manhã -- Ungaretti;
Os Doze -- Blok;
Sutra do Girasol -- Ginsberg;
Romanceiro Gitano -- Lorca;
Ode Marítima -- Álvaro Campos;
A Pantera -- Rilke;
A Jovem Parca -- Valéry;
A Torre -- Yeats;
Xenia -- Montale;
A Segunda Vinda -- Yeats;
Enguia -- Montale;
De todas as obras -- Brecht;
Cortejo -- Apollinaire;
brIlha -- cummings;
Fragmento -- Radnoti;
Dói demais -- József;
No Túmulo com Christian -- Pessoa;
Torso torcaico de Apolo -- Rilke;
Os Passos Longínquos -- César Vallejo;
El Hombre -- Carlos Williams;
A Máquina do Mundo -- Drummond;
A Ponte -- Hart Crane;
Dia de outono -- Rilke;
Treze Maneiras de Olhar para um Melro -- Wallace Stevens;
Domingo de manhã -- Wallace Stevens;
Sonetos a Orfeu -- Rilke;
Vigília -- Ungaretti;
Poema dos Dons -- Borges;
O Guardador de Rebanhos -- Pessoa;
nalgum lugar em que nunca estive -- e. e. cummings;
A Serguei Iessiênin -- Maiakóvski;
O Duro cerne da Beleza -- Carlos Williams;
Sestina: Altaforte -- Pound;
Encantação pelo riso -- Klebnikov;
A Ponte de Mirabeu -- Apollinaire;
Oxford -- Auden;
Em memória de Yeats -- Auden;
No Centenário de Mondrian -- João Cabral;
Serpente -- D. H. Lawrence;
Áporo -- Drummond;
Liberdade -- Éluard;
Romance Sonâmbulo -- Lorca;
Autospsicografia -- Pessoa;
Os cisnes selvagens do Coole -- Yeats;
Sobre a poesia moderna -- Wallace Stevens;
Sobre o pobre BB -- Brecht;
Ode ao Rei do Harlem -- Lorca;
Dispersão -- Sá-Carneiro;
Os Peixes -- Marianne Moore;
As ratazanas -- Trakl;
A Outra Tradição -- John Ashbery;
Acalanto -- Bishop;
Homem e Mulher Passam pelo Pavilhão de Cancerosos -- Benn.

Brasileiros disse:
30/30.

A Máquina do Mundo -- Drummond;
O Inferno de Wall Street -- Sousândrade;
Marília de Dirceu -- Tomás Gonzaga;
Cântico dos cânticos -- Oswald de Andrade;
Procura da Poesia -- Drummond;
O Cão sem Plumas -- João Cabral;
Vou-me embora pra Pasárgada -- Bandeira;
Tecendo a Manhã -- João Cabral;
Cobra Norato -- Raul Bopp;
Cacto -- Bandeira;
Antiode -- João Cabral;
Áporo -- Drummond;
A Canção do Exílio -- Gonçalves Dias;
Invenção de Orfeu -- Jorge de Lima;
Carregado de mim ando no mundo -- Gregório de Matos;
As cismas do destino -- Augusto dos Anjos;
A Flor e a náusea -- Drummond;
Uma faca só lâmina -- João Cabral;
Campo de flores -- Drummond;
O Rio -- João Cabral;
No centenário de Mondrian -- João Cabral;
Ode ao Burguês -- Mário de Andrade;
A Fábula de Anfion -- João Cabral;
Pós-Tudo -- Augusto de Campos;
O Uraguai -- Basílio da Gama;
LIFE -- Décio Pignatari;
Mapa -- Murilo Mendes;
Trípico da Morte -- Vinicius de Moraes;
O Romanceiro da Inconfidência -- Cecília Meireles.
 
Última edição:
Boa lista a primeira. Li só o Poema dos dons do Borges :dente: que é muito bom (o Lavoura, acho que concorda comigo). Serve como guia. Vou procurar alguns dos poemas (em especial, acho que os em francês em inglês estão mais acessíveis, por enquanto). E fica a pergunta: gostou mais de quais, Mavericco?
 
Última edição:
Ah, gostei de muitos aí... Acho que, tecnicamente, todos. Alguns eu daria uma questionada... Como esse Manhã do Ungaretti:

MANHÃ
(Santa Maria La Longa, 26 de janeiro de 1917)

Ilumino-me
de imenso

[trad: Geraldo Holanda Cavalcanti]
[ou "Deslumbro-me / de imenso", conforme o Haroldo de Campos]

(Sério mesmo que esse...?)

Por exemplo, achei que faltou uns poemas como o Fern Hill do Dylan Thomas, o The Age of Anxiety do Auden, o Crusoe in England da Bishop, o Daddy da Plath, o Whoroscope do Beckett etc. Faltaram nomes como Seféris, Bonnefoy, Axel, Kazantzakis, Elytis, Claudel. Nomes como Pablo Neruda (por mais que não goste dele, acho-o importante pra poesia do século passado)! O Bloom, por exemplo, o considera o maior poeta do século XX... Seria uma boa dar uma variada nisso pois eles encheram linguiça aqui ou acolá: veja que eles colocaram o Romanceiro Gitano e o Romance Sonâmbulo do Lorca -- oras, a inclusão daquele exclui a deste.

Claro que não dá pra acertar em tudo, e essa lista realmente ficou boa. Mas são apontamentos que são importantes de serem levantados, ao mesmo tempo.



P.S.: No âmbito da poesia brasileira, senti falta de um Mário de Andrade mais elaborado que o do Ode ao Burguês (o Mário do Louvação da Tarde ou do Meditação sobre o rio Tietê), dum Vinicius mais experimental (Elegia quase uma ode ou A Última Elegia [V]), senti falta dum Haroldo de Campos do Galáxias, do Gullar (Poema Sujo, poxa!), Castro Alves (Navio Negreiro), Álvares de Azevedo (Spleen e charutos), Cruz e Souza (O Emparedado e tantos outros) etc.
 
Última edição:
Ok! "Li" o The Waste Land do Eliot e é impressionante mesmo. Não deu nem para raspar a superfície, mesmo relendo algumas partes, e olha que a edição que encontrei tem 100 notas (incluindo as do Eliot). Alguma dica de leitura? Alguma parte favorita? Acho difícil escolher (das que entendi).

Lembrou muito o Ulisses também, na variedade de vozes e na alternância súbita entre elas. E é impressão ou o poema é moralista em certa medida? (mais em relação à segunda parte "Um jogo de xadrez".) Ou isso é só uma impressão superficial?

Então agora a minha lista fica assim:

1º A Terra Desolada (The Waste Land), de T.S. Eliot
59º - Poema dos Dons, de Jorge Luis Borges (1899-1986)
2% :dente:
 
Bem, como eu já li o poema dezenas de vezes, fui entendendo-o aos trancos e barrancos... Como sugestão de leitura ainda fica de pé aquele Poesia em tempo de prosa que comentei no tópico do Baudelaire. Cito, em especial, um trechinho de um texto da Rosenfield, "Waste Land ou Babel: a gramática do caos":

Ora, o aleatório ali não é ausência de forma, mas princípio formal da composição, o que vale dizer que tanto a temática como o conteúdo do poema desenvolvem-se por mediação da forma. Há um fulcro em torno do qual a figura temática se articula: a confusão babilônica ou ainda um cosmos que irrompe, ao acaso, das entranhas infernais, aqui como cidade e deserto, ali como rainha e prostituta e lá como corpo social vazio e corpo feminino corrompido [partes I, II e III, respectivamente]. Uma técnica de acumulação de imagens aparentemente aleatórias deságua sobre um verdadeiro agregado indistinto de criaturas desalmadas, cujo único vínculo consiste na avidez que faz cada um presa do outro. Ressalte-se contudo, que a proliferação de diferenças, a aparente perda de forma e coesão, de conteúdos e esperanças, que aflora nas inúmeras paracitações, não nos atinge apenas como temática intelectual e abstrata. Não obstante ou graças a sua sofisticação, The Waste Land nos toca pela ação irresistível de imagens poderosíssimas do corpo vegetal, animal, humano e social. Ávidos de expansão e vida, esses corpos são logo abortados e castrados, sofrendo o rechaço de si mesmos. Curto-circuito que cria no leitor a vertiginosa sensação de impotência física e intelectual, igualmente presente no cerne do relato da queda de Babel. (p. 74-74)

E:

Para apreciar o The Waste Land como poema, que o leitor mantenha-se no meio termo entre reativação e esquecimento das reminiscências de sentido que envolvem as imagens do poema. A tentativa de reativar tudo precipitar-nos-ia no próprio abismo da Torre babélica, na terra desolada do atropelo aniquilador de infinitas línguas e sentidos. Esquecer estas línguas, ocultar o sentido histórico correspondente das citações, por sua vez, leva à terra arrasada do esteticismo e da indiferença. (p. 95)

Minhas partes preferidas acho que são o começo da I e da III, e a V. Durante muito tempo eu tentei fazer justamente o que a Rosenfield disse que é perigoso, isto é, destrinchar todas essas imagens e referências, como as bases do poema, calcadas em mitos tais quais o do Rei Pescador ou de deuses da fertilidade (olha a ironia!), ou em imagens como a de Tirésias na parte IV, isto é, um visionário com corpo híbrido homem-mulher que morre afogado numa terra seca.

Grande parte do poema eliotiano parte desses contrapontos irônicos violentos. Mas acho que só comecei a construir uma interpretação própria pro poema depois que li em algum lugar que a parte I era narrada na perspectiva de um cadáver enterrado. Achei isso genial. Aí as coisas foram fazendo sentido... Pois eu gostava de ver a parte II como uma reminiscência do cadáver quando vivo, a parte III como uma reminiscência dele instantes antes de se afogar, a parte IV como a morte de fato e a parte V como o processo de morte.

Ainda acho essa interpretação bem plausível, mas, é claro, existem muitos outros níveis semânticos... Por exemplo, "The Waste Land". O Lawrence Flores sequer tenta traduzir o título, mas você vai encontrar A Terra Gasta, A Terra Inútil, A Terra Devastada... Se eu fosse traduzir eu traduziria para A Terra Devassada, dada a intricada rede de estupros que norteiam o poema -- e basicamente é isso mesmo, um contraponto irônico entre imagens de fertilidade num ambiente destruído. Veja-se quando ele abre o poema dizendo que Abril é o mais cruel dos meses, germinando lilases na terra morta!

A lírica moderna é muitas vezes feita por um sentimento de entendimento que não é redutível apenas à explicação lógica: é assim, depois assim, depois assado. Não estamos mais tratando um soneto de Camões que seguia um silogismo. Falarei muito disso no meu tópico sobre o Rimbaud (deve ficar pronto pra semana que vem). Não podemos mais adotar esse tipo de posição... A poesia moderna é uma lírica que se pauta pelo choque, pelo distanciamento. O próprio Eliot dizia:

"A poesia pode se comunicar antes de ser compreendida."

Se você entende isso, você entende The Waste Land.

Agora quanto à parte II, é provável que tenha um pouco de moralismo... Tem de tudo. Mas acho improvável que de fato tenha pois a guinada cristã do Eliot é posterior ao The Waste Land (será refletida no Ash Wednesday etc e tal). A parte II basicamente trata de um clima familiar hipócrita: a galera fala pra tal da Lil dar uma arrumada não por ser um moralismo, mas porque, se ela não ficar esperta, vão meter chifre na cabeça dela. Não tem muito espaço pra moralismo no poema... A moral é a imoralidade, é a esterilidade. A parte II abre com uma descrição de uma casa toda bonitinha, inclusive citando Shakespeare: "A cadeira na qual sentou-se, qual trono polido, / Brilhava no mármore (...)" (uso a tradução do Lawrence.) E aí logo depois o Eliot diz:

"Sobre o consolo da lareira se exibia,
Tal janela a ostentar silvestre cena,
A mutação de Filomela, pelo rei bárbaro
Tão rudemente violada; mas ali o rouxinol
Enchia o deserto com voz inviolável,
E ela ainda gritava e ainda persegue o mundo,
"Jug Jug" para ouvidos imundos."


Quer coisa mais irônica que essa? Os caras usam uma cena de estupro como decoração de luxo! Não fica muito difícil imaginar de onde vem aqueles "DEPRESSA POR FAVOR É TARDE": de todos os lugares e de lugar nenhum.

Todavia, vamos continuar essa discussão lá no tópico do Eliot, que tal?:
http://forum.valinor.com.br/showthread.php?t=114671
 
Última edição:
Fiz uma lista própria. Não deram cem poemas, e nem estão em ordem -- e a lista pode ser ampliada, é claro. O objetivo foi o de não repetir nomes. Evitei também adicionar aqueles poemas que ou são feitos todos num livro ou que possuem partes destacáveis. Claro que isso é relativamente arbitrário, mas não acho que seja tanto.

(Editado em 10/11/13)

  • THE WASTE LAND, T. S. Eliot;
  • HUGH SELWYN MAUBERLEY, Ezra Pound;
  • THE AGE OF ANXIETY, W. H. Auden;
  • FERN HILL, Dylan Thomas;
  • THE TOWER, W. B. Yeats;
  • BLANCO, Octavio Paz;
  • JUBILEU, Maiakóvski;
  • À ESPERA DOS BÁRBAROS, Kaváfis;
  • CRUSOÉ IN ENGLAND, Elizabeth Bishop;
  • MARRIAGE, Marianne Moore;
  • QUINTA ELEGIA DE DUÍNO, Rilke;
  • CEMITÉRIO MARINHO, Paul Valéry;
  • ZONA, Guilhaume Apollinaire;
  • OS DOZE, Alexander Blok;
  • UIVO, Allen Ginsberg;
  • PRANTO POR IGNÁCIO SANCHEZ, García Lorca;
  • CANTO VI DE CANTO GENERAL, Pablo Neruda;
  • XENIA, Eugenio Montale;
  • THE BRIDGE, Hart Crane;
  • NOTES TOWARD A SUPREME FICTION, Wallace Stevens;
  • SEBASTIÃO EM SONHO, Georg Trakl;
  • LADY LAZARUS, Sylvia Plath;
  • O RIO, João Cabral de Melo Neto;
  • EVOCAÇÃO DO RECIFE, Manuel Bandeira;
  • CÂNTICO DOS CÂNTICOS PARA FLAUTA E VIOLÃO, Oswald de Andrade;
  • MEDITAÇÃO SOBRE O RIO TIETÊ, Mário de Andrade;
  • COBRA NORATO, Raul Bopp;
  • POEMA SUJO, Ferreira Gullar;
  • A INVENÇÃO DE ORFEU, Jorge de Lima;
  • ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA, Cecília Meireles;
  • O MAPA, Murilo Mendes;
  • A MÁQUINA DO MUNDO, Carlos Drummond;
  • GALÁXIAS, Haroldo de Campos;
  • ODE MARÍTIMA, Álvaro de Campos;
  • ELEGIA NA SOMBRA, Fernando Pessoa;
  • OS JOGADORES DE XADREZ, Ricardo Reis;
  • POEMA DO MENINO JESUS, Alberto Caeiro;
  • SETE CANÇÕES DE DECLÍNIO, Mário de Sá-Carneiro.
  • STATION ISLAND, Seamus Heaney;
  • PATERSON, William Carlos Williams;
  • GUALEGUAY, Juan L. Ortiz;
  • TRILCE, César Vallejo;
  • AUTORRETRATO, Nicanor Parra;
  • GRAVEYARD IN NANTUCKETT, Robert Lowell;
  • A SERPENTE, D. H. Lawrence;
  • THE DOUBLE IMAGE, Anne Sexton;
  • HOME BURIAL, Robert Frost;
  • SELF-PORTRAIT IN A CONEX MIRROR, John Ashbery;
  • THE TRIBUTE, H. D.;
  • NIGHT FUNERAL IN HARLEM, Langston Hughes;
  • AUBADE, Philip Larkin;
  • HUMAN CYLINDERS, Mina Loy;
  • ALTAZOR, Vicente Huidobro;
  • POEMA DOS DONS, Jorge Luis Borges;
  • OMEROS, Derek Walcott;
  • O HOMEM NEGRO, Sierguéi Iessiênin;
  • LOUVAÇÃO DO ELE, Velimir Khlébnikov;
  • POEMA SEM HEROI, Anna Akhmatova;
  • 1905, Boris Pasternak;
  • BRIGGFLATTS, Basil Buntings;
  • LIBERDADE, Paul Éluard;
  • AOS QUE VIRÃO DEPOIS DE NÓS, Bertolt Brecht;
  • A ERA, Óssip Mandelstam;
  • MINIATURA MEDIEVAL, Wislawa Szymbosrka;
  • FUGA SOBRE A MORTE, Paul Célan;
  • brIlha, e. e. cummings;
  • HOMEM E MULHER PASSAM PELO PAVILHÃO CANCEROSOS, Gottfried Benn;
  • POEMA DO FIM, Marina Tzvietáieva;
  • NOITE INSULAR, JARDINS INVISÍVEIS, Lezama Lima;
  • PICUTRE POSTCARDS, Miklós Radnóti.
 
Última edição:
Queria ter tempo pra fazer um post caprichado aqui. Nosso Deus! Como eu queria... Quero dizer que concordo, muito, com o primeiro lugar da listinha geral. Sinto um nó na garganta só de lembrar de A Terra Desolada.

No trequinho dos trinta brasileiros, discordo de A Máquina do Mundo em primeiro. Discordo, enfaticamente. O poema é sensacional, é uma espécie de poema-de-fundação. Mas, sério, eu colocaria qualquer um dos poemas do João Cabral que tão na listinha em primeiro. O Cão Sem Plumas é de um trabalho social e estético ímpar. Deus do céu! É o tipo de coisa que faz a gente amar, ainda mais, a poesia.
 
Pois é, essa lista brasileira tá meio estranha mesmo. Mesmo que eu fosse "em defesa de Drummond", não sei que poema dele eu colocaria no lugar. Acho que o Drummond é um tipo de poeta que fez a coisa muito conjuntural, é sempre bastante complicado você pegar um poema que se destaque do todo de uma obra em específico. Por exemplo, o A Máquina do Mundo, como você mesma disse, é sensacional; mas o poema consegue ficar sensacional ao quadrado quando você o põe ao lado do Relógio do Rosário e do movimento crepuscular do livro Claro Enigma todo.

Acho que com o Cabral a coisa não é tanto assim. É também; mas é menos. Talvez ali no A Educação pela Pedra seja muito difícil você tirar um poema e destacar; mas textos como O Cão Sem Plumas e o próprio O Rio são mais facilmente destacáveis...

Ah, sei lá. Acho sempre muito complicado fazer listas desse tipo de modo hierárquico. De um modo ou de outro elas sempre são hierárquicas, e a tentativa é sempre válida: ela suscita discordâncias que, sem elas, simplesmente não existiriam. Mas eu mesmo não consigo ir muito além. Esbocei uma um post atrás e não me arrisquei em colocá-la hierarquicamente... Mesmo porque nem sempre é muito fácil seguir um padrão anterior, entre vários outros perigos. Coloquei o The Waste Land do Eliot, mas nem acho o melhor momento do Eliot; qualquer um dos Quatro Quartetos, a meu ver, está um nível de realização maior. Especialmente o último.
 
Fiz uma lista própria. Não deram cem poemas, e nem estão em ordem -- e a lista pode ser ampliada, é claro. O objetivo foi o de não repetir nomes. Evitei também adicionar aqueles poemas que ou são feitos todos num livro ou que possuem partes destacáveis. Claro que isso é relativamente arbitrário, mas não acho que seja tanto.)
Boas dicas para ir caçando, eu nem conheço um bocado de gente. Será que estão fáceis de achar?

E que tal umas justificativazinhas para cada um? =P Ou para alguns? Ia ficar muito grande? E não colocou nenhum do Augusto dos Anjos? O "Eu" é de 1912, centenário de que, aliás, ninguém lembrou. Acho que "Versos íntimos" merecia estar aí, hein.
 
Acho que "Versos íntimos" merecia estar aí, hein.
Nossa, concordo, muito. Quando vou explicar aos meus alunos que o Augusto dos Anjos é um ~poeta de transição~, eu costumo dizer que a influência dele é bem visível em outras expressões artísticas. Sempre preparo um material com o filme do Gláuber Rocha sobre o Di Cavalcanti e com a música "Não vale nada", da banda Velhas Virgens. Os meus alunos adoram. Eles ficam embasbacados com o fato de "Versos íntimos" ser um poema que, embora antigo, permaneça muito atual.
 
Nossa, sempre me esqueço do Augusto... Vou dar uma atualizada na lista então. Mas não colocaria o Versos Íntimos não, hein... Colocaria o As Cismas do Destino :grinlove:

Sim, muitos nomes são encontráveis... Nem todos. Se tiver em dúvidas com algum aí, pode falar que eu dou as coordenadas. Tenho pra todos, keep calm e continue reading poesia.

Essa coisa da justificativa... É, fica extenso :dente:

Comecei a fazer, mas parei. Pretendo continuar; mas é que fui percebendo que tem outros nomes brazucas que eu poderia ter colocado aí e não coloquei, tipo uma Hilda Hilst, o próprio Augusto, Ana Cristina César, Vinicius de Moraes, Manoel de Barros, whatever. Pode até ser que alguns desses poemas que eu venha a colocar não estejam em pé de igualdade com os de lá fora; mas, se for o caso, eu abro uma ala pra poesia brasileira e sem problema.

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A lista toda é esta:

(P.S. 06/01/14: Alguns poemas mudaram tanto em relação à lista anterior quanto às justificativas abaixo. Quando tiver tempo, completarei a lista e farei as justificativas bonitinho.)

The Waste Land -- T. S. Eliot;
Hugh Selwyn Mauberley -- Ezra Pound;
The Age of Anxiety -- W. H. Auden;
The Bridge -- Hart Crane;
The Tower -- W. B. Yeats;
After the Funeral -- Dylan Thomas;
Crusoe in England -- Elizabeth Bishop;
Lady Lazarus -- Sylvia Plath;
Mariage -- Marianne Moore;
Notes toward a supreme fiction -- Wallace Stevens;
Station Island -- Seamus Heaney;
Stanzas in meditation -- Gertrude Stein;
Paterson -- William Carlos Williams;
Uivo -- Allen Ginsberg;
The quaker graveyard in Nantuckett -- Robert Lowell;
A serpente -- D. H. Lawrence;
The double image -- Anne Sexton;
Home burial -- Robert Frost;
Self-portrait in a convex mirror -- John Ashbery;
Death in Harlem -- Langston Hughes;
Aubade -- Philip Larkin;
Parturition -- Mina Loy;
Omeros -- Derek Walcott;
Briggflatts -- Basil Buntings;
pity this busy monster, manunkind -- e. e. cummings;
Overpopulation and art -- John Cage;
Jubileu -- Vladimir Maiakóvski;
Os Doze -- Alexander Blok;
O homem negro -- Sierguéi Iessiênin;
Louvação do Ele -- Velimir Khlébnikov;
Poema sem Heroi -- Anna Akhmatova;
1905 -- Boris Pasternak;
Tristia -- Óssip Mandelstam;
Versos à Tchecoslováquia -- Marina Tzvietáieva;
À Espera dos Bárbaros -- Konstantinos Kaváfis;
Primeira foto de Hitler -- Wislawa Szymbosrka;
Picture Postcards -- Miklós Radnoti;
Fuga sobre a morte -- Paul Celan;
Quinta Elegia de Duíno -- Rainer Maria Rilke;
Sebastião em sonho -- Georg Trakl;
O homem e o druida -- Stefan George;
Aos que virão depois de nós -- Bertolt Brecht;
Homem e mulher passam pelo pavilhão cancerosos -- Gottfried Benn;
Cemitério Marinho -- Paul Valéry;
Zona -- Guillhaume Apollinaire;
Wind and Smoke -- Yves Bonnefoy;
Liberdade -- Paul Éluard;
Blanco -- Octavio Paz;
Pranto por Ignácio Sanchez -- Federico Garcia Lorca;
Canto VI de Canto Geral -- Pablo Neruda;
Gualeguay -- Juan L. Ortiz;
Trilce -- César Vallejo;
Autorretrato -- Nicanor Parra;
De la cuidad -- Alvaro Mutis;
Carta abierta -- Rafael Alberti;
A larra, con unas violetas -- Luis Cernuda;
Altazor -- Vicente Huidobro;
Poema dos dons -- Jorge Luis Borges;
Noite insular, jardins invisíveis -- Lezama Lima;
Xenia -- Eugenio Montale;
A Morte Meditada -- Giuseppe Ungaretti;
Howling at the moon -- Sakutaro Hagiwara;
A grave for New York -- Adonis;
O Cão Sem Plumas -- João Cabral de Melo Neto;
Evocação do Recife -- Manuel Bandeira;
Cântico dos cânticos para flauta e violão -- Oswald de Andrade;
Meditação sobre o Rio Tietê -- Mário de Andrade;
Poema Sujo -- Ferreira Gullar;
Invenção de Orfeu -- Jorge de Lima;
Solombra -- Cecilia Meireles;
Janela do caos -- Murilo Mendes;
A máquina do mundo -- Carlos Drummond de Andrade;
Galáxias -- Haroldo de Campos;
Hiroshima meu amor -- Augusto de Campos;
Elegia V -- Vinicius de Moraes;
Do desejo -- Hilda Hilst;
O homem e sua hora -- Mário Faustino;
Protuberância -- Ana Cristina César;
As cismas do destino -- Augusto dos Anjos;
Esperança -- Mário Quintana;
Ode marítima -- Álvaro de Campos;
Elegia na sombra -- Fernando Pessoa;
Os jogadores de xadrez -- Ricardo Reis;
Poema do menino Jesus -- Alberto Caeiro;
Dispersão -- Mário de Sá-Carneiro;
A cena do ódio -- Almada Negreiros;
A margem da alegria -- Ruy Belo;
A arca -- Grabato Dias.

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THE WASTE LAND -- T. S. Eliot:

É tudo que a gente já discutiu em outros tópicos, né? Poema fundamental na lírica moderna, apresenta a devastação e esse nó na garganta que a Cléo mencionou. Além de ser um poema riquíssimo, de uma beleza insólita. Não o considero exatamente o melhor do Eliot; como disse, qualquer um dos Quatro Quartetos, especialmente o último, é melhor. Mas, querendo ou não, a estética usada pelo Eliot no The Waste Land é mais poderosa, mostra a devastação de modo mais fatídico.

HUGH SELWYN MAUBERLEY -- Ezra Pound:

Pound é também um poeta fundamental. Esteve diretamente ligado no processo de construção de dois Prêmios Nobel de Literatura e ele mesmo não ganhou nenhum. No âmbito de sua poesia, Os Cantos certamente são mais ambiciosos; mas não estão no mesmo nível de realização do Mauberley pois acho que, em certo sentido, a frase do Carpeaux de que é uma epopeia fracassada recaia bem. O poema trata basicamente da condição do poeta na sociedade moderna. Gosto, especificamente, do Envoi do poema, em que o Pound diz: "Vai, livro natimundo" -- natimundo, certamente um adjetivo que reflete com precisão a concepção poundiana do paideuma (e o Augusto foi muito feliz com esse termo; acho-o até melhor que o "dumb-book" do original). E talvez o Envoi seja de fato a melhor parte do poema todo. Não sei. O poema é dividido em 2 grandes partes, cada qual subdivida. O Envoi fecha a primeira. A segunda guarda níveis semânticos maiores, a meu ver... Além do Envoi, a parte III da segunda parte, The age demanded, é também fabulosa.

THE AGE OF ANXIETY -- W. H. Auden:

Difícil falar desse poema longo... Creio que o mais bem realizado do século todo, se considerarmos que ele é de fato longo (mas longo mesmo; umas 100 páginas e uns 10 mil versos ou mais). Acho que em grande parte isso se deu pelo fato dele estar dividido em várias partes e seguir uma forma dramática... Mas, de todo modo, como o próprio nome diz, ele fala da situação moderna também de forma imprescindível. As personagens que compõem a fala são fragmentos de um todo fragmentado, num movimento que sempre me lembra o da Virginia Woolf em As Ondas. Denominado uma Écloga Barroca, o poema trata muito bem disso que se propõe, o que inclusive essa sua denominação maravilhosamente diz: é uma Écloga, é calmaria, é contemplação rupestre e plácida, mas é ao mesmo tempo barroca, é esse desespero frente ao infinito e ao incomensurável da vida urbana industrial que se deteriorava face a um confronto bélico nunca antes visto. Não tem tradução no Brasil. Como citação de um trechinho, vamos ficar com essa canção da Malin na parte cinco: "Redeem with a clear / Configuration / Of routes and goals / The ages of anguish, / All griefs endured / At the feet of appalling / Fortresses; may / Your present motions / Satisfy all / Their antecedents."

FERN HILL -- Dylan Thomas:

Talvez o Dylan Thomas tenha poema melhor que esse. Gosto muito, por exemplo, de A Winter's Tale e And Death Shall Have No Dominion. Mas acho que nenhum outro trata com tanta ambiguidade recôndita o tema do passado como o Fern Hill trata. Pois Fern Hill é monte de fetos; e, num poema onde a evocação do passado é magnífica e de uma vivacidade tremenda, um título desses desconstrói e te deixa simplesmente desorientado.

THE TOWER -- W. B. Yeats:

Yeats é um poeta como poucos, é óbvio. O primeiro Yeats é mais século XIX; o segundo Yeats, totalmente século XX. O que gosto do The Tower, em específico, é o fato dele conseguir trazer à tona uma realidade mítica, uma realidade metafísica, a realidade própria, a realidade social... São muitas camadas de construção do poema, todas com precisão de relojoeiro, e não creio que especificamente uma se sobreponha à outra e construam todas uma só torre. Creio, pelo contrário, que talvez o que o Yeats queira mostrar aqui não seja nem tanto a Torre de fato, mas o que cerca a Torre e o que faz com que essa Torre seja a Torre. Mais ou menos como se o que fizesse da Torre a Torre não fosse sua altura, mas o horizonte que, uma vez lá em cima, enxergamos.

BLANCO -- Octavio Paz:

Eu relamente não li muito de Octavio Paz ainda. Conheço bem os clássicos Signos em Rotação e O Arco e a Lira. E conheço também alguns de seus poemas. Mas não o suficiente para poder comentar com propriedade o Blanco... A radicalidade da linguagem é impressionante, e o espectro que ele abarca é também maravilhoso -- especialmente quando ele usa a técnica de contraposições, literalmente quando ele a usa, que dá relevo ao abismo e à topografia do terreno que retrata. Li em espanhol. Dá pra encontrar aqui.

JUBILEU -- Maiakóvski:

Maiakóvski é lindo. Fervor revolucionário numa poesia que ensurdece seus ouvidos. O sentido de poesia política desvinculado de Maiakóvski é um zero à esquerda. Poderosa demais sua poesia... No Jubileu, você vai encontrar de todos os sentimentos iconoclastas e reformadores possíveis não só num poeta ou numa poesia, mas ouso dizer em qualquer discurso político. É realmente impressionante. Uma experiência única. Ainda mais vindo de um poeta que encabeçou o período mais fecundo da poesia russa, um período que, como diz Roman Jakobson num livro lindo (sempre me emociono muito lendo-o), esbanjou seus poetas.

À ESPERA DOS BÁRBAROS -- Kaváfis:

O mesmo caso do Eliot: é provável que Kaváfis tenha sim poemas melhores. Ítaca ou O Deus Abandona Antonio, talvez... Mas acho que o clima de destruição permeado de uma aura burocrática, aquele tom crepuscular de personagens que, no alto de sua fidalguia, encaram a destruição... Ah, À Espera dos Bárbaros é um poema que (des)constrói isso admiravelmente. Não apenas por ser o mais famoso do Kaváfis, mas o de deixar o leitor com aquela sensação tão característica de seus poemas de que tudo acabou e você sequer pôde ver acabar. Algo assim.

CRUSOE IN ENGLAND -- Elizabeth Bishop:

A poesia da Bishop é muito visual... E nesse poema a exuberância é tremenda. Mas tem também o lirismo poderoso e cultivado, o sentimento de perda, a construção irônico-coloquial, o tema da homossexualidade tratado com consistência e inconsistência intratável... Não acho que restem muitas dúvidas de que é o poema mais bem realizado da Bishop. É sempre bom relê-lo e se encantar novamente. Um sentimento insular densamente povoado é o que sempre sinto.

MARRIAGE -- Marianne Moore:

Falar de Marianne Moore é difícil -- talvez porque ela seja uma poetisa bastante difícil. Todas as estripulias formais que marcam a poesia da Moore você vai encontrar aqui. Talvez não tanto como em poemas como Os Peixes, que envolvem também a disposição dos versos. Mas, de todo modo, é um poema com um sentimento profundo, que fala da situação da mulher face ao mundo com tudo aquilo que caracteriza a poesia da Moore e a faz fabulosa: uma experiência estética completa, uma experiência que se perfaz da beleza e estranheza dos versos até ao prosaísmo poeticamente povoado.

QUINTA ELEGIA DE DUÍNO -- Rilke:

Todas as Elegias são espetaculares. Mas acho que a última trata com maior desespero a condição do homem moderno, o que o Carpeaux muito bem notou: praticamente uma radiografia completa do homem da Primeira Guerra Mundial. Dou um destaque maior ao fato do Rilke trabalhar com a figura dos Saltimbancos à la Picasso, com toda aquela dor cósmica de se ver sozinho e coagido no universo, jogado no ar para ser apanhado pela morte apenas -- e o final do poema, aliás, que à priori eu achava fraco, talvez humorístico sem necessidade, é, cada vez mais, uma das coisas que mais me intrigam. Creio que talvez porque, se considerarmos o todo das Elegias, seja um momento de virada do pessimismo das cinco primeiras para o otimismo (isso tudo sempre relativo) das outras cinco.

CEMITÉRIO MARINHO -- Valéry:

Valéry é também barra pesada. É sempre muito difícil você dizer que entendeu tudo, e isso com qualquer poema, é claro; mas no caso de Valéry, ele sempre te dá a certeza que tem tudo sob controle, e que você está sendo vigiado. Mas, especificamente no Cemitério Marinho, muito me admira a construção que ele faz do mar não como um sinônimo epopeico, de conquistas, de encontro com o absoluto, algo, aliás, muito usado na nossa lírica de língua portuguesa -- o Valéry, antes, parece apreciar demonstrar a nós o como esse mar é, como diz o título, um Cemitério, sendo, por um lado, até mesmo morada do absoluto, mas, por ser morada do absoluto, inadmissível para a natureza humana. O que Drummond, creio, fará ressoar também mais tarde no A Máquina do Mundo.

ZONA -- Apollinaire:

Poucos poetas souberam trazer com tanta vivacidade e com tanta modernidade a realidade moderna para a realidade poética como Apollinaire. Tudo pode ser encontrado aqui e de todas as formas, e de todos os ângulos. Essa megalomania expressiva é um grande trunfo do Zona. Desde a vida pessoal do artista até uma mudança drástica de cenários urbanos, o poema não dá necessariamente um nó na garganta, mas te deixa, no mínimo, profundamente perplexo. Confuso. Sem saída. Liberto de tudo. Preso a tudo. Especialmente por seu final, uma das metáforas mais fortes do século XX.

OS DOZE -- Blok:

O poema todo tem o tom de uma espécie de cantiga popular, conduzida com uma simplicidade também popular que eu acho maravilhosa. Mas o cenário é apocalíptico: uma coluna de doze soldados avançando, rompendo não apenas a colossal distância geográfica (e que não precisa ser colossal, quilométrica de fato), mas vencendo também o passado e a própria devastação da guerra que, dualmente, devasta. O final do poema é muito forte. E os mínimos detalhes dele, aliás, são impactantes, como o cãozinho que acompanha Os Doze.

UIVO -- Allen Ginsberg:

Uma fúria incrível. É o mínimo que consigo imaginar ao ler esse poema que tinha o costume de congregar centenas de pessoas em volta da voz do Ginsberg. E de fato, é uma fúria incrível, em todos os sentidos da palavra incrível. Pois acho que, muito antes dos Beats proclamarem a liberdade, eles precisaram proclamar a rebeldia, a insatisfação, o grito de ódio contra uma sociedade que tapeava e ludibriava com um bem-estar ilusório e estupidificante. E o Ginsberg, certamente, soube canalizar esse berro, esse uivo contra tudo isso. Acho fascinante a técnica de construção de versos gigantes. Algo significativo do começo ao fim. O primeiro verso é sem dúvidas o meu preferido.

PRANTO POR IGNÁCIO SANCHEZ -- Garcia Lorca:

Gosto muito da poesia do Lorca. É um poeta que eu costumo chamar de exponencial: a cada leitura, eu passo a gostar elevado ao quadrado. No Pranto por Ignácio Sanchez a contraposição entre a realidade nua e crua e a dicção surreal do Lorca se dão de modo muito poderoso, o que o livro O Poeta em Nova York também retrata de modo magnífico. A ocasião da morte do Ignácio Sanchez e a morte, de modo geral, não metafisicamente tratada, mas tratada de fato, numa realidade permeada de morte e que, logo mais, daria uma morte perversa ao próprio Lorca; essa Morte com M maiúsculo é tratada também em poesia com P maiúsculo, e isso tudo de um modo que vai te deixar perplexo, angustiado, não sei. Mas vai mudar sua vida.

CANTO VI DE CANTO GENERAL -- Pablo Neruda:

Harold Bloom diz, acho que no Gênio, que é meio que uma unanimidade que a parte que fala dos rios é a melhor parte do Canto Geral. Mas acho que a parte VI consegue ser ainda melhor. Consegue cantar a América com todo aquele vigor épico, toda aquela abrangência, toda aquela totalidade e exuberância que o Neruda possui e que encantam como um raio. Além, é claro, de trazerem à tona os grandes temas da poesia nerudiana, como o do tempo, o da sociedade, o da elementaridade das coisas etc etc.

XENIA -- Eugenio Montale:

Ainda não convivi adequadamente com Montale nem com o poema; mas ele continua a me impressionar vivamente. O começo dele é singelo e cósmico. Uma simples mosca é o ponto de partida para uma aventura maior que abarca as memórias do poeta, sua feitura poética, sua posição no mundo! É impressionante ver como um poeta consegue fazer isso. É realmente impressionante. Ainda mais o último verso, um fecho maravilhoso: "saber que sós ou juntos somos uma só coisa."

THE BRIDGE -- Hart Crane:

Uma espécie de contraponto ao The Waste Land, laudatório e com uma dicção whitmaniana de celebração das coisas que se embasa especificamente na ancestralidade, discordo quando dizem que The Bridge é um poema inferior pois Crane possuía uma tendência lírica e não épica. Acho que podemos entender a Ponte aludida pelo Crane como uma união de terrenos, uma tentativa não de colar os fragmentos que o Eliot aludiu no The Waste Land, mas, pelo contrário, de criar uma senda para que eles possam ser contemplados em seu conjunto, por mais que isso os fragmente ainda mais -- e nesse sentido, sempre me deixa perplexo ver como um ideal talvez unificador da parte de Crane tenha redundado na demonstração caótica das coisas e de tudo.

NOTES TOWARD A SUPREME FICTION -- Wallace Stevens:

Stevens é um poeta predominantemente logopeico. Metalinguismo em peso percorre sua poesia, onde o poeta corriqueiramente investiga a relação entre as palavras e as coisas, para fazer ecoar o clássico livro de Foucault. Seguindo as descobertas ou os problemas que ele desvelou em The Man with the Blue Guitar, aqui o Stevens dá uma ênfase também à totalidade da arte moderna, visto que ele mesmo possui um dos poemas que melhor a discutem (Of Modern Poetry), mas não apenas retratando ela por ela e sobre ela -- muito pelo contrário, o ponto de partida de Stevens é esse; só que o ponto de chegada é muito maior... É uma verdadeira viagem. Você embarca no poema e abarca tudo, assim como a barca do poema abarca. Stevens te permite isso magnificamente.

SEBASTIÃO EM SONHO -- Georg Trakl:

A perplexidade de Rilke ao ler esse poema é a minha. Como alguém pôde escrever isso? Ouso dizer que não entendo, como filósofos de peso também disseram. Mas não ouso dizer que não me encanto com uma poesia tão poderosa como essa... Um sentimento crepuscular que transborda das páginas, vindo de um poeta imerso na Primeira Guerra Mundial morto de overdose. Trakl é um de meus poetas preferidos, pode crer. Ele te mostra que a vida é tão rica que até mesmo abarca a morte. E que mesmo a morte pode ser vívida...

LADY LAZARUS -- Sylvia Plath:

Acho que a Sylvia Plath tem poemas mais profundos, não sei. Com níveis semânticos maiores... O próprio Ariel, quem sabe. Mas toda essa ironia em tratar sobre a mulher, uma ironia mordaz, ferina... Olha, isso "só nesse" poema. Só Sylvia Plath mesmo, de um jeito que só ela soube. O poema te deixa incomodado. Falar em soco no estômago é pouco. Soco no ventre talvez seja um tiquinho menos. Você precisa, como a voz lírica do texto, se matar, despir de sua carnalidade para que possa não bem se renovar, mas auto-destruir a si mesmo e a todas as suas hipocrisias.

O RIO -- João Cabral de Melo Neto:

Acho genial a perspectiva do poema ser a do rio. Fui descobrir quando estava lendo a última estrofe. Maravilhoso. De um poder social e de uma linguagem que revelam tudo o que Cabral é. Pode ser que falte a poeticidade metafórica de O Cão Sem Plumas; mas a poeticidade mesma, que é o resultado, o sumo, e que pode vir de mil e uma formas (um ponto de exclamação deslocado pode servir também, sim senhor), esse sumo também está aqui e de modo claro, sem rodeios, seco, pétreo. Enxergue a realidade. Assuma os olhos do Rio. Ele resume os sonhos, os anseios e, por quê não?, a destruição que permeia a vida que Cabral nos faz ver. Por mais que rechace Arnaldo Jabor, gosto demais quando ele diz: Cabral não nos mostra bem a pobreza. Também. Mas ele mostra, e isso sim é doloroso; ele mostra também a riqueza que nos falta.

EVOCAÇÃO DO RECIFE -- Manuel Bandeira:

Gilberto Freyre comparou esse poema com a madeleine do Proust. E, como Bandeira é poeta, especialmente poeta do alumbramento, da ternura, ouso dizer que é mais madeleine que Proust. É maravilhoso. Não reconheço nada do que foi dito ali. É algo, se for olhar de forma fria, cem porcento estranho à minha infância. Mas que vivacidade! Que encanto! Evocação de Recife é um dos melhores poemas do século XX por uma razão muito simples: ele consegue evocar um Recife que já morreu sabe-se lá quantas vezes (de fato, no coração do poeta, no coração dos que morreram...), trazendo-o à tona com uma vida que talvez mesmo em vida ele não soube ter.

CÂNTICO DOS CÂNTICOS PARA FLAUTA E VIOLÃO -- Oswald de Andrade:

Um dos poemas de amor mais belos de qualquer tempo, qualquer língua. Oswald não foi só irreverência. Foi paixão. Pois irreverência e humor também requerem paixão. Gosto, em especial, da simplicidade do poema. Sem metáforas radiosas demais, uma dicção diferenciada, uma linguagem que seja ela própria apaixonada. É simples. Não tem uma opulência "salomônica". Não externamente. Pois, internamente, e nisso Oswald foi craque, é rico até dizer chega. Se é que podemos dizê-lo, se ele chega em todos os recantos do encanto.

MEDITAÇÃO SOBRE O RIO TIETÊ -- Mário de Andrade:

Um ciclo de três poemas que abarcam as partes do dia, conforme notado por Antonio Candido: além do Meditação, tem o Louvação da Manhã e o Louvação da Tarde. O Da Manhã lembra muito o despertar dO Cortiço; o Da Tarde, lembra um Álvaro de Campos tratado de um modo que, particularmente, me cativa mais (o Campos não tem muito de crepuscular; ele ou é noite profunda ou é dia radiante). O Meditação seria uma espécie de Louvação da Noite. Mas a Noite não tem o que ser louvada. Daí o cansaço e a força retirada sabe-se lá de onde para erguer a voz, gritar, protestar, indignar-se. É uma grande lição essa que o poema dá: o de como, por mais exaustos e lassos que estejamos (aquele verso das Altas torres de meu coração exausto é uma das coisas mais tocantes que já li na vida), devemos sempre encontrar forças pra lutar e blábláblá. (Desculpem pelo blábláblá, mas é que não dá pra você querer redundar na conversa de auto-ajuda face a um poema de experiência tão revigorante e iconoclasta como esse...)

COBRA NORATO -- Raul Bopp:

Talvez um exagero colocá-lo ao lado de poemas tão grandes. Mas é bom ousar. Um poema delicioso, feito numa linguagem que encanta de pronto. Uma linguagem que talvez nem nós mesmos, supostos brasileiros, somos capazes de apreciar em sua plenitude... Floresta cifrada. É um dos melhores termos, dentre muitos, que o poema traz. Deus do Céu, como Floresta Cifrada é Brasil!

POEMA SUJO -- Ferreira Gullar:

O ápice da poesia do Gullar em todos os sentidos. Político, pessoal, emocional, metafórico, linguístico, estrutural... Um poema magnífico. Colossal etc etc. Que vai desde o infantil até o erótico, passando pelo escatológico e pela indagação filosófica, social, materialista. Um espectro admirável, sem dúvidas... Um divisor de águas na poesia do Gullar, aliás, ou um baricentro, como queiram. São muitos níveis ou facetas semânticas, todas elas mostrando um fenômeno muito mais amplo tanto ontem quanto hoje. Pena que o Gullar tenha perdido seu vigor em conduzir reflexões e desconstruções como o fizera no Poema Sujo.

A INVENÇÃO DE ORFEU -- Jorge de Lima:

Não dá pra dizer que você entendeu o Invenção de Orfeu todo. Dá pra você dizer que se sentiu perplexo, exatamente como Murilo Mendes ou como tantos outros. Gosto da definição do Massaud Moisés do Invenção de Orfeu como poema ciclópico. Tanto em sua dimensão, que abarca tudo, mas tudo mesmo, como em sua cosmovisão que parte da biografia e faz uma radiografia completinha de um período de tempo que começa na ancestralidade de uma ilha para a contemporaneidade das ilhas citadinas ou da ilha manufaturada do corpo. Invenção? Invenções, eu gosto de ver, tanto pelo fato de que, em muitos casos, poemas são reescritos, como pelo fato do Jorge de Lima enfatizar de modo bem claro que não só a atividade poética é uma atividade de reinvenções, quanto que esse ato de viver é, por si só, uma reinvenção constante, metamórfica, proteica e surpreendente.

ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA -- Cecilia Meireles:

Cecilia é geralmente esquecida das listas. Eu às vezes me esqueço. Uma injustiça que não sei explicar. A poesia de Cecilia encanta, em todos os níveis e em todas as bimbocas. Uma condução lírica poderosa demais... No Cancioneiro, o poder evocativo é ainda mais tremendo. Ela não só ressuscita, como certamente eleva o gênero do Romanceiro a um nível que nem mesmo Garrett alcançou. Considerei o livro como um só poema pois creio que o uso do singular no título é expressivo e que a unidade, a coesão de evocar uma única época que, multifacetada que seja, é única e única, são indícios de que o poema assim deva ser tratado.

O MAPA -- Murilo Mendes:

Li pouco de Murilo Mendes até hoje. Isto é: não reli o suficiente. Mas O Mapa é sem dúvidas um dos melhores poemas de nossa poesia. Trata da subjetividade e da objetividade com todo aquele traço surrealista e incrivelmente poderoso. Acho que poucos poemas, aliás, tratam de modo tão completo a composição histórico-social do indivíduo como o Murilo nesse poema. E, como disse pro Jorge de Lima, aqui posso dizer também: isso não redunda numa univocidade de sentidos. Pelo contrário, o último verso do poema, "em transformação", sem dúvidas reitera tudo o que eu disse.

A MÁQUINA DO MUNDO -- Drummond:

O tom metafísico e épico desse poema não se encaixa plenamente com o percurso poético drummondiano, sempre atento às facetas sociais. Sempre. Mesmo em Claro Enigma, que aparentemente mostraria uma excessão, Drummond continua, como nos diz Vagner Camilo, atento à realidade social, distante e próximo da torre de marfim que, aliás, ele retrata num soneto do livro. No caso de A Máquina do Mundo, tudo resplende, tudo é de um valor incomensurável. O poema em si trata do incomensurável, e é um daqueles que mais guardei versos comigo. O que é interessante nele, e isso todos os leitores são unânimes, é a recusa no final do poema, um ato que, malgrado o fato de ser simples, dá toda uma nova dimensão ao poema, tirando-o do louvor camoniano ou da enumeração barroca para um âmbito totalmente moderno. O homem drummondiano não quer a resposta de todas as coisas dada de graça. Ele se vê num mundo fragmento, numa estrada de Minas, pedregosa. E é certamente esse ato de se recusar que, marcando profundamente a poesia de um século, marca também esse poema que sem dúvidas é um dos ápices da poesia do século XX.

GALÁXIAS -- Haroldo de Campos:

Preciso reler de novo e de novo essa grande obra. Com certeza é a joia máxima do Movimento Concretista, explorando tudo o que de amplo ele permitiu à linguagem explorar. Preciso lê-lo com toda a amplidão que ele merece, seja na voz alta, seja na voz atenta de quem tenta decifrar todas as referências que ele traz. Mas, posto que é uma experiência poética única, de um radicalismo que reflete muito bem um pensamento que hoje eu entendi ser mais do que correto, ou seja, o pensamento de que o poeta opera na linguagem, e de que não há literatura revolucionária sem linguagem revolucionária; é entendendo tudo isso que aos poucos eu posso entender o alcance de Galáxias.

ELEGIA V -- Vinicius de Moraes:

O lado de Vinicius acoplado aos sonetos é o mais lembrado. E com justas razões; acho que ele foi simplesmente o melhor sonetista brasileiro. Mas não dá pra parar por aí. O Vinicius das elegias possui altíssimos momentos, e a quinta Elegia é um exemplo disso -- de como a radicalidade da linguagem e um escopo de análise que sim, Vinicius, alcança o transcendental que você tanto buscou; de como são são razões suficientes, razões assazes para que o poema fulgure onde creio que ele deve fulgurar.

DO DESEJO -- Hilda Hilst:

Acho que o poema Da Morte é mais profundo. Mas com certeza Do Desejo é mais visceral. Hilda é uma poeta muito visceral. Expõe as próprias vísceras pois sabe que isso emancipa. E o leitor pode perceber isso logo na primeira parte do poema, algo que te acerta assim como um míssil e te deixa perplexo. Te deixa incomodado, essas coisas. Angustiado, eu arrisco dizer, pois vivemos num mundinho onde o Desejo é escondido sob camadas e camadas de medo. E aí vem a Hilda e alopra com a coisa toda. É muito lindo.

ODE MARÍTIMA -- Álvaro de Campos:

Se disser que é o poema com alcance mais total desde Os Lusíadas estarei sendo exagerado? De forma nenhuma. O poema é tudo isso mesmo. Pois existem várias categorias de poemas, e existem aqueles poetas que, seja numa só sacada, seja em várias, conseguem abarcar tudo isso. Não dá pra hierarquizar; cada um vai do seu jeito, com seus números. Mas os grandes são isso mesmo: totais. E o Pessoa... Olha, se o Pessoa tivesse escrito só o Ode Marítima, tava passando de bom. Podíamos colocar um estofo pra não dar a ilusão de que foi sorte, de ser o poeta de um poema só -- poema esse que na verdade são muitos, e na verdade ninguém escreve um Ode Marítima e depois se apaga (nem Rimbaud, que, depois d'O Barco Ébrio, avançou até desembarcar nas Iluminações). O poema é fabuloso. Vai do pessoal ao cósmico com uma facilidade que, olha... Não sei nem o que comentar.

ELEGIA NA SOMBRA -- Fernando Pessoa:

O ortônimo possui uma vertente cerebrina acoplada às tradições mais translúcidas de nossa língua, isto é, a poesia medieval. E esta, eu tenho entendido recentemente, de pobre não tem nada. Pode jogar fora seus esqueminhas simplificadores de cantigas de amigo, de escárnio, maldizer... O buraco foi muito mais embaixo. E o Pessoa só ajudou com isso daí. Mas o ortônimo não foi só raciocínio. O Pessoa todo foi; o que nele sentia estava pensando. Foi também poeta nacionalista, e, pra não citarmos o Mensagem todo, ou uma bateria de poemas esparsos do ortônimo que poderiam ir desde o Chuva Oblíqua até o Autopsicografia, o Isto e o "poema da ceifeira", gosto demais de ficarmos com o Elegia na Sombra pois ele sempre me deixa abalado. Tudo no poema é lindo, desde a emoção veiculada com uma pungência indescritível até o alcance que ele faz, esse tom ao mesmo tempo laudatório e apocalíptico que só mesmo o Camões conseguiu nOs Lusíadas.

OS JOGADORES DE XADREZ -- Ricardo Reis:

Acho que o meu heterônimo preferido do Pessoa. Eterno. Sem data de morte. Contempla com uma placidez fria tudo. Aquela conversa do Caeiro de que folha é folha e ponto final é realmente interessante; mas é apaixonada demais. Com o Reis não. Esse poema dele eu gosto especificamente pois ele sai desse jogo de xadrez universal para o universo. Ou talvez sequer saia do lugar, de mãos dadas com a Lídia e vendo tudo... O último verso, como todos os outros que lhe precedem, é, mais uma vez, de uma carga ímpar: "A sua indiferença." Que poema espetacular, meu Deus.

POEMA DO MENINO JESUS -- Alberto Caeiro:

A reinterpretação da Bíblia mais genial de todas as poucas que já li. Um poema que me comove muito. Consegue trazer tudo o que a poesia de Caeiro não traz, localizada num tempo mítico, num tempo pré-poesia ou pré-linguagem, arrisco a dizer que pré-advento-do-ser-humano que é. E, considerando que ele consegue evocar isso com precisão e sem necessariamente descer a indagações profundas, mas dispensando as indagações quando o mundo por si só fornece todas as respostas; acho que um poema, em qualquer época, que consiga trazer à tona uma placidez tão profunda como essa só pode ser uma obra-prima.

SETE CANÇÕES DE DECLÍNIO -- Mário de Sá-Carneiro:

A lírica desesperada, mordaz e auto-irônica de Sá-Carneiro é estarrecedora. Sua poesia é, em todos os aspectos, estarrecedora. Ele possui poemas mais iconoclastas, poemas que alcançam áreas mais abissais de indagação metafísica. Mas acho que nenhum outro consegue abarcar um e outro com tanta validez como esse daqui. Ou esses daqui, não sei. Não vejo mal que o consideremos como sendo apenas um, se todos eles são uma busca por uma unidade que, sim, não nego, é ilusória, não existe etc e tal; mas que, no fundo, é também a nossa. Não sei. A poesia de Sá-Carneiro comumente conversa com o leitor, tão forte é o desespero e a necessidade de empatia que ela demanda -- visto que nem mesmo o próprio Sá-Carneiro parecia ter empatia consigo mesmo... (O que a impossibilidade de pegar a alma na rua, com que o poeta fecha as sete canções, advenha nem tanto de uma impossibilidade de fato, mas uma impossibilidade eleita.)

A MARGEM DA ALEGRIA -- Ruy Belo:

Não, não li tudo de Ruy Belo. Li pouco, aliás. Num esforço sobre-humano, consegui ler on-line o poema que aqui elegi. E, tomando como base a poderosa dicção que o permeia, não tenho a menor dúvida de que é um dos grandes feitos poéticos desse século. Eu diria que o poema todo é de uma claridade vazia, pois ele está sempre a afastar o que quer que seja de onde passa, revelando o que há no sub-solo do solo que pisamos. E aí eu acho que, se esse sub-solo, se esse vazio que não precisa ser bem um espaço em branco, está sob nossos pés, e se isso é a margem da alegria... Uma descoberta dessas desarma pra valer a pessoa.

A ARCA -- Grabato Dias:

Estou descobrindo num trabalho de formiguinha a poesia de Moçambique. E, confesso: não li o poema A Arca todo. E "nem precisa". Do que li, é espetacular a maneira como Grabato Dias consegue refletir a situação não só do colonizado, mas a situação historicamente ainda mais pesada de ser africano num mundo globalizante-excludente bem como a de ser um colonizado tardio. Um grandioso poema, é claro que é, mas um poema que destrói, que corrói de forma inteligentíssima. Grabato Dias elege formas clássicas da poesia europeia, vale-se do metro e bota o caldo pra ferver internamente, operando uma revolução linguística que o leitor não vai abrir e ó, tá lá a coisa toda questionada. Pelo contrário, o leitor mesmo terá que se questionar, e, com um pequeno mover de dedos, a coisa vai explodir. Para isso, acho que basta citar versos como: "Sei que são meus senhores. É quanto basta / para saber-me escravo e infeliz." Ainda agora lê-los é impressionar-me vivamente.

STATION ISLAND -- Seamus Heaney:

Tem como não amar a poesia de Heaney? É fabulosa. Sinto-me como se estivesse num processo arqueológico, escavando e tendo aquele aroma do pó em minhas narinas. Poucas poesias conseguem ter essa impressão olfativa tão forte como a de Heaney. Sua poesia trata basicamente da terra, indo desde o trabalho familiar-agrícola dos primeiros livros até um ciclo de exumação, que deságua em North (o melhor livro dele) e depois se ressignifica atualizando o mito (e que desaguaria na tradução dele do Beowulf) até o momento em que volta ao homem moderno-contemporâneo, num mundo onde as descobertas arqueológicas convivem com colisores de partículas. No caso de Station Island, isso se dá de modo muito vivo graças ao intertexto com a Divina Comédia e a todas as características da poesia do Heaney retrabalhadas amplamente, até o nível em que ele pode conviver com o mito não atualizando-o, pondo um Sweeney num puteiro à la T. S. Eliot, mas, pelo contrário, convivendo de fato com esse mito, uma posição, um trato com certeza mais próximo de nossa realidade direta. E aí eu te garanto: nenhum poeta, falo tranquilamente (e com exceção, talvez, de alguns poemas gregos antigos), vai te dar com uma vivacidade tão ampla e poderosa o solene sentimento de morte que Drummond fala. A maior parte vai falar do morrerei ou do estou morrendo. Da morte, em tudo o que ela implica de post-mortem, é Heaney na veia.

STANZAS IN MEDITATION -- Gertrude Stein:

Li recentemente. Para alguns, como Augusto de Campos, comparado ao radicalismo geral da linguagem de Stein, o texto é pobre. E, se compararmos, é mesmo. Mas não quer dizer que seja ruim. A própria Stein disse que esse texto é uma espécie de ápice, de louvor ao lugar-comum. Mas, considerando que frequentemente Stein entornava o caldo, dando mais atenção ao trabalho materialístico com a linguagem que de fato com o significado, acho que o Stanzas in Meditation é realmente o ponto de equilíbrio de uma artista que radicalizou e ainda hoje incomoda. Pena que não da forma devida, laivos de um conservadorismo que a poesia moderna mesma, é muito paradoxal, fez questão de preservar.

PATERSON -- William Carlos Williams:

Tenho minhas dúvidas se essa é a melhor escolha. Tanto no sentido de que é possível que Williams tenha poemas melhores -- menores e melhores, vejam só, ou mais emocionantes, como The Sparrow, absurdamente lindo -- quanto no sentido de que o poema, quem sabe, seja uma desconstrução do gênero das epopeias que não funciona mais nem mesmo no século XX... O século XIX já se encarregou disso. Byron com o Don Juan, a meu ver, deu o golpe de misericórdia. Mas, do que li do livro, pois não li tudo (minha força-tarefa foi até o terceiro livro), é um texto realmente impressionante. Possui uma variação muito bem conduzida e um espectro temático e fático como poucos. Isso aí em qualquer tempo, não temo dizer. É bem provável que não entendi tudo. Que entendi pouco, confesso. Mas a poesia pode se comunicar antes de ser entendida. E Paterson, até onde fui, comunicou-se comigo de todos os modos, em todos os poros.

GUALEGUAY -- Juan L. Ortiz:

Também não li o poema todo. Juan L. Ortiz é praticamente inencontrável. Um absurdo. Um absurdo para um poeta que é considerado o grande nome da poesia argentina do século XX... Mas, mais uma vez, a máxima é a mesma: do que li, impressionou-me demais. Uma linguagem radical, questionamentos a cada fim de verso. Espantos, como diz o Ferreira Gullar. Se alguém quiser outros poemas para não especificamente ir ao trabalho árduo de recompor aos pedacinhos este, pode ir em poemas como Alma sobre la linde, Entre diamente y Paraná, Al Paraná. Porque meio que não tem jeito: se não é este, é qualquer um daqueles. Ortiz é impressionante demais. Deveria ser mais traduzido, divulgado. Devia mesmo.

TRILCE -- César Vallejo:

Não sei comentar direito o Trilce. É radical. Um livro importante. Mas não sei exatamente o que dizer dele... A música, por exemplo, que percorre o segundo texto do poema, é encantatória. Poesia de língua espanhola sabe fazer isso como nenhuma outra. Sei que poderia muito bem conviver com ele, só com ele. Perderia muita coisa, mas ele sabe se suprir como, aliás, todos os outros aqui selecionados sabem. Gosto muito do poema XIV. É uma oração praticamente. Uma oração para aqui que o XXVIII retrata, também um dos meus preferidos, com toda sua solidão. E por aí vai.

AUTORRETRATO -- Nicanor Parra:

Não posso, de fato não posso considerar o Poemas e Antipoemas como um só poema. Mas não faz mal. Nicanor Parra tem outros meios de entrar numa lista como essa. E Autorretrato é só um exemplo. A desconstrução da poesia assim, ao vivo, redundando no anti-poema que, com toda sua beleza, com todo seu impacto, é poema como todo o resto também é. E a grande lição de Parra a meu ver continua sendo esta: é anti-poesia, é negação da poesia? É. É autorretrato? É. Pode até mesmo ter pouco; pode ter uma granada a cada estrofe. Mas continua sendo, e é desse jeito, negando, construindo e negando, que Parra nos diz que a poesia sempre tem muito a falar sobre nós, por mais que, no fundo, nós sejamos tudo isso: Vida. E a própria poesia também seja, ainda que de cabeça pra baixo.

THE QUAKER GRAVEYARD IN NANTUCKETT -- Robert Lowell:

Via de regra, não sou nenhum fã de Lowell. Este poema é realmente um de meus preferidos, apesar de que o poema, creio, não me emocionou tanto como sei que um dia ele poderá me emocionar. Talvez porque ainda estou dependendo muito de alguma exegese, algum comentário crítico que o tire do limbo do desentidimento para o pés-no-chão da incorporação pela vida. O poema fala basicamente do mar como um cemitério. Mais ou menos Valéry. Sem toda aquela atividade cerebral do mesmo, sem toda aquela fixação pelo absoluto. Antes, e por enquanto é desse jeito que gosto de vê-lo, é um processo decompositório, como se o mar ou o Quaker Graveyard fosse, antes de um local de repouso, um local de corroímento -- como todo cemitério é e como nós apenas raramente paramos pra pensar ou admitimos pensar. A questão com que ele fecha a parte IV do poema é uma das mais instigantes, a meu ver. Não sei bem quem seria esse "mast-lashed master of Leviathans", mas sei que isso me deixa incucado pra caramba.

A SERPENTE -- D. H. Lawrence:

Não que eu o considere bem uma obra-prima. Um título mais honorífico, não sei. A sensualidade que o povoa é coisa de mestre, realmente. Pra quê querer mais, afinal? Como o eu lírico do poema, não sei matar esse poema de minha mente, de minha estima. O único problema de aceitar essa condição é que o próprio poema nos conduz ao resultado disso: "A pettiness." Sempre difícil de encarar o poema até o fim, prazeroso que seja.

THE DOUBLE IMAGE -- Anne Sexton:

Falando da condição feminina com uma dicção das mais poderosas, das mais incômodas e destruidoras. É o ponto alto da poesia da Sexton, que tem a seu favor a violência com que a poeta ataca a si mesma, ao outro, a nós, hipócritas leitores. Sinto que não o reli da forma como devia, com a persistência que devia. Não é fácil. Do tipo de poema que possui a virtude de nos derrotar, a um só tempo porque é forte e porque somos fracos. Gosto especialmente da parte 4. A última estrofe. O último verso. Tanta alegria... Singeleza... E uma ilusão, dessas que uma imagem no espelho estão aí pra detonar: "I missed your babyhood, / tried a second suicide".

WIND AND SMOKE -- Yves Bonnefoy:

Li em inglês, mas ainda quero muito ler na tradução do Mário Laranjeira e, é claro, no original. Conheço pouco da lírica do Bonnefoy. Seu que é um autor importantíssimo do pós-guerra francês. Mas não vou muito além, e nem me arrisco muito a comentar sobre o poema. Costumo sentir uma grande paz enquanto o leio, por mais que, aqui ou ali, o poema desafie.

PROTUBERÂNCIA -- Ana Cristina César:

Ana Cristina César tem coisa de que gosto mais, como Samba-canção ou Fagulha. Mas acho que aquele que traz a condição feminina com maior pujança, maior fúria e maior emotividade bruta; esse é Protuberância. Do título ao conteúdo em si, passando pela escolha das palavras que revela sempre uma ânsia de expressão e de libertação... Ou simplesmente uma ironia mordaz, não sei. São muitas as sensações. Esse poema é antes um chafariz. Quero que com a publicação de sua poesia completa eu possa me encantar ainda mais com esse e tantos outros poemas da autora.

AS CISMAS DO DESTINO -- Augusto dos Anjos:

Carpeaux dizia que a primeira linha desse poema já era um impacto profundo. E de fato é. Você não precisa nem saber direito o que é aquela rua, onde ela dá. É um começo espetacular, ainda mais advindo de um poeta insólito, transbordante de originalidade. A metafísica que ele apresenta, combinada com a linguagem renhida e o tom de ataque perpétuo de Augusto não tem como não te deixar de cabelo em pé. Uma realização eu diria até mesmo lendária em nossas letras... O tom de monólogo que percorre a poesia toda do Augusto se fortalece muito aqui. Acho isso pra lá de estupendo, pois parece nos dar a certeza de que estamos sozinhos, de maneira que nos resta contemplar apenas a podridão de tudo. A poesia de Augusto é mais do que pôr os pés no chão. É fincá-los. E é nesse ato que escancaramos as cismas, todas as cismas do destino.

ESPERANÇA -- Mário Quintana:

É preciso arranjar Mário Quintana nessa lista. Mas ele é memorável de outras formas, igualmente imperecíveis. Fico com este poema pois ele traz a ternura infinita do Quintana de modo maravilhoso, e combinada com um sentimento de imorredouro que permeia sua obra todinha, além de ser uma mensagem poderosa, uma mensagem que, seja o que for ou o que vier, não podemos nunca esquecer. Não chega a ser meu preferido do Quintana (que é o Tia Élida), mas sem dúvidas é aquele que eu sempre tentarei levar comigo.

DE LA CIUDAD -- Alvaro Mutis:

Será este o melhor poema do célebre poeta colombiano? Não sei. Mas acho espetacular a forma como ele consegue tratar a cidade em sua ancestralidade e modernidade."Y sin embargo el mito está presente". A poesia de Mutis fica presente na nossa vida. Cidadãos cada vez mais citadinos que somos, a experiência de mundo, quando em contato com a poesia de Mutis, aumenta consideravelmente. Sem dúvidas, um dos grandes trunfos da boa poesia.

VERSOS À TCHECOSLOVÁQUIA -- Marina Tzvietáieva:

Fragmentada que só foi minha leitura do poema. A parte que Augusto de Campos traduziu é, especialmente, minha preferida. Uma espécie de balanço de uma sobrevivente. Sobrevivente de um massacre. A recusa com que ela fecha o texto... Esse grito, "Eu recuso!"... Leio poesia para ter de novo e de novo momentos tão profundos como esses. Momentos que nos fazem ter a certeza de que vale a pena seguir em frente, resistir, recusar. Que lição, que lição!

O HOMEM E O DRUIDA -- Stefan George:

Crepuscular é pouco pra poesia de Stefan George. Ela é apocalíptica, pós-apocalíptica. Nenhum outro poeta trouxe o armagedon da modernidade pra sua poesia como Stefan George trouxe. Eliot falou da devastação. Mas o nível após da devastação, onde até mesmo o mito se destrói e não subsiste, convive; esse nível foi Stefan George, um poeta que, em seus poemas, fez-se acompanhar de uma dicção a um só tempo trevosa e álacre. Este poema é um ponto alto em todos os sentidos. Tanto na retratação aterrorizante do agora, da modernidade, quanto um louvor à superação, ao encontro com a magia enquanto redentora da alma humana. A forma dramática só acentua esse caráter, e os versos desconjuntados, não bem fragmentados, mas fragmentantes de Stefan George é como um golpe de martelo no solo que estereliza esse mesmo solo.

CARTA ABIERTA -- Rafael Alberti:

Falando do cinema, provavelmente o mais belo poema sobre o cinema que jamais foi escrito (mais mesmo que as homenagens drummondianas), Alberti faz uma reflexão sobre sua própria vida e a vida moderna, contemplada no telão cinematográfico que parte de uma lente e alenta. Quando o poeta diz "Yo penso em mí", não sei por quê razão, num século onde a despersonalização foi se tornando cada vez mais o que Ortega chamou de desumanização; num século assim, um trecho tão pequenino desses é o suficiente pra que saibamos que uma fagulha de qualquer coisa, es-pe-ran-ça, quem sabe, subsista, resplenda, brilhe. É bem o que Alberti nos diz, fechando seu admirável poema: "-- Un relámpago más, la nueva vida."

A LARRA, CON UNAS VIOLETAS -- Luis Cernuda:

Os versos com que Cernuda abre o "Soliloquio del farero" são meus preferidos de sempre. Mas acho que aqueles que conseguem trazer melhor a Espanha manchada pela guerra, estraçalhada pela guerra -- esse poema é o que ora elejo. Impressionante. Emocionante demais... "Escribir en España no es llorar, es morir". Uma confissão tão translúcida e poderosa como essa é única. É imprescindível. Pena que Cernuda seja tão esquecido... Pena. Ele tem muito a nos dizer.


(CONTINUA...)
 
Última edição:
Brigadão, Mavericco! Não era uma sugestão tão a sério! Dá para perceber que você é apaixonado pela coisa mesmo. Acho que a lista assim, facilita muito para a gente procurar e conhecer mais os autores. Não levou muito em conta o critério da "inovação", não? Se bem que o "novo" é critério essencial no século XX.

Eu já encontrei vários dos poemas que você falou nos volumes de poesia do século XX da Library of America (volume I e volume II), que são os que tenho acesso na biblioteca. Só que eu tenho problema para ler poesia assim, "descontextualizada", ler um poema só (tentei ler o Eliot e não consegui, tive que comprar o livro). Acho que por isso tenho problema para ler poesia na internet também. Alguma dica quanto a isso?

Mas pode deixar que vou atrás dos poemas sim, pode deixar. O Valéry e o Eliot já tenho aqui, só falta ler. =p E os outros vão vir (espero que ano que vem)
 
Pior que não... Poesia a coisa é bem contextual mesmo. Se a função poética da linguagem é aquela coisa da mensagem se voltar para a própria mensagem, como uma folha dobrada ao meio, a obra de um poeta acaba sendo isso mesmo: cada poeta é uma gramática própria, um idioma próprio.

Então você vai ter que procurar por outros poemas do autor na internet, vai ter que tentar sempre ler alguma coisa a respeito... Ou mesmo ir tecendo algumas pontes entre autores, do tipo intertextualidades entre um poeta e outro. Por mais que lá na frente você comprove que essa intertextualidade tá mais para uma leitura (des)comparada, é uma forma de você ir pisando em um solo seguro. Assim, por exemplo, se você vai ler César Vallejo e não conhece nada dele nem de literatura peruana, tente ver o que sabe de literatura de língua espanhola ou de outros artistas que, daquilo que você tá lendo, faça uma ponte.

Isso pega mesmo é na hora de literatura contemporânea, onde o esquema é esse mesmo. Você não tem como conhecer muito do autor pois ninguém publicou nada criticamente dele e até mesmo entrevistas podem ser algo bem raro. Mas pode, para além de colocá-lo ao lado de outros poetas contemporâneos, da mesma época, e ir traçando paralelos, pegar gente mais antiga, semelhanças, enfim.

Nem sempre dá muito certo. Minha experiência pessoal costuma ser na intuição. Quanto mais você vai lendo poesia, mais vai criando casca. Aí você entra em contato com aquele poema. Tem que estar sempre de mente aberta. Se o achou bonito ou se ele o tocou de algum modo, aí é procurar mais coisas, é continuar na mineração. Se não, é dar um tempo. Pode ser que mais pra frente aquele artista te agrade... Sempre é bom dar uma segunda chance. Tem autores que até hoje eu continuo dando, tipo Bukowski, Chacal ou Fabrício Corsaletti. Acho que essa coisa de você voltar àquele terreno que visitou com novos paradigmas na cabeça devia ser algo obrigatório pra qualquer leitor de literatura contemporânea, especialmente de poesia, que envolve uma questão de gosto estético ainda maior.
 

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