[T]erminou de ler "Odisseia", de Homero. Pra mim que cresceu assistindo a minissérie com Armand Assante que vivia sendo reprisada no Cinema em Casa, o texto original causou um impacto tremendo. Assim como em "Ilíada", a maior parte dos recursos narrativos e questões de signo usados amplamente pela literatura pós-moderna já haviam sido empregados aqui. É interessante ver como a história evolui de um bildungsroman para o mito do heroi. Surpreende ainda que Homero, muito antes dos trágicos, já questionava a visão comum do status heroico, pois temos claro que é impossível concordar com Odisseu quando temos tantas vozes interferindo na narrativa - as mulheres, escravas ou não, surpreendem aqui por terem um espaço dialógico mais amplo do que, curiosamente, Shakespeare. Para todos os herois homéricos, a expectativa de que a luta termine encontra seu referente definitivo aqui - a longa jornada para a casa funda essa mesma casa, a expectativa de uma paz imorredoura. Tais epopeias cantam não exatamente a glória do passado grego, mas os sacrifícios feitos por um povo cuja influência é marcante ainda hoje.
Agora, sobre a tradução... Donaldo Schüler tomou liberdades que me pareceram excessivas além do ponto. Contudo, o leitor não está desavisado - ele já anuncia que essa é a proposta desde o início. Ainda assim, pra quem saiu da "Ilíada" de Frederico Lourenço para esta tradução da "Odisseia", o choque se faz sentir - tanto é que em determinado momento achei estranha a referência visual a churrasco quando havia uma, de fato, no texto original. Mas a tradução é fluida e o resumo das Auroras - modo curioso de analisar o texto - auxilia na compreensão geral do texto. Ainda assim, p****, Donaldo, custava um texto sobre a "Odisseia" só? O que que eu tenho que ver com Joyce e Dante, seu piá?! (E sim, eu sei da influência homérica - mas ela é homérica. O texto final de Schüler, apesar de otimista, me pareceu mais uma tentativa de se auto-promover - "pareceu", ok? Por conta disso, achei as referências desnecessárias.) Recomendo a leitura desta e de tantas traduções você puder colocar as mãos - sei que ainda lerei a "Odisseia" outras vezes, pois um texto nunca esgota suas possibilidades técnicas e narrativas. (Ouviu, Feltrin?!)