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[Opinião] Geração de Lispector produz literatura superficial

Mercúcio

Usuário
O artigo abaixo foi publicado na Folha de São Paulo, em 1997, e é de autoria de Marilene Felinto. Como eu sou leigo e como aqui muita gente entende muito mais de literatura do que eu, gostaria de ver a avaliação que vocês fazem do que ela coloca.

Eu ainda não tenho nenhuma leitura da Nélida Piñon. Será uma das minhas próximas leituras, com "A República dos Sonhos".
Com a Clarice Lispector eu tive o meu primeiro contato esse ano, com "A Hora da Estrela". Foi uma experiência e tanto! Porque eu sempre achei a sinopse extremamente desinteressante, aquela coisa que não me dava nenhuma vontade de ler. E achei o texto dela poderosíssimo, foi uma porrada, uma daquelas leituras que te tiram do prumo, desconcertante - no melhor dos sentidos.
Da Lygia Fagundes Telles, eu sou quase um "fanboy" ( :dente: ). Tenho 13 livros dela aqui, dos quais li 8 até o momento.

Segue o texto, com a indicação de fonte ao final:


Geração de Lispector produz literatura superficial

MARILENE FELINTO

DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Impossível não comparar com Clarice Lispector escritoras da geração de Clarice Lispector. Em linguagem figurada, é dizer que Lispector foi a genial e importante soberana de um reino que, depois de sua morte, não vê como elevar ao trono qualquer de suas irmãs -todas parecem ter uma incapacidade aqui, outra ali, que não as habilita ao posto.

Se Clarice Lispector estivesse viva -morreu em 1977-, teria 72 anos. Lygia Fagundes Telles tem 72, Nélida Piñon, 60, e Lya Luft, 59. Em comparação com a literatura profunda e inovadora de Lispector, fundada em movimento que vai da especulação do ser à especulação da linguagem que dê existência a ele, o trabalho das outras não passa da superfície literária.

É literatura rotineira, comportada, fácil de ler. Falta vitalidade, perplexidade, a reinvenção mais ou menos radical de técnicas ou recursos de ficção que atribuíssem uma marca inconfundível ao estilo dessas escritoras.

Entretanto, pelo contrário, o que ocorre é uma similaridade enfadonha, a despeito das particularidades do trabalho de cada uma. A uma literatura de impacto não basta, por exemplo, a pesquisa tímida de linguagem, alusões, elipses e suspensões dos diálogos dos personagens de Telles em sua rememoração do passado.

Destaque-se que a narrativa fantástica, utilizada por Telles em larga escala, a literatura do "fantástico maravilhoso", sempre foi um gênero de eficácia discutível, saída fácil para a complexa conformação do texto literário. A impressão que se tem é de que falta vida nesses textos, verdade, e não o realismo a que eles pretendem se opor.

Por outro lado, os excessos na especulação da linguagem também geram uma literatura artificial, perdida em vazios exercícios de retórica, caso de Nélida Piñon.

Ainda que possa não soar como justo o critério das comparações em história literária, o fato é que a prosa brasileira contemporânea tem sido objeto, dos anos 60 em diante, de uma espécie de lamentável confusão de critérios. De um dia para outro, elevam-se à classe de grandes obras verdadeiras idiotices.

Isso também é sintoma de uma crítica literária arrogante, que se pretende mais importante do que o objeto de seu trabalho, que trabalha não pela literatura, mas em favorecimento próprio, e que se preocupa exclusivamente com divulgar-se a si mesma nos espaços da mídia.

Mas o tempo, ainda bem, é mais sábio do que a crítica e a falta de crítica. Daqui a algumas décadas, o nome de muito grande escritor de hoje vai soar distante como hoje soa os de um Ribeiro Couto, Antonio de Alcântara Machado e Herberto Sales em encardidas antologias escolares de contos.

Voltando às três escritoras, como a obra delas tem ainda em comum uma boa dose de intimismo e exploração do mundo subjetivo dos personagens, isso contribui para defini-las como escritoras de "literatura feminina".

O que deveria ser aceito como uma definição para lá de normal (afinal, são mulheres), ainda é ou motivo de questionamento ou sinônimo de uma missão especial na vida, quase mística. Nesse trecho de Lya Luft, no texto inédito "Somos o Material de Nossa Arte", a escritora comenta:

"'Sua literatura fala de mulheres', disseram ao me apresentarem num seminário. Fiquei refletindo sobre o que se tornaria o desencadeador deste texto, pois em minhas histórias não aparecem só mulheres mas homens e crianças, casas com sótãos e porões, dramas ou banalidades. Falo também do estranho atrás de portas, mortos que vagam e vivos que amam ou esperam".
Já Nélida Piñon relaciona escrever e condição feminina com reverência quase religiosa. Em "O Presumível Coração da América", incluído na coletânea da PUC, ela diz:

"Tenho gosto em servir à literatura com memória e corpo de mulher. Em mim residem os recursos sigilosos que a mulher engendrou ao longo da história, enquanto integrava o cerimonioso cortejo que a levaria a participar dos mistérios de Elêusis.

"Dependendo, portanto, do uso de múltiplas máscaras para iniciar a primeira frase de um romance. Para melhor perseguir as instâncias do meu século e dos séculos pretéritos. Sob a custódia do tempo, sofro cada palavra que fabrico. Narro, porque sou mulher."

Ora, mas é exatamente por esse tipo de discurso que a chamada "literatura feminina" tem até hoje certo caráter pejorativo, como se fosse etérea, tratando sempre e só de amor, maternidade, corpo e mistérios femininos.

Como se fosse inferior à literatura de verdade, a dos homens, mais diretos, que tratam a arte como o material tosco que ela é, apenas: um pedaço de madeira ou pedra a ser talhado.

Nenhuma distinção de sexo é necessária para o trabalho, basta um trauma forte na vida, uma desilusão de todo irremediável a não ser por essa via inútil de criar outros mundos com as mesmas palavras que viram outras.

Pouco importa. Pelo menos Telles e Piñon são duas das mais oficiais escritoras do país. Que sejam respeitadas na sua oficialidade -ainda que isso não tenha nada a ver nem com escrever nem com grande literatura.

FONTE
 
Última edição:
Posso estar errado, mas ela tá reclamando de uma leitura que tenta ser concisa enquanto explora o íntimo, é isso? Porque eu até entendo que outros autores - mas principalmente autoras, tais como Juliana Cunha e Aline Bei, para falar de contemporâneas - tentem fazer isso, às vezes até usando formas mais soltas, mas tendo a pensar que isso seja parte do repertório dessas autoras também. Acontece. Marguerite Duras e Marguerite de Yourcenar faziam bastante isso, obras que "enxugavam" a linguagem para tentar encontrar o limítrofe do signo, mas até aí também é algo que vejo em Samuel Beckett ou Paulo Leminski. Em si, não compreendo como isso pode ser "ruim" para a literatura delas, o prestígio de tantos autores masculinos verborrágicos mais um sinal de problemas da crítica que necessariamente um elemento que possa ser analisado por mera comparação. Acho que cabe crítica ao princípio de tais abordagens serem lidas como essencialmente "literatura feminina", mas sinto que Felinto errou um tanto o alvo.
 
Não sei se é apenas isso, @Bruce Torres . Veja que ela diz que o problema da Nélida Piñon é o exato oposto da concisão, como se nela "os excessos na especulação da linguagem" gerasse também uma literatura artificial, "perdida em vazios exercícios de retórica."

O que eu acho engraçado é ela dizer que essas autoras produzem literatura rotineira, literatura bem comportada e "fácil de ler" (isso é um problema?). Um dos problemas que a Nélida Piñon enfrentou foi exatamente ter sido considerada excessivamente hermética em seus romances iniciais e mesmo em trabalhos posteriores. Não sou do meio das Letras, mas a leitura de "A Casa da Paixão", da Nélida, pra mim foi bastante desafiadora, um texto erótico bastante cifrado por uma poética que apela muito ao simbólico, à linguagem metafórica. Tive que recorrer a alguns papers como apoio para a leitura.

Em Nélida Piñon, eu valorizo exatamente essa reflexão ativa sobre a linguagem e a forma. O fato de ela, para além de sua obra ficcional, ter se dedicado a escrever livros ensaísticos refletindo sobre a linguagem, a escrita criativa e aspectos formais de uma obra literária me parece antes um diferencial da escritora. Até o momento, eu li três livros da Nélida e em todos eles, embora você encontre elementos comuns, as escolhas formais não são as mesmas, o que depõe sobre a sua versatilidade e a capacidade de se reinventar no projeto de cada livro.

É engraçado que essa crítica de que essas autoras produzem literatura sem vitalidade ecoa uma crítica da Hilda Hilst, que um usuário do fórum replicou no tópico que criei sobre "As Horas Nuas", da Lygia Fagundes Telles. O ponto é que nessa crítica, a Hilda tampouco poupava a Clarice, dizendo que o que ela escrevia não tinha "o murro na hora da fala", não lhe dava um só golpe no peito. Ali a Hilda opunha a literatura escrita por mulheres no Brasil à literatura escrita por homens, que seria mais vigorosa, com mais pulsão de violência, e dizia, dentro dessa chave, que a literatura que ela própria produzia era eminentemente masculina.

Dizer que Lygia Fagundes Telles é superficial pra mim também não cola. A marca da literatura da Lygia é o espaço das ambiguidades, das indefinições, daquela meia-luz em que se revela o caráter instável e contraditório do mundo, das coisas, das relações humanas, em que os seus personagens, frequentemente trágicos, se dão a conhecer. Eu não sou do meio, mas imagino que deva ser difícil pra cacete conseguir esse efeito que a Lygia consegue.

E aí ela diz que Lygia recorre abundantemente ao "fantástico maravilhoso" porque é uma saída fácil. Olha... eu fico me perguntando de onde veio isso. Nos quatro romances de Lygia - "Ciranda de Pedra", "Verão no Aquário", "As Meninas" e "As Horas Nuas" - não há esse apelo ao fantástico. Nos contos, o fantástico aparece, é claro - mas, na minha humilde opinião, não é dominante.

Por exemplo: em "Seminário dos Ratos" você tem um livro de contos inteiro em que o elemento fantástico aparece em praticamente todas as histórias. Mas isso é da proposta do livro. Copio aqui um comentário que fiz em outro tópico, em resposta ao @Eriadan :

Em Seminário dos Ratos, você percebe que a maioria dos contos tem um quê de sobrenatural, de metafísico, numa construção muito próxima do onírico. É o recurso ao insólito, que cria espaços de ambiguidade, de penumbra, querendo apontar para o caráter instável da realidade. E essa é uma marca da Lygia: ela adora explorar essas zonas cinzentas onde os sentidos nem sempre são claros, esses espaços de indefinição, de ambiguidade - ou, como a narradora dela diz no livro cuja leitura recém concluí, "a graça está na meia-luz".
Acho que os meus contos preferidos em Seminário dos Ratos são "A mão no ombro", "Noturno Amarelo" e "Senhor Diretor".

Mas o que comentei sobre a Hilda - e repito que são impressões bastante iniciais, já que só li o primeiro texto até agora - é bastante diferente do que experienciei com a Lygia. Achei o texto da Hilda mais difícil de entender, mais difícil de sondar. Embora em um livro como "Seminário dos Ratos" haja esse flerte com o insólito, ele aparece de maneira mais "terrena", digamos assim, convergindo de alguma maneira para o real. O texto da Hilda flerta com o absurdo de uma maneira diferente, quase tangenciando uma espécie de viagem alucinógena guiado por uma poética que te fascina, mesmo que você não esteja entendendo quase nada. :lol:

Você tem outros contos da autora com esse flerte com o onírico, com o sobrenatural, com essa ponte para o maravilhoso. É o caso, por exemplo, de "A Caçada", compilado no livro "Antes do Baile Verde", ou de "Emanuel", do livro "Um Coração Ardente". Mas a grande maioria dos contos não caminham nessa linha, de sorte que, repito... não acho que seja um traço dominante da sua obra.

Depois a Felinto cita uma passagem em que a Nélida Piñon atrela a sua condição de ficcionista ao fato de ser mulher e emenda que "é exatamente por esse tipo de discurso que a chamada 'literatura feminina' tem até hoje certo caráter pejorativo, como se fosse etérea, tratando sempre e só de amor, maternidade, corpo e mistérios femininos". Aqui eu comento duas coisas:

1) Há diversas entrevistas em que a Nélida diz detestar o termo "literatura feminina", dizendo que o que há é a grande literatura, seja ela escrita por homens ou mulheres.

2) A literatura de Nélida não pode ser acusada de ser essa coisa etérea, que busca sempre tratar do amor, da maternidade, desse papel comportado da mulher. Pegue um livro como "A República dos Sonhos", o painel histórico que perpassa quase todo o século XX, passando por temas como a condição do imigrante; a questão racial no Brasil e a herança do escravismo; o espaço da ancestralidade, das lendas e narrativas míticas, da construção de uma identidade nacional; a sexualidade, e em particular a sexualidade feminina em face de um contexto que a oprime, e muito, muito mais.
Vale mencionar que, cosmopolita como é, a literatura de Nélida com frequência fugiu dos chamados "temas nacionais".

Tenho a impressão de que Lygia se embrenha mais pelas relações familiares. Todos os seus quatro romances têm esse acento - mesmo "As Meninas", que tem também um acento mais político - mas não acho que isso seja em si um demérito, nem acho que os dramas familiares sejam tratados dessa maneira "etérea" que a Felinto coloca. Elejamos a "maternidade" como chave em cada um dos romances:

[Nota] Eu não entendo o trecho a seguir desse post como spoilers ou porque são pontos que estão na sinopse dos livros, constituindo o ponto de partida das próprias narrativas, ou porque são elementos a meu ver bastante colaterais, mas vou deixar na caixinha por via das dúvidas:

Em "Ciranda de Pedra", a mãe que se apaixona pelo médico e se separa do marido, levando uma das filhas para o centro de uma situação socialmente mal vista, e que acaba por enlouquecer (a mãe, não a filha); em "Verão no Aquário", a maternidade distante e fria de Patrícia, uma escritora bem sucedida, que passa a ser vista como rival pela própria filha, que se afunda numa conduta sob vários aspectos autodestrutiva; em "As Meninas", há figuras maternas diferentes, mas pensemos na mãe de Ana Clara, cujos amantes a agrediam das mais diversas maneiras e abusavam sexualmente da própria filha, e que acabou por cometer suicídio, ingerindo formicida; em "As Horas Nuas", Rosa Ambrósio, artista decadente e em crise com o envelhecimento, afundando no alcoolismo e inconformada com o fato de a filha gostar de se relacionar com homens mais velhos.

Enfim, são recortes e abordagens bastante variadas...

Bem, um limite que eu tenho, nesse comentário, é que a autora utiliza Clarice Lispector como parâmetro e eu mesmo li apenas dois livros da autora. Então, é possível que algo esteja me escapando nisso tudo. Mas não concordo que Lygia ou Nélida sejam escritoras superficiais, para serem esquecidas, como sugere a autora.

Quase 25 anos depois que a Felinto publicou essa crítica, Lygia está para completar 98 anos, festejadíssima. E Nélida... com o pouco dela que li (apenas 3 livros a essa altura), eu ainda acho que sua obra é bem menos valorizada do que mereceria.
 
Última edição:
Spoilers, spoilers everywhere :ahhh:

Na parte que falei sobre maternidade nos romances da Lygia, @Béla van Tesma ?

Não considerei que fossem spoilers, pela seguinte razão: todos esses pontos que eu apontei estão colocados desde a sinopse, exceto o que disse sobre "As Meninas". Mas nesse caso, é um elemento bastante colateral na narrativa, a ponto de eu não ter considerado como um spoiler.

De qualquer forma, te peço desculpas. Vou editar o post e colocar essa parte dentro da caixinha de spoiler, com uma anotação. :timido:
 
Na parte em que você conta o desfecho de todos os livros. Mas estava mais brincando mesmo.
Não acho que livro canônico sofra de spoilers; isso é coisa da civilização do espetáculo. :dente:
Relaxa, Mercúcio. :)
 
Acho que isso é coisa de crítico que não tem o que falar e se põe a inventar abobrinha pra se projetar em algum momento de 'crítica', todos esses problemas apontados não têm absolutamente as causas que ele aponta. Parece até que ele está meio confuso, não sabe bem se se alia a uma coisa meio conservadora e cri-cri, crítica de ideologias, e o papel responsável de um crítico avant-garde (que se denota pelo conhecimento das obras das autoras), mas passa ao largo do objetivo. Os problemas reais aqui são o câncer da autoficção, que é um problema da crítica e do fetichismo, tanto da esquerda cultural do país (emulando os discursos manjados das universidades norte-americanas) quanto do ambiente editorial que se construiu aqui, e essa pornografia em que se envolvem escritores de nicho e editoras consagradas, e o outro problema é o da quebra de expectativas quanto ao que se busca na literatura, mas esse é um problema eminentemente ideológico, está mais ligado às concepções de arte e de cultura que cada ator cultural hoje possui. Já não existe mais aquele ambiente feliz de acordo em que críticos como esse vicejaram, então a realidade às vezes bate forte na bunda deles.

Não existe spoiler de literatura clássica e moderna consagrada, seria o mesmo que uma pessoa reclamar de spoiler porque leu em algum dos milhares de lugares da internet que Bentinho e Capitu se separam no final. Tipo, wtf? Isso é coisa que só existe no mundinho-bolha do nerd e essas narrativas superficiais que dependem totalmente de plot twists. Eu nunca liguei muito pra spoiler, sinceramente, de qualquer coisa, mas em se tratando desse tipo de literatura... lol, tem sentido nenhum. Saber o final de um conto da Clarice não estraga ('spoil') nada, porque o grande valor da literatura dela está justamente no processo, na narrativa, no desenvolvimento do enredo. Mas enfim, só os resmungos de um velho.
 
Os problemas reais aqui são o câncer da autoficção, que é um problema da crítica e do fetichismo, tanto da esquerda cultural do país (emulando os discursos manjados das universidades norte-americanas) quanto do ambiente editorial que se construiu aqui, e essa pornografia em que se envolvem escritores de nicho e editoras consagradas, e o outro problema é o da quebra de expectativas quanto ao que se busca na literatura, mas esse é um problema eminentemente ideológico, está mais ligado às concepções de arte e de cultura que cada ator cultural hoje possui.
Mas Caio, isso me parece um problema antigo apenas com roupagem nova. Se pegar as obras do modernismo inglês ou italiano - e vide também como russos como Tolstói se incluíam nas tramas com personagens que os representavam -, é o mesmo dado, e ouso dizer que também visando uma extensão da vida pela obra produzida. Eu consigo ver a vacuidade na tendência, mas não é um mal de hoje e creio que não se resume à esquerda cultural ou ao ambiente editorial brasileiro.
 
Sim, mas a autoficção hoje tem um componente ideológico ou, pelo menos, teórico que é muito característico desse ambiente. Bom, talvez mesmo isso não seja diferente da época de Tolstoi, mas eu enxergo muito uma tendência de filiação às posições anti-autorais em voga desde o Barthes. É uma desconstrução da subjetividade do autor, algo que críticos, sejam a favor ou contra autoficção, se batem demais, e creio que perdem o foco.

O problema da autoficção hoje pra mim não é o da desconstrução, mas o da vacuidade mesmo que acompanha grande parte desses projetos. É o que eu sinto lendo autores como o Chico Buarque, é bonito, esteticamente interessante e chocante, mas por debaixo daquilo... Não tem nada de muito interessante. Então acho que os críticos erram nisso, não entendem bem o que está acontecendo, até porque é algo que vem acontecendo há algum tempo.
 

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